Opostos escrita por Mari


Capítulo 1
1. Só se pedir por favor.




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A tempestade estava aumentando na cidade, mas ninguém gostava de perder o culto. Todos caminhavam desesperados, procurando um bom lugar para ouvir as palavras de Deus. Eu e minha mãe andamos vagarosamente, juntamente com minha irmã que não larga de seu celular nem para prestar atenção na missa, em sinal de respeito. Isso me irrita bastante, mas não devo opinar. Quem decide o que minha irmã deve fazer é minha mãe e não eu. Caminhamos devagar enquanto todos estavam apressados. Por fazermos parte da família do pastor, temos o direito de sentar na frente então, minha mãe pouco se importava em entrar quando a missa realmente começasse. Estou cabisbaixa, observando as gotas de chuva caindo sobre minhas botas marrons e a enorme calçada de cor acinzentada. Entramos na igreja e minha mãe, como de costume, cumprimenta todos os fiéis ali e eu faço o mesmo para não pensarem que sou mal educada dentro de casa. Encaro minha irmã que mal olha na cara de nossos amigos.

— O que está fazendo? – Pergunto baixinho para que ninguém ouvisse.

— Tuitando. – Murmura em resposta, bufando alto e caminhando às pressas até o banco amadeirado da primeira fileira, onde sentávamos com nossos tios e primos. Reviro os olhos e volto a cumprimentar todos ao lado de minha mãe, que me exibia como um prêmio a todos ali. Por mais que recusasse a acreditar nesse meu ponto de vista, ela adorava mostrar a todos que me educou bem enquanto os filhos deles ainda estão dormindo em casa a essa hora. Ou coisa relacionada. Depois de vários minutos que, honestamente, pareciam mais horas, fomos até o banco e nos sentamos ali. Pude observar minha mãe dando um sermão discreto em minha irmã que simplesmente mandou minha mãe esquecê-la um pouquinho. Isso pareceu deixar ela possessa então fiz uma nota mental de não colocar o nome da minha irmã em qualquer assunto que apareça hoje. Era quase certeza que ela descontaria em mim a raiva que está sentindo de minha irmã.

— Bom dia, fiéis. É um prazer ver todos aqui novamente, prontos para ouvir a palavra de Deus e nosso senhor Jesus. Abram suas bíblias. Esta é a hora de focar todas as suas energias no nosso Pai. – Diz meu pai após pegar o microfone dando assim, o começo da missa.

A hora pareceu ter passado muito rápido, pois a missa havia acabado, saio vagarosamente do local, seguindo minha mãe, Maria, calada. Costumávamos esperar meu pai na porta da pequena igreja. Ela possuía cores claras de branco e azul, era uma das estruturas mais velhas e também mais bem conservadas da cidade. Um homem, que nunca havia visto pelas redondezas, se aproxima. Seus cabelos eram grisalhos e ele era magricelo. Sua pele era branca e seus olhos eram castanhos. Meu pai sai da igreja e sua expressão se fecha completamente enquanto se aproxima do homem, que já estava bem perto de nós. É a primeira vez que minha irmã, Camille, decide deixar de observar seu celular para finalmente prestar atenção no homem a nossa frente.

— Pastor Hamswere. É um prazer revê-lo. – Diz o homem, lançando um sorriso nervoso. – Maria. Suas meninas estão grandes, a última vez que as vi, eram bem pequeninas.

— Faz tempo que não vem para a cidade Harry. O que o traz aqui? – Pergunta meu pai, realmente curioso.

— Era justamente sobre isso que gostaria de falar com você. É o meu sobrinho. Moramos em tantas cidades e em todas elas, ele foi expulso do colégio. E arranjou problemas na última cidade. Aqui é minha última esperança. Estou me mudando para cá e queria perguntar se tem algum emprego para mim. E para ele, claro. – Responde o tal Harry, encarando meu pai esperançoso. Por ser um dos únicos pastores da cidade, meu pai era muito respeitado, então sua opinião valia muito a maior parte do tempo.

— Posso procurar algo para vocês, sim. – Meu pai sorri educadamente e a expressão de Harry se suaviza.

— Obrigada mesmo pastor. – Murmura ele. – Eu preciso ir, ultimamente não posso nem piscar e meu sobrinho está encrencado.

Meu pai dá uma risada nervosa. Não seria legal mais um encrenqueiro na cidade. Mas ele parecia respeitar demais Harry, para dizer alguma objeção. Caminhamos vagarosamente até a nossa casa, que, aliás, era no final da rua, muito próximo da igreja. Fomos sem dizer nada um para o outro. Meus pais trocavam olhares suspeitos, mas nem quis intervir ou perguntar sobre o assunto. Esse garoto não parecia ser boa coisa para deixar meus pais daquela forma. Entro em casa e caminho vagarosamente até o meu quarto. Precisava estudar. Acho que a pior coisa que havia em morar nessa pequena casa, é que eu dividia o quarto com minha irmã. E ela tinha uma mania chata de querer compartilhar sua conversa com as amigas com outras pessoas, deixando o telefone no viva-voz. Assim que me sento em frente à escrivaninha e abro meu livro de ciências, escuto o forte barulho da porta.

— Sim Suzanna, eu ouvi meu pai falar com o tio do novato. – Diz ela entrando no quarto e fechando a porta com força desnecessária.

Ele é muito gato. Você não tem noção. O ruim é que é muito solitário, não deu moral para ninguém que tentou enturmá-lo. – Murmurou a melhor amiga de minha irmã, Suzanna, do outro lado da linha. Ela, por incrível que pareça, era irmã mais nova da minha melhor amiga, Olívia.

— Hm... Um típico bad boy, eu preciso vê-lo. Por que diabos ele não mora no meu bairro? – Pergunta Camille fazendo beicinho. Reviro os olhos. Eu não nasci para escutar esse tipo de coisa.

Talvez porque você vive no bairro mais respeitado da cidade onde só moram pessoas da sociedade alta e o tio dele é pobre. Não sei. Por que não vem aqui em casa? Ele está na calçada arrumando um carro. E sem camisa. — Diz Suzanna gritando histericamente juntamente com minha irmã. Meu Deus, como me concentrar nos estudos? Concentre-se Sophie, esquece sua irmã e a maneira como ela adora falar alto.

— Não posso recusar uma proposta dessas. Ainda mais que não aguentarei esperar ver esse Deus somente na segunda. Já estou aí. – Murmura lançando beijos para o telefone e o desligando.

Seus gritos histéricos aumentam e ela começa a procurar alguma roupa em seu guarda-roupa. Observo ela jogar todas as suas roupas em cima de sua cama. Deus, seus gritos parecem não acabar. Finalmente percebo que, desta vez, ela mexia no meu lado do guarda-roupa. Levanto-me rapidamente.

— O que está fazendo? – Pergunto encarando-a. Odiava quando ela mexia nas minhas coisas.

— Eu não tenho roupa. – Comenta, ainda observando as minhas como se tivesse esse direito.

— Então aquilo jogado sobre sua cama não são roupas, e sim guardanapos? Faça-me o favor, pare de mexer nas minhas coisas. – Falo baixinho, tomando dela o suéter que ela havia acabado de pegar do meu lado do guarda-roupa. Ela me encara com raiva, mas eu pouco me importava.

— Você é a pior irmã do mundo. Eu te odeio. – Grita pegando sua bolsa e saindo dali.

— Você com certeza não está no ranking de melhor irmã do mundo também. – Grito alto e volto a estudar. Finalmente, paz. Mas é claro, não seria por muito tempo. Alguns minutos depois, minha irmã aparece com cara descrente. Encaro-a arqueando as sobrancelhas. O que mais ela queria?

— Nosso pai insiste que você me acompanhe. – Diz ela fazendo careta. Seus olhos brilhavam, implorando silenciosamente que eu fosse.

— Só se pedir, por favor. – Sorri triunfante.


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