Opostos escrita por Mari


Capítulo 14
14. Contos de Terror.




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“Eu estava com ele. E estava feliz. Não uma felicidade comum da qual você geralmente sente ao estar com a família ou amigos. Uma felicidade na qual muitas pessoas descrevem, mas poucas realmente haviam sentido. Ele corria atrás de mim, como em uma brincadeira. Ele suava e seus cabelos colavam em sua testa com o suor. Um sorriso brincalhão saia de seus lábios enquanto eu virava meu corpo para encará-lo, e ele provavelmente pensava que eu observava o fato de estar aproximando ou não, mas eu pouco me importava com esse fato. Paro de imediato e acabo tropeçando em uma das pedrinhas espalhadas pelo chão, caindo próximo do campo de flores. Uma gargalhada sai de meus lábios ao ver sua expressão preocupada estampada em seu olhar cinza.

— Você me assustou. – Sussurra ele baixinho, deitando-se ao meu lado e encarado o céu nublado.

— Eu somente tropecei. – Digo dando de ombros ainda rindo e seguindo seu olhar. As folhas balançavam quase dançando com todo o vento ao redor.

— Podia ter sido pior. – Ele diz ainda bravo por eu estar achando tudo aquilo engraçado.

— Você diz isso de uma forma tão protetora... Só falta me colocar em uma bolha. – Murmuro zombando e fechando os olhos sentindo o vento acariciar meu rosto.

— Uma bolha não é necessário porque eu te protegerei Sophie. Eu sempre te protegerei. – Diz ele convicto e meu rosto se fecha. Aquela frase me atingiu tão fundo que tive vontade de chorar. Não por ter dito aquilo com tanta convicção, mas porque ele iria embora e por esse motivo, aquela frase soou tão mentirosa. Ele pareceu perceber minha amargura, me puxando para si e me abraçando firmemente, beijando em minha testa protetoramente. – Eu estou falando sério. – Completa.

— Mas você vai embora. – Aquelas palavras, que saíram se misturando com o salgado de algumas lágrimas que insistiram em cair, doeu tanto quanto qualquer dor que jamais senti.

— É eu vou. – Concorda finalmente me encarando. – Mas eu vou voltar. Um dia.”

Abro os olhos ao ouvir o grito do professor dizendo que finalmente havíamos chegado ao acampamento. Tento me espreguiçar, mas sinto braços fortes me impedindo de fazê-lo. Levanto o rosto vagarosamente somente para identificar o dono dos braços dando de cara com Ethan. Ele dormia serenamente e parecia não ter ouvido o grito do professor.

Ele se espreguiça me soltando e abre os olhos, levanto-me vagarosamente pegando meu travesseiro jogado no chão. Me lembro do sonho estranho que tive e balanço a cabeça espantando aqueles pensamentos tentando esquecer aquilo. Ethan me encara e sorri ao finalmente perceber o que havia acontecido.

— E dormimos literalmente juntos. De novo. – Balbuciou se levantando pegando seu travesseiro. Dou um sorriso falso para ele descendo do ônibus e pegando minhas malas. Ele faz o mesmo e por incrível que pareça tinha somente uma mochila.

Pelo visto ele era como Olívia que achava que não necessitaria de tantos equipamentos para ficar apenas dois dias no acampamento. Já estava anoitecendo e o pôr do sol estava lindo sendo visto dali, na mata. O local era uma área enorme repleta de chalés e ao fundo um enorme casarão feito de madeira onde era a cantina e o dormitório dos funcionários.

— Se aproximem crianças. – Diz o professor e todos se aproximam enquanto eu e Ethan ficamos afastados da maioria. – Eu irei entregar as chaves para vocês de seus devidos chalés. Vocês vão se acomodar e tem uma hora para estar na cantina com suas devidas roupas de banho. Vocês irão tomar banho na cachoeira, mas antes terão a palestra de alguns dos supervisores do acampamento. Formem uma única fila com seu devido par para que eu possa lhe entregar a chave.

Todos formam uma fila rapidamente, conversando sobre coisas aleatórias. Ethan continua parado ali e eu fico irritada por vê-lo parado, me aproximando da fila. Ele por fim, se aproxima de mim e fecha a cara fazendo uma expressão séria.

— Qual é o seu problema com as pessoas? – Pergunto dando uma risada.

— Como assim? – Diz ele sem entender.

— Vive afastado de todo mundo se fazendo de cara mau. Nem todos são ruins, Ethan. Por que não faz amizades? – Falo baixinho enquanto a fila, aos poucos, diminuía.

— Eu já fiz uma amizade. Com você. – Responde sério encarando todos animados entrando em seus devidos chalés.

— Certo, mas por que não faz outras amizades?... – Insisto no assunto e ele sorri debochado.

— Eu tenho amigos o suficiente. – Retruca mostrando indícios de uma possível irritação.

— Adam? –Insinuo mostrando o número de amigos que ele tem. O mesmo me encara descrente. – E eu. – Completo pigarreando e ele sorri satisfeito.

— Você e Adam não são meus únicos amigos. – Murmura em resposta. Faltava pouco mais de duas pessoas para finalmente chegar a nossa vez de pegar a chave.

— Mas somos os únicos que você tenha demonstrado um pouquinho de bondade. – Retruco de volta e ele sorri.

— Um pouquinho de bondade? – Repete ele.

— Você nunca foi legal com nenhuma outra pessoa além de nós dois. – Digo ainda séria, mas não arrancando o sorriso do rosto dele.

— Eu já fui bom com outras pessoas. Você pensa que me conhece o suficiente Sophie, mas está enganada. – Vocifera. Finalmente chegou a nossa vez e o professor sorri nos entregando a chave. Sorri de volta. Olívia estava do lado dele se candidatando para ser voluntária do acampamento e ajudá-lo no que precisar e Pietro estava entre eles revirando os olhos sempre que pronunciavam uma palavra. Caminho em silêncio até o nosso chalé que era perigosamente afastado da maioria.

— Então para quem mais já mostrou tanta bondade?... – Sussurro enquanto entrávamos no chalé.

O local era minúsculo, havia duas camas de solteiro, bastante próximas, de lençóis brancos. Uma pequena chaminé em frente as duas, e uma cômoda entre elas. Ao lado da chaminé uma porta que levava ao banheiro. Deixo minhas malas em cima da cama próxima à janela. Gostava de dormir observando as estrelas e não havia lugar melhor do que aquele. Ethan não diz nada, simplesmente coloca a mala na cama ao lado. Agradeço mentalmente por ele não ter reclamado. Abro minha mala pegando um biquíni ali e caminhando em direção ao banheiro.

— Eu já mostrei bondade para a Heather. E outras coisas mais... – Murmura dando uma risada. Fecho a cara imediatamente e sinto minhas bochechas queimarem.

Entro no banheiro e fecho a porta com força desejando não poder olhar na cara dele de novo. Não que eu estivesse brava. Eu estava envergonhada. Me encaro no pequeno espelho do banheiro e vejo uma pessoa com as bochechas extremamente vermelhas no reflexo. Quero enterrar a minha cabeça agora. Tiro minha roupa vagarosamente colocando o biquíni e um vestido por cima todo rendado que não escondia em nada a minha roupa de banho que possuía uma cor preta.

Saio do banheiro ainda vermelha de vergonha e dou de cara com o Ethan com o peitoral desnudo, prestes a colocar sua camiseta. Seus olhos me encontram e ele dá uma rápida olhada na roupa que eu usava. Encolho os ombros, agarrando meus próprios braços tentando esconder minha pele a mostra. Ele sorri de lado terminando de vestir a camiseta.

— Já colocou sua roupa de banho? – Pergunto e ele assentiu.

— Não precisa ficar com vergonha... Vai ter que tirar esse vestido na cachoeira de qualquer jeito. – Sussurra e eu sinto um arrepio na espinha. Ethan da uma risada e coloca os braços em volta dos meus ombros, me conduzindo até a cantina.

Havia três supervisores no centro da cantina e como sempre Ethan prefere se sentar longe de todo mundo, faço o mesmo em forma de agradecimento por ter me deixado dormir próximo da janela. Os supervisores como sempre explicaram todas as regras do acampamento nos entregando um folheto que mostrava o mesmo que havia nos explicado. Eles também contaram sobre os sinos e o que cada um representava.

E se o sino fosse tocado mais de uma vez no mesmo minuto significava que algum local do acampamento havia pegado fogo e deveríamos sair do nosso chalé ficando do lado de fora até que um supervisor aparecesse para fazer a chamada e se certificar de que todos estavam ali. Todos assentiram concordando com todos os termos do acampamento. Desde os realmente importantes até as regras mais bobas como não se afastar do seu par em nenhum momento.

Devíamos assinar uma folha mostrando que realmente concordamos com tudo e assim o fizemos. Encaro em volta e vejo Olívia, Pietro e o professor sentados em uma mesa da frente. Arqueio a sobrancelha para Pietro assim que seus olhos encontram com os meus e ele simplesmente dá de ombros mostrando não entender nada assim como eu. Finalmente os supervisores nos deixam ir até a cachoeira e todos correm animados até lá. Eu e Ethan vamos quase como que contando os passos. A cachoeira era enorme e ficava no meio da floresta ali. Havia várias pedras e rochas grandes em volta onde podíamos nos sentar e relaxar. Ninguém ousava se aproximar da cachoeira. Acho que tinham medo, não sei. Sempre ficavam do lado afastado dela, mas eu gostava. A água era mais quente lá. Afasto-me de Ethan e caminho em direção à cachoeira, tirando meu vestido e indo em direção à água. Eu não sabia mergulhar muito bem, sempre tive medo de me afogar sendo assim nunca aprendi a mergulhar perfeitamente, então ficava somente até onde meus pés realmente alcançavam. Olho para trás e vejo Ethan se aproximando.

— Que garota rebelde... Se esqueceu da regra em que não pode se afastar de mim? – Murmura brincalhão e eu sorri pegando um pouco de água jogando em meu rosto.

— Desculpe, me esqueci que somente você pode ser o rebelde. – Retruco e ele dá uma gargalhada mostrando mais uma vez suas covinhas, me fazendo rir também.

— Mas outra regra da qual não deve se esquecer. – Sussurra próximo ao meu ouvido.

Ethan estava sem camisa e eu encarei seu peitoral rapidamente desviando o olhar. Ele encara a cachoeira que estava a poucos metros em nossa frente e se aproxima mais. Mergulhando e passando por debaixo da cachoeira. Me aproximo e encaro a água que era cristalina dando a chance de observar em baixo d’água sem estar realmente mergulhando ali. Mas nem sinal de Ethan.

— Ethan. – Chamo baixinho ainda encarando o local. – Ethan, isso não tem graça. – Engulo em seco e sinto um cutucão na cintura, viro-me dando de cara com o mesmo que deu uma gargalhada ao ver que dei um pulo assustada soltando um grito desnecessário chamando atenção dos outros. Dou vários tapas em seu ombro. – Eu fiquei preocupada seu idiota.

— Está bem, chega de violência. – Sussurra ele segurando meus pulsos e me puxando para si. Seu olhar cinza observa meus lábios atentamente enquanto eu observava os seus, ele se aproximava vagarosamente e eu sentia minha respiração pesada e acelerada a cada aproximação.

Fecho os olhos e deixo os lábios entreabertos. Fico mais tempo de olhos fechados do que realmente esperava. Abro-os dando de cara com o Ethan mais afastado, me encarando com um sorriso de lado estampado no rosto observando cada movimente meu. Afasto retirando meus pulsos da palma de sua mão ao ouvir o grito do professor. Caminho vagarosamente para longe da água pegando uma toalha e me enxugando, colocando o vestido por cima e saindo dali.

— Pessoal, mais tarde teremos contos de terror em volta da fogueira. Terão um tempinho para comer agora. – Diz o professor se afastando ao lado de Olívia e Pietro.

Corro para o chalé e fecho as portas, pegando um moletom e indo para o banheiro trocar de roupa. Já estava anoitecendo, a viagem havia sido muito longa. Enxugo meus cabelos com a toalha e penteio vagarosamente saindo do banheiro e vendo Ethan sentado na cama como se me esperasse para usa o banheiro. Ando cabisbaixa até a minha cama, me dando conta que usava somente roupas íntimas e um moletom que não me cobria totalmente. Me esqueci por alguns minutos que ele era meu colega de quarto, não Olívia. Coloco uma calça confortável e uma chinela. Ethan sai do banheiro alguns segundos depois usando somente uma calça e deitando na cama.

— Não vai jantar? – Pergunto baixinho vendo-o negar com a cabeça. Caminho até a porta em silêncio saindo dali e indo em direção à cantina.

Pego uma bandeja colocando um pouco de comida em um prato e pegando um suco de laranja indo até o local onde estavam sentados Pietro, Olívia e o professor. Todos se sentavam com seu devido grupinho e eu encaro meu chalé ao longe na esperança de ver Ethan saindo dali e vindo em direção à cantina. Eu sinceramente não sei o que deu nele. Sento-me ao lado de Pietro e pigarreio chamando a atenção de Olívia que conversava com o professor sobre literatura. Cadê a Olívia e o que essa garota fez com minha amiga? É um clone dela, só pode. Ela finalmente percebe minha presença e sorri.

— Olá Sophie. – Diz ela e o professor sorri carinhosamente para mim quando eu finalmente ia dar uma colherada no meu prato de comida. Tudo bem. Ela geralmente me ignoraria ou diria que estava no meio de um assunto, para eu largar de ser intrometida... Olívia não me cumprimentaria. Solto a colher imediatamente e afasto minha bandeja encarando os dois.

— Tudo bem... O que vocês têm? – Pergunto séria e Olívia quase engasga com a própria saliva enquanto observo o professor ficar roxo de vergonha. Pietro me encara assustado. Um silêncio torturante reina em nossa mesa, a não ser o barulho das outras pessoas e da Olívia que continuava engasgada. Eu sabia que ela estava mentindo. Ela sempre inventava um engasgo do nada diante de alguma pergunta constrangedora.

— Como é? – Devolve-me a pergunta depois de parar de tossir parecendo que ia morrer.

— Você me ouviu muito bem senhorita Blayden. – Murmuro seu sobrenome somente para mostrar a ela minha irritação. Ela engole em seco. – Se estão namorando, poderia ao menos ter contado aos amigos próximos...

Cruzo os braços e ela encara o professor que assentiu como se pedisse para ela dizer.

— Estamos namorando há um tempinho sim, Sophie. Mas ninguém pode descobrir. – Diz o professor baixinho depois de ver que Olívia não iria dizer nada sobre o assunto.

— Não é só você que pode se divertir senhorita Hamswere. – Vocifera Olívia também cruzando os braços e me encarando feio. Cerro os olhos.

— Se ninguém pode descobrir professor Miles, poderiam ao menos tentar esconder isso, porque quase toda a escola já entendeu o que há entre vocês dois. – Digo e Pietro continua estupefato. Do nada sua cara se fecha.

— Eu vou voltar para o chalé. – Sussurra ele parecendo chateado e indo em direção ao seu chalé. Olívia engole em seco o encarando ir quase correndo até lá. Finalmente me ligo do que estava acontecendo ali. Olívia não tinha nos contado porque sabia que o Pietro havia começado a gostar dela e a irritação em seu rosto ao me encarar demonstrava isso. Miles, nosso professor, encara Olívia parecendo indignado (ou enciumado) com sua irritação desnecessária. Pietro sabia disso que eles estavam juntos. Não éramos idiotas. Mas as palavras doem mais do que a incerteza, porque elas mostram convicção em algo que você ainda duvidava. Afinal, nenhum de nós tinha certeza do que realmente havia acontecido.

— Desculpe. – Murmuro. O professor assentiu sorrindo educadamente e Olívia me encara fazendo o mesmo.

— Tudo bem, ele iria descobrir uma hora ou outra. Mas o que dizia mesmo sobre esconder melhor isso? – Pergunta ela se aproximando e o professor faz o mesmo.

— Sério? Olívia, primeiramente você não é educada o tempo todo. Isso já demonstrava que estava apaixonada. O fato de ter se animado demais com o acampamento e viver se aproximando do professor só me fez ter certeza de quem era. – O professor volta a ficar envergonhado e Olívia demora a engolir as palavras ditas por mim, mas acaba sorrindo ao perceber que eu estava completamente certa.

— É verdade, eu deixei de fazer muita coisa que eu queria... – Sussurra.

— E o que você tanto queria fazer? – Pergunta o professor dando uma risada e Olívia arqueia a sobrancelha arrancando uma gargalhada minha... Eu sabia muito bem o que ela tanto queria fazer. Guerra de comida.

— Se eu fosse você, eu faria... E tentaria deixar o seu professor mais afastado de você. Nenhum aluno gosta tanto de ficar perto do professor, sem querer ofender. – Miles dá de ombros e Olívia assentiu, olhando para os lados, e dando um selinho nele rapidamente antes que ele saísse da mesa. Assim que ele se senta na mesa dos professores, os outros conversam com ele encarando Olívia. Ela percebe e me encara enquanto eu dizia apenas com olhar que eu havia avisado que os dois estavam muito suspeitos. Comemos vagarosamente e o professor avisa que a fogueira estava pronta para sentarmos em volta da mesma.

— O que eu faço? – Pergunta baixinho.

— Tente não ficar muito perto e muito animada. – Respondo sorrindo e ela assentiu correndo até a fogueira assim como os outros.

Quando finalmente, eu estava sozinha na cantina, pego minha bandeja já vazia e monto uma para Ethan. Ele devia estar morrendo de fome mesmo que estivesse escondendo isso de mim e de si mesmo. Caminho vagarosamente até meu chalé e o encontro ainda deitado encarando o teto. Ele ainda mal havia notado minha presença. Coloquei a badeja no pé da cama e viro-me para sair do chalé quando ouço-o me agradecer baixinho, quase como se não quisesse que eu ouvisse seu agradecimento. Abro a porta e saio dali indo até a fogueira, sentando-me ao lado do Pietro que ainda parecia desolado. Olho em volta e vejo Olívia ao lado do professor. Ela não aprende mesmo.

— O que houve com a Anna? – Pergunto enquanto um dos garotos começava a contar sua história de terror, chamando a atenção de Pietro que me encara tristonho.

— Já se apaixonou por duas pessoas e decidiu escolher a outra pelo simples fato de jamais ter a chance de ficar com aquela que você realmente queria escolher? – Questiona e eu encaro a fogueira pesquisando em minha memória qualquer possibilidade disso ter acontecido. E então eu me lembro do sonho. Sorri de imediato.

— Você vai voltar Pietro. Não é como se a chance de escolhê-la fosse algo impossível. – Sussurro em resposta.

— Eu só vou voltar duas vezes no ano, ela não merece isso. Eu não mereço isso. – Diz ele também encarando a fogueira.

— Não é como se fosse morar lá para sempre... Quando eu digo que vai voltar Pietro, não digo me referindo a voltar nas férias ou coisa relacionada. Me refiro ao fato de que pode voltar para morar. – Digo baixinho. – Se gosta tanto da Olívia porque não contou a ela?

— Ela já sabe. – Afirma. - Você conhece aquela baixinha.

— Sabe, mas, não tem certeza. As suas palavras só deixarão ela mais convicta daquilo que ainda é incerto para ela. – Vocifero e ele me encara com um sorriso no rosto.

— Você está certa. Acha mesmo que eu devo contar para ela? Quer dizer, ela está com o professor.

— Conhece a Olívia, ela só se sente atraída por ele. Afinal, ele não é um professor velho como os outros. Ele é bonito. Não dou nem um mês para esse romance deles acabar. – Murmuro dando de ombros. Observo todos em volta da fogueira e vejo Ethan ao longe, sentado perto do lago ouvindo todas as histórias de terror de longe. – Eu já volto.

Levanto-me caminhando vagarosamente até Ethan e me sentando ao seu lado. Ele não diz nada, continua observando a turma contando algumas histórias já conhecida e acrescentando algo mais somente para parecer original.

— Vai me contar o que aconteceu? – Pergunto baixinho e ele sorri.

— Não. – Nega ainda sem me encarar.

— Ok... Não precisa contar agora. Mas vai ficar me devendo uma resposta. – Murmuro voltando minha atenção às histórias.

— Essa moça estava muito doente e teve que ser internada em um hospital. Desenganada pelos médicos, a família não queria que a moça soubesse que iria morrer. Todos seus amigos já sabiam. Menos ela. E para todo mundo que ela perguntava se ia morrer, a afirmação era negada. Depois de muito receber visitas, ela pediu durante uma oração que lhe enviassem flores. Queria rosas brancas se fosse voltar para casa, rosas amarelas, se fosse ficar mais um tempo no hospital e estivesse em estado grave, e rosas vermelhas se estivesse próxima sua morte.

Sinto meu corpo se arrepiar e arregalo os olhos. Odiava histórias de terror desde o dia de Halloween e Camille me contou um história de terror me deixando com medo e me pregou uma peça dias depois de eu ter ficado paranoica com a história. Ethan finalmente me encara e ri da minha cara assustada.

— Certa hora, bate a porta de seu quarto uma mulher e entrega a mãe da moça um maço de rosas vermelhas murchas e sem vida. A mulher se identifica como "mãe da Berenice". Nesse meio de tempo, a moça que estava dormindo acordou, e a mãe avisou pra ela que a mulher havia deixado o buquê de rosas, sem saber do pedido da filha feito em oração. Ela ficou com uma cara de espanto quando foi informada pela mãe que quem havia trazido as rosas era a mãe da Berenice. A única coisa que a moça conseguiu responder era que a mãe da Berenice estava morta há 10 anos. A moça morreu naquela mesma noite. No hospital ninguém viu a tal mulher entrando ou saindo. – Continuou o garoto e todos riram dele dizendo que aquilo era uma história ridícula e que não era de terror. Não tinha para eles, eu estava me borrando de medo.

— Vamos para o chalé? – Sussurro e Ethan assentiu ainda dando gargalhada do meu estado de pavor. Vamos vagarosamente para o chalé e eu fecho a porta a trancando desesperadamente enquanto ele arrancava seus sapatos e arrancava sua camiseta se jogando na cama.

— Está com medo? – Pergunta rindo e eu o encaro séria.

— Claro que não, aquela história não é nem um pouco medonha. – Sussurro em resposta e ele dá de ombros, se ajeitando para dormir.

Caminho vagarosamente até a minha e deito. Aquela história não queria sair da minha cabeça e eu acabei encarando a janela onde havia um pequeno campo de flores. Fecho os olhos ao ver que as flores eram rosas vermelhas e me cubro até a cabeça com a coberta. Suspiro me virando para o lado oposto da janela. Encaro Ethan por alguns segundos que estava de costas para mim. Levanto-me indo em direção à cômoda e a arrastando para perto da chaminé, encaro Ethan mais uma vez somente para ter certeza de que ele estava dormindo. Corro até a minha cama e a arrasto para perto da dele. Arrumo minha coberta e ele acorda se virando para mim e me encarando confuso ainda sonolento. Aproveito seu braço esticado na cama e deito-me usando ele de travesseiro enquanto ele passava um de seus braços em minha cintura, me puxando mais para si, protetoramente.

— Eu sabia que você estava...

— Calado.


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