The Wind escrita por HikariBibii


Capítulo 12
Uma noite na escola


Notas iniciais do capítulo

PESSOAS! PESSOAS! PESSOAS! E MAIS UMA VEZ, PESSOOOOOAAAAS!!!!
Eu retornei das cinzas! Sim eu retornei! Depois de EXATAMENTE UM MÊS sem conseguir tempo e nem inspiração para escrever, nesses últimos dias eu tive um surto criativo para escrever graças à uma OST do anime Ao Haru Ride, que se vocês quiserem ouvir para se inspirar também ou para ler durante o capítulo (que aliás eu super recomento), aqui está o link: https://www.youtube.com/watch?v=pb0waaz9XYY
Ah e esse também é o meu primeiro capítulo com 19 aninhos *toca cornetas* (sim, pra quem não sabe eu fiz aniversário dia 6 de setembro /morre).
Vocês podem falar o que quiserem: que eu tô velha, que eu demorei pra caralho pra postar, que eu odeio vocês por ter demorado tanto assim, mas não, é que realmente a coisa tá pesada aqui com a faculdade e eu também não sei quando vai sair o próximo capítulo /apanha
Mas olha só, pelo menos eu voltei, provando que mesmo que demore eu aparecerei alguma hora para atualizar a fic, e dessa vez com um capítulo bem grande de gigantesco pra saciar vocês, e ô: 100% FERRISWHEEL! o/
Pelo título vocês devem estar imaginando safadezas, né seus danados? /apanha de cinto
Enfim, enfim, menos papo e mais leitura! Espero que gostem! E até o próximo capítulo em uma dimensão alternativa!!



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Segunda-feira, 1 de Outubro.

Após mais uma semana de provas, já é outubro. Apenas um mês de aula havia se passado e tantas coisas já tinham acontecido. Hoje, é apenas mais uma segunda comum de pós-provas, a segunda-feira dos resultados. E como de costume, cheguei alguns minutos atrasada na sala, onde já havia um amontoado de pessoas ao redor do mural, quase se matando para ver as próprias notas.

Eu não estou nem um pouco ansiosa, confesso. Para falar a verdade, eu já tenho alguma ideia de como devem estar as minhas notas, mas mesmo assim, não custa nada dar uma checada.

Assim, quando a manada de alunos se dispersou, foi a minha vez de se aproximar do mural. Para a minha grande surpresa, pude ler um “na média” ao lado de todas as minhas notas. Exceto em uma em especial, que como o esperado estava escrito “recuperação”, o que não é uma surpresa para quem deixou a prova de biologia em branco, propositalmente. Afinal, o que mais eu poderia fazer? Justo agora que finalmente aceitei o fato de estar apaixonada pelo N, eu iria abrir mão de passar mais tempo com ele? De jeito nenhum!

A propósito, falando em estar apaixonada, Bianca e Black começaram a namorar há alguns dias. Bianca disse que resolveu dar uma chance para ele, a fim de confirmar se seus sentimentos são mesmo compatíveis, e colocar um ponto final na sua dúvida de uma vez por todas. O namoro deles até que está indo bem. O Black está fazendo de tudo para ser um namorado fofo e incrível, assim como o Cheren foi, e até que não está se saindo nada mal. Eu só ainda preciso me acostumar com a ideia. E aliás, eu não vejo o Cheren desde que ele me ajudou a estudar da última vez. Na verdade, eu preciso agradecê-lo, pois graças a ele que as minhas notas subiram tanto!

– Bom dia, Tou! – sou pega de surpresa pela voz da Bianca, que se aproximava de mim por trás – Como estão as suas notas?

– Ah, surpreendentemente estão bem, na verdade! Praticamente todas ficaram acima da média graças ao Ch- meu esforço, haha! – mudei o rumo da minha fala rapidamente. Essa não era a primeira vez nos últimos dias que eu quase citava o nome do Cheren, mesmo sabendo que eles não são mais um casal. Estava sendo difícil me acostumar com isso.

– Ah, que bom! – ela comentou com um sorriso – Eu gabaritei a prova do professor N! – ela acrescentou ao apontar para a sua nota no mural – E aposto que você também foi super be-

Lancei um sorriso nervoso. Eu sabia que ela estava prestes a me dar uma bronca.

– C-como você zerou uma prova ri-ridícula dessas?! Tou! Não dá para acredit- - ela deu uma pausa – Ah... na verdade dá sim. – ela sorriu com um leve ar de malícia. Provavelmente se lembrando do meu segredo, cujo qual recentemente compartilhei com ela – Boa sorte, mais tarde. – ela sussurrou em um dos meus ouvidos, ao se direcionar para sua carteira.

Não pude deixar de sorrir. De certa forma, ao contrário do que eu pensava, ter a sua melhor amiga sabendo de quem você gosta é algo realmente fortalecedor. É muito bom ter alguém para te apoiar e enviar forças, e principalmente, saber que tem um ombro com quem contar caso as coisas deem errado.

Agora, conquistar o N, por mais difícil que pareça, não é apenas um desejo meu, mas também é da Bianca, que está contando com a minha vitória. E eu não posso decepcioná-la. Não mesmo.

– Sentem-se todos, por favor! – a voz do professor de química rompe com os meus pensamentos, me obrigando a assistir a aula.

Por mais que, durante todo o dia escolar, as aulas estivessem acontecendo bem diante dos meus olhos, era como se eu não estivesse ali. A única coisa que eu conseguia pensar era na aula de recuperação que eu teria logo depois, mais uma vez, a sós com o N.

Agora que eu aceitei o fato de amá-lo... como irei reagir quando ele aparecer? Como irei dar o meu primeiro passo...?

Pensar sobre isso só me deixava ainda mais nervosa, mas ao mesmo tempo, com uma vontade enlouquecedora de vê-lo.

x-x-x

As aulas do dia terminaram, todos os alunos já estavam arrumando as suas coisas e se dirigindo para fora da sala de aula. Menos eu. Que ficaria ali, pelas próximas duas horas, respirando o mesmo ar, e compartilhando o mesmo ambiente, que o príncipe dos olhos verdes mais lindos que já vi.

O relógio de ponteiros, localizado logo acima do quadro negro, marcava três horas em ponto. E no exato momento em que o sinal escolar soa, sou contemplada mais uma vez pela visão a qual tanto senti falta.

Cabelos verdes presos em um rabo de cavalo. Olhos da mesma cor. Um homem charmoso e sedutor roubava a cena, fazendo o meu coração disparar, me transmitindo ainda mais a certeza de que sim, eu estou perdidamente apaixonada por ele.

– Boa tarde, N! – cumprimentei-o, com o sorriso mais bobo que pude, como se eu estivesse vivendo um conto de fadas.

– Boa tarde?- ele indagou um tanto sério, ao colocar bruscamente uma folha de papel sobre a mesa, que após alguns segundos de reflexão, realizei ser a minha prova – O que foi isso? Digo... O que aconteceu? Você parecia estar tão bem preparada nas nossas aulas da semana anterior... E eu ainda fiz uma prova tão simples! Todos se saíram bem... Por quê justo você, que teve aulas extras, foi deixar uma prova como essa completamente em branco?

O N estava sério. Ele estava falando bem sério. Somente ao olhar para os seus olhos dava para perceber isso. Ele realmente estava preocupado com o meu desempenho e não conseguia esconder isso. Mas ao mesmo tempo, eu...

“Por quê justo você, que teve aulas extras, foi deixar uma prova como essa completamente em branco?”

Minha mente estala. E após a minha ficha realmente cair sobre o que havia sido perguntado, sinto meu rosto começar a esquentar violentamente. E-e-eu preciso dar uma resposta para ele! M-m-mas, e-eu não consigo! Não consigo pensar em nada agora!

O ambiente foi tomado pelo silêncio e pelas maçãs que se intensificavam cada vez mais no meu rosto à medida que os segundos iam passando. Eu não conseguia dizer nenhuma palavra. Os meus olhos estavam congelados, mirando fixamente o rosto perfeitamente desenhado diante de mim.

Ironicamente, o N se mantinha da mesma forma. Parado. Estático. Apenas me penetrando com a sua visão. Que, logo depois, foi cortada por uma piscada súbita, seguida de pequenos rubores que começavam a se formar em suas bochechas. O que começava a me deixar com certas dúvidas sobre se, por um acaso, ele realmente tinha compreendido as minhas intenções ao zerar a prova.

Permanecemos assim. Por algum tempo.

BOOOM!

Um trovão caí, cortando o clima, que por mim, poderia durar para sempre. Em questão de segundos, a minha pele se arrepia completamente, e começo a suar frio. Eu não gosto de trovões. Não mesmo.

N se surpreende com a minha reação repentina, deixando escapar um risinho interno, e logo depois dá de costas, agindo como se nada tivesse acontecido.

Suspiro, aliviada. Se ele entendeu ou não quais eram as minhas intenções, isso não importa mais. O importante agora é que eu consegui escapar dessa, mesmo sendo por um triz.

Olho para frente, na tentativa de, assim como o N, agir como se nada tivesse acontecido. O mesmo, já estava em ação, paralelo ao quadro, fazendo anotações que me remetiam as questões da prova zerada.

Eu... Eu realmente poderia ter resolvido todas essas questões... Poderia até mesmo ter gabaritado... Mas... mas... se eu tivesse feito isso, esse momento de agora e o que acabou de acontecer poderiam não existir. E isso seria, muito, muito triste. Se eu desperdiçasse uma chance sequer de ficar com ele... Eu realmente seria muito infeliz!

BOOOM! BOOOM!

O som dos trovões não parava de ecoar pela minha mente, impedindo-me até mesmo de me concentrar na beleza do N. Ao olhar de relance para o lado de fora, milhares de minúsculas gotículas de água decoravam a vidraça da janela, mais adiante, gotas caindo rapidamente transpareciam através do feixe luminoso dos postes de luz da rua, que já haviam sido acesos, por conta da enorme quantidade de nuvens negras no céu.

– Touko! – a voz do N ecoou como um forte vento nos meus ouvidos – Preste atenção no quadro! Você está bem dispersa...

Droga... ele está bravo mesmo... Vai ver ele pensou que fazendo uma prova fácil daquelas ele não precisaria mais fazer hora extra na escola... Acho que ele não deve gostar de dar aula pra mim... E eu atrapalhei os planos dele...

Eu realmente queria usar as aulas de recuperação para passar mais tempo com ele, mas... se isso o faz infeliz, então... eu não quero chateá-lo mais...

– N, eu... eu acho que consigo resolver essas questões! Digo... no dia da prova eu não estava me sentindo muito bem e... se eu estiver sendo um fardo neste momento... por favor, me deixe refazer a prova e nós dois ficamos livres disso!

Ele ficou mudo. Apenas me encarando com o rosto um pouco confuso, como se ainda estivesse processando o que eu acabava de dizer.

– V-você não é um fardo! – ele exclamou – Se está achando que eu estou irritado por ter que te dar aula, está enganada! Se tem um motivo por eu estar assim é porque eu estou preocupado com você! Como eu não ficaria preocupado com você?! Você é minha aluna, afinal!

Ele podia estar bravo. Ele podia estar cuspindo suas palavras de um jeito bem irritado, mas... de certa forma... o meu coração batia mais forte e meus ouvidos gostavam do que ouviam. O N... preocupado... comigo?

CABOOOM! BOOOM!

– K-kyaaaah!!! – exclamo, ao me assustar com os trovões, levando as minhas mãos ao rosto. Era como se tudo a minha volta, em questão de segundos tivesse escurecido, e se resumido ao preto.

E não era mentira. Não era ilusão. Tudo ao meu redor estava escuro. Completamente negro.

– Touko, você está bem?! – a voz de preocupação do N atingia os meus tímpanos, e de certa forma, me tranquilizava um pouco. Mas só um pouco.

– N-n?! O q-que aconteceu?! Está tudo escuro! – exclamei com uma voz de choro. Eu estava realmente muito assustada.

– Parece que a chuva está tão forte que cortou o sistema de luz da escola. Fique aqui, que eu vou lá embaixo dar uma olhada.

CABOOOM! BOOOOM!

– N-não!!! – exclamei – Por favor... não me deixa aqui sozinha...

Alguns segundos de silêncio tomaram conta da atmosfera. Até que o N resolveu se pronunciar:

– Você... por acaso... tem medo de trovões? – ele perguntou preocupado.

Engoli em seco. Quer dizer então que eu sou realmente uma pessoa tão transparente assim? O N havia acertado em cheio. Eu tenho sim medo de trovões. Na verdade, eu morro de medo deles. Mas eu sempre tive vergonha de admitir isso.

– Só admito se você prometer não contar para ninguém. – bufei.

Ele riu.

– Tudo bem então. Prometo não sair daqui por nada. – ele afirmou, me deixando aliviada – Mas... agora que está escuro e não podemos continuar com a aula... vou aproveitar para desvendar mais sobre você.

– C-como assim desvendar mais sobre mim? – balbuciei com maçãs no rosto. Eu estava começando a ficar confusa com o seu charme.

– Ué, você é uma aluna interessante, esqueceu? – ele indagou como se estivesse falando sobre a coisa mais clara e simples do mundo.

Lá vem ele de novo com esse papo de que eu sou interessante. Eu nunca consegui entender o que ele quis dizer com isso. E, aliás, quem deveria estar querendo desvendar alguém por aqui, sou eu! Afinal, não existe ninguém mais misterioso e curioso do que o N.

– Por quê você tem medo de trovões?

– Uh? – a sua pergunta me pegou de jeito, fazendo-me ficar sensível. Falar sobre o meu medo e principalmente como o adquiri era algo extremamente delicado para mim.

– O que foi? Falei alguma coisa errada? – ele perguntou – Eu só fiquei curioso sobre isso porque, normalmente quando as pessoas tem um medo, elas têm um motivo para isso... caso o contrário é uma fobia.

Não dava para evitar. Era mais forte que eu. As lágrimas começavam a rolar descontroladamente pelo meu rosto, em meio os soluços que tomavam conta da minha voz, enquanto as lembranças do dia chuvoso de 11 anos atrás começavam a dominar a minha mente.

x-x-x

Os barulhos que vinham da sala eram tão fortes que eu não conseguia dormir. Eu me perguntava se a Mei estaria assim também. Eu não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas uma coisa era certa: papai e mamãe deviam estar tendo uma briga de novo.

Ouço a porta do quarto ranger. E ao olhá-la, percebo que uma pequena garotinha de cabelos castanhos e olhos azuis como os meus, carregando um rato amarelo de pelúcia me encarava ao esfregar um dos olhos com as mãos.

– Mei! O que está fazendo aqui?! – tento bancar a irmã mais velha, entre sussurros – Você sabe que horas são?!

– Uaaah! – ela bocejou – São 3 da manhã, Tou. Mas eu não consigo dormir. Acho que mamãe e papai estão se desentendendo de novo.

– Para ser sincera, eu também acho isso. Mas o que podemos fazer? Isso é problema deles. De gente grande. – comentei ao me ajeitar na cama.

– Como você pode dizer isso, Tou? Pode até ser problema de gente grande, mas eu estou preocupada com o papai e a mamãe! E acho que devíamos ir lá ver o que está acontecendo!

– Não Mei, isso não é uma boa ideia. Está tarde, chovendo bastante e nós temos aula amanhã!

– Aaah, vamos, Tou! Você sabe tanto quanto eu que está preocupada com eles também! – Mei acertava em cheio, enquanto sacudia o seu rato amarelo.

– Ai,ai. Tudo bem, você venceu. Mas se nos encrencarmos depois, não diga que eu não avisei!

Conforme íamos descendo as escadas que ligavam o corredor do andar de cima com a sala de estar, as palavras que estavam sendo ditas pelos nossos pais começavam a se tornar cada vez mais claras.

– É esse o exemplo de homem que você quer dar para as nossas filhas?! Um homem que trai a sua mulher para ficar com outra?! É por esse tipo de homem que você quer que as nossas filhas se apaixonem?!

– Satome... não meta as nossas filhas no meio disso, por favor. Estávamos brigando muito recentemente e então ela apareceu... Foi apenas um deslize.

– Um deslize?! Que tipo de homem com uma família comete um deslize?! Suma daqui Ichiro! Eu não quero ver você nunca mais!

As palavras furiosas da mamãe saiam e entravam pelos meus ouvidos como se não fizessem sentido. Mas de alguma forma faziam. Eu sabia que eles estavam brigando muito feio dessa vez. E parecia que agora, eu não iria ver mais o papai.

Sinto uma mão quente me agarrar no braço esquerdo.

– O –o-oque v-vai a-acontecer c-com o p-papaaai....? – Mei soluçava com cachoeiras escorrendo pelos seus olhos, sem conseguir mirar o meu rosto.

– E-eu... não sei... – respondi, segurando o choro. Eu não podia chorar... Eu sou a irmã mais velha afinal...

– Você não pode estar falando sério, Satome... Você sabe que não vai conseguir sustentar nossas filhas sem mim...

– Estou falando seríssimo! Você ainda não entendeu?! E eu posso muito bem cuidar das duas sim!

– Eu não posso ir embora antes de ver as minhas filhas, Satome. Não antes de me despedir delas!

– Elas não precisam se despedir de uma lata de lixo como você, Ichiro! Você não vale nada! Nunca valeu! E eu fui a maior estúpida por nunca ter percebido isso!

– Como eu já disse, não colocarei um pé para fora daqui antes de ver os rostos da Touko e da Mei!

– Se você não vai sair por bem, vai ter que sair por mal! – mamãe finalizou furiosa, retirando um dos sapatos de salto alto do pé, fazendo-me entender o que estava prestes a acontecer.

A mamãe... vai machucar... o papai...? Não! Não! Isso não!

Antes que a mamãe pudesse lançar o seu sapato contra o papai, o meu coração se encheu de coragem, fazendo-me correr para o centro da sala.

– Nãããão! Não, mamãe! Não machuque o papai, por favor! – dessa vez, as lágrimas haviam sido mais fortes do que eu, e começaram a escorrer. Minhas pernas estavam trêmulas, e o olhar furioso meio assustado da mamãe, por me ver, me deixava ainda pior.

– Touko... – a voz trêmula da mamãe tomava conta do ar – Você... por acaso... está do lado do seu pai? Você por acaso acha certo o que ele fez?!

– E-e-eu não acho certo, mas, nada é motivo para querer machuc-

– Mamããããããe!!!! – a voz assustada de Mei, correndo pela sala na direção da mamãe me impediu de terminar a fala.

Mei estava muito triste e muito assustada. De certa forma eu me sentia culpada por isso. Por ter perdido a compostura e tê-la deixado insegura. Eu sempre fui uma péssima irmã mais velha.

– Agora que você já viu as suas filhas, Ichiro. Pode se retirar. – mamãe afirmou secamente, ao abraçar a Mei com força.

– Até algum dia, meninas. – disse papai, com lágrimas nos olhos, ao se retirar da nossa casa.

– Mamãe, por quê vocês fez isso mamãe! Está chovendo muito lá fora! O papai não tem para onde ir! É perigoso, mamãe!! – exclamei, sem conseguir conter mais as lágrimas que já haviam começado.

– Ele pode muito bem ir pra casa daquela vagabunda! Eu que não estou te entendendo, Touko! Como pode continuar do lado dele depois de ouvir a conversa?! Bom... isso não importa agora... vocês duas devem voltar a dormir porque tem aula amanhã!

Eu não conseguia entender. Por mais que eu tentasse, eu não conseguia entender. Como um casal podia se separar? Como isso era possível? Como eu poderia viver pelo resto da minha vida sem um pai?

Todos esses pensamentos não saíram mais da minha mente durante toda a noite em que fui perturbada pelos trovões intermitentes. Trovões que me deixavam com mais medo quanto mais eu os ouvia. Pareciam que cada vez ficavam mais fortes. E eu me perguntava, se o papai estaria bem.

Desde então, mamãe passou a me tratar diferente da Mei. Eu estava desiludida e arrasada com o erro que a minha figura paterna cometera. Por mais que o papai tenha errado, eu ainda o amava. Afinal, foi ele quem escolheu o meu nome. Foi ele quem me disse, quando a Mei nasceu, que eu continuaria sendo a garotinha dele. Foi ele quem me mostrou que eu deveria ser um exemplo para a minha irmã. Mas parece que nada disso deu certo. Nós falhamos. Ele, como marido. Eu, como filha. E eu nunca mais vi o papai. Hoje, eu nem sequer sei onde ele pode estar.

x-x-x

Subitamente, enquanto eu ainda chorava, me recuperando das imagens que sumiam aos poucos da minha lembrança, sinto mãos quentes entrarem em contato com o meu rosto, levantando-o.

Ao abrir os olhos, me deparo com o anjo de olhos verdes, que me penetrava com a sua visão, ao acariciar levemente o meu rosto com os seus dedos, e eliminando as lágrimas que escorriam pelo caminho.

Estava escuro e apenas algumas partes do seu rosto eram visíveis pela luz urbana que vinha do lado de fora. Contudo, conseguia enxergar o suficiente para saber que ele estava ali, tão perto de mim, e, aparentemente, querendo o meu bem. Querendo me acalmar.

– Esta olhando nos meus olhos? - ele perguntou.

Eu assenti, conseguindo cessar as lágrimas e começando a ser dominada pelos batimentos cardíacos que ficavam cada vez mais fortes.

– Que bom. Porque é pra eles mesmos que você tem que olhar. Olhe mais. Olhe até se sentir melhor. E enquanto olhar para eles, tenha a certeza de que, você não precisa ter medo. Você não precisa ter medo de nada. Porque, eu estou aqui. E enquanto eu estiver aqui, não vou permitir que esses trovões a façam chorar. – as palavras doces do N tocavam os meus sentimentos como uma leve pétala de rosa sendo carregada pelo vento. Eu era a pétala, a pétala que só estava conseguindo se manter naquele momento, por sua causa. Que me sustentava e carregava, como o vento.

– Por quê, N?! Por quê que as coisas tem que ser assim?! – me descontrolei novamente sob o domínio do choro – Por quê duas pessoas que se amam decidem se separar?! Por quê o amor é um sentimento que é capaz de acabar?!

Um pequeno silêncio se estabelece entre nós. E, ao mirá-lo, percebo que seu rosto estava um tanto melancólico, e suas palavras haviam sido travadas pelas minhas perguntas.

– Existem... uma infinidade de motivos para uma separação. – ele afirmou cabisbaixo.

O seu rosto, as suas feições, o seu olhar. Tudo nele me deixava curiosa. O meu coração se sentia apertado por vê-lo desse jeito. Eu quero saber mais sobre ele, quero saber tudo sobre ele... Mas ainda assim, também quero poder confortá-lo.

– Ei... N... – chamo a sua atenção – Você por acaso... já se separou de alguém que gostava muito? – sinto o meu coração bater mais forte ao finalizar a pergunta. Eu estava ansiosa.

N fitou a janela por alguns segundos, como se estivesse encarando o céu. E, após um suspiro, me encarou com o seu olhar fraquejado:

– Desculpe, mas... isso é algo que você não pode entender.

Eu deveria ter ficado brava com o que ele disse. Eu devia ter me irritado. Mais uma vez ele me trata como uma garotinha que não pode entender as coisas do mundo adulto. Mas de certa forma... eu não conseguia me estressar com ele, não com ele desse jeito. O N bem diante de mim parecia ser mais forte do que eu pensava, mais forte do que aparenta ser. Mas no fundo, assim como eu, ele é humano. Ele sente dores. Tem tristezas e arrependimentos. Ele pode ser apenas um professor de biologia, mas, é o professor de biologia que eu amo.

O N é muito forte. Muito forte e bonito. Ele é incrivelmente bonito. Seja de dia, de manhã, de tarde ou de noite. Ou até mesmo em um apagão na escola. Ele continua sendo quem ele é. Continua sendo lindo. Uma pessoa linda por fora, e que quanto mais vou conhecendo, descubro que é incrivelmente lindo por dentro também.

– Sabe... – ele começou – Você não deveria se prender ao o que aconteceu com os seus pais. Não é como só porque aconteceu com eles que vai acontecer com você também. Você... ainda é jovem... terá muito tempo para se apaixonar pela pessoa certa. Então... não tenha medo disso acontecer, está bem?

Sinto o meu rosto esquentar com as suas palavras. Meu rosto estava em chamas. Felizmente, ele não iria conseguir perceber isso com facilidade. Portanto eu... deveria aproveitar para tirar vantagem da situação:

– E... se eu achar que já me apaixonei pela pessoa certa?

Ele sorriu. Dava para perceber que ele estava sorrindo. E ao sentir os seus dedos entrelaçando entre os meus cabelos, consigo ouvir a sua resposta, como um sussurro em meu ouvido:

– Então faça-o perceber isso. Tenho certeza que qualquer cara normal se encantará por você. Por quem você verdadeiramente é.

Meu coração estava batendo mais forte. Bem mais forte. E as maçãs em meu rosto estavam prestes a explodir. Mas eu não podia parar, não agora:

– N... desculpa pela pergunta, mas... responda com sinceridade... você... você... me... acha... b-bonita?

Após esperar um pouco pela sua resposta, com o coração quase pulando pela minha boca, percebo que aquele maldito silêncio havia tomado conta do ar novamente.

D-droga! Ele teve ter ignorado o que eu perguntei por ser algo completamente estranho! O-onde eu estava com a cabeça também! P-perguntar para meu professor se ele me acha b-bonita!

Respiro fundo e tomo coragem para olhar em sua direção. Surpreendentemente, o que havia realmente acontecido nem sequer passou pela minha cabeça: o N havia dormido. Ele estava completamente adormecido como um príncipe encantado sobre a carteira ao lado da minha.

O N dormindo... é lindo também... mesmo sem eu poder ver os seus olhos, sua beleza não se ofusca. Ela não se ofusca por nada. Os fios de cabelo levemente cobrindo parte de seu rosto me provocam um pouco. Seu cabelo aparentemente tão sedoso e macio... sua pele... tão quente e fofa... seu nariz... perfeitamente desenhado... seus lábios... tentadores.

E se eu... o... tocasse? ... Só... um pouco...?

Não, não e não! Touko o que você está pensando?! Se aproveitar de uma situação dessas é algo tão pervertido! Eu vou acabar me sentindo uma molestadora! Mas... mas... e se tudo der errado entre nós...? Eu nunca mais poderei ter sequer uma chance como essa que está bem diante dos meus olhos...

Respiro fundo. Me agacho, até ficarmos cara a cara. Meu coração batia descontroladamente dentro do meu peito, e o meu rosto, nem se fala, estava fervendo como bacon frito. Minha mão? Parecia que estava sendo atraída até o seu corpo como se fossemos um conjunto de imã e metal.

Primeira parada: seu cabelo. Com um primeiro encostar de dedos pelo longo caminho verde, já dava para comprovar a minha hipótese: fios extremamente sedosos, macios e organizados, sem um nó sequer. Parecia até coisa de outro mundo.

Segunda parada: sua pele. Um enorme terreno branco e extenso, que com um simples toque fazia-me sentir calafrios. Eu estava incrivelmente nervosa. Como uma pele conseguia ser tão quente, lisinha e macia ao mesmo tempo?

Terceira parada: seu nariz. Seu contorno tão bem desenhado me encantava. Ao me aproximar mais, conseguia sentir a sua respiração cada vez mais perto, que me seduzia intensamente, fazendo com que eu me abeirasse ainda mais, me deparando com a minha última e tão desejada parada:

A sua boca.

Uma boca com lábios nem tão finos e nem tão grossos. Lábios sedutores, intrigantes e tentadores. Tão tentadores, que, eu não conseguia parar de olhá-los, e, ao mesmo tempo, desejá-los. Era como se o tempo tivesse parado, que esse momento estivesse congelado, só para que eu pudesse agir. Sua boca me atraía como um polo positivo atrai um negativo.

Há poucos centímetros de distância de selar um beijo precipitado, sua respiração quente volta a me provocar, excitando-me um pouco. Toda a atmosfera local apenas contribuía para que os meus hormônios ficassem a flor da pele.

Até que a razão volta à tona.

Caio para trás morrendo de vergonha. Olho para os lados no desespero, lembrando-me de estar em um ambiente escolar. Volto a olhar para frente, e me deparo novamente com o príncipe adormecido.

Respiro fundo. Me belisco.

Não, não era um sonho.

Mas quem sabe... eu não gostaria de viver um sonho agora mesmo?

Me aproximo do príncipe mais uma vez, aconchegando-me na carteira ao seu lado.

A luz da lua e das estrelas iluminam o nosso adormecer após uma violenta chuva. Transmitindo-nos, ou pelo menos para mim, os sonhos da realidade que eu não poderia viver. Pelo menos não ainda.

x-x-x

Terça-feira, 2 de Outubro.

Uma pequena brecha de luz começava a entrar dentro da sala de aula, fazendo-me abrir os olhos. O sol estava nascendo, e ao mirar o relógio de ponteiros no topo do quadro negro, eram exatamente 5 e 45 da manhã.

Essa não! Daqui a pouco os funcionários vão começar a chegar na escola e eu passei a noite aqui! Se eu for pega aqui dentro com o N não vai ser nada bom! Melhor eu dar o fora!

Me levantei da carteira sem jeito, e sem que eu pudesse reparar, uma das minhas pernas ficou atrás de um dos pés da cadeira, fazendo-me ir ao chão junto a ela.

Um grande estrondo se faz.

D-droga!

Me levanto rapidamente, bato com as mãos no uniforme a fim de reduzir a poeira. Assim, apressadamente, me dirijo em direção à saída da sala.

– Bom dia, Touko. – contudo, antes que eu pudesse sair dali, a voz cativante do príncipe que ali dormia rouba a cena.

Me viro para ele um pouco envergonhada e balbuciando as palavras, respondo:

– B-bom d-dia... N...

– Ué? Já está indo embora? Mas eu nem respondi a sua pergunta.

Sinto o meu rosto esquentar levemente. O que ele estava querendo dizer com isso? Pergunta? Que pergunta?

– Sim, você é. É uma jovem incrivelmente linda! – ele responde, arregalando-me os olhos, com o sorriso mais aberto, fofo e sedutor possível!

Sacudo a cabeça para os lados. Sinto minhas bochechas arderem em chamas. Q-quer d-dizer q-quer n-naquela hora e-ele o-ouviu?! E apenas consigo gaguejar uma réplica:

– O-o-oque v-você e-está di-dizendo?! V-você é um professor, não deveria dizer uma coisa dessas para sua aluna!

Ele ri. Ele solta uma risada gostosa e melodiosa.

– Você perguntou se eu te acho bonita, não foi? Então saiba que antes de professor eu sou um homem, e um homem bem honesto.

Travada. Paralisada. Sem reação. Com tons escarlates explodindo nas bochechas. E com o corpo trêmulo. Era assim que eu estava. E assim fiquei, por mais alguns segundos, encarando o seu rosto escultural, estampando mais um de seus provocantes sorrisos.

Subitamente, dou de costas para ele, e saio correndo. Corro o mais rápido que posso, antes que tudo estivesse perdido. Eu não havia ideia de como era extremamente perigoso eu ficar a sós com o N entre quatro paredes. Se eu continuasse lá mais um pouco, era capaz de eu chegar no meu limite.

Ao alcançar a metade do corredor escolar, entro no primeiro banheiro feminino que aparece. Assim, me tranco em uma das cabines, na qual pretendia permanecer até ouvir o sinal de começo das aulas soar.

Ai, Deus! Por quê será que eu sinto que a minha vida vai virar uma bagunça?!

Continua...


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Notas finais do capítulo

Se você leu o capítulo até aqui, muito obrigada! E por favor, não se esqueça de comentar, a sua opinião é muito importante pra mim! ♥
P.S: Continuem acompanhando a fic, não vão se arrepender!! ♥ ♥ ♥