Opostos escrita por Mari


Capítulo 38
03x6. Cicatrizes.


Notas iniciais do capítulo

I G U A I S - Opostos Pt. III



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Eu corria pelos vastos corredores da mansão estranhando o fato de ninguém estar ali me seguindo. A cada porta que eu abria partia meu coração ao meio ao ver que Ethan não estava por trás de nenhuma delas. Eu sentia vontade de chorar com medo de qualquer coisa que tenha acontecido com ele. Parecia que eu estava com os pés presos ao chão tentando correr a todo custo. Minhas mãos apertavam com força o caco de vidro e eu sentia aquilo rasgar minha pele, derramando sangue em cada canto daquele lugar.

Viro o último corredor dando de cara com um capanga de Andrew, que aponta o gatilho da arma na minha direção, me escondo na parede ao perceber que ele estava prestes a atirar. Abro uma porta qualquer entrando no quarto, deixando a mesma entreaberta e enfiando o caco de vidro no pescoço do homem, assim que o vejo correr pelo corredor a espreita, apontando a arma para todas as direções. Ouço o barulho da presença de mais alguém no corredor, destravando o gatilho da arma, o piso rangendo cada vez mais alto a cada passo. Respiro fundo, com os olhos fechados.

— Sophie? – Abro os olhos ao ouvir a voz de Ethan. Seu rosto todo roxo e sua camiseta suja de sangue me fez, mais uma vez querer chorar. Puxo-o para os meus braços e ele envolve suas mãos em minhas costas, tão aliviado quanto eu.

— Temos que ir. – Digo assim que vejo alguns capangas subirem as escadas em direção ao andar de cima. Me afasto de Ethan e ele assentiu, segurando minhas mãos e correndo comigo entre os corredores.

— Não tem saída. Só as escadas Sophie. A não ser que... – Ele encara a grande janela no final do corredor e caminhamos até ela. Engulo em seco. Havia uma piscina enorme logo abaixo dela, a cor verde escura da água provava o quanto ela não era tratada a um bom tempo.

— Ethan... – Murmuro receosa e suas mãos vão em direção ao meu rosto. Era incrível como parecia não sentir dor, apesar da surra que havia levado.

— Confie em mim. – Diz confiante.

— Sabe que há chances de não cairmos na água não é? – Pergunto baixinho.

— Sei que depois de tudo que você passou é difícil que volte a confiar em mim, mas faça um esforço agora. – Repete e estranho o fato de falar da sua ausência como se soubesse o significado que ela tinha sobre mim.

Ele abre a janela e se aproxima de mim, me abraçando de forma protetora. Sinto sua respiração em minha nuca, me causando certos arrepios. E sem anunciar, ele pula a janela, ainda abraçado a mim e mal tive a reação de gritar, me agarrando mais a ele, temendo o pior. Ele afunda seu rosto no vão do meu pescoço enquanto caíamos na água, sentindo o impacto sobre nossas costas. Abro os olhos observando os seus acinzentados.

— Seu bruto. Idiota. – Xingo ele aos gritos enquanto me carregava até a sacada da casa de Clarice. Encaro a enorme piscina ali e meus gritos aumentam. Meu vestido era de uma marca famosa. Não queria molhá-lo. – Me desculpe. Eu não jogarei mais suco em você.

— O dano já está feito. – Diz ele se jogando na piscina enquanto me segurava com força. Debato-me dentro d’água, mas ele continua me segurando até o fundo da piscina.

Ele estava sem camisa e tive noção disso agora que o desespero parecia ter sumido. Seus olhos cinza estavam serenos e suas mãos continuavam em volta do meu quadril, mas não estavam mais tão fortes. Eu estava perdendo o ar, mas por que eu não queria sair dali?

Ethan nos guia até a superfície e nadamos até a borda saindo dali e correndo até a estrada de terra que dava para as pistas de corridas ilegais, que conhecíamos com a palma de nossa mão. Ouvimos o barulho de alguém destravando o gatilho e paramos no meio da estrada nos virando e dando de cara com o Logan. Ethan se põe entre ele e a arma, me deixando atrás dele. Seguro sua camisa molhada com força.

— Acham mesmo que vou deixar vocês irem embora depois do que fizeram com a Heather? – Pergunta ele com um sorriso no rosto.

— Abra os olhos Logan, não fizemos nada com ela. – Grita Ethan revirando os olhos.

— Claro que não foram vocês, ela se matou. Pegou uma arma e simplesmente atirou em si mesma. – Ironiza ele.

— Temos prova de que não matamos ela. – Murmuro. – Estávamos no Brasil quando tudo aconteceu.

— E quem pode garantir isso? – Pergunta ele.

— Eu posso. – A garota loira que estava com Andrew até algumas horas atrás aparece do nada. Eu a conhecia de algum lugar. Mas não conseguia me lembrar.

— Como é? – Logan a encara.

— Foi seu pai que matou ela Logan. Ethan e Sophie não tem nada a ver com isso. – Comenta ela dando de ombros. Ele solta a arma e a encara pasmo. Seguro a mão de Ethan com força.

— Você estava na casa de Benjamim. – Diz Ethan e meu cérebro destrava mais lembranças do rosto conhecido.

Ethan me encara e eu faço a maior cara falsa do mundo, tentando inutilmente esconder qualquer sentimento de raiva. A garota se levanta completamente animada puxando Ethan para dentro e uma enorme vontade de chorar me atinge. Benjamim se levanta somente para sentar ao meu lado e eu o encaro sorrindo educadamente.

— Espero que tenha gostado do meu humilde apartamento... – Murmura sorrindo abertamente.

— É um belo apartamento. – Comento encarando o local. – Pensei que morava nos Estados Unidos...

— Meu sangue é brasileiro Sophie... E as coisas sempre são mais fáceis no Brasil. – Ele pisca os olhos em minha direção apontando para as garotas que sorriam para ele e eu acabo dando uma risada. Ouço um barulho na porta do armário e encaro lá rapidamente. – Parece que Ethan está se divertindo com Katheryn...

— Logan... Seu pai é obsessivo pelo Anthony. Enquanto não ver esse homem morto não irá descansar. Ele mal se importa com a sua vida. Vai mesmo lutar do lado errado? – Pergunta ela e Logan nos encara.

— Então por que está com ele? – Balbucia.

— Pelo mesmo motivo que Blair tinha ficado... Medo. – Digo baixinho e ela me encara assentindo.

Logan coloca as mãos no bolso da calça jeans, tirando uma chave jogando na direção de Ethan que pega quase que de imediato.

— O meu carro está estacionado alguns metros à frente. Eu dou cobertura a vocês. – Katheryn retira um revólver de sua calça e eu os encaro, agradecida. Estávamos prontos para correr quando Logan nos chama mais uma vez. – Avisa o Anthony que ele tem um novo aliado.

Ethan assentiu me puxando mais para si enquanto íamos em direção ao carro. Entramos quase que de imediato e decidimos que eu iria dirigir já que ele não estava em condições de fazer aquilo. O sol que estava tão claro agora se estava escuro e frio, e uma chuva das fortes ameaçava cair, e não durou muito tempo até que aquilo acontecesse.

— Pode estacionar no meu apartamento? Acho que eu preciso colocar um curativo nessa ferida aqui o mais rápido possível... – Murmura Ethan levantando a camisa e me mostrando um corte feio. Estaciono no prédio e desço. Subimos o elevador em silêncio.

— Ethan, sobre seu apartamento... Bem... Eu meio que tenho morado nele. E também reformado... E também mudado a mobília. – Digo receosa assim que chegamos ao andar do apartamento e o vejo sorrir.

— Tudo bem... O apartamento estava realmente precisando de mudanças. – Comenta e eu estranho, abrindo a porta e deixando-o entrar.

Retiro minhas botas deixando-as jogadas em um canto qualquer assim como minha jaqueta. Eu estava morta. Caminho até a cozinha abrindo uma grande gaveta com alguns equipamentos de primeiro socorros e pego os mesmos me aproximando de Ethan que havia tirado a camiseta. Respiro fundo. É só um cara sem camiseta Sophie, pensava comigo mesma. Ele me encara com um sorriso sacana no rosto e eu sinto vontade de socá-lo. Pego um algodão com álcool e passo sobre sua ferida ouvindo-o resmungar.

— Não está muito profundo... Isso é bom. – Digo baixinho enquanto colocava o curativo. Ele me encarava com intensidade e era incrível como aquilo não me incomodava. Já estava à noite e a lua iluminava a enorme sala sem nenhum problema. – Bem... Já está tarde, não acho que deva dirigir uma hora dessas então, pode ficar aqui. Afinal, o apartamento é seu.

Sorri e ele assentiu.

Subo as escadas e coloco uma roupa confortável, a presença de Ethan nesse apartamento me causava graves sensações. Abro as enormes portas que levavam em direção à sacada e me sento em um pequeno banco encarando o barulho da chuva colidindo com o chão.

— Sophie? – Ouço-o me chamar baixinho.

— Hm?

— Me deixe ver seus cortes. – Pede e eu o encaro.

— Andrew te mostrou alguma coisa também não é? – Pergunto encarando o chão. Ele se senta ao meu lado.

— Alguns vídeos seus treinando. – Comenta e eu fico pasma.

— Como ele...?

— Isso não importa agora. Por favor... – Sussurra voltando ao assunto.

— Para que você quer ver isso Ethan? Está tudo bem. – Balbucio.

— Eu quero ver quantas vezes você precisou de mim e eu não estava. – Diz próximo ao meu ouvido me fez ficar petrificada, me sentindo tímida como uma garotinha de seis anos.

Suas mãos tocam as minhas de forma delicada, o olhar sem nunca desviar do meu. Tudo aquilo parecia tão familiar que de certa forma me assustava, porque também parecia certo. Parecia que eu podia pular em seus braços e atacar seus lábios. Parecia que o mundo estava sobre nossas costas, mas podíamos lidar com aquilo facilmente. Então ele encara a palma de minha mão, as marcas de cortes que os punhais fizeram em cada uma denunciavam o quão difícil foi aprender a manuseá-las.

O corte recente do caco de vidro destacando entre todas as outras. Encaro Ethan que tocava cada corte cuidadosamente como se esperasse que eles desaparecessem dali. Eu via a dor em seus olhos. E percebia pela primeira vez que ele se sentiu tão mal quanto eu em todo esse tempo longe. E que o motivo por ter ficado longe era algo que talvez, eu pudesse entender. Sorri ao vê-lo. Então ele me puxa para perto e faz com que eu deite minha cabeça em seus ombros. Seus braços me envolvendo com cuidado.

— Você está machucado. – Murmuro tentando me escapar de seus braços, mas ele não permite com um sorriso no rosto.

— Eu não me importo. – Sussurra beijando o topo da minha cabeça e me dou ao luxo de aproveitar aquela calmaria, deixando o cansaço vencer. E eu durmo nos braços dele.


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