Opostos escrita por Mari


Capítulo 29
02x3. Dúvidas


Notas iniciais do capítulo

D I S T A N T E S - Opostos pt. II



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502046/chapter/29

Eu sentia cada neurônio queimar meu corpo em um ódio até então desconhecido. Meu pé, dolorido, ainda sobre o acelerador do carro. Os olhos no trânsito, a cabeça longe... Imaginando a última vez em que eu e Camille conversamos decentemente. E o quanto eu sentia falta daquilo. O quanto eu era idiota em alimentar um rancor bobo que só me fazia afastar ainda mais daqueles que se importam comigo... Minha família. Como pude ser tão infantil, Camille não sabia o quão grave seria o plano de Heather. Ela mal tinha noção de onde estava se metendo e eu praticamente joguei um milhão de pedras em sua direção. Respiro fundo, engolindo qualquer vontade de choro que quisesse aparecer, estacionando em frente a minha antiga casa. Minha mãe regava as flores que enfeitavam a fachada da casa e eu saio do carro respirando com dificuldade e correndo até ela.

— Mãe, onde está a Camille? – Pergunto entre arfadas. Minha mãe solta o regador com uma pressa desnecessária se aproximando mais de mim e me dando um forte abraço.

— Sophie... Querida... – Murmurava acariciando meu cabelo e apreciei aquele pequeno gesto por alguns segundos, antes de meu pai descer ás escadas em desespero até mim.

— Aqui está. Todas as últimas ligações de Camille, ela havia dito que iria até a casa de Suzanna não tem nem dois minutos... Se Santiago realmente a sequestrou, conseguiremos pegá-la. – Grita meu pai jogando uma lista em minhas mãos e entrando no carro. Arqueio a sobrancelha e encaro minha mãe confusa.

— Por favor, Sophie, só vá... Responderemos todas as perguntas que tiver depois. – Diz antes que eu me manifestasse e eu assenti espantada com o que havia acabado de acontecer.

Corro em direção ao carro e observo meu pai por alguns segundos, antes de ligar o carro e corremos em desespero, desviando de carros, motos e pedestres.

— Pai... Eu...

— Eu sinto muito Sophie. Por tudo. Eu fui tão idiota, eu já fui como Anthony, eu já desejei experimentar esse novo mundo desconhecido. Você é minha filha, era lógico que seria parecida comigo nesse quesito. Eu sinto tanto.

— Do que você...? – Antes que eu terminasse a pergunta, balanço a cabeça, tentando me focar naquilo que era importante. – Falamos disso depois... O foco agora é salvar a Camille pai.

Ele assentiu e eu piso mais fundo no acelerador. Se minha irmã possuir um arranhão, qualquer que seja Santiago irá desejar nunca ter nascido. Irá desejar nunca ter sequestrado-a, nunca ter tocado nela. Paro o carro ao ver a casa de Suzanna e Olívia repleta de viaturas policiais e Seymour ao lado da mãe das meninas conversando com ela calmamente. Desço do carro correndo até Olívia que estava no canto observando ao longe, sua cabeça se levanta ao ver minha aproximação e ela corta nossa distância, me encarando como se não entendesse nada.

— A Camille passou por aqui? – Pergunto temendo a resposta.

— Sim, mas alguém ligou para ela, deixando-a assustada e ela saiu desesperada porta afora... Sophie, o que está acontecendo? – Viro as costas correndo em direção ao carro, mas sinto as mãos de Olívia me segurarem com força.

— Olívia, eu preciso...

— Ir? Porque é só isso que tem feito desde que Ethan foi embora. Ir. Você mudou Sophie... Para pior. Mal te reconheço. Eu nunca te questiono nada então pode ao menos responder essa mísera pergunta antes que eu vire os calcanhares e caminhe de volta para a minha casa como se nada tivesse acontecido... Como se você não fosse mais minha melhor amiga? – Pede baixinho e eu sinto como se tivesse levado uma facada no peito. Realmente tenho me afastado de Olívia porque Anthony sempre me ligava para um treinamento ou outro. E porque eu temia. Temia com todas as minhas forças que algo acontecesse com eles por minha culpa.

Ouço meu pai me gritar já dentro do carro e deixo uma lágrima escapar de meus olhos enquanto ainda encarava o rosto da única que poderia me entender agora. Mas eu precisava ir e só podia esperar que ela me entendesse depois que tudo estivesse calmo... Depois que Camille estivesse a salvo. Olívia parecia entender o que meu olhar dizia, pois soltou minha mão e se virou indo embora. Iria chamar seu nome quando novamente meu pai insiste que fossemos embora. Respiro fundo entrando no carro.

— Onde está a lista com os últimos números que ligaram para a Camille? – Peço baixinho e ele me entrega me olhando com um ar de pena.

— Sophie...

— Está tudo bem, pai. Sério. Por favor, só... Vamos encontrá-la, eu prometo, eu...

— Eu sei. – Interrompe meu pai como se lesse meus pensamentos.

Pego meu notebook, que estava no banco de trás do carro e uso o programa que Anthony havia me ensinado para baixar automaticamente um aplicativo no celular de Camille que me desse acesso ao aparelho. Clico na gravação da última ligação que ela havia feito.

Alô – Murmurou Camille com seu velho ânimo. Havia se passado apenas um ano, mas sua voz mudou um pouco. Mas o som da sua risada continuava o mesmo. Com a antiga ingenuidade de uma criança de cinco anos. Sorri de imediato.

Camille! É um prazer estar falando com você...

Quem é você? – A voz dela estava aguda, o espanto e a surpresa pela voz desconhecida saber o seu nome. Estremeço.

Um velho amigo, diga-se de passagem... – A voz de Santiago ecoava pelo carro e meu pai pragueja baixinho. Eram tantas perguntas para se fazer em um momento tão curto como aquele. Estávamos correndo contra o tempo.

O que você quer?

Eu? Eu quero muitas coisas, pequena Hamswere... A começar, com a cabeça da sua irmã e do namoradinho dela pendurados na parede de meu quarto. Você também queria o mesmo não era? Me lembro bem de Heather me contando sobre como conseguiu enganar um Hamswere. — Suspiro pesadamente.

O quê? Eu nunca... Eu não... Onde está Sophie? O que você quer? Por que...?

Quantas perguntas, pequena... Como sou um cara direto, serei curto e... Talvez um pouquinho grosso então peço que me perdoe. Saia da casa de sua amiga imediatamente e caminhe em direção ao carro preto estacionado em frente á casa. Quem sabe não consiga salvar sua irmã da morte já que insiste em mostrar o quanto se importa com ela... — A respiração pesada de minha irmã demonstrava medo, mas ainda assim ela foi. Para me salvar. Fecho o notebook, ligando o carro e antes que eu pudesse acelerar o carro, meu pai me para.

— Espere. Eu sei para onde Santiago a levou Sophie. Eu sei para onde Santiago levou Camille. – Murmura ele e eu sigo suas instruções, correndo em desespero pelas ruas da cidade.

Jolene

2 meses depois...

Nossos lábios se encontravam famintos, e se separavam praticamente implorando por mais. Meus olhos se encontram com os seus e um sorriso sai de meu rosto. Um sorriso brincalhão. Eu sabia que Ethan não me amava. Sabia que a qualquer momento, ele me deixaria sozinha no meio do nada, me perguntando como pude ser tão idiota em pensar que iria conseguir fazê-lo se apaixonar por mim. Mas meu cérebro ignorava qualquer pensamento como esse. Como se tudo que importasse fosse o agora. E meu subconsciente não podia estar mais certo.

— Então... Para onde nós vamos? – Pergunto baixinho segurando a garrafa de vinho e mais duas taças. Ele sorri de lado ligando o carro e pisando fundo no acelerador. Eu não me importava. De maneira nenhuma... Eu só queria estar com ele. Agora. Porque provavelmente seria a última vez. Porque provavelmente, a garota que ele tanto ama retorne para seus braços e eu me torne apenas uma conhecida que entrou em seu caminho por acaso.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Opostos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.