Tudo se Ajeita, menos a Morte escrita por Kam_ted


Capítulo 11
Capítulo 11




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Acordou e a sexta-feira era ensolarada, estava atrasado. Acordou e de imediato Caio voltara a cabeça, a barulheira se fazia nos pensamentos, mas se sentia bem.

Levantou, foi à varanda e a praia possuída por seres pequenos se banhando ao sol. O cheiro de mar o envolveu, conseguia ouvir o som do mar quebrando nas pedras, não no Leblon, mas em qualquer praia distante e deserta onde gostaria de estar.

Apresentou Completamente Blue a Nilo Roméro que estava de passagem no prédio comercial onde havia se reunido com Zeca e outros responsáveis pelo acontecimento do show. Nilo comentou:

- Linda! Bonita mesmo. Você tem agudeza de espírito, rapaz... Mas... - fez uma pausa significante olhando a letra que estava em suas mãos - você está amando.

Cazuza perguntou se era uma pergunta ou uma exclamação. Nilo respondeu:

- Acho que os dois.

O Sol raiava às três horas da tarde. Entrou no carro e berrou para os rapazes e moças que saiam do prédio comercial:

- Bora pra praia?

Sua glande pulsava dentro da boca de um jovem anarquista. Os dedos do rapaz o tocavam afetuoso. A lua dava luz àquela noite estrelada, se estendendo no mar agitado. Na boca, ofegantes gemidos, os olhos reviram de prazer.

O garoto queria sexo e ali estavam eles na praia, totalmente deserta, fazendo sexo dentro do carro. Os dois tão distantemente próximos, cada um ligado no próprio ponto. A definição do sexo: dois corpos sequiosos por carícias, carente no deleite do prazer, a luta no jogo do atrito e "o intercâmbio de líquidos, de fluidos, de saliva, hálito e cheiros fortes, urina, sêmen" e qualquer outra coisa onde não houvesse pitada de amor para no fim, depois da sujeira, a carne saciada, farto, cansado, ir embora, um para cada lado, o cigarro chamejando no escuro dentro do carro de volta pra casa. Concluiu Cazuza debaixo do chuveiro no isolamento da casa.

Atravessou os dias sereno. Ensaiava com sua banda nos dias marcados, estava disponível para si próprio, ficava em casa sempre.

Arriscou escrever.

Olhei pela estante meus vinis empoeirados, vinis antigos, os que ganhei da minha avó, do meu pai, da minha mãe, dos velhos titãs que frequentemente visitavam meu pai. Meus dedos se cobriram levemente da poeira do vinil dos Novos Baianos quando coloquei na vitrola. Lembrei automaticamente de quando era criança, o chão frio do piso da minha casa, minha mãe me gritando por algo, meus primeiros poemas escondidos na gaveta, tão puro e inocente quanto uma erva daninha. Minhas mãos não têm mais a doçura daquela pele fininha, de unhas curtas com terra por baixo. Pêlos grossos, em vez de penugem, habitam, agora, meu corpo de humano que já se cansa, que se previne do furo perigoso, do corte lento e profundo, que encontra abrigo no corpo alheio, no encaixe perfeito e passa a mendigar por ele. Abençoada covardia de não querer estar só.

Se preparava no camarim, eis o termo; estava era sentado olhando seu rosto no espelho, a porta trancada, um fio de fumaça do cigarro que queimava no cinzeiro, no olhar um brilho de satisfação de filho único que não divide nada, o seu show, os seus fãs. Recostou-se nas costas da cadeira, cruzou as pernas, pegou o cigarro, tragou e soltou a fumaça contra seu rosto espelhado embaçando o vidro e ao se rever no espelho novamente o estômago queimou, o coração afligiu-se, estranha agonia de não poder se apresentar ao Caio, compôs uma música e ele entenderia, sentiria o que só em par tem compreensão.

Estava performático. Mãos e gestos singulares desse rapaz cantando. Ia nos outros despercebidos que estavam no palco tocando seus respectivos instrumentos, passava o braço nos pescoços deles e cantavam junto.


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