Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 13
A fuga




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Após dormir por mais de oito horas, acordei, me levantei e fui direto ao banheiro, aonde tomei um ótimo e demorado banho, vesti meu bonito macacão susteriano, apanhei algumas peças de roupas tipo terrestre e lentamente, receoso, me dirigi ao campo de pouso, entrei em um dos três discos, que ali estavam pousados, fui até a cabine de controle, sentei-me e fiquei por uns cinco minutos indeciso, depois, acabei por decidir o que deveria fazer: acionei os botões correspondentes e em poucos segundos, o disco já estava flutuando.

Um minuto depois, aquele enorme disco, já ganhava boa altitude, criando estabilidade e praticamente pronto para qualquer viagem longínqua. Lá embaixo, muita gente, inclusive Leandra e o senhor Frene, faziam sinal para que eu descesse. Só que eu não estava disposto a obedecer. Se voltasse atrás, tornaria a apanhar, ficaria amarrado e sabe-se lá o que mais, já que com certeza, o castigo seria pior do que o anterior. Desta vez, não cometi nenhum erro e iria voar direto à minha Terra.

De repente, por um pequeno monitor, localizado ao lado esquerdo da cabine, apareceu o senhor Frene, que já me dizia:

— Por favor, Regis, não faça esta loucura! Volte pra cá imediatamente!

Ele, percebendo que eu não atenderia seus sinais e que a nave ganhava muita altitude, havia corrido até a sala de controle, para tentar me convencer a abandonar àquela maravilhosa ideia. Eu, porém, não estava disposto a obedecer a ele ou quem quer que fosse. A saudade de minha Terra era imensa e eu iria voltar para lá, doesse a quem doesse!

— Regis! — Continuou ele pelo monitor. — Nós o amamos muito! Não queremos que você se vá! Volte imediatamente! É uma ordem...

Quem era ele pra me dar ordens? Era o que eu pensava. Se eles me amassem mesmo, aceitariam minha volta para casa, para minha felicidade!

— Você está louco menino! — Continuou ele. — Não vai encontrar seu planeta! Vai se perder no Universo e então morrerá! Volte, por favor!

Sem dar atenção a ele, eu continuava minha viagem, já, a uma velocidade incalculável, fora da órbita daquele planeta, em rumo de casa, com toda certeza!

O Senhor Frene, não desistia em tentar me fazer voltar atrás:

— Ouça Regis: Pra se fazer esta viagem complicada, é necessário que engenheiros experientes, façam antes, um estudo completo de toda a rota. É preciso analisar os perigos e uma grande série de outras coisas.

Não me importava com o que ele dizia. Já havia colocado a nave, para viajar no automático e sabia que ela só pousaria, no mesmo ponto, onde há muito tempo, fui sequestrado.

— Regis: responda! — Insistia ele. — Sei que está me vendo e ouvindo!

Realmente, o estava vendo e ouvindo. Mas era porque não sabia desligar aquele monitor. Caso contrário, já o teria feito.

— Mesmo eu, com cinco mil anos de experiência, não saberia ir à sua Terra, sem ajuda. — Insistia o senhor Frene. — Volte, antes que seja tarde demais e nem eu possa mais te ajudar.

Meu coração batia forte sim e até assustado. Mas tinha plena convicção, de que a rota para casa estava certa.

— Imagine Regis, que se esta nave saísse apenas um milímetro de sua rota correta, ela jamais chegaria à Terra. Como espera que sem rota nenhuma programada, ela chegue onde você deseja?

Não entendia muito de rota, mas como estava seguindo esse negócio em piloto automático, não haveria porque me perder.

— Volte Regis! Prometo que não lhe punirei! Vamos conversar e criarmos uma solução pra sua felicidade.

Minha felicidade estava na Terra, junto a meus pais e amigos, inclusive, retornando a minha escola. Era engraçado como que a gente não quer ir à escola, mas agora, como em meu caso, a gente longe dela, sente muitas saudades; sente falta dos amigos, professores, recreio e até mesmo das matérias mais difíceis, como matemática e estudos sociais.

— Você nem tem alimentos pra essa longa viagem! Como acha que vai sobreviver? Fale comigo, por favor! Daqui a pouco a gente perde o contato e aí será o seu fim!

Alimentos! Ele pensa que não aprendi que em uma viagem entre planetas a gente quase não precisa de alimentos! O tempo passa tão devagar dentro da nave que a gente nem sente fome.

Ele continuou falando durante muitas horas comigo. Nem sei quando foi que parou de falar, pois, após umas nove horas seguidas, que para mim se pareceram apenas alguns minutos, sem me levantar daquela poltrona, ouvindo-o e viajando sozinho, por um espaço perdido, acabei adormecendo na cabine da nave.

Durante o sono, sonhava com aquela viagem pelo complicado espaço sideral. Não era nada diferente do que via na realidade: pontos de luz observados ao longe através do para-brisa daquela estranha nave. Pontos estes, que cresciam muito rápido e logo desapareciam, ao lado da nave, pois, como já havia visto, era ultrapassado imediatamente, devido à enorme velocidade, atingida.

Quando acordei, sem saber quantas horas teria dormido, estava realmente sozinho. O monitor, por onde o senhor Frene, falava comigo, estava ligado, mas nenhuma imagem me mostrava.

Continuei aquela perigosa viagem, sozinho e só então, sem ouvir o senhor Frene, começava a sentir o coração ainda mais assustado, pois ele talvez viesse a ter razão: eu poderia estar em uma rota diferente, da qual realmente queria.

Depois de mais algumas horas de viagem, sozinho, sem sequer me levantar da poltrona do piloto, sem ter o que fazer, meus olhos foram ficando pesados e sem perceber, acabei dormindo novamente.

Durante o sono, a nave cortava o espaço, a uma velocidade incalculável e inacreditável para nós terráqueos e eu voltei a ter, não sonhos, mas sim, pesadelos; inclusive, com a nave se chocando a um enorme planeta, habitado por monstros.

Foi aí que acordei e pude ouvir, pelo televisor (monitor), o senhor Frene, gritando:

— Cuidado garoto! Atrás de você existem três naves assassinas! Elas irão te destruir!

Embora, assustado, não dei bolas para o que ele falava. Nem sequer, me preocupei. Só estava me restabelecendo do pesadelo que tivera. Quanto ao que ele dizia: só achava que estava tentando me assustar, para que eu voltasse.

Poucos minutos depois, senti que, realmente estava sendo seguido e pouco depois, vi que, realmente três naves afuniladas e compridas me seguiam. Só assim, fiquei realmente assustado e o senhor Frene, deve ter percebido, pois me ordenou:

— Ligue o automático e deixe a nave correr sozinha.

É claro que a nave já estava no automático. Mas ainda existia um problema: eu queria lhe fazer algumas perguntas, mas não sabia como, pois embora eu o visse e ouvia, ele não me ouvia. Mas tive sorte, pois ele insinuou:

— Se você quiser falar comigo, aperte erre cinco (R-5)!

Atendi seu conselho imediatamente e lhe perguntei:

— Como faço pra me proteger?

— Nada! — O alegou. — Deixe comigo!

Confiei nele e nada fiz. Não saberia mesmo o que fazer. Mas o medo continuava.

Pouco depois, ele me disse com ar de vencedor:

— Regis, se você quiser ver um espetáculo explosivo, olhe para o monitor a sua direita.

Olhando para o local indicado e aguardando poucos segundos, vi uma daquelas naves, em minha retaguarda e a seguir, uma explosão. Alguns segundos depois, a mesma cena se repetiu por mais duas vezes consecutivas. Então perguntei assustado:

— O que foi isto?

— Apertei o botão ípsilon dois (Y-2). Lembra dele?

— Pra me proteger na Terra!

— Não! O botão pra lhe proteger na Terra é o ípsilon três (Y-3). O que eu apertei, é pra lhe proteger no espaço.

— Mas como ele fez o disco assassino explodir?

— O automático de sua nave cuidou dos assassinos. Digamos que ela possui um repelente de insetos. — Ironizou o homem. — Eu, simplesmente lhe protegi um pouco. Foi uma ajuda e tanto! Não acha?

— Sim! Obrigado!

— Agora eu quero que você volte pra cá, imediatamente!

— Sinto muito, mas eu não posso! — Reassumi o comando da nave, convicto. — Preciso voltar pra casa!

— Deixe de ser bobo garoto! Você vai se perder no espaço!

— Não vou não senhor!

— Pra começar, você já está indo na direção errada!

— É mentira! Estou vendo o Sol, bem à minha frente.

— Engano seu! Essa estrela que você está vendo à sua frente é uma gigante vermelha, a qual seu povo chama de “Betelgeuse”. Ela é quase mil vezes maior do que o seu Sol e sua temperatura é de três mil graus.

— Mentira do senhor!

— Infelizmente não é! Essa estrela é duzentas vezes maior que a nossa Kristall e quase oitenta vezes maior que a nossa Brina!

Desliguei o botão erre cinco e resolvi não dar mais atenção àquele homem, continuando minha viagem solitária pelo espaço Sideral, onde não há gravidade. Não há vácuo.

— Regis: — Insistiu ele. — Essa estrela, ainda está a uns quinhentos anos-luz de você! Parece próxima porque ela é muito grande!

Durante muitas horas, ele continuou tentando me fazer retornar.

— Menino, você vai morrer no Universo. As naves inimigas que você viu, não são nada em comparando com os grandes perigos do espaço cósmico...

Que perigos poderiam haver em um espaço vazio?

— ...você já viu falar em campo minado? Você está dentro de um! Estrelas da morte, buracos negros... Se você passar a um milhão de quilômetros próximo a um buraco negro estelar, sua nave entrará em um tipo de redemoinho, sem chance de sair e será sugada por ele e vocês se transformarão em pó...

Redemoinho! No espaço! Acho que ele pensa que sou bebê!

— ...Regis, nestes caminhos que você está passando, sem rota criada, com certeza você cruzará por um deles. Menino, não estou apenas querendo assustá-lo. Só em nossa galáxia, existem milhões de buracos negros capazes de engolir até grandes estrelas... Volte por favor. Eu não vou te punir.

Cansado, voltei à nave para o automático e acabei adormecendo, ouvindo as insistências do senhor Frene.

— Meu filho: Você é inteligente o bastante, pra saber que estou falando a verdade. Volte enquanto não perdemos a comunicação e eu consiga te orientar.

* * * * * * * * *

Depois de outras tantas horas dormindo, tornei a acordar. Estava com o corpo dolorido, por estar de mau jeito, na poltrona da cabine da nave, nem sabia mais a quantas horas, pois, desde que saí de Malderran, sequer me levantara dali, nem mesmo pra me alimentar.

O senhor Frene continuava insistindo para que eu mudasse meus planos e voltasse à seu mundo; mas eu não estava disposto a obedecê-lo e seguia em direção à grande estrela vermelha à minha frente, com certeza absoluta de que se tratasse de meu querido e saudoso Sol.

— Regis: — Insistia o homem. — Você sabe que o Sol não é grande e brilhante o suficiente pra poder estar visível para nós. Seu Sol só estaria visível quando você estivesse a menos de dez anos luz de distância dele. Volte antes que você se perda pra sempre e aí com certeza vai morrer, sem que possamos fazer mais nada.

Durante pelo menos outras cinquenta horas de viagem, o senhor Frene insistia que eu abandonasse a minha ideia. Nesse período, não saia da cabine pra nada. Tinha medo do resto da nave e com isto, às vezes me levantava da poltrona e ali mesmo fazia diversos exercícios sozinho, aproveitando o que aprendera em aulas de educação física da escola: fricções, polichinelo, braços, pescoço, pernas... acabando adormecendo e acordando por lá, hora na poltrona, hora no chão mesmo, sempre ouvindo as insistências dele.

De repente, o senhor Frene resolveu desistir de me fazer voltar. Só então, comecei a me preocupar. Mas não queria falar com ele, pois, apesar do medo, o importante era voltar para casa. Criei coragem, levantei-me da poltrona, fui até a cozinha e faminto, percebi aquilo que ele já havia me dito: na pressa em fugir, me esqueci de que na viagem precisaria me alimentar, não carregando nenhum alimento, restando apenas às cápsulas de nutrientes, que com certeza, ajudaria um pouco a saciar, não meu paladar, mas minhas necessidades orgânicas e reposições de energia.

Após dormir por mais de cinco horas, no chão da cabine, um sono muito nervoso e descontrolado, variando todo o tempo acordei assustado, me levantei, espreguicei e então, me sentindo solitário, resolvi apertar o botão erre cinco, para voltar a falar com o senhor Frene, já que ele, não tentara mais falar comigo e foi então que percebi que havíamos perdido o contato.

Para mim, dentro da nave, como já disse, o tempo corria muito devagar. Parecia que eu teria saído de minha origem a menos de dez horas terráqueas, quando na verdade, já teriam se passado mais de duzentas horas susterianas.

Se eu acordara assustado, agora já estava ficando desesperado. Sentei-me na poltrona esquerda. Se eu estivesse realmente indo em direção a Terra, como imaginava, jamais perderia o contato com Suster.

Com isto, cheguei a seguinte conclusão:

“O senhor Frene, tinha toda razão: aquela estrela à minha frente, não é o Sol e eu estou perdido no espaço”.

Não sei o que iria adiantar, mas comecei a chorar e depois, me julgando culpado, resolvi me acalmar, mas não consegui e chorei igual bebezinho bobo, até acabarem as lágrimas acumuladas, desde há muitos dias.

Voltei à nave em posição manual, diminui drasticamente sua velocidade, fiz com que ela desse um giro de cento e oitenta graus e tornando a colocá-la em modo automático, resolvi retornar à Suster, onde pediria desculpas ao senhor Frene e aceitaria o castigo que ele viesse a me impor. Provavelmente cortando meu símbolo, o qual diz que sou um machinho.

Durante a viagem de volta; a cada um minuto, voltava a acionar o botão erre cinco e falar alguma coisa, na tentativa de entrar em contato com Suster; mas sempre era em vão.

Estava cada vez mais desesperado, pois, embora tivesse virado a nave, exatos cento e oitenta graus, ela poderia estar indo em direção completamente distante do planeta Suster e aí sim, estaria perdido para sempre, no Universo de meu Deus, com suas sei lá o que de septiliões[1] de estrelas conhecidas. Será que eu conseguiria escrever a este número, em disputa com o genial Luecy?

Poucas horas mais tarde, estava de passagem por um planeta, onde os mostradores da nave acusavam no solo: quinze por cento de oxigênio, sete por cento de gás-carbônico, setenta e sete por cento de nitrogênio, um por cento de vapor d’água e uma temperatura de trinta e três graus centígrados.

Observando aqueles parâmetros, percebi que o planeta tinha as mesmas características de Suster. Então resolvi pousar para espionar, ou explorar.

Menos de dez minutos depois, com o aparelhinho tradutor nas mãos, pisava em solo firme. Desci da nave e comecei a olhar à minha volta. Até então, estava bastante assustado e sentindo muita solidão, mas ali, parecia um alívio, como se tivesse saído de uma prisão de passarinho e recebido um mundo inteiro para poder respirar aliviado. Mas ainda sentia medo, pois aquele planeta era muito estranho: Suas plantas, não eram verdes e nem mesmo do tamanho das nossas, mas sim, enormes de um verde puxando para azul quase acinzentado; não deveria ter oceanos e caso tivesse, suas águas não deveriam ser azuis; pois em vista do alto, o planeta era amarelo e sem luz própria; “claro! Não era estrela”!

Agora do solo, olhando para os céus, ele se mostrava acinzentado, com tonalidade quase escura, como se fosse por volta das vinte horas, em período de horário de verão, na Terra.

Após vasculhar a área por alguns minutos, achei que era um planeta anecúmeno[2] (não que eu soubesse o que significava esta palavra. Não sabia), pois não existiam sinais de vida humana ou de qualquer outra espécie. O clima era saudável e com muito oxigênio.

Retornei ao disco, mas não entrei.

De repente, provando-me que não tinha nada de tal palavra difícil, apareceu um ser, digamos humano, adulto, porem monstruoso no tamanho. Teria ele, cerca de oito vezes o meu tamanho, usando normalmente roupas de tecido, moreno escuro e muito forte. Será que eu teria pousado no planeta fictício da série de televisão “Terra de gigantes”?

Ao perceber que ele já notara minha nave, saí correndo. Mas foi inútil: ele me percebeu e começou a me perseguir. Caí duas ou três vezes, mas me levantava rapidamente e voltava a correr, tentando encontrar local seguro para me esconder. Com isto, acabei perdendo meu aparelho tradutor.

E foi assim, correndo, olhando para trás, enroscando em algumas espécies de cipós grossos ou outro tipo de ramagens e matos, que acabei prisioneiro em uma gigantesca teia pegajosa. Meu coração batia muito forte, descompassado e o horror estava presente nas lágrimas de meus olhos. Mais horrorizado ainda fiquei, ao perceber que o monstruoso animal, dono da teia, se aproximava rapidamente. Então sim, eu poderia me lembrar da frase que um dia dissera a meus opressores de Suster: Eu era uma indefesa mosca, diante da gigantesca aranha.

Quando extremamente apavorado, senti que seus poderosos ferrões iam cravar em meu corpo frágil, paralisado pelo horror, percebi que um enorme punhal, atirado por aquele homem gigante, tirou a vida daquele super inseto e então desmaiei.

[1] A unidade seguida por 42 zeros ou 1042.

[2] Lugar inabitado por vida animal.


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Notas finais do capítulo

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