–Eu recebi uma proposta de emprego... - ele disse me encarando.

–Então, você não vai mais trabalhar na delegacia?- perguntei desconfiada.

–Eu fui convidado para trabalhar em uma grande firma de advocacia- ele falou olhando para baixo.

–Não sabia que existia isso aqui em Storybrooke.

–Na realidade, é em Nova York- ele voltou a me olhar.

–Graham!- abracei-o- Parabéns. Agora eu sei o porquê de tanta demora para arrumar as papeladas na delegacia.

–Tem mais uma coisa- ele disse se afastando do abraço.

–O quê? Pode falar... - falei curiosa.

–Eu meio que vou viajar amanhã- ele disse botando a mão na cabeça.

–Você só pode estar de brincadeira- afirmei incrédula e ele balançou a cabeça negativamente- O que você acha que está fazendo?- aumentei o volume da voz.

–Eu não queria te incomodar, visto que você está passando por um momento... - ele procurou a palavra- delicado.

–Não importa- falei nervosa- Você vem me dizer que você está partindo de Storybrooke um dia antes da viagem? Que tipo de pessoa faz isso?

–Está tudo bem por aqui?- Ruby apareceu e nos fitou preocupada.

–Você sabia que o Graham vai viajar amanhã?- perguntei quase gritando.

–É... -ela disse fitando o chão- eu meio que sabia. Na realidade, todos nós já sabíamos.

–Então eu sou a última a saber?- perguntei me levantado do sofá e olhando para Graham.

–Eu não queria te dar mais preocupações- ele disse pegando a minha mão.

–Nós não vamos ter tempo de aproveitar- falei cabisbaixa.

–Claro que vamos- ele disse animado- Ainda temos hoje e amanhã. .

–Sim- falei levantando o ânimo- Não podemos perder tempo brigando, temos que aproveitar o máximo possível.

–Que o nosso melhor final de semana comece- ele falou.

–Que o nosso MELHOR final de semana comece- repeti.

Chegamos à ilha e todos pareciam muito receptivos. Estavam sempre ao redor de Graham tentando aproveitar os últimos momentos com o nosso amigo. Piadas eram contadas, comidas eram servidas, jogos eram jogados e muitos abraços e beijos eram distribuídos.

Permanecia grudada junto a Graham o tempo todo. Passeamos pela orla da praia e tomamos banho de mar. Eu sentiria falta daquele sorriso encantador, mas eu não poderia impedi-lo de seguir seu sonho.

No fim da tarde voltamos para Storybrooke, por sorte eu havia colocado ração extra para Duke, se não ele estaria faminto a essa hora.

–Nós nunca vamos perder contado, não é?- ele disse enquanto caminhávamos na rua da minha casa.

–Nem pense nisso, senhor Graham- falei socando levemente seu braço.

–Claro que não- ele rio.

–Eu estava pensando, já que amanhã é o seu último dia em Storybrooke nós poderíamos tomar café no Granny's e convidar todo mundo.

–Eu acho uma ótima ideia- ele falou quando chegamos à frente da minha casa- Até amanhã, então.

–Tchau- falei e ele depositou um beijo em minha cabeça.

Entrei em casa e observei-o diminuindo conforme ia se afastando. Duke apareceu eufórico com uma bolinha na boca.

–Você quer brincar amigão?- falei pegando a bola de sua boca e indo até o jardim de trás da casa.

Toda vez que eu jogava a bolinha, Duke ia pega-la e sempre trazia de volta para as minhas mãos.

–Bom garoto- falei enquanto afagava seus pelos- Pelo horário, você deve estar faminto.

Ele latiu em concordância. Coloquei a ração em sua tigela e ele avançou na comida. Olhei pela janela e notei que o Sol já estava se pondo.

–Boa Noite, amigão- falei, mas Duke não desviou os olhos da comida.

Subi as escadas e entrei no banheiro. Tomei um banho lento e extremamente relaxante e vesti meu pijama. Depois de enxugar meus cabelos, deitei na cama e peguei meu celular. Notei uma mensagem de minha mãe e li temerosa.

"Sei que nós saímos às pressas, nos desculpe. Mas, Tia Helen está passando por um momento muito difícil que logo mais iremos lhe contar. Mas, por agora acho melhor você se focar nos seus estudos e amigos. Te amamos, Mamãe e Papai"

Liguei para o número de minha mãe, mas a chamada sempre caía antes dela atender. O que será que tinha acontecido com a tia Helen que eu não poderia saber? Para quê tanto mistério?

Mandei mensagem para todos os meus novos amigos a fim de que eles fossem ao Granny's no dia seguinte. O cansaço foi tomando conta de mim. Eu estava exausta, então dormi profundamente.

Acordei com os "bips" do alarme. Levantei da cama super disposta, tomei um rápido banho e vesti um moletom verde e um short jeans. Prendi meus cabelos em um rabo de cavalo desajeitado e desci as escadas. Notei que Duke estava dormindo perto da porta e sorri. Era bom não estar sozinha naquela casa.

Calcei a bota de cano curto que já não usava há muito tempo e saí pela porta. Nessa manhã, os pinheiros exalavam um cheiro delicioso. Caminhei até o Granny's aproveitando o Sol da manhã.

Cheguei lá e os meus amigos já estavam sentados, menos Belle que ainda não havia chegado. Recuei um pouco quando vi Killian e Tink sentados em uma mesa separada, mas mantive minha postura e fui falar com Graham que estava sentado na mesma mesa que todos.

–Olá, senhor “quase advogado de uma grande firma”- brinquei.

–Oi, Emma- ele sorriu e me convidou a sentar ao seu lado.

–Pronto para a Viagem?- falei enquanto me sentava entre ele e Ariel.

–Digamos que sim- ele disse tomando um gole de seu café.

–Café com canela para a senhorita- Ruby apareceu trazendo uma xícara.

–Você sabe do que eu gosto, não é?- Sorri e ela balançou a cabeça positivamente.

–Vocês viram a Belle?- Regina falou sentada na minha frente.

–Ela anda meio sumida ultimamente- Eric disse- Vocês sabem alguma coisa sobre ela?

Gelei. Eu sabia o que estava acontecendo. Provavelmente, ela estava com o Senhor Gold, mas eu prometi a ela que não iria contar a ninguém.

Dispersei meus pensamentos quanto os vi entrando pela porta.

–Aí está ela- Regina virou-se para olhar melhor.

Belle e Sr. Gold se estabeleceram ao lado da nossa mesa. Ela estava com uma expressão inquieta e ele constantemente esfregando uma mão na outra. Tudo se encaixou em minha mente. Eles iriam contar sobre o relacionamento.

–Gente... - Belle disse nervosa. Ela olhou-me procurando por ajuda, balancei a cabeça incentivando-a- Já que o Graham está indo embora e eu quero que todos vocês saibam. Eu quero que vocês conheçam uma pessoa. Esse aqui é o meu namorado- eles entrelaçaram as mãos e todos ficaram perplexos.

Procurei os olhos de Killian, que estava na mesa a minha frente, mas ele sussurrava alguma coisa para Tink. Por um momento, eu tinha esquecido o nosso atual estado.

–Parabéns!- todos gritaram depois do momento de choque.

As meninas levantaram da mesa e foram abraçar Belle enquanto os garotos cumprimentavam o Sr. Gold.

–Venham sentar conosco- Regina disse convidativa e eles aceitaram com prontidão

–Parabéns- peguei na mão de Belle- Você merece ser feliz.

–Espera, Emma- Regina disse desconfiada- Você não parece surpresa...

–Na verdade, eu já sabia- falei e todos na mesa se espantaram- No dia do meu aniversário de 18 anos, quando o... - dei o uma pausa e falei baixinho- Killian me levou para casa, eu encontrei esses dois no maior amor.

–Você sabia esse tempo todo?- Ruby disse assustada.

–Sim, mas eu prometi que não contaria para ninguém, até que fosse decisão deles de contar- falei e Belle sorriu.

–Aliás, eu quero agradecer a Emma e Killian que me deram ótimos conselhos durante esses meses- Belle virou-se para ficar de frente para Killian que sorriu e mexeu a cabeça em concordância.

Depois de várias coversas e perguntas sobre o relacionamento dos dois, Ruby trouxe duas xícaras de café.

–Para o novo casal de Storybrooke- ela botou as xícaras na frente de Belle e Sr. Gold.

–Obrigada- Belle agradeceu e pegou xícara que deslizou de suas mãos e fez um pequeno racho em sua borda- Minhas mãos ainda estão suadas, eu sou uma desastrada mesmo. Agora ela está lascada.

–Não se preocupe, querida- Gold disse afagando seus cabelos.

–Quer saber- Ruby disse- façam da xícara lascada uma recordação de hoje.

–Obrigada, de novo- Belle sorriu em agradecimento.

–Um momento, por favor- Graham levantou da mesa, bateu em sua xícara com a colher e todos fizeram silêncio- Eu não sou muito bom com discursos, mas queria agradecer a todos vocês, meus amigos, que sempre estiveram comigo. Que sempre me ajudaram e fizeram de mim uma pessoa melhor e que sempre me faziam feliz quando eu estava cabisbaixo. Agora nós estamos nos despedindo, mas só por enquanto. Um dia, em breve, nos iremos nos reencontrar.

Todos bateram palmas e notei que uma lágrima escorria pelo meu rosto, assim como o das outras meninas. Muitos abraços e beijos foram distribuídos a Graham. Ele foi saindo pela porta quando tive uma ideia.

–Graham, espera- falei e ele virou-se para me olhar- Eu queria saber se eu poderia te levar no aeroporto.

–Por favor, Emma. Você não precisa se preocupar- ele disse botando a mão em meu ombro- Aliás, o aeroporto é em Boston o que significa que você teria que dirigir por duas horas.

–Eu aguento- disse e ele me olhou medindo a situação- Por favor...

Ele sorriu.

–Isso é um sim?- falei.

–Acho que sim.

–Que horas é o seu voo?

–Seis horas- ele disse olhando para o relógio de pulso.

–Eu te pego as três- falei depositando um beijo em seu rosto.

Fui para casa e preparei macarrão com queijo para o almoço. Comi com a casa totalmente silenciosa. Depois de lavar a louça, me apressei para tomar banho e me arrumar. Olhei o relógio de parede do meu quarto. Era uma e quarenta e cinco.

Dei alguns petiscos para Duke que voltou a dormir. Saí de casa vestindo sobretudo e calça jeans. Optei por uma sapatilha de cor clara. Coloquei a bolsa nos ombros e notei que Graham vinha na minha direção arrastando a mala de viagem.

–Eu pensei que tínhamos combinado de eu te buscar- falei abrindo o porta-malas do carro.

–Você não tinha combinado nenhum lugar então eu preferi vir- ele deu um sorriso irônico.

–Entra logo, se não vamos nos atrasar- falei autoritária.

Viajamos durante duas horas na direção de Boston. Quando não estávamos cantando musicas que tocavam no rádio estávamos contando experiências engraçadas pelas quais tínhamos passado.

–Chegamos- falei enquanto estacionava o carro em uma das vagas do aeroporto.

–Parece que sim... - Graham disse contemplando a grande estrutura do local.

–Vamos, vamos- apressei-o- Falta menos de meia hora para o seu avião de decolar.

Ele tirou a mala do carro e corremos para fazer Check-in. Sentei-me em uma das cadeiras enquanto Graham permanecia em uma das filas.

Depois de alguns minutos, Graham voltou com um papel nas mãos.

"Passageiros do voo 380 compareçam a sala de embarque" uma voz vinda das pequenas caixas de som, anunciou.

–Parece que é isso... - ele sorriu- É aqui que nós nos despedimos.

–É... - falei e uma lágrima escapou dos meus olhos.

–Emma- ele segurou minhas mãos- Eu tenho um desafio para você.

–Desafio?- perguntei curiosa.

–Já que eu não vou ser mais Xerife de Storybrooke e o seu pai vai ficar uma semana fora, eu pensei que você poderia ficar com esse cargo.

Fiquei sem reação, o meu maior sonho estava posto na minha frente. Graham estava tornando realidade tudo aqui que sonhei por anos.

–Graham!- abracei-o chorando de felicidade- Obrigada.

–Você merece- ele disse.

–Você acha que eu consigo?- perguntei intrigada.

–Eu tenho certeza- ele falou limpando as lágrimas do meu rosto- Você ainda tem o distintivo que eu lhe dei?

–Esse aqui- falei tirando o grande pingente dourado de dentro de um compartimento secreto da bolsa.

–Sim- Ele pegou-o das minhas mãos- Eu lhe declaro co-xerife de Storybrooke.

Prendi o distintivo na calça e abracei Graham novamente.

–Olha, Emma- ele sussurrou no meu ouvido- Eu sei que eu não consegui conquistar o seu coraçãozinho, mas eu espero conhecer o cara sortudo que vai ter esse privilégio.

Dei uma pequena risada.

–Graham- falei me afastando minha cabeça- Eu vou sentir muito a sua falta.

"Última chamada para os passageiros do voo 380" a voz feminina falou.

–Essa é a hora de dizer tchau- ele disse segurando a minha mão com força.

–Sempre mande noticias, ok?- falei com lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

–Tchau, Emma- ele me deu um último abraço.

–Tchau, Graham- falei enquanto observava ele entrar na sala de embarque.

Limpei as últimas lágrimas e voltei para o carro. Dirigi pela estrada iluminada tanto pelas luzes da cidade quanto pela lua que estava cheia essa noite.

Olhei para o relógio de pulso quando cheguei em Storybrooke. Oito e meia. Decidi ir até o Granny's para tomar um café. Não havia muita coisa para se fazer na minha casa.

–Boa Noite, Granny- falei sorrindo- Um café... Com canela.

Ela sorriu e anotou o pedido no bloquinho de anotações. Depois de um tempinho ela trouxe a xícara que estava extremamente quente. Dei o primeiro gole e ouvi um estrondo seguido de gritos, vindo da outra rua.

Minha curiosidade e minha obrigação como co-xerife agiram juntas. Corri até a rua da onde presumi que tinha vindo o som.

Quando cheguei no começo da rua, notei um corpo caído no chão e outro tentando ajuda-lo. Fui chegando mais perto com temor.

Quando reconheci o corpo, minha estrutura não reagiu a nada. Fiquei paralisada no meio da rua. Eu estava em choque.

–Killian!- corri até ele quando meus sentidos voltaram.

Seu corpo estava caído no chão. Um dos braços estava totalmente ensanguentado. Tink tentava ajudar como podia.

–NÃO, NÃO... - gritava quando ia chegando mais perto.

–Emma- Tink disse desesperada quando notou minha presença- Um carro em alta velocidade o atropelou.

–Não pode ser- me ajoelhei perto de seu corpo e apoiei-o em minhas coxas- Killian, por favor, não.

–Vou ligar para uma ambulância- Tink falou em meio às lágrimas.

–Killian, Killian- eu balançava seu corpo ainda desacordado a fim de tentar desperta-lo.

Chorei da mesma forma de uma criança com Killian em meus braços. Apesar da situação em que antes encontrávamos, eu tinha certeza que um dia voltaríamos a nos falar. Eu ainda queria ser a garota dele. Procurei pelos seus lindos olhos azuis que sempre me tranquilizavam, mas eles estavam fechados tirando toda a esperança dentro de mim. Aquilo não poderia estar acontecendo.

–Killian, por favor- puxei seu corpo contra o meu- Não me deixe.