–Bem Zykayes... Meu amigo... Vamos para meus aposentos conversar melhor, sim? –Malefor disse já andando.

O lobo o seguiu, meio desconfiado, alerta, com suas orelhas empinadas. –Eu quero respostas!

–Sei oque quer e você terá, Zi.

–Não me chame assim.

–Ah! Qualé, Zi. Ainda somos amigos! Sei muito bem que seus sentimentos por mim ainda são os mesmos! Éramos quase que irmãos.

–Até você nos trair! À sua mãe, aos guardiões, aos dragões e a mim!

Malefor rosnou de leve. –Eu tive meus motivos.

–Então fale! Se explique! Ou pelo menos tente!

Malefor andava calmamente. –Quando estivermos no meu quarto.

–Se você estiver me levando para uma armadilha...

–Nunca te machucaria!

Zikayes riu muito. –Não mesmo... Só me corromperia.

Malefor arranhou o chão. –Você ia estragar todo meu plano.

–De destruir o mundo? Ia mesmo! Gosto deste mundo e quem mora nele!

–Já te disse que eu tinha meus motivos! –Malefor rugiu para Zikayes.

O lobo avançou no dragão, que deu um pulo para trás e bateu a pata no chão, fazendo terra prender as 4 patas do lobo.

–Me solta!

Malefor rosnava alto. –Se eu quisesse te machucar já o teria feito! Agora cale esse maldito focinho e me siga! –O dragão negro diz arranhando o chão, fazendo a terra cair novamente.

Zikayes olhava para Malefor e então voltou a o seguir.

Algum tempo depois os dois finalmente chegam ao quarto de Malefor, que consistia em uma câmara entre as várias que haviam lá no vulcão. Não era muito mobiliada, tendo apenas uma cama feita de penas e feno, como um ninho.

–Tenho que admitir que eu esperava mais... –O lobo disse olhando ao redor.

–Huhuhu... Sou simples... Bem... –O dragão vai até sua cama e se deita. –O que quer que eu fale?

–Tudo! Por que nos traiu? Eu não consigo entender isso! Você tinha tudo! Fama, uma casa excelente, comida quando quisesse...

–Eu podia ter tudo... Mas não tinha nada!

Zikayes se senta na frente de Malefor. –Como assim?

–Ser o dragão roxo não é nada fácil! Tantas responsabilidades... EU tinha apenas 5 anos quando meus treinos começaram! Eu era judiado nos treinos! Sempre me feria. Sempre ficava dolorido! Fraturas, contusões, câimbras... Eu não aguentava mais! Não tive infância! Sempre que eu ia te chamar para brincar minha mãe e os guardiões me impediam para eu treinar ou ir para algum lugar que eu precisava ir! Mal tive tempo para brincar na minha infância! Só quando os guardiões e minha mãe estavam longe eu podia brincar escondido. Quando eu fiquei jovem piorou ainda mais com todos os eventos que eu tinha que ir.

–Mas você era respeitado!

–Grande porra! Nunca tive paz! Fiquei com raiva até quando eu matei todos os 5! Você acha que eu não chorei por matar a minha mãe?! Eu a amava! Amava muito! Mas eu não tive escolha... –Malefor olhou para baixo. –Fugi da cidade por causa disso! Queria ter paz! Sossego! Até encontrar... a mãe de Spyro... –Ele volta a olhar para Zikayes. –Ela era linda e amável! Eu tinha me disfarçado, pintado minhas escamas para que ninguém me reconhecesse. Namorei com ela. Fiquei um ano com ela até que... Ela botou um ovo... Um ovo roxo...

–Spyro...

–Sim. Ela descobriu quem eu era. Me repugnou. Me xingou. Não quis saber mais de mim! Novamente eu fugi. Fiquei isolado algum tempo até decidir destruir o mundo...

Zikayes se surpreendeu. –Decidiu destruir o mundo... por causa de desilusão amorosa?!

Malefor riu muito. –Não, seu idiota! Não sou um imbecil! Bem... Esse meu pensamento veio quando eu vi aquel... pequeno ovo... Meu filho. –Malefor fechou os olhos. –Eu lembrei de quando eu estava saindo do ovo e de toda a minha infância. Ele iria ter a mesma infância que eu! Toda a dor e sofrimento que eu tive. Foi por isso que decidi destruir esse mundo!

–Decidiu matá-lo?!

–Huhuhu... Dragões roxos são imortais, esqueceu? Eu tinha tudo para poder destruir o mundo, mas faltava apenas uma coisa...

O lobo se deitou, começando a entender tudo. –Ter seu filho com você?

–Sim... Eu queria destruir tudo desse mundo para poder reconstruir da minha maneira! Os dragões roxos iriam governar! Somos soberanos! Eu ia criar um mundo onde meu querido filhote não iria sofrer como eu sofri! Eu queria o bem para meu filho. Então invadi o templo pela primeira vez. Não esperava que já haviam novos guardiões lá... Fui pego de surpresa pelos 4 novos guardiões. Volteer, Terrador, Cyril e......... –Malefor olhou para baixo, parando de falar.

Zikayes não conhecia os antigos guardiões. –E...?

Malefor olhou para Zikayes novamente. Tinha lágrimas nos olhos. –Meu irmão mais velho Ignitus.

–Ignitus? Eu ouvi Spyro falando dele algumas vezes.

–Spyro o amava como se fosse um pai. Mas... eu não quero desviar o assunto. Bem... Quando cheguei ao templo fui pego de surpresa pelos 4. Não acreditei que meu irmão tinha virado um guardião e pior, tinha me aprisionado. Eu podia ter saído, mas estava em choque. Então eles me baniram desse mundo. Fui aprisionado no mundo das trevas, onde consegui esse meus... Lindos poderes! Veneno, vento, medo e trevas. Na dimensão das trevas eu conheci Gaul, um antigo capitão gorila. Ele prometeu que iria me soltar se eu o recompensasse. Eu aceitei e falei para ele invadir o templo e recuperar meu ovo.

–Então... por que ele não conseguiu?

Malefor rosnou e bufou um jato de fogo negro no chão. –Meu roxo é roxo, certo?

–Uhum.

–Gaul era daltônico! Ele trouxe um ovo negro para mim. Pelo menos pude o usar e ele também tinha capturado 3 dos guardiões, só meu irmão que ele não conseguiu. Dispensei ele e dei a recompensa que ele queria. Então eu choquei o ovo negro e dele nasceu a pequena... Cynder. Dei meus poderes para ela e fiz uma antiga magia para a deixar em forma adulta. Mas aconteceu duas coisas que não estavam nos meus planos. Meu filho acabou nascendo com uma família de libélulas e... Eu me apaixonei pela Cynder! Mandei ela me libertar 4 anos depois que Spyro nasceu e ela começou a trabalhar nisso. Tinha perdido o interesse na destruição do mundo, pois se Spyro tinha nascido no meio do nada, ele teria uma vida. Uma infância. Então eu queria ser liberto apenas para poder viver com Cynder. Mas então... Spyro encontrou meu irmão, queo treinou, o fez resgatar todos os guardiões e... Derrotou Cynder, a levando de mim. Fiquei com raiva, pois além de a levar, Spyro estava morando no templo, treinando e tendo as mesmas lições que eu tive. Eu vi que ele não teve nem um pingo de infância, assim como eu. Convoquei Gaul para me libertar de uma vez, já que Cynder já tinha deixado tudo preparado. Mas novamente... Spyro teve que se intrometer. Seduzi Cynder para meu covil e ao chegar aqui ela me traiu. Mataram Gaul mas antes ele conseguiu me libertar. Infelizmente... o meu covil estava desmoronando e... bem... Spyro e Cynder estavam lá. Spyro os aprisionou em um cristal de energia para ficarem seguros. Comecei os preparativos para a destruição do mundo e 5 anos depois mandei meus novos escravos, os goblins, libertarem os dois jovens dragões. Ah... Cynder estava linda naquela época! Continua linda. Bem... Como eu esperava, aconteceu tudo conforme o planejado! Apenas uma coisa não deu certo. Spyro confiava em Cynder, assim como Ignitus.

–Por que você não queria que Spyro confiasse nela?

–Para ela vir para mim! Ficar comigo!

–Egoísta!

Malefor riu um pouco. –Cale a boca, pulguento, e escute.

–Estou ouvindo, escamoso.

Malefor deu um leve sorriso lembrando da antiga vida. –Bem... Quando os dois vieram até mim no meu covil... precisei fazer uma coisa que eu realmente não queria. Matar meu irmão. Spyro ficou muito nervoso. Seu modo negro foi despertado. Achei que Cynder iria sucumbir e vir até mim, mas... aconteceu uma coisa terrível, para mim. Percebi que Cynder estava apaixonada pelo meu filho.

–É o natural, não? Eles tem a mesma idade.

–Isso é apenas um detalhe! Não liguei para aquilo e os fiz vir até mim. Quando chegaram eu despertei o lado negro de Cynder. Comecei a rir porque eu achava que Spyro iria bater nela, mas... Percebi que meu filho também estava apaixonado por ela. Aquilo me deixou com raiva e parti para cima dos dois.

–Nossa... Mas... Malefor... Ele era o filho que você queria proteger!

–Eu sei! Eu estava cego de amor! Mas no meio da luta, vendo o jeito que os dois lutavam em equipe eu percebi. Eles eram feitos um para o outro. Vi as feridas que tinha feito no meu filho. Percebi o monstro que eu havia me tornado. Desisti e novamente fui aprisionado no mundo das trevas, mas desta vez um pouco mais... feliz, pois sabia que meu filho estava feliz.

–Então por que você voltou.

–Calma apressado! Ainda não terminei! Bem... Lá eu comecei a ouvir uma voz. Estava muito diferente, deformada, não conseguia saber do que era a voz. Ela dizia que podia me ajudar a voltar para o passado para fazer com que eu pudesse refazer tudo da maneira certa. Comecei a servir ela. Fazer oque essa voz pedia até que chegou uma hora que ela me libertou daquele mundo, me jogou aqui novamente, me transformou em... jovem, falando: Você queria voltar ao passado, mas seus pecados não deixaram você fazer isso. Fui jogado aqui novamente, sozinho e com fama de mal quando na verdade...

–Você queria apenas proteger o seu filho... –Zikayes completa, totalmente surpreso com tudo aquilo.

–Sim... Eu queria o proteger, mas na verdade... Acabei sendo o pior pai possível. Por isso queria voltar no passado! Para me impedir de fazer essas merdas que eu fiz e assim poderia viver com meu filho, como um dragão respeitado. A verdade é que... Eu amo meu filho e sempre irei o amar.