Innocence NejixTenten escrita por Mile Mieko Chan


Capítulo 5
Infância


Notas iniciais do capítulo

YEY, queridos e queridas o/

Dessa vez, o mega atraso não foi culpa minha e.e O servidor ficou dias fora do ar e a internet só voltou porque ameaçamos cancelar a conta - vocês sabem as coisas no Brasil como são, né? u.u'

Bem, aqui vai o capítulo 5. Postaria o 6 hoje também, mas quero modificar algumas coisas primeiro. Boa leitura e perdoem a demora (onegai).



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Religiosamente, no dia do meu aniversário – que era o dele também – costumávamos ascender uma fogueira em frente à nossa casa. Ele me contava histórias durante horas até que eu ficasse com sono, ou simplesmente com dor nas costas. Nosso gramado não era muito bom...

Uma vez ele me ensinou que deveríamos, para esquecer coisas ruins, escrever tudo de pior que estávamos sentindo, em qualquer pedaço de papel, tecido, ou seja lá o que tivéssemos em nossos bolsos, e depois queimar numa pequena labareda. Ele dizia: “Quando a chama da ira, do ódio ou da raiva vier, não deixe que ela queime você. Aqueça-se.” Guardo comigo tais palavras. Daquele dia em diante elas me serviriam muito. E, bem, era o que eu estava a fazer naquele momento.

– Boa noite, senhorita – disse o velho Uchida passando pelas grades da frente do prédio – O que está fazendo?

– Tentando esquecer... – respondi brevemente, concentrando-me com o fogo.

Senhor Masahiro Uchida vinha de uma família humilde do mesmo vilarejo que eu. Era o líder da caravana que me trouxe até aqui e o edifício onde morávamos tinha sido construído pelos homens que vieram com ele. Havia uma gratidão enorme entre nós: por ele ter salvado minha vida e por eu ter, de certa forma, reconstruído a dele.

Morava há algumas casas de distância da nossa e eu só o conhecia porque gostava muito de brincar com a Satsu, sua neta. Na verdade passamos juntas pouco mais de um mês, apenas. Tão imediatamente quanto a conheci, o primeiro incidente aconteceu. A casa deles foi bombardeada.

A julgar pela carga utilizada pelo exército do país que nos atacava – por ser muito nova, nunca soube ao certo qual era – não parecia ser nada devastador. Só após o ocorrido descobrimos que muito já tinha sido feito.

Uchida-san era o comerciante mais próspero daquela região. O movimento que suas mercadorias causavam era gritante e tínhamos a esperança de, um dia, sermos reconhecidos como uma jovem cidade em crescimento. Sabendo disso, não foi difícil mobilizar meia dúzia de homens para derramar um barril de pólvora sobre seu telhado – o que explodiria o quarto onde estavam Satsu e sua mãe, ao lado do depósito de suprimentos.

Lembro-me dessa madrugada também. Senhor Uchida e seu irmão, Masahiro Matsuda, corriam pelas ruas clamando por alguém que pudesse ajudar. A casa inteira estava em chamas e, mesmo com todo o auxílio dos moradores, nada além de cinzas foi encontrado. Nós dois, juntos, aprendemos da pior maneira o que era uma guerra.

Ele costumava dizer que eu e Satsu éramos bem parecidas. Rosto redondo, sempre com um sorriso, e cabelos escuros. (Não falamos mais sobre tais semelhanças, contudo, às vezes penso que foi o motivo pelo qual me salvou - apesar de nunca ter tido coragem de indagar sobre isso, pois seria rude de minha parte.) Quando queria, ela era uma garota um tanto rebelde. Contou-me que a primeira vez que me viu, passando um tempo com meu irmão no campo, ela estava de cama. Havia quebrado a perna quando tentara escapar de casa pelo telhado e estava em recuperação; a única coisa que fazia durante aquelas tardes era olhar a grama alta e as montanhas congeladas, pela janela de seu quarto.

Dias depois desse primeiro “quase contato”, já em ótimo estado físico, eu de fato a conheci. Seus olhos eram diferentes dos meus, mais estreitos – lembrando bem os irmãos Masahiro –, porém o rosto e o coque único que lhe prendia os cabelos eram bem o meu tipo. A partir daí, não preciso explicar que de cara nos tornamos grandes amigas. Ficávamos juntas todo o tempo, o que rendia uns “dias de folga” a Nobu que, no entanto, continuava rotineiramente me vigiando.

Sa-chan, como eu costumava chama-la, era muito sensitiva ao que se podia ver. Bastava que olhasse uma única vez para alguém para dizer se era uma boa ou má pessoa. E o que tinha de mais incrível nisso era que ela sempre acertava.

Outro dia, enquanto conversávamos, um homem esquisito passou por nós. Logo ela me puxou para um canto para me esconder. Indaguei-lhe o porquê de tal ato. “Você não viu? Ele é um assassino! Tem cara ruim...”, dizia ela aos sussurros. Na tarde do mesmo período, surpreendentemente ou não, ficamos sabendo de um ataque seguido pela morte do responsável, o qual tentara matar a filha de um lavrador. O corpo foi levado até o povoado mais próximo (o nosso) para ser reconhecido por algum possível familiar.

– Viu só? Eu não disse que ele era um assassino? Ainda bem que a carreira dele acabou... – apontava Satsu escondida sobre as telhas de sua casa novamente. Depois de insistir muito, acabei por acompanhá-la. Nossos responsáveis não permitiriam que fôssemos olhar uma cena bárbara apenas para confirmar uma teoria louca. E simultaneamente sensata.

Ouvimos um estalo leve. Sa-chan se virou para ver se algum adulto tinha nos descoberto e a beirada onde se apoiava cedeu. Num movimento mais que rápido agarrei seu braço e puxei-a de volta em segurança. “Muito obrigada, Tenten-chan. Não fosse por você, acho que teria quebrado tudo dessa vez...”, disse-me zombando do próprio descuido. Aquilo fez com que nos aproximássemos mais a cada dia. Eu confiava nela tanto quanto nos adultos. Gostaria de tê-la salvado mais uma vez, naquela vez, mas eu não tinha a sensibilidade de Satsu para saber o que viria em seguida.

~*~

Não sei quanto tempo passei confinada em meu quarto depois do incidente. Eu não queria ver mais ninguém, além da imagem de Satsu em minha memória. As lágrimas foram minhas companheiras durante noites.

Em uma delas, fingi que dormia quando Nobu passou pelo meu quarto. Ele parou em frente à porta semiaberta e pareceu prestar atenção em alguma coisa. Entrou e, sem dizer nada, abraçou-me depositando um beijo próximo ao meu ouvido. “Ela está bem agora”, sussurrou, afagando meus cabelos e fazendo-me de fato dormir, depois de muitas madrugadas.

~*~

Mais alguns meses e as notícias sobre tudo o que acontecia lá fora foram diminuindo. Eu olhava pela janela de inverno puro e a única coisa na rua era a neve cruelmente gélida e surrada pelos poucos veículos que circulavam. Isso até os enormes tanques de guerra começarem a passar com certa frequência e, de tempos em tempos, pareciam aumentar em número e desenvolvimento. Cheguei a perguntar a Nobu o que estava acontecendo. Ele permanecia calado enquanto encarava friamente a formação da realidade que se iniciava.

Um ano depois, sorrateiramente, nosso pequeno vilarejo em ascensão tinha sido cercado em sua totalidade por armamentos bélicos e militares, que utilizavam bandanas sem indicação alguma na parte metálica. Aquilo me dava medo. E foi tentando fugir desse medo que tudo que eu ainda tinha desmoronou... Uma família.

~*~

Numa visita ao único túmulo que conhecia – a velha casinha de Satsu – eu quase fui levada por um grupo de quatro militares grosseiramente fardados. Eu estava colocando algumas flores em frente ao que costumava ser a fachada da casa, de onde só tive tempo de ouvir o rude barulho que faziam ao correr em minha direção. Quando virei-me para ver, Nobu já os tinha parado com a lâmina da Akinori. Muitos temiam sua presença por ser um grande espadachim, a não ser aqueles que conheciam seu bom coração – coisa que, infelizmente, Satsu não teve tempo de detectar.

Ele treinava bastante a fim de nos proteger daquele exército de búfalos em pele humana – fisicamente um tanto fortes, mas igualmente estúpidos em termos de estratégia. Sempre achei que seriam brilhantes se somados ao cérebro desenvolvido de meu querido irmão. Porém, para minha tristeza, eu não era a única a pensar assim.

Dessa forma o final foi dado: a família chefe do exército, os tais Yuzo, invadiram nossa casa por dois momentos. No primeiro levaram nossos pais, lavradores humildes, que nada sabiam sobre como lidar com os conflitos que ocorriam em nosso mundo, para trabalharem como recrutas. Partindo disso, não é necessário falar o modo com o qual descartavam quem não era apto a tal tarefa.

Óbvio que foi doloroso. O impacto, no entanto, o menor dos dois. Nossos pais tornaram-se frios com o passar dos anos. A única razão para sorrir era a lembrança e o desejo de que tudo voltasse a ser como era antes. O crescimento exacerbado da cidade – inclusive nós, que nascemos depois dos adultos que a habitavam – era a ameaça que incomodava nossos contendores. Meus pais temeram e oraram por nós até o último suspiro de suas vidas e, na segunda visita, foi quando levaram meu irmão.

*~*~*~*

– Não tenho palavras para agradecer, senhor Uchida – disse desviando o olhar da fogueira quase seca em chamas para encará-lo.

– Pelo quê? – perguntou, não tendo falado nada mais desde que se sentou ao meu lado.

– Por nada. Foi... Apenas uma lembrança... – falei após pensar um pouco mais, desistindo.

– Ah, sim... – disse rindo um pouco – Às vezes me pergunto por onde anda aquele jovem. Qual era o nome? Era...

– Nob...

– Nobu! Sim, sim... Ele mesmo! – continuou – Fico pensando que hora ou outra ele aparecerá dizendo que está tudo bem e que encontrou o corpo de minhas irmã e neta para podermos sepultá-las como deve ser feito – sonhava já com o olhar perdido na pouca luz da fogueira.

– Eu também, Uchida-san... Eu também – dizia deixando que meus últimos pedaços de papel caíssem. As letras J, I, E e N.


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Notas finais do capítulo

Aguardo comentários com suas opiniões maravilhosas ^w^ ~e é porque são mesmo -w-

Nota: Tentei pular algumas linhas entre um parágrafo e outro para organizar melhor, mas parece que o Nyah! não salva o capítulo sem retirar as linhas extras :P Se ficar difícil de entender a mudança de "cena", avisem por favor >..
Mata ne o/



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