Meus guardiões - entre o bem e o mal escrita por Gato Cinza


Capítulo 39
Idas e vindas


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora, boa leitura a todos



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Gaara

– O que houve, Gaara? – perguntou Hinata alcançando o ruivo

Ele esperou para que Esperança se aproximasse. Quando ela estava próxima o bastante para ouvi-lo, perguntou:

– O que fez com Neji Hyuuga?

– Conectei o corpo dele – a estranha respondeu dando de ombros.

– Ficou maluca? Usar magia espiritual em um humano é o mesmo de oferecê-lo as fúrias. Por que fez isso?

Esperança suspirou revirando os olhos.

– Eu não sou como vocês, Príncipe, caso tenha se esquecido minha simpatia não funciona como as dos filhos de Lilith. O rapaz Hyuuga não está correndo nenhum perigo.

– Só os que te cercam.

– Do que estão falando? – interrompeu Hinata – O que fez com Neji?

– Ela se conectou a ele – respondeu Gaara – Por isso ele está com a aparência saudável.

– Se conectou como?

– Magia. Usei um feitiço especifico para nos manter unidos. Seu primo estava morrendo e como qualquer coisa morta nesta cidade se volta contra os humanos, com exceção de você que é vampira, eu optei por prender o garoto no corpo dele o conectando á mim assim ele permanece vivo. Simples.

– Por que está zangado por isso, Gaara?

– Não zangado, Hinata, mas as consequências de se usar esse tipo de magia sempre causou transtorno. O que ela fez não é muito diferente de oferecer uma alma em sacrifício.

– A diferença é que não sou uma bruxa, nem feiticeira, nem espectro, meu jovem Príncipe. Eu sou uma Eterna. Neji Hyuuga está correndo o mesmo perigo que todos nesta cidade e em outras cidades onde batalhas estão sendo travadas pela alma dos inocentes. Não me culpe por coisas que estão além de minha capacidade.

– Desfaça a conexão.

– Se eu desfazer ele morre e vira fantoche de demônio. Neji aceitou se unir a mim, ele sabe os riscos.

– Riscos? – Hinata interrompeu mais uma vez

– Sim. Ele está conectado á este corpo, se me ferir ele se fere o mesmo me acontece se algo acontecer a ele. Antigamente corpos eram ligados quando alguém adoecia e o modo mais fácil de matar uma bruxa sempre foi destruindo o Elo sua magia.

– Mas bruxos não são poderosos

– Não sem canalizadores de energia. Objetos que podem carregar como anéis, amuletos, talismãs, pingentes, pedras, varinhas. Esses são elos de magia mais comuns, mas também á elos de proteção. Minha conexão física com seu primo é um elo.

– Ou seja – concluiu Gaara – Se quiserem se livrar de Alice o modo mais seguro é matando Neji.

– Exagero seu. Neji sabe que ele não tem muito tempo, quando terminarmos com essa bagunça e Konoha estiver menos caótica eu vou embora, e o corpo dele volta ao estado em que estava quando nos ligamos. Um pulsar para a morte.

– Ele vai morrer então?

– E quem não vai? Até nós três que não somos exatamente humanos corremos riscos de morrermos. A diferença é que vocês morrem de verdade, eu não.

Hinata franziu o cenho olhando para um grande pastor alemão que se sentou diante do portão principal os observando, era um animal estranho. Por um instante ignorou por completo a conversa entre o amigo e a bruxa, ao voltar a prestar atenção já tinham mudado de assunto:

– Acha que Shikamaru realmente não pode ser salvo? – perguntou Gaara.

– Claro que pode – afirmou a Eterna – Mas como disse é uma chance em mil. Você chegou perto de se tornar humano uma vez e foi forçado á se render as trevas. Se depois de sete séculos de existência você ainda é capaz de se prender á sua humanidade, é bem provável que ainda consigam salvar o amigo de vocês.

– Por que então disse que era impossível? – resmungou Hinata

– Por que é impossível. Mas o fato de algo ser impossível não significa que não pode ser feito. Gosto de ser realista, causar pânico em vocês é quase tão divertido quanto passar o inverno em Atlântida.

– Atlântida não existe – sussurrou Gaara antes que Hinata perguntasse.

– Mais alguma pergunta cuja resposta seja o obvio?

– Por que aquele cachorro esquisito está olhando para nós? – perguntou a vampira apontando para frente.

Gaara e Esperança se viraram, o cachorro estava parado do mesmo modo, como se estivesse vigiando.

– É para mim – disse Gaara se afastando das duas.

– Cães do inferno – explicou Esperança mordendo os lábios, então se decidiu – Vá com seu amigo, é melhor ele ter algo em que se apoiar caso o pai resolva o influenciar.

Esperança sussurrou algo na orelha de Hinata que á olhou desconfiada e seguiu Gaara.

Sakura

Ino e Naruto estavam insatisfeitos com a pouca informação que dávamos á eles, principalmente porque Esperança e Gaara que eram estranhos para eles, sabiam mais coisas que todos nós, com exceção de Sasuke. Por mais que me ferisse agir com frieza, eu imitei Sasuke e ignorei as perguntas deles. Ino resolveu apelar para Sai e o arrastou para o quarto, fazendo perguntas. Naruto queria sair de casa, dissera que estava cansado daquela coisa de demônios, bruxas e zumbis. Por fim ficamos apenas Sasuke e eu na sala, em completo silêncio até a Esperança aparecer.

– Onde estão Hinata e Gaara? – perguntei quando ela parou nos observando.

– Foram para o inferno – ela respondeu assim, como se fosse uma piada mórbida.

– Como?

– O ruivinho recebeu a visita de um mensageiro do pai e pedi que Hinata fosse com ele. Uma garantia de que ele volte para cá.

– Mandou minha namorada para o inferno com aquele demoniozinho?

Me assustei com o tom de Sasuke e a bruxa cinzenta revirou os olhos, impaciente:

– Sua namorada é uma vampira, Uchiha, ela é mais que bem vinda ao submundo e o jovem príncipe não vai deixar a amiga se meter em problemas.

– Quem você pensa que é para mandar meus amigos para o inferno, sua bruxa?

– Eu? Sakura, eu sou uma serva da morte. Obedeço meu senhor e minha ordem é proteger a vida nesta cidade que está no meio de uma guerra sem fim. E você, mestiça, quem pensa que é para falar comigo com tamanha petulância?

Senti vontade de socar aquela bruxa, fechei minha mão com tanta força que minhas unhas cortaram minha palma. Levantei-me indo na direção dela, zangada, mas fui impedida por Sasuke que me segurou pelo pulso.

– Deixe-a Uchiha. Quero ver até onde a impura de cabelo cor de rosa pode ir sem seus preciosos guardiões.

Sasuke soltou meu braço e para meu espanto deu um passo para trás ficando imóvel, nos observando. Virei novamente para Esperança que permanecia no mesmo lugar. Abri a boca para insulta-la, mas ela me calou com um movimento vago de mão.

– Eu adoraria de dar um tapa, mas seu namorado me mandou ficar longe de você. Ele devia ser mais cuidadoso com as palavras, sabe?

No segundo seguinte senti uma dor lacerante no meu peito, como se ela estivesse forçando meu coração a sair do meu corpo. Gritei, cai de joelhos e quase perdi a consciência, então ela parou.

– Infelizmente para você, Pequena Órfã, eu não preciso te tocar para te fazer mal.

Me esforcei para me levantar, senti o sangue escorrer da minha boca e meu corpo todo estava doendo, como acontece logo depois de uma queda. Sasuke permanecia ali, parado, indiferente. Fiquei em pé o olhando, por que ele não se movia?

– Não adianta pedir socorro ao anjinho, Sakura, ele não pode mais te ouvir.

– O que fez com ele? – perguntei

Ela riu.

– Nada, o mandei para casa. Isso é apenas uma casca vazia.

– Por que está fazendo isso? Gaara disse que você era... uma aliada.

Eu precisava fugir, mas como? Ela era poderosa e rápida. E tinha meus amigos no andar de cima, se gritasse por eles, ela poderia machuca-los.

– Uma aliada, sim. Uma amiga, nem tanto. Acredite, o que estou fazendo é para seu bem.

– Para meu bem? Me ferir é para meu bem?

– Sim. Você é fraca. Mesmo aqui você depende de outros para te proteger. Tem Gaara te protegendo desde antes de saber o que você era. Depois os Arcanjos te mandaram um guardião. Se habituou á ser salva e protegida que acabou ignorando quem é.

Ela mudou de forma, se assemelhando a mim. Mas com os cabelos flamejantes, garras, presas e um par de asas cor de pele que estavam fechadas para trás, como se fosse uma pintura de um dragão ocidental.

– Você é Nerfire, filha do Shinigami Arel e é também Sakura, a filha que Íris deu á dois humanos para que tivesse uma vida normal, sem passar pelas provações que todos os outros filhos e filhas de anjos ou demônios passam. Precisa escolher Sakura, quem quer ser?

– Essa é minha escolha? Ser anjo ou demônio? Escolher para que lado vou lutar?

– Não. Sua escolha é: como vai lutar. Não pode mudar o que você é e você não é nem anjo nem demônio.

Mais uma vez ela voltou a sua forma “bruxa cinzenta”. Deu um sorriso malvado e continuou.

– Seu tempo está acabando, Sakura. Logo não terá escolha além de lutar, seus guardiões não podem te proteger para sempre. Escolha. Há! Diga á quem perguntar que fui conversar com meu Mestre e volto logo. Acorde.

Abri meus olhos, ainda estava sentada na sala com a cabeça no colo de Ino que discutia com Tenten sobre o sexo do bebê. Me levantei e fui até a janela, não havia sinal dos três.

– Para onde eles foram? – perguntei olhando para os outros que jogavam cartas ou dominó ou conversavam.

Sasuke veio para meu lado, não havia ninguém no jardim e nem do outro lado da rua, nem mesmo os mortos e os fantasmas.

– Fique aqui com os outros, já volto – mandou saindo da casa.

Olhei para os outros que haviam parado o que estavam fazendo para me encararem curiosos. Dei de ombros.

– Hinata deve ter ido caçar.

Sasuke

O anjo moreno abriu o portão e procurou por um rastro de energia de Hinata, mesmo estando apenas com metade de suas forças sobrenaturais, da namorada não ser mais humana e dela estar na companhia permanente de um demônio, Sasuke era capaz de senti-la. Atravessou a rua e seguiu a diante concentrado, a vampira estava longe, da última vez que ele havia ficado confuso daquele modo para localiza-la, ela estava no Mundo dos Mortos. Sasuke ergueu a cabeça, será que Hinata havia voltado para o limbo ou teria saído da fronteira de Konoha aonde os dons sobrenaturais do anjo não chegavam?

– Está indo para o lado errado.

Sasuke quase caiu ao se forçar a parar de correr abruptadamente. Esperança havia se materializado ao seu lado.

– O que disse? – perguntou confuso

– Disse que está indo para o lado errado, Gaara e Hinata foram para o outro lado.

– Sabe para onde eles foram exatamente?

– Sei, mas não vai gostar de saber.

– Para onde?

– Para o inferno, Lúcifer mandou um de seus mensageiros atrás de Gaara e eu pedi que Hinata fosse junto com ele. Não se altere, Uchiha, não pode fazer nada agora.

Esperança segurou o braço de Sasuke o puxando para a direção que ele seguia antes, á fronteira da cidade.

– Não se preocupe com Hinata, ela está segura junto de Gaara.

– Não confio nele, é um demônio.

Sasuke parou de lutar e deixou a bruxa o guiar, não poderia fazer nada para ajudar Hinata enquanto ela estivesse no submundo, onde ele sequer podia entrar.

– Novidade anjo, ele também não confia em você. Mas Hinata confia e isso é o bastante para ele. Sabe por que, ele confia mais na opinião de uma serva do submundo que na namorada?

Sim, Sasuke sabia.

– Por que ela é leal á ele.

– Exato. Acredite em mim, não é qualquer pessoa que ganha a confiança do Príncipe. Então não precisa se preocupar com a segurança de Hinata enquanto eles estiverem do mesmo lado.

Sasuke olhou para os pés, enquanto caminhavam. Sentia cada espírito preso em Konoha, podia ouvi-los pedindo por liberdade e não podia fazer nada por eles, não enquanto a cidade estivesse sobdomínio de Lilith. Precisava terminar logo com aquilo tudo, antes que os últimos seres vivos presentes na cidade fossem levados pela Rainha das Trevas.

– Para onde está me levando, Senhora?

– Tenho que sair de Konoha, o mestre me chama e não é educado deixar a Morte esperando. Posso usar minha magia livremente aqui, mas para atravessar a barreira não posso apenas me transportar, o que é uma pena. Mas não era isso que ia me perguntar, era?

Sasuke negou com a cabeça, lentamente. Na verdade não sabia exatamente o que queria saber.

– Por que não gosta da Sakura?

– Memetins são desprovidos de emoções, dizer que não gosto de alguém é um eufemismo.

– Não respondeu minha pergunta – comentou impaciente

– Acho sua protegida uma criatura fraca. Já vi humanos sem nenhum motivo para lutar, lutarem. Pessoas sem nenhuma fé ou esperança fazendo o impossível para proteger seus semelhantes. Ela, no entanto, se contenta em saber que os amigos se sacrificariam para mantê-la viva, nem mesmo se pergunta a razão deles para agirem assim.

– São humanos, Senhora, é da natureza deles protegerem aqueles que amam.

– Exato. Eles são humanos, Sakura tem poder para protegê-los sozinha. Mas é fraca, teme ser dominada pelas sombras. É uma criança tola, as sombras são muito mais que energia ruim.

– As trevas são perigosas para qualquer ser de luz.

– Apenas para os fracos, Uchiha. Nem tudo que pertence a luz é bom assim como nem tudo que pertence as sombras são ruins. Os humanos podem escolher de qual lado agir, bem ou mal, e Sakura gostando ou não, não é humana.

Sasuke meneou a cabeça, de fato Sakura não era a pessoa mais forte emocionalmente que ele conhecia, mas tinha seus descontos, ela havia perdido e descoberto coisas sobre si mesma sem nenhuma preparação inicial ou conforto emocional. Perdera o pai, amigos e ganhara inimigos poderosos que queriam controlar a mente e o corpo dela. Sasuke concluiu, animado, que talvez a garota que ele protegia não era tão fraca quanto parecia só despreparada. Estavam longe de chegarem á fronteira, então o anjo resolveu perguntar algo mais pessoal á respeito daquela estranha bruxa que servia a morte, mesmo sem saber qual seria a reação dela:

– Você e o Gaara, já foram namorados?

Esperança riu.

– Não.

– Melhores amigos do submundo?

– Somos aliados quando nossos interesses são semelhantes. Na maioria das vezes evito o caminho dele, é desastroso quando nossos interesses são conflitantes.

– Como se conheceram? – questionou diminuindo os passos, agora que refletia melhor se lembrou da reação evasiva e cautelosa de Gaara ao vê-la.

– Eu era prisioneira do Tártaro, estava sobvigilância das fúrias á mando do Senhor Lúcifer. Passei uns anos lá embaixo, fiquei entediada e sai. Mandaram Kankuro e Temari me caçarem e eles levaram Gaara que estava em treinamento, tinha acabado de ser requisitado pelo pai e tinha muito que aprender ainda...

Sasuke sabia que os demônios tinham filhos com humanas como pagamento de alguma coisa, quando as crianças cresciam os demônios vinham lhes cobrar a alma. Era um método terrível, mas humanos tinham livre arbítrio e fazerem pactos satânicos para alcançarem um objetivo, era escolha deles. Uma das muitas coisas na qual um anjo não podia interferir no mundo dos homens. Esperança dizia:

–... depois de meses de perseguição fiz o sacrifício da lua de fogo e os mandei de volta para o inferno. Foi a primeira vez que eu e Gaara nos encontramos.

– Um sacrifício á lua de fogo? Você matou doze crianças?

– Vinte e três na verdade. Elas iam morrer todas em um período de quatro anos e de modo terrível, apenas acelerei o processo.

Sasuke preferiu não comentar sobre isso. Fez outra pergunta:

– E depois disso viram novamente quando?

– Vejamos... em 1471 em um navio mercante inglês que fazia rotas da Europa á Ásia, passando pela África. Eu estava usando o nome de Alice naquela época e convivemos por uns quarenta anos antes que me chamassem á... outro lugar.

– Quarenta anos? E não se mataram?

Sasuke teria perguntado á que lugar a chamaram, mas teve a impressão que se perguntasse isso a bruxa teria parado de falar.

– Ele era um vendedor, vendia promessas em troca de almas e eu estava brincando de ser humana, testando os limites que aqueles homens tinham de resistir ás tentações. Era divertido ver tantos preconceitos contra uma mulher ser silenciado por uma carta assinada pelo rei.

– Mas ele não devia ter te capturado? Afinal você era ou não uma fugitiva do inferno?

– Era e não era. Quando fui capturada e presa pelas fúrias eu era um ladrão de gritos, me alimentava dos medos das pessoas, precisava entrar no submundo e não podia fazer isso sendo um ser neutro. Quando fugi, sai levando uma flauta feita de ossos que tinha o som mágico de controlar a empatia dos humanos, a usei por séculos até que fui obrigada a mudar de aparência e guardei a flauta. Quando Gaara e eu nos encontramos novamente, eu sabia quem ele era, mas de mim ele sabia apenas que era uma ceifadora, tinha outra aparência.

– E quando começou essa hostilidade de vocês?

– Nos encontramos algumas vezes casualmente, a última vez antes de Konoha, foi na frança no inicio do século VXIII. Mas voltando um pouco antes, para Uganda, fui enviada para coletar a alma de uma bruxa que havia feito um pacto com um demônio e usado uma criança para se ligar á vida, a criança não estava na lista da morte, ou seja, ela estava sendo ancora de um espírito maligno. O espírito da bruxa foi levado e a garota cresceu comigo por perto. Alguns anos humanos depois, Gaara estava em Paris fazendo seus pactos quando conheceu uma jovem que havia se acidentado, ele ofereceu cura-la em troca de sua alma e ela recusou dizendo que não venderia sua alma á um demônio por que provavelmente morreria em alguns meses de alguma doença estranha. Intrigado ele a questionou sobre como ela sabia quem ele era e viu minha ligação com Mali em ação, quando ela se regenerou diante dele sem usar nenhuma feitiçaria ou erva de cura. Eu estava cuidando de assuntos importantes no Brasil. E quando fui avisada que meu Elo estava em perigo já era um pouco tarde, Gaara e Mali estavam apaixonados e pior, ele estava se tornando humano.

Sasuke que pretendia não interrompê-la foi incapaz de ficar em silêncio e perguntou:

– Como pode um demônio virar humano? Eles nem deviam ter sentimentos.

– Tem do mesmo modo que vocês anjos, Uchiha, por acaso você não se rebelou quando preferiu ficar no mundo dos homens com sua namorada vampira e seus amigos mortais? Teoricamente vocês anjos também não deviam sentir como os humanos sentem, mas a convivência os permite se humanizar. Com eles também á assim.

– Mas o que aconteceu entre Gaara e Mali?

– Mali estava vivendo em função de um capricho meu, ela era boa e se arriscava imprudentemente para salvar quem quer que fosse, eu havia decidido que ela ficaria viva até atingir idade humana avançada... uns oitenta anos. Eu avisei á Gaara que ele tinha que voltar ao inferno, antes que se tornasse humano demais para retornar, antes que virasse um pária e fosse caçado pelos seres do submundo. Mas o teimoso estava determinado á ficar com Mali á qualquer preço, então voltou aos seus e descobriu que ela podia se tornar uma cria das trevas se corrompesse sua alma. Mali teria apenas que deixar de ser boa e se deixar consumir por todos os pecados e não se redimir, eu não deixei. Desfiz meu Elo com Mali e a matei, ela foi levada ao seu lugar de direito na luz e Gaara cego de ódio por minha ação resolveu me destruir. Pelos meses seguintes ele me perseguiu, destruindo tudo que cruzava seu caminho, então me cansei dele e o prendi em uma catacumba. Ordenei que ele ficasse nove anos preso á quinhentos metros abaixo da terra cercado de ossos e vermes, sem poder morrer ou se mexer ou pedir ajuda ou ser retirado dali, quando saiu ele tentou me achar, mas é difícil achar alguém mutável.

– Ele te reconheceu quando te viu.

– Dei uma ordem á Gaara, ficar preso por nove anos sem se permitir ser ajudado ou atender um chamado de quem quer que fosse. Usei meu nome como fonte de poder e ele viu além de minha aparência, não importa que nome eu use ele sabe quem sou, mas sei o nome dele e isso me dá o mesmo poder sobre ele.

– O nome dele é Príncipe?

Esperança sorriu. Então soltou o braço de Sasuke e atravessou a barreira mágica. O anjo voltou para a mansão Haruno, não havia obtido as respostas que queria tão pouco havia feito as perguntas que precisavam ser feitas.

Hinata.

A vampira seguia ao lado do ruivo pelo extenso corredor de pilares dourados e chão feito de fileiras infinitas de paralelepípedos que se estendia para todos os lados. Ela olhava de um lado para o outro tentando ver todos os detalhes daquele lugar, mas assim que desviava os olhos já esquecia o que tinha visto, na frente deles á alguns metros o estranho pastor alemão trotava tranquilamente os guiando.

– Para onde ele está nos levando? – perguntou ao amigo que não dissera uma palavra desde que saíram da casa de Sakura.

– Não faço menor ideia, meu pai é imprevisível, nunca se sabe o que ele está planejando até ser tarde demais.

Ela assentiu. Desde de conhecera o ruivo ela tivera certeza de duas coisas, a primeira era que podia confiar nele a segunda era que ele não gostava de falar sobre si mesmo, e isso incluía a família e qualquer pessoa ligado á ele, com exceção das pessoas que ela conhecia. O que não era muito divertido, já que ela não conhecia muitos seres sobrenaturais ou humanos. Acabaram entrando em uma porta e para decepção da vampira estavam na casa de Gaara, que ela já conhecia muito bem. Sentado diante de uma lareira apagada estava um homem loiro e alto com algo de intimidador no olhar penetrante. Ele não se levantou e tão pouco os cumprimentou, foi direto ao assunto, ignorando a presença de Hinata que apenas ficou imóvel, observando.

Ichigo fora enviado pelo pai de Gaara para que convencesse o filho á voltar ao submundo e parar com a teimosia persistente de ajudar aos humanos. Gaara se recusou – mais uma vez. Então Ichigo disse que a guerra pelo controle do inferno estava acabando e Lilith estava vencendo. Gaara não se surpreendeu, a rainha das trevas agia á Eras criando vampiros, feiticeiras, espectros, servos leais tanto no mundo dos homens quanto no mundo espiritual. Enquanto isso, seu pai, se ocupava com assuntos mais problemáticos lidando com arcanjos e supremos celestiais. Aos poucos Lilith ganhava território e todos os servos de Lúcifer, Gaara sabia, sofreriam as punições por sua existência, assim como os humanos sofriam naquele momento.

– Diga á meu pai, que lhe serei sempre leal, mas não lhe devo servidão.

Ichigo olhou demoradamente para Hinata, que se encolheu ligeiramente, mas não se deixou abalar pelos olhos sombrios. Ele deu um sorriso de desdém e comentou, alheio:

– Uma filha de Lilith. Á quem serve criança das sombras?

– Sirvo á Marice e Cerima – disse tremula.

O sorriso desdenhoso dele ruiu e os olhos frios cheios de desprezo fizeram Hinata desejar não ter ido com Gaara. O ruivo percebendo o nervosismo da vampira se colocou entre ela e o mensageiro. Com toda autoridade que tinha confirmou ás palavras de Hinata dizendo:

– Ela é serva de Däeg no templo lunar e prometida á minha casa. Ela serve á quem Eu quiser.

Ichigo deu um passo na direção de Hinata, empurrando Gaara para longe. Os olhos perolados viram a escuridão sem fim dos olhos do mensageiro de Lúcifer e temeu se perder nas trevas. O demônio loiro viu apenas sombras e fogo nos olhos da vampira, havia uma proteção superior na mente dela, era como olhar direto nos olhos do próprio Gaara. Ele largou á garota e se virou para o ruivo que tinha um sorriso debochado no canto dos lábios. Gaara preparava a mente de Hinata, desde que á despertou, para que nunca fosse influenciada por nenhum demônio ou vampiro ou feiticeiro ou qualquer ser sobrenatural, nem mesmo por ele.

– Ela me pertence – disse categórico – Saia de minha casa agora e diga ao meu pai que pode falar pessoalmente comigo caso queira minha ajuda, do contrario é melhor não me procurar.

O mensageiro foi embora, fazendo os dois suspirarem aliviados.

– Ele é assustador – comentou Hinata sentindo-se ainda intimidada.

– É o trabalho dele, causar medo. Vamos sair daqui, precisamos conversar sobre algo importante.

Hinata não via problema de conversar com Gaara na casa dele, já estivera ali tantas vezes desde que fora transformada que se sentia em casa. Ao menos ali não havia pescoços com veias pulsantes cheias de sangue quente e apetitoso a tentando. Mas estava habituada ao curioso temperamento paranoico e cauteloso do amigo. Não discutiu com ele quando a segurou pelo braço e atravessaram um espelho direto para o Palácio Cinzento.

– Meu segundo lugar favorito – disse ela em voz baixa, o primeiro era estranhamente a escola – O que foi Gaara?

– Primeiro, onde ouviu os nomes Marice e Cerima?

Ela deu de ombros.

– Esperança me disse antes de vir com você que, se alguém perguntasse á quem eu servia era para dizer: Marice e Cerima. Por quê? quem são elas?

– São apenas uma lenda, igual fadas boazinhas.

– Fadas são boazinhas...

– Não são não. Elas são pequenas criaturas perigosas que roubam felicidade humana, aliás, se vir um palhaço ou comediante fique longe, eles costumam ter auxilio de uma fada e te fazem rir até que sobre apenas tristeza e vazio. Mas voltando á Marice e Cerima, a lenda delas se referem á personificação da morte.

Hinata piscou, prestando atenção ao que o seu mentor lhe ensinava.

– Elas criaram á morte?

– Sim. É uma lenda tediosa que se resume á duas irmãs imortais querendo paz para seus semelhantes e pedindo aos deuses auxilio, em duvida sobre o que exatamente fazer, eles deram á elas o dom de colher almas. Marice era a responsável por levar aqueles que tinham morte violenta e Cerima aqueles que eram afetadas por enfermidades ou tempo. Anos se passaram e elas queriam saber como era morrer, então criaram um ser á quem chamaram de Morte, ele deveria ser o encarregado de levar as almas mortais á imortalidade. Marice e Cerima morreram e a Morte criou para ele um exercito de servos, sendo o primeiro Haegl.

– Ceifadores... Mas por que Esperança me mandou dizer que sirvo á duas pessoas que não existem?

– É uma espécie de código, ao pé da letra você disse que não tinha senhores, que era livre.

– Você disse que eu era serva de Dalek no templo lunar, prometida á sua casa, e servia á quem você quisesse. Por quê?

– O nome é Däeg, é um dos muitos nomes que Alice usa no mundo sobrenatural. Templo lunar é noite, referencia ao fato de ser vampira e prometida á minha casa por que eu te despertei. Sinceramente o que eu disse á Ichigo foi apenas uma mentira bem formulada.

Hinata sorriu. Não tinha entendido nada, apenas que Gaara tinha mentido por ela.

– Mas para que serviu toda essa reunião? Seu pai mandou um mensageiro e ele não falou nada de que você já não soubesse.

– Serviu para ele saber que minha opinião ainda é a mesma, não vou lutar ao lado dele e nem contra ele. Irei proteger Sakura.

– Iremos proteger a Sakura, não se esqueça que sou uma guardiã, também.

Ele estendeu á mão para ela, Hinata segurou com firmeza sentido o chão aos seus pés se desfazendo. Ao abrir os olhos estavam novamente no cemitério de Konoha. Antes de voltarem á casa dos Haruno, resolveram dar uma volta para ver como estavam as coisas agora que a maioria das pessoas havia deixado a cidade.

Sakura.

Na manhã seguinte levantei atraída pelo apetitoso cheiro de café da manhã que chegava ao meu quarto, após minha higiene matinal desci para ver quem cozinhava e o que. Para minha surpresa eram Hinata e Sasuke, parei observando por um instante, ela estava usando sua velocidade vampiresca para picar alguns legumes e Sasuke mexia nas panelas sobre o fogão adicionando coisas e provando. Era uma cena fofa até eu desviar os olhos para a pia onde todos os utensílios pareciam ter sido usados.

– Precisam de ajuda? – perguntei

– Não, já estamos terminando de preparar o almoço – respondeu Hinata

– Almoço? Que horas são?

– Quase uma da tarde – informou Kiba entrando na cozinha com uma mochila – Passei em casa e peguei algumas coisas, Konoha agora é definitivamente uma cidade fantasma. Fora nos aqui, tem apenas um grupo pequeno no hospital.

– Pequeno quanto?

– Umas cinquenta pessoas, entre funcionários do hospital, pacientes, familiares de pacientes e pessoas que não tem nada á perder e ficaram para ajudar.

O numero de pessoas ainda era grande, mais de cinquenta pessoas estavam em perigo e á única coisa em que eu conseguia pensar naquele momento era que a bruxa Esperança estava certa, eu era fraca. Um ser poderoso do mundo sobrenatural e a mais fraca das humanas, incapaz de lutar por mim mesma. Tomei uma decisão, pediria á Gaara que me ajudasse á controlar “Nerfire” assim eu poderia pelo menos lutar de igual para igual contra os demônios.

Fui procura-lo e para minha surpresa o encontrei com Hinabi e Tenten, ele as ensinava algumas pronuncias e tinha vários papéis riscados símbolos antigos. Céus, eu acordo tarde e minha casa virou uma espécie de hospício, na cozinha um anjo e uma vampira preparam o almoço bagunçando toda cozinha, na piscina um demônio ensina símbolos e linguagem arcaica para uma pré-adolescente e uma mulher grávida. Estava até com medo de saber o que os garotos estavam e onde.

– O que estão fazendo?

– Gaara está nos ensinando á fazer armadilhas para demônios e exorcismo – explicou-me Hinabi erguendo em minha direção um livro tão desgastado que as folhas se soltaram.

Me juntei á ela no trabalho de juntar as folhas novamente e colocar as paginas na ordem certa. Gaara parecia alheio á minha presença, estava concentrado demais e só fui entender depois de olhar para os pés dele, ele estava preso em um circulo com sinais estranhos.

– O que fizeram com ele? – perguntei preocupada

– É para espíritos do submundo, vampiros e fantasmas. Seu namorado está preso – informou Tenten animada com si mesma.

Até onde me recordo, eles ainda achavam que Gaara era um vampiro e que estava ajudando Hinata em sua adaptação, acho que teriam me expulsado se soubessem com quem eu durmo. Sorri. Perguntei á Hinabi:

– Onde estão os outros?

– Foram fazer ronda, Sai está tentando ensina-los á matar monstros, caso algum apareça no caminho quando estivermos longe.

– Como assim, quando estiverem longe?

– Hinata acha melhor que o sobrinho nasça longe disso tudo – disse Gaara ainda preso ao circulo – Eles irão sair de Konoha após o almoço e até lá devem aprender pelo menos algumas coisas para autoproteção contra nós. Ok, eu desisto.

É estranho quando o escuto dizendo, Nós, para se referir á demônios. Tenten desfez um símbolo que havia riscado no chão e Gaara saiu do circulo.

– Eu não queria ir – reclamou Hinabi – Mas Hinata me hipnotizou e não sou capaz de fazer outra coisa além do que ela manda. Acho que ter uma irmã vampira não seja mais tão divertido como pensei que seria.

Me juntei á eles no estudo de símbolos e exorcismos, aprendi um bocado de coisas, quase enfartei quando Hinabi começou a ler um texto em voz alta e Gaara teve convulsões, depois ele me explicou que exorcismo é para expulsar demônios de um corpo humano e aquele corpo era dele. Durante o almoço, Naruto explicou que ele e Ino ficariam por que a sua gêmea estava determinada á não deixar Sai “sozinho” em Konoha, ela também estava evitando ficar próxima de Gaara e Hinata para que não fosse hipnotizada, uma situação curiosa. Hinata e Sasuke acompanharam os nossos amigos até a fronteira da cidade, por mais triste que eu estava por me separar deles, estava satisfeita com a decisão que haviam tomado, e assim como Naruto eu tinha absolta certeza que não ficaríamos tanto tempo longe uns dos outros, logo tudo estaria acabado e Konoha voltaria á ser nossa.

...

– Posso te pedir uma coisa? – perguntei á Gaara quando ficamos á sós

– Peça o que quiser.

– Me ensine a controlar Nerfire.

Ele me olhou preocupado, ficou longos minutos em silêncio e perguntou:

– Quer aprender á controlar seu lado demoníaco? Por quê?

– Por que á guerra de vocês me afeta também, não quero ficar escondida o tempo todo nas sombras de Hinata, de Sasuke e sua.

– Posso te defender...

– Se, se recusar á me ajudar eu pedirei ajuda de Esperança. Tenho certeza que ela sabe muito sobre anjos e demônios.

Ele bufou.

– Só podia ser coisa daquele projeto de Rumplestiltskin. Vou arrancar a cabeça dela, de novo.

Ri, era primeira vez que via Gaara parecer se divertindo em se zangar com Esperança, ele sorriu e me beijou. Eu precisava apenas aprender á ser como ele, ter o total controle sobre meus “demônios internos”. Ficaria tudo certo, pelo menos é o que espero.


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