Opostos escrita por Mari


Capítulo 6
6. "O que me impedia?"




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Eu estava em meu quarto. O sol batia fortemente em meu rosto e praguejo ao ver que me esqueci de fechar as janelas. Minha cabeça estava girando e eu mal consegui dormir à noite. A imagem de Dave ensanguentado ainda atormentava minha cabeça e em consequência, todo o meu sistema nervoso. Suspiro ao me levantar com dificuldade da cama, eu estava morta e não queria ir à aula hoje. Definitivamente. Coloco os pés sobre o chão frio e caminho até o banheiro, escovando os dentes e arrumando meu cabelo bagunçando, somente para descer e tomar o café da manhã. Desço as escadas, devagar, ainda sonolenta, quase que contando os degraus. Vou até a sala de jantar onde meu pai e minha mãe já estavam posicionados na mesa, tomando chá. Camille também já estava lá, mas ela mal se comia. Suas mãos sempre apoiadas em sua cabeça. Talvez estivesse dolorida. A expressão dura de meu pai só comprovava que a conversa que tiveram nessa madrugada não foi uma das melhores. Sento-me na mesa dando bom dia a todos e ninguém responde, exceto minha mãe, que acaricia minhas bochechas.

— Você está bem querida? – Pergunta minha mãe e congelo sobre a cadeira. Ela perguntou de uma forma tão doce que já imaginei o pior.

— Claro. Por que a pergunta mãe? – Seu rosto se fecha e ela encara Camille, que não parava de me observar boquiaberta. – O que foi?

— Está vendo essas olheiras? Se eu dormir em alguma aula hoje a culpa é sua. Você gritou a noite toda. – Resmunga ela realmente sonolenta.

— Sinto muito, tive pesadelos, mal me lembro de ter gritado. – Digo calmamente e ela me lança uma careta.

— Camille, pare de resmungar, sua irmã não foi à culpada por não ter dormido esta noite. Sabe disso melhor disso do que ninguém. – Comenta meu pai ainda sem encarar nenhum de nós na mesa. Minha mãe encara o seu prato com ovos, jogando os talheres sobre eles, limpando o canto dos lábios com um paninho e se retirando dali pisando duro. Encolho-me na cadeira observando o silêncio reinar sobre todos nós. Observo a expressão irritada de meu pai e a expressão de desespero, tristeza e raiva estampada no rosto de Camille, que após alguns segundos também se retira dali. Continuo ali, comendo calada e meu pai decide sair da mesa também, se direcionando para a sala de estar somente para ler algum jornal. O que eu havia perdido? Olívia e Pietro entram em casa discutindo algo do qual não consegui entender, correndo para a sala de jantar, se sentando e comendo feito dois desesperados por comida, ainda discutindo.

— Bom dia para vocês também. – Digo observando os famintos brigarem agora por um pão.

— Eu vi primeiro. – Sussurra Olívia encarando Pietro de modo feio.

— Eu peguei primeiro. – Retruca Pietro puxando o pão para si enquanto Olívia cruza os braços, extremamente irritada. Eu senti falta disso.

— Bom dia. – Grito novamente para o que os mesmo me ouçam antes de Olívia decidir protestar. Eles me encaram e eu sorrio educada esperando ao menos um pouco de atenção.

— Bom dia. – Dizem ao mesmo tempo e voltam a se encarar feio. Dou uma risada.

— Qual o motivo da briga? – Pergunto arqueando a sobrancelha.

— Olívia insiste em dizer que o livro que ela comprou sobre um romance entre dois garotos apaixonados é melhor do que o que eu comprei. – Diz Pietro estupefato e eu fico estática sem acreditar que eles discutiam isso.

— O seu livro é sobre os melhores lugares para se comer na França e passear na França e tudo que tenha haver com França. – Grita ela já bastante irritada.

— O seu livro é triste. O garoto morre no final. – Diz ele se sentindo vitorioso. Olívia odiava quando te contavam algo sobre o livro que ela ainda não leu.

— Idiota. – Murmura ela.

— Que você ama e vai sentir falta. – Ele faz careta.

— Lógico. – Concorda ela e eles já estão de bem. De novo. Típico.

— Acho melhor irmos para a aula. – Digo levantando-me e correndo para o quarto somente para por uma roupa qualquer e para pegar minha mochila, descendo desesperada novamente.

— Mas eu não terminei de comer. – Resmunga Olívia assim que eu volto.

— Azar o seu baixinha. – Diz Pietro a puxando pelos braços para fora de casa enquanto ela tentava inutilmente pegar mais um biscoito. Saímos pra fora e caminhamos vagarosamente para demorar um pouco mais para chegar ao colégio, considerando que ele era há duas quadras dali. Nenhum de nós queria ir hoje. Encaro Pietro e vejo um pequeno machucado próximo ao seu olho.

— Você está bem? – Pergunto acariciando o local.

— Estou sim, só foi um murro. – Murmura dando de ombros e Olívia dá uma gargalhada.

— O outro cara que não pode dizer o mesmo. Eu nunca vi o Pietro bater em alguém naquele jeito. – Diz ela ainda rindo.

— Obrigada por ter tentado me defender. – Digo sincera e ele devolve com um sorriso.

Viramos a segunda esquina e já estamos próximo do colégio. O local estava calmo, tranquilo demais. Encaramos um ao outro e apressamos o passo, entrando no colégio e encarando todos ali. Alguns comentavam algo que não coseguíamos entender até ouvirmos um grito agudo. Um choro desesperado. Sigo o barulho até encontrar Sônia, capitã das líderes de torcida, sentada no chão agarrada aos joelhos com quase toda a escola em volta. Um das líderes se levanta para buscar água para ela e eu entro em seu caminho.

— O que está acontecendo? – Pergunto estupefata. Nunca havia visto Sônia assim.

— Não está sabendo? Dave, o namorado dela, foi assassinado esta noite. – Murmura ela, se afastando em busca do copo de água.

O meu mundo pareceu parar de novo. E todos os gritos de Sônia pareciam se tornar uma voz irritante gritando a todos ali que a culpa era minha. O som do tiro e os murros que Dave havia levado praticamente reaparecem em minha mente e eu me sinto fraca.

— Eu ouvi isso mesmo? Dave morreu? Como? – Perguntava Olívia atrás de mim ao lado de Pietro que soltou um sorriso fraco.

— A pergunta certa seria quem o matou. – Diz Pietro e eu engulo em seco.

“Continuava ali, agarrada em minhas pernas. Ouço um barulho de tiro e abro os olhos que até então estavam fechados encarando o local. Dave estava no chão. Levanto-me assustada e corro tropeçando em meus próprios pés para bem longe dali. Sinto alguém me segurar pelos quadris e vejo que é Ethan de esguelha.

— Me deixa em paz, por favor. – Estou chorando de soluçar. Nunca havia assistido a morte de ninguém. Ele continua me segurando e eu caio vagarosamente ficando praticamente mole em seus braços.”

A cena simplesmente não queria sair de meu cérebro. Eu sei quem matou Dave, Pietro. Foi Ethan. Ele matou Dave. Sem nenhum remorso. Era o que eu queria dizer. Mas por que eu não conseguia? O que me impedia? Encaro alguém ao longe que encarava a cena sem mover um dedo, sem perguntar nada a ninguém ou coisa relacionada. Estreito os olhos e vejo que é Ethan. Ele usava uma jaqueta de couro e uma blusa azul que combinava com sua calça jeans e mochila.

— Eu já volto. – Murmuro para Olívia e Pietro marchando até ele.


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