Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 15
O retorno.


Notas iniciais do capítulo

Já que estamos nos últimos capítulos desta aventura, que tal conhecer o outro lado do drama de Regis? Sua vida na Terra. "Anjo da Cara Suja" também está no Nyah!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502111/chapter/15

Durante muitos dias, permaneci praticamente preso ali, onde era estudado entre uma e duas horas por dia e em todos estes estudos, me deixavam geralmente de short, sem camiseta e me perguntavam uma série de coisas, as quais eu nem havia pensado antes.

Eles queriam entender como podia eu, minúsculo como era, pelo menos pra eles, conseguir viajar entre as que se referiam Marcantes, sabendo que elas estavam a distâncias inimagináveis, daquele mundo, um tanto atrasado e que, inclusive não adiantava alguém calcular uma certa rota, já que tudo no Universo se movimenta a milhares de quilômetros por hora, nunca permanecendo em uma rota viável.

Acho que já fazia dez dias que estava ali, quando, apenas de short, agora azul marinho, estava em minha gigantesca cama, coberto por lençol fino. Mira apareceu, me apanhou em sua mão, sentou no sofá da sala, me colocando deitado em seu colo e me perguntou triste:

— O que está havendo com você?

— Muita coisa Mira! Se você estivesse em meu lugar, como estaria se sentindo?

— Entendi Regis! Acho que você está com muita saudade de seu pai e sua mãe!

— Depois de tudo que lhe contei: Você só acha?

— E o que você quer de mim?

— Me ajude a ir embora!

— Não posso!

— Por favor, Mira! Eu não suporto mais ser subm... Servir de cobaia em exames diversos, ficar pelado diante de gigantes...

— Está bem! — Insinuou ela. — Sei que não devia, mas vou ajudar você a ir embora!

Levantou-se daquele sofá, pegou minha camiseta preta em cima da cama e me jogou dizendo:

— Vista sua camiseta.

Ao ouvir aquilo, sorri feliz e me vesti rapidamente. Ela me levou para o quintal de sua casa, me deixando ao lado da gigantesca piscina e retornou para seu interior. Poucos segundos depois voltou, com meu disco em suas mãos, como se fosse um simples brinquedo e o colocou no chão.

Sorrindo, abri sua porta, depois, lhe agradeci:

— Você pode não acreditar, mas jamais vou me esquecer de você!

— Acredito! — Riu ela. — Mas agora vá logo, antes que eu mude de idéia!

— Posso lhe pedir algo?

— Rápido! — Ironizou ela. — Posso mudar de idéia!

— Pode me arrumar algum alimento pra viagem? Na nave não existe nada!

Ela correu dentro de sua casa, retornando em segundos com espécimes frutíferas estranhas na Terra, mas, como já teria conhecido, com sabor muito bom e produtos salgados, tipo de pães com formato retangular. Para ela era pouca coisa, mas que foi suficiente para suprir toda minha necessidade de armazenamento para uma longa e imprevisí-vel viagem.

Após lhe dar tchau, entrei na nave, fechei sua porta, segui para sua cabine e em poucos segundos, estava novamente, através do cosmos, cortando tal espaço sideral, em busca da Terra, ou mesmo de Suster.

Após umas dez horas, cortando o espaço, a uma velocidade incalculável, tentando a todo tempo, entrar em contato com o senhor Frene, sempre assustado e percebendo que não estava conseguindo, comecei a chorar. Estava estressado, apavorado e sem saber, se realmente, estava seguindo o caminho certo, de volta à Suster.

Qualquer pequeno ruído, dentro de minha cabine, me dava arrepio. Mesmo sabendo que não existia nada em nenhum dos compartimentos daquela gigantesca espaçona-ve, imaginava um filhote de monstruosa aranha alienígena.

A estrela, Betelgeuse, que servia como minha principal guia, estava ficando cada vez mais distante, já que eu estava voando, em seu sentido oposto.

Após dormir e acordar por várias vezes, ali na cabine, em sonos assustados, que me faziam sonhar e acordar em poucos minutos, algumas vezes em uma das poltronas, outras vezes, no assoalho ou que seja, piso ou chão, sabia que já se passara aproximadamente três dias susterianos (para eu porem, não representava mais do que cinco ou seis horas), que eu estava novamente cortando o espaço, quando mais uma vez, apertara o botão erre cinco e pedi chorando:

— Por favor, senhor Frene! Por favor, qualquer pessoa do Universo: mostre-me o caminho pra Suster.

Finalmente, na tela de meu monitor, apareceu em meio a milhões de chuviscos, o rosto do senhor Frene, que começou a falar animado:

— Regis, meu garoto! Você está bem?

— É o senhor mesmo senhor Frene? — Perguntei indignado.

— Sim! Sou eu! Como você está passando?

— Estou muito mal, senhor Frene! Quer dizer: Agora estou melhor!...

Estava chorando, com o coração batendo forte. Mas acho que era de alegria, ou certo alivio. Acho que era como se tivesse conquistado um grande prêmio. Afinal, estava perdido no espaço e parecia ter me reencontrado.

— ...Principalmente agora que o senhor me atendeu! — Completei.

— Nós havíamos perdido o contato com você! Estávamos muito preocupados, pois já fazem mais de dez dias![1]

— Me ajude, por favor! Estou muito assustado!

— Calma menino! — Pediu-me ele, muito animado. — Agora está tudo bem!

— Por favor! Eu quero voltar pra Suster! Como eu faço?

— Não se preocupe! Nós o ajudaremos a Chegar até aqui, são e salvo!

— Em quanto tempo?

— Ainda não sei! Preciso saber ao certo, sua localização!

— Acha que estou muito longe?

—Nem tanto! Você deve estar a umas cem horas de nós! Cerca de dez anos-luz!

— Tudo isso?

— Só isso! Em vista da distância em que você esteve! Como você está passando?

— Muito mal! Mal mesmo!

— Você tem dormido?

— Quase nunca! Quando durmo tenho pesadelos horríveis!

— E como você está fazendo, sem se alimentar?

— Estou me alimentando! Pouco, mas estou!

— Não tem alimentos na nave! — Negou ele.

— Eu consegui alimentos em um local que parei!

— Você pousou esta nave?

— Sim! Em um planeta ideal!

— Agora eu quero que você vá pro quarto e durma! Não se preocupe com nada! Pode deixar que eu e os engenheiros de Merlin, vamos trazê-lo pra cá!

— Como assim?

— Procure no painel, um botão escrito ípsilon sete e acione-o.

Encontrei a tecla, pressionando-a.

— Pronto! Pra que serve isto?

— Vá dormir! Se eu precisar de você, acionarei um alarme muito barulhento dentro da nave, que irá acordá-lo! Mas não vou precisar de você! Durma bastante!

— Me leve de volta, senhor Frene! Depois o senhor pode me castigar!

— Está bem, Regis! — Disse ele animado. — Irei mesmo puni-lo! Mas eu te amo!

— Me castigue sem me bater! —Pedi com jeito singelo.

Levantei-me da poltrona e pela primeira vez, desde que saí de Suster a muitos dias, fui até o que seria meu quarto, onde deitei para descansar...

Depois de dormir por mais de vinte horas terráqueas seguidas (como se não chegasse a nenhuma hora, dentro da nave), sem sonhar ou ter pesadelos, acordei sentindo ainda cansado e permaneci na cama por mais alguns minutos, pensando naquilo que seria meu retorno. Levantei-me e caminhando devagar, tornei a entrar na cabine de comando, sentando-me na poltrona, onde passei a observar o espaço e o painel.

— Oi Regis! — Chamou-me o senhor Rud, que estava com o senhor Tony e senhor Frene na sala do computador, em Suster. — Conseguiu dormir?

— Oi senhor Rud! Já estou quase chegando?

— Ainda estamos tentando colocá-lo na rota pra cá! — Insinuou ele. — Mas não precisa temer porque vamos conseguir!

Por muito tempo, continuamos nossa conversa. O senhor Frene chamou dois engenheiros de navegação, para nos ajudar, diretamente de Merlin e assim, após consegui-rem minha localização, comemoraram muito, até parecendo cinco crianças, quando ganham um brinquedo novo. Quer dizer, seis comigo, que também, apesar de estar a trilhões de quilômetros separados, pulava dentro daquela cabine, em um pouco de felicidade perdida.

Depois de alguns minutos, pararam de comemorar e falando sério, passaram a me ensinar à voltar, alegando que toda a viagem, deveria ser feita com piloto manual, pois não havia nenhuma rota criada para que a nave seguisse em comando automático.

Mas como eu, um frágil menino pequeno, conseguiria pilotar complicada nave, por quase cem horas susterianas, sem poder dormir? Jamais! Mas esse problema foi resolvido rapidamente, com a ajuda de uma grande equipe de Suster, que conseguia pilotar a nave remotamente, como se ela fosse um simples vídeo game do futuro.

Com isto, eu passava algum tempo na cabine, onde às vezes acabava dormindo, como vinha fazendo quando estava perdido. Outras vezes, resolvia seguir para o quarto, sempre pedindo autorização à eles.

A viagem de volta, não foi de cem, mas sim, setenta e quatro horas susterianas; equivalente a quase cinco dias e meio da Terra. Para mim, não mais do que cinco horas.

Ao final desse tempo, eu, auxiliado por eles, pousara o disco, naquele enorme campo de Malderran, onde, satisfeito por estar em local conhecido e seguro, mas ao mesmo tempo, envergonhado por saber que fui um fracasso, desci cercado por dezenas de pessoas, inclusive da televisão. Entre elas, Leandra e Luecy. Timidamente acenei para todos, abracei os dois amigos mais chegados. Leandra chorava emocionada e feliz. Não era à Terra, mas pelo menos, estava no que seria: minha casa ou meu mundo número dois.

—Estou feliz por ter voltado! — Insinuou o robô.

— Eu estou com muita vergonha! — Aleguei.

— Com vergonha de que, Regis? — Perguntou-me Leandra.

— Por ter fugido e agora retornado...

— Não se preocupe! — Pediu ela, ainda com lágrimas. — O mais importante é que esteja bem e tenha voltado.

— Como se fosse um cachorrinho sem dono, com o rabinho debaixo das pernas.

— Cadê o rabinho? — Ironizou Lucecy.

Dali fui levado à presença do senhor Frene, que, ao me ver, sorriu alegre, depois ordenou a Leandra e Luecy:

— Agora vocês se retirem e nos deixem a sós.

— Por favor, senhor Frene! — Pediu Leandra. — Não o maltrate.

— Eu sei o que tenho que fazer! — Insinuou ele, secamente.

— Ele já sofreu muito com esta fuga Não precisa de mais castigo.

— Por favor! Quer nos deixar a sós?

Leandra e Luecy se retiraram, nos deixando a sós. Eu, segurando minhas roupas reserva, a maioria, já usadas, continuava de pé, muito assustado, sabendo que seria severamente punido. Ele se levantou, se aproximou e muito sério, ordenou bravo:

— Tire essa roupa!

— Aqui mesmo? Não vai me castigar em meu quarto?

— Eu mandei você tirar a roupa!

— Acho que o senhor gosta que eu faça arte, só pra me ver pelado e me castigar!

— Não discuta comigo, seu moleque!

— Castigar a mim é divertido pro senhor?

— Castigá-lo, dói mais em mim, do que em você!

— Pode me bater, senhor Frene! Não vou mais ficar com raiva! Só que não precisa me deixar sem roupa!

— Eu mandei tirar a roupa!

Amedrontado, me despi, ficando apenas de cueca, aguardando a punição. Como ele continuava me olhando sério sem qualquer atitude, resolvi apressá-lo:

— O senhor não vai me bater logo?

Ele continuou calado.

Assustado, já iria acabar de me despir, quando ele pediu:

— Não! Nunca mais baterei em você! Sou contra espancar crianças! Mesmo que façam artes terríveis e imperdoáveis.

— Então o que vai fazer?

— Vá logo tomar banho, seu moleque irresponsável! — O retrucou. — Você está fedendo!

— Quem o senhor acha que eu sou, pra andar por aí pelado?

— Um moleque sem vergonha e mal Educado!

— Por que eu sou sem vergonha e mal Educado?

— Não interessa! Vá tomar banho! Você está fedendo!

— Senhor Frene, o senhor pode até me bater se quiser! Já disse que aceito! Mas não aceito que me xingue assim!

— Você está fedendo mesmo! Quanto tempo faz que não toma banho? Há quanto tempo não escova os dentes? Vá logo tomar banho!

— Não vou! Não assim, sem roupa!

— Está bem! Põe a roupa e vá!

Me vesti rapidamente e fui direto a meu quarto, onde tornei a me despir, desta feita por completo e entrei no banho. O que, aliás, por mais de metade de uma hora, fôra um ótimo banho, igual há muito tempo, não tomava.

Ali mesmo, enrolado na toalha, outros dez minutos, foram necessários, para escovar muito bem meus dentes, que estavam até grossos de tantas bactérias, trazida por restos de alimentação estragada e que, por sorte, seriam totalmente dizimadas, em questão de segundos, naquele tal planeta imortal.

Ao sair do banheiro, em meu quarto, encontrei Luecy, que começou a falar sem parar. Porém, pensei em não lhe dar muita atenção:

— O bom filho à casa torna! — Disse ele, gozador.

— Essa não é nada original, Luecy! — Retruquei enquanto me enxugava.

— Como não?

— Plágio de alguém da Terra!

— O menino de Suster, voltou pro seu recanto! Essa é original! — Caçoou ele.

Enquanto vestia apenas uma confortável cueca, tipo samba canção, de seda, azul escuro, próprio de pijama, fiz micagem e insinuei:

— Só que eu não sou nenhum menino de Suster!

— Já está condenado a uma vida quase imortal, sem outros guris, para brincar!

— Touche! — Fiz gesto de revólver disparando com os dois indicadores. — Machuca mesmo! Fura meu peito e sangra meu coração!

Pulei na cama, na intenção de descasar um pouco.

— Tchau Luecy! Me deixe em paz que eu quero dormir!

— Não estou com seus olhos! Durma com as pulgas!

— Hoje você tirou o dia pra plagiar terráqueos! — caçoei. — Feche sua torneirinha de despejar asneira!

— Isso é plágio!

— Claro que é! Da Emília, do Sítio! Vá embora!

— Daqui não saio, daqui ninguém me tira!

— Já ouvi isso antes!

O robô continuou despejado suas asneiras e, como eu não conseguiria mesmo vencê-lo, resolvi me calar. Não demorou mais do que cinco minutos e eu já estava dormindo; depois de muitos dias, sem poder descansar assim, sem preocupação.

[1] Quase vinte e quatro dias terráqueos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Estamos nos últimos capítulos desta aventura.
Faça um esforcinho e faça um pequeno comentário, mesmo que seja crítica,
O maior prêmio ao qual um escritor possa almejar é um elogio ou crítica construtiva.