Te amar não estava nos meus planos escrita por Ana Bobbio


Capítulo 23
Adeus?




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E então o que eu jamais quis que ele soubesse estava sendo proferido por sua boca. Pareceu muito pior aquilo saindo dele, do que de qualquer outra pessoa.

— Você... Você consegue ser muito mais mesquinha que Lisandra e Margareth juntas, Antônia! Porque você se fez de amiga minha, pareceu querer me ajudar de verdade. Você pareceu verdeira, mesmo sabendo das minhas feridas. E, porra! Você atuou muito bem! — Eduardo estava alterado, nervoso, e eu não tirava a sua razão. Ele estava certo, não por achar que eu tinha atuado, mesmo que eu devesse ter atuado, mas sim por julgar-me dessa forma. Só que eu nunca proferi mentiras à ele. Ocultei algumas coisas, tudo bem, mas mentir, fingir sentimentos... Jamais. Nunca agiria dessa forma, principalmente com ele, que parecia gostar de mim como alguém importante e real. Coisa que eu nunca havia sabido como era. — Por que não pensa em se tornar artista? Fingir sentimentos, fingir ser alguém que você não é... Fingir ser uma boa pessoa. Fingir ser diferente de todas as garotas que já conheci.

— Eduardo... — Sussurrei olhando-o de maneira aflita.

— Você me usou para se aproximar do Bruno, e tudo bem se fosse qualquer outra pessoa, mas ele, Antônia. Ele. Realmente sou um idiota por cair nessa pela segunda vez, por ser tão ridículo a pensar que em algum momento... Eu merecia uma segunda chance de voltar à vida, aquela paz, aquele sentimento, aquela pureza novamente. — Seu estado não era pior que o meu, ele pensava o pior de mim, e eu queria dizer que ele estava errado, totalmente errado! Mas eu sei que ele jamais acreditaria em mim.

Inconscientemente, dei passos à sua frente, tentando fazê-lo acreditar que não era nada do que estava pensando. Nem no começo, porque em nenhum momento me passou pela cabeça aproveitar-me da situação para machucar algum dos dois, eu nunca usaria alguma coisa assim de má fé. Embora possa parecer sem sentido, meu único objetivo era fazer Bruno me notar mesmo. Porque quando sentimos uma paixão meio platônica por alguém, é claro que até as piores loucuras parecem inocentes.

E eu confesso: Eu havia sido muito ingênua e burra por tentar usar essa artimanha, mas era tarde demais, já estava feito. E pra ser sincera, por um lado havia valido à pena, porque pude conhecer Eduardo e sua amizade tornou-se muito importante para mim mesmo eu sentindo coisas estranhas quando ele se aproxima, é como se estivesse tendo uma festa aqui dentro de mim, e ao mesmo tempo, um descanso.

Eu estava desesperada para me explicar, mesmo que não houvesse explicação.

Então eu me deparei com uma resposta que jamais havia se passado por minha cabeça, e que caiu a ficha a partir do momento em que estava a ponto de perdê-lo. Mesmo que não tivéssemos nada, além de uma amizade.

A resposta era simples, e até óbvia, mas muito cruel: Eu precisava dele. Eu gostava dele, e talvez até o amasse. Eu não sabia o que era amar alguém, mas imagino que se aproxime disso, pois é tão forte e devastador que um simples gostar não pode descrever tudo isso. Não queria que ele partisse, e queria poder voltar no tempo para não vê-lo com essa expressão de amargura e dor. Pois machucava duas vezes mais em mim. Meu estado de espírito refletia o dele. Instantaneamente, perguntei-me quando uma simples amizade havia se tornado algo tão mais extraordinário, grandioso.

Eu não sabia. Era muito complexo para mim. Só tinha acontecido, assim, do nada. De uma hora pra outra Eduardo passou de um colega para... Uma necessidade de vida ou morte.

Só que Eduardo estava certo, eu não o merecia.

Então eu fiquei estática, não sabendo como agir, eu deveria liberá-lo, talvez fosse melhor assim. Eu não merecia nada do que ele tinha a me oferecer, não era digna nem de pena, quanto mais algum tipo de afeto ou consideração.

Só do seu desprezo, ou pior, da sua pena.

Iria ser pela primeira vez na vida sensata, adulta, agir com maturidade, com amor. Então suspirei, revendo na minha cabeça tudo o que eu diria à ele. Tudo o que seria melhor pra si.

— Eu não posso voltar no tempo, nem consertar nada, porque já foi, é passado. O máximo que posso dizer, de todo o coração, é que sinto muito por ter te envolvido nisso. Fui egoísta ao não validar sua posição nesta história, a culpa foi minha, somente minha, por ter sido inocente demais e ter pensado que tudo ia ser perfeito. A não ser por um detalhe, eu ter caído na minha própria armadinha, acho que o Bruno não é bem o amor da minha vida como eu pensei que fosse. — Entortei os lábios, surpreendendo-me ao relembrar do que eu havia acabado de falar. E sorrindo ao notar como minha afirmação pareceu sincera, como se um peso tivesse sido tirado das minhas costas. Ou melhor, um amor movido à ilusão. — Você está certo, Eduardo. E não vou tirar minha culpa dessa história, nem minha irresponsabilidade. Não vou tentar te fazer acreditar em mim e nas minhas desculpas, porque, literalmente, é imperdoável. — Abaixei a cabeça, tentando não mostrar a ele minha fraqueza, não queria que visse uma lágrima escorrer por meu rosto e manchar minha imagem de garota corajosa, embora eu nunca tenha sido. — Só, por favor, não faça com que meu erro interfira em sua vida como o erro de Margareth, mesmo as situações sendo opostas. Opostas porque eu sei que você gostava verdadeiramente dela, e eu, bom, talvez tenha gostado um pouco de mim em algum momento. Só, por favor, fique bem. Preciso de você bem e feliz. — Inexplicavelmente, não implorei seu perdão ou suas desculpas, e sim que voltasse a ser esse Eduardo desses dias. Não comigo, mas com as pessoas à sua volta, como sua mãe, e consigo mesmo.

Então ficamos em silêncio. Eduardo pareceu surpreendesse com algo que eu disse, não sei exatamente o quê. Ele relaxou os ombros, e me olhou de forma diferente, que fez um arrepio me atingir. Esforcei-me para continuar respirando, provavelmente ele também estava com dificuldades de conseguir ar. Suas veias meio saltadas, relaxaram.

— Sinto-me a pior pessoa do mundo por ter feito isso com você, porque acredito que jamais sequer mereci a sua amizade. Eu sabia disso em todos os momentos que saímos juntos, eu sabia que eu deveria aproveitar o máximo que podia, porque felicidades assim são temporárias. E passam num piscar de olhos. Só, por favor, fique bem. Eu gosto de você, mesmo que não acredite. Pra mim foi real, todos os nossos momentos juntos. Eu estava ali com você, mesmo que eu não devesse estar, mesmo que eu não devesse me envolver. Mesmo que o meu objetivo fosse apenas chegar até Bruno. Sem querer, encontrei em você tudo o que eu pensava sentir por outra pessoa, tudo o que eu queria sentir por outra pessoa. — Um nó em minha garganta me fez parar de falar, e olhá-lo com intensidade, implorando que ele percebesse que neste exato momento eu jamais atuaria. — Só, por favor, fique bem. — Sussurrei mais uma vez, enfim.

Dei passos para trás deixando-o livre para ir, mesmo querendo que ele ficasse. Mas eu sabia que era pedir de mais.

Depois de um tempo nos olhando, não sei exatamente quanto tempo, mas o suficiente para meus pés cansarem, o garoto à minha frente, de cabelos claros e olhos esverdeados, me deu às costas indo embora, deixando-me ali estática, totalmente incompreensível.

Não vá embora, fique um pouco mais. Não me deixe. Eu preciso de você, eu preciso.

Porém ele não ouvia meu subconsciente e, felizmente, nada disso mudavam as lembranças que formigavam em minha cabeça. Elas ficariam intactas, junto com a amargura de ter deixado algo valioso passar pela minha porta.

Ele foi embora.

Quando escutei a porta sendo fechada, pude então soltar o ar e choro fazendo um imenso barulho, as lágrimas começaram a escorrer por meu rosto como uma cachoeira em plena abundância. Olhei para a janela aberta da sala e vi a silhueta de um homem escorado em uma árvore, olhando para a minha casa. Seus olhos estavam bem distantes, parecia chorar, o que achei terrivelmente estranho. E culpei-me por causar-lhe mais uma vez uma decepção. Então Eduardo desencostou-se da árvore e colocou as mãos no bolso da casa, desaparecendo finalmente da minha vista.

Às vezes é necessário trazer à tona suas fraquezas, principalmente quando ninguém está por perto vendo. Ninguém precisa saber que você também sente medo, que também sente falta, mesmo que a distância durou segundos. Ou pior, a distância começara em segundos, e pelo jeito, duraria por bastante tempo.

Talvez eu superasse, talvez eu me estabilizasse novamente, até quem sabe, voltaria a minha antiga paixão platônica que doía menos. O incrível é que esta dor não chega perto do pequeno incomodo que eu sentia quando via alguma garota agarrada ao pescoço de Bruno. Aquele incomodo, parecia um simples beliscão perto disso.

Meu celular tocou. Caída, ali no chão da sala, tentei empurrar-me a fim de pegar o telefone, não consegui. Desisti de imediato, estava sem forças até para me preocupar com quem seria. Poderia ser meus pais, e me dariam um belo esporro, mas o que é um esporro perto de perder algo que se tornou tão insubstituível?

Ao longe também vi meu notebook aberto, e ali estavam abertas algumas conversas que meu computador salvava automaticamente.

Entretanto, não estava pronta pra dizer adeus. Talvez eu não quisesse mesmo, não sabia ao certo, só que adeus é uma palavra muito forte, parece que você está se despedindo de alguém para sempre.

O que, infelizmente, parecia ser o meu caso.

Eduardo

Saí da casa de Antônia totalmente desnorteado, sem saber ao certo o que fazer ou o que pensar. Sem saber diferenciar o certo do errado, o verdadeiro do falso. Na teoria poderia até ser simples, o modo racional da coisa, eram os mesmos: Antônia havia brincado comigo da pior maneira possível, usando-me para chegar até Bruno. Porque sabia da nossa rivalidade, sabia dos nossos pontos sensíveis. Usou-me como uma ponte defeituosa que valeria à pena porque no final teria a recompensa.

Mas, o que era e afetou-me de maneira enigmática, foi o fato dela parecer tão sincera que eu quase, quase, puxei-a pela cintura prendendo mais uma vez nossos corpos e beijei-a explicando ali o que estava sentindo em relação a ela, e como eu queria acreditar em suas palavras.

Só que, não poderia ser, e eu já havia me machucado demais por seguir meus impulsos, por dar ouvidos à pequenas esperanças que brotam de uma hora para outra. O máximo que poderia ser, pensando no lado positivo, era um arrependimento.

Honestamente, eu sabia que o final seria esse. Porque era bom demais pra ser verdade, cair no cavalo havia sido uma bela lição para lembrar-me que eu estava errado quando pensei que talvez ela fosse diferente.

Ela era igual a todas. Mesmo que seus olhos fossem raros, que seus lábios fossem únicos, mesmo que ela se diferenciasse de maneira indecifrável de todas as outras. Mesmo que só ela me causasse sensações estranhas, deixando-me em chamas. Não importava, eu tinha que colocar na cabeça que ela era igual a todas as outras.

E, provavelmente, eu fracassaria.

Então eu preferi chegar à minha casa antes de demonstrar meu estado de fraqueza, corri até meu quarto e de longe percorri meus olhos por todo o espaço. Ali não era o meu lugar, não poderia ser, porque era sempre aqui que alguma decepção vinha à tona, eu deveria voltar para casa.

Eu deveria voltar para Londres, lá as coisas se acalmariam novamente. Lá teria paz, mesmo que isso significasse não correr mais em rachas, eu sempre encontrava outra forma de me manter relaxado. Eu precisava acertar a cara de alguém, para descontar o excesso de raiva que percorria por minhas veias. Peguei meu celular e liguei para o Ryan, que pareceu alegre ao ouvir que eu estava voltando às lutas que havia abandonado. Receberia muito dinheiro em troca, mesmo isso sendo o de menos. Eu só precisava convencer minha mãe que voltar significava apenas estar morrendo de saudades do meu pai, o que sabíamos que era impossível. Mas lá eu ficaria bem, do modo como deveria ter sempre ficado.


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Notas finais do capítulo

Ai está o cap 23. Está um pouco triste, mas haverá surpresas :c
Comentem dizendo o que esperam que aconteça, estou curiosa para saber o que querem depois dessa situação complicada da tônia e do edu (:
O prox cap estará aqui em breve
uma boa noite
bjsss da ana (:



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