Innocence NejixTenten escrita por Mile Mieko Chan


Capítulo 17
Planejando a Discórdia


Notas iniciais do capítulo

Mieko: eu não disse? Eu não disse?? Olha aqui o 16. Ò0Ó/
Miyako: eu mereço uma dona dessas...

✿✿✿✿✿✿✿✿
Boa Leitura! (◡‿◡✿)



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Uma semana e meia vasculhando e o que havia acrescentado ao que já sabia era tão próximo a zero que poderia comparar isto à temperatura ao redor de seu corpo. Respirou sem vontade, mordiscando os restos de algo que ainda tinha em seus bolsos, e ouvindo o eco, em sua cabeça, de indagações a respeito do por que de ter aceitado estar ali.

Como que para se livrar de perguntas tão estúpidas, decidiu por voltar ao trabalho de investigação não paga que estava fazendo, enfiando-se numa casa qualquer. Não muito diferente de todas as dezenas que já havia visitado nos últimos dias. Não menos suja ou mais alegre. Não menos vazia para lembrar-lhe que se sentia vazio também.

Acomodou-se no que deveria ter servido como uma boa poltrona estofada, apesar de mais idosa do que qualquer parente de quinto grau que ainda pudesse ter, recostando-se por breves e significativos instantes, enquanto fechava os olhos.

*~*~*~*

Passado o tempo em que estiveram fora, apressou-se em rumar pelas escadas para o segundo piso da mansão dos Hyuuga, atrapalhando uma jovem criada que transitava pelo local.

— Com pressa, senhorita Hatsune? – parou próxima ao corrimão e inquiriu, quase irônica, apanhando algumas toalhas que levava para o andar de baixo.

— Oh, me perdoe, Kitsune! – lamentou-se ao fingir a culpa que encobria seu nervosismo.

— É Kin Hyuug...

— Isso! Perdoe-me, Hyu! Eu estou com pressa, não me atrapalhe! – falou rispidamente enquanto corria para um cômodo mais aos fundos do corredor, com o tecido arrastado de suas vestes longas em mãos.

A jovem de olhos claros revirou-se internamente, em agonia por ter que aturar uma sócia tão ignorante e ousada como aquela. Uma porta foi fechada atrás de si e pôde notar, ao olhá-la, os longos fios dourados que pendiam entre a plataforma de madeira polida e sua tranca, brilhantes como o restante de sol que banhava o jardim abaixo dela.

 *~*~*~*

Num descuido inadmissível para o algo tão importante que fora ali para fazer, deixou que alguns minutos se passassem. Abriu os olhos e piscou algumas vezes até perceber que estava amanhecendo, limpando a garganta seca e colocando-se de pé com certa pressa.

Horas mais tarde, as quais escolheu firmemente não contar, estava há milhas além de seu ponto de descanso, onde curiosamente começou a sentir uma brisa distinta no ar. O sol brilhava entre algumas árvores de tronco fino, que conseguia distinguir por cima dos telhados baixos, atraindo alguns pássaros para brincarem em uma grande área molhada.

E foi invadido por um momento extremamente mínimo de paz, ao ver os pequenos penosos e algumas lebres que se divertiam sem compromisso, num lago calmo, que provavelmente conduzia a córregos mais longínquos. Um entretenimento pouco convidativo para ele, imaginando que não muito era preciso para que aquela piscina doce e fria se transformasse em algo como o solo rígido ao redor.

Desviando suas vistas por um instante, delimitou mais uma fileira de acomodações. A última linha do labirinto que atravessou, na parte final da cidade.

~*~

Aproximou-se do sobrado úmido que iniciava a pequena rua aberta, o qual era vizinho de um daqueles armazéns que já havia encontrado. Este, com toras pontiagudas voltadas para cima a partir do chão cheio de entulhos, parecia ter recebido uma forte pancada em um dos cantos, com algo que certamente explodiu nos momentos seguintes.

Confirmou sua suspeita ao agachar-se para ver uma espécie de musgo escuro, que impregnou em suas luvas ao tocá-lo, o qual concluiu ser pólvora velha. Conservada pela neve e molhada como pó de café.

Do jeito que permanecia, completamente próximo ao chão, notou um silêncio agora incomum. As pequenas patas, finas ou peludas, já não mais chapinhavam na beirada da superfície fria, tampouco eram acompanhadas de cantos ou do som de raízes sendo comidas.

Bastou uma mera respiração para que seu ombro fosse levemente encravado por algo mais cortante que a sensação que abalava suas mãos. Uma espada de calibre desconhecido por ele, empunhada por quem parecia ser um soldado de oposição. Com roupas largas, óculos escuros, um capuz surrado e uma máscara franzina cobrindo-lhe o rosto.

*~*~*~*

Suas vistas escureceram rapidamente ao receber o choque súbito, vindo do chão da cabana velha onde estavam. Era iluminada por pequenos candis de aço, com luzes inconstantes, que brilhavam como se desejassem esvanecer a qualquer golpe maior do vento. Ainda assim, eram suficientes para mostrar-lhe as amarras de cordas grossas que faziam a estrutura tecidual e geométrica manter-se de pé.

À frente, mais uma figura fardada, de costas, que mantinha uma postura respeitável diante de dois outros homens que observavam o jovem caído com alguma curiosidade. Perguntou pelo seu nome.

— Vejo que não vai ser muito fácil tirar informações de você – a figura alta, de cabelos longos e castanhos, virou-se para encará-lo, instantes depois de estar certa de que não teria uma resposta. – Ora, mas veja o que temos... – aproximou-se com mais interesse.  – Um Hyuuga! – elevou o timbre com a clara intenção de pôr em posição de ataque os três subordinados a ele presentes.

Levantou-se habilidosamente antes que qualquer deles tivesse tempo de pronunciar algo a mais, deixando que suas descrições prévias invadissem a face que por alto conhecida. Permitiu-se ser capturado, foi levado até o tal líder que procurava, e o indivíduo tão importante achou de saber por qual nome lhe chamar. Malditos fossem aqueles olhos claros.

— Você olha para mim como se soubesse quem sou... – deu um passo, com um sorriso peculiar nos lábios bem desenhados. – E como se tivesse raiva de mim por algo que eu devo ter feito.

— Não vou implorar para que solte essas amarras e me deixe ir, se é o que pensou – a voz áspera e clara de Neji era abafada pelas cobertas úmidas ao redor da cena.

— Ah, mas é claro que não – concordou, no momento em que um dos garotos mascarados partiu as cordas que mantinham seus punhos unidos. – Estou falando de assuntos mais sérios que, se me permite, envolvem seu aclamado clã com certa urgência – rabiscou tons leves enquanto dava uma volta sutil pela cabana. – Eu sei que Konoha já tem muitos problemas com os quais se preocupar, sobretudo a respeito do fato de que vocês estão sendo espionados por uma família de altíssima periculosidade... – foi direto, alternando para timbres mais sérios. – O que imagino ser um dos motivos de sua nobre visita.

— O que quer dizer com isso? – uma leve irritação apertava-se em seus olhos junto à dificuldade de desvendar com precisão os detalhes mínimos daquela face, agora na escuridão de uma das áreas mais profundas do local, onde se sentou e fez um sinal para que ficassem a sós.

Seguiu para mais perto após conferir a saída de seus capturadores, acomodando-se no lugar indicado para ele. Um dos candis fora trazido para mais perto e repousado entre ambos, causando-lhe uma perturbação intensa pela qual não esperava – os traços dela. Os mesmos olhos abaçanados e os cabelos inconfundivelmente no mesmo tom castanho. Por fim entendera o que, momentos antes, sua fisionomia impensadamente já havia revelado. E parecia continuar fazendo.

— Pergunto-me se olha para minha irmã com o mesmo rosto assustado... E se é por isso que ela parece não gostar muito de você agora, Hyuuga – lançou-lhe a última palavra com uma aspereza que ele preferiria esquecer. Salvos os traços comuns de um corpo e personalidade masculinos, eles pareciam ser a mesma pessoa, assombrosamente incluindo o modo de falar.

— Mas como posso continuar uma conversa com um convidado que não sabe se expressar como deve? – questionou-o segundos após vê-lo voltando a cabeça para baixo, não confuso, mas indiscretamente surpreso. Com uma sensação ruim entre os pulmões.

Sem razão aparente, lembrou-se da última briga que teve com ela. No dia em que a deixou sozinha na floresta em que tanto treinavam sem dizer-lhe mais nada, pensando que agora ela provavelmente estaria diferente do que era e que se o visse faria a mesma pergunta que fizera dois anos antes. Ela era o motivo de sua partida. E por certo era disso que precisava recordar para enraizar-se em si mesmo novamente.

— Preciso saber... – murmurou, trazendo para a luz a atenção do membro dos Masahiro. – De tudo o que aconteceu aqui há pouco mais de dez anos.

— Assim é melhor – sorriu descontraidamente ao ver os olhos claros se iluminando de maneira espontânea.

*~*~*~*

— Então quer dizer que ele realmente está...

— Volte a se sentar – a voz séria retrucou. – Eu ainda não disse metade do que... – deixou que um suspiro de incômodo escapasse ao ser interrompido pelo toque do telefone ao seu lado, tomando a liberdade de atender.

Esperou que o ser infeliz do outro lado da linha se pronunciasse até quase largar o aparelho no gancho, reconhecendo os barulhos finos e irritantes que tanto não desejava ouvir.

— Neji-kun, meu querido, eu estava certa de que o encontraria onde pensei que estivesse – os risos leves de Hatsune resultaram em uma expressão receosa. – Preciso que volte para cá imediatamente – teceu o pedido de modo mais semelhante a uma ordem.

— Eu não estou em condições de...

— Mas, amor, o senhor Hiashi não vai aguentar por muito mais! Ele está com uma cara péssima... – parou-o, tentando fazê-lo engolir suas palavras impertinentemente informais. Até então, sem vê-la cara a cara, não conseguia distinguir se todo aquele vexame se tratava de alguma piada ou de mais um de seus deboches provocativos.

— Não vou demorar – desistiu de imediato, lembrando-se da preocupação presente no rosto de Hinata e evidenciando a contradição das próprias ideias com um grunhido baixo antes de desligar.

— Por favor, apresse-se! – disse inutilmente após ouvir o ruído que finalizou a chamada.

*~*~*~*

No quarto, uma dama de cabelos vermelhos tinha sua silhueta marcada pelos poucos raios de sol que a tingiam por trás, pela longa janela vítrea. Analisou os fios escuros e claros que se espalhavam pelo chão, numa expressão doída ao alcançar o corpo desajeitado que repousava diante de seus pés.

— Ele parece tão morto, não é? – indagou à figura que gemia desesperada, bramindo através da mordaça que lhe envolvia a boca. – Oh, não! Não se mexa tanto! – alertou à garota, assustando-a ao ajoelhar-se em sua frente, com uma das mãos sobre sua face rosada e levemente ferida.

— Você não gostaria de ver meus garotos acordados antes da hora do jantar, gostaria? – sorriu ardilosamente ao reconhecer o pânico instalado nas partes visíveis de seu corpo, com um indicador pedindo por silêncio ao mirar uma das criaturas robustas que dormiam próximas às cortinas enegrecidas.

*~*~*~*

Colocou-se de pé claramente perturbado. Não queria ter de explicar-lhe mais em outra hora senão aquela.

— É sensato que eu vá, ainda que não saiba do que se trata – encolheu as mãos dentro das mangas alvas e fez mais algum esforço para controlar sua reação pétrea à ligação que acabara de receber. – Hinata-sama não me perdoaria se for verdade o que aquela louca diz.

Tenten colocou-se de lado, com algo em mãos, chamando-o de volta antes que alcançasse a maçaneta. Encarando-a pode recobrar a imagem de um porta-retratos que antes vira no quarto da colega de equipe. A fotografia, amarelada e nada recente, era de um jovem sorridente abraçando uma garotinha com coques altos na cabeça.

— Antes que você vá... – sentiu-se boba com o que estava prestes a inquirir. – Como ele está agora? – um sorriso leve ocultando sua euforia exigia mais respostas.

Ela chegou mais perto com certa vagareza enquanto ele parecia pensar, não desviando o olhar do objeto relicário ou esquecendo-se que ocultara parte de suas lembranças durante a conversa que tiveram.

— Olhe-se no espelho e isso bastará – fê-la sorrir e observou o encanto sumir de seu rosto com o vir de uma pergunta mais indireta, no instante em que não olhava mais para a antiga recordação.

— Ainda não me disse... Por que ela escolheu você – fitou-o com um olhar límpido. – Poderia ter sido qualquer pessoa. Sem falar de tudo que me contou – deu de ombros, deixando que uma das mãos dele tomasse o item das suas em seguida.

— Essa indagação tem muitas respostas – apoiou a moldura numa mesa fina atrás do sofá. – E... Se eu continuasse a esconder isso, iria atrás dele de qualquer jeito, estou certo?  - passou-lhe a dificuldade de chegar até o ponto mais profundo de seus olhos claros.

— Ir... – fez uma pausa para respirar com alguma tranquilidade, que parecia não vir com tudo que invadia sua mente após alternar o olhar entre ele e o que estava de pé à sua esquerda. Todos os ocorridos, desde o aniversário em que o vira por último até o dia em que o confrontou na própria casa; todas as missões e discussões mais recentes, e quase tudo o que poderia se lembrar de mais antigo partindo do ponto que conseguia. Parecia algum defeito ou qualquer coisa pela qual ela quisesse chamar o que já conhecia.

— Eu queria ter ido atrás de você – um tom puro e transparente tocou seus tímpanos. – Eu só não queria perder alguém sem saber o motivo de novo... – sussurrou, desviando de seu rosto e percebendo que sua mão direita tocava o local onde sabia haver uma cicatriz criada por ela, abaixo das vestes não tingidas.

Neji também deixara os olhos quase negros para acompanhar o leve contato, de soslaio, perdendo a capacidade de reagir com a sensação quente que lhe acariciou o rosto e tomou-lhe os lábios de modo firme e carinhoso. Somente uma impressão deixada em sua pele por alguns segundos; uma afeição não correspondida, que fê-la se afastar, antes com um riso curto e logo com lágrimas.

— Seu idiota! – sua voz rouca cortou o silêncio da casa. O ombro de sua camisa era comprimido pela palma fechada que o agarrava com unhas curtas. – Eu senti tanto a sua falta... – fora interrompida por soluços novamente, recostando a testa em seu peito. – Por favor, não me diga... – respirou. – Que todo o trabalho que teve por minha causa foi só mais uma maldita ordem que você cumpre sem se importar...

E ele não conseguia dizer nada a respeito disso. Não era capaz de se colocar no lugar dos sentimentos nus diante de si. Então a ofereceu os dele, tomando as rédeas do que estava ignorando há tanto tempo e transferindo sua força aos braços dela; agarrando-os no momento em que voltava as atenções para si e abraçando-os no minuto demorado e caloroso em que a beijou verdadeiramente, misturando uma lágrima sua com as dela.

Aos poucos, pararam. Sem mais toques impacientes ou batidas frenéticas. Somente o ar límpido e o aroma dos cabelos castanhos preenchendo-lhe por dentro; rostos simetricamente ligados pela fronte e braços enlaçados na silhueta mais próxima. Olhares vazios e cheios de palavras não ditas, e não necessárias no amplexo que os unia confortavelmente. As primeiras sombras da noite se projetavam e mostravam em perspectiva uma cena romântica, não vista por mais ninguém.


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Notas finais do capítulo

Música para este capítulo: "Innocence", performed by Avril Lavigne.



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