Her Name Is Dani California. escrita por buckyonce


Capítulo 1
Dani California.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo único.

Ouçam!


(https://www.youtube.com/watch?v=Sb5aq5HcS1A)



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-- Cabelo?

--Loiro... E é natural.

-- Olhos?

-- Azuis.

-- Altura?

-- 1, 75m.

-- Peso?

-- 59 quilos.

-- Nome completo?

-- Dani. – Ela disse, com certa arrogância na voz. – Dani California.

***

A porta do pequeno escritório foi aberta e o policial, já dentro, virou-se para ver quem era. Ao depara-se com o velho amigo detetive, deu um pequeno sorriso de canto de boca e deu uma última tragada no cigarro, jogando-o no chão e pisoteando-o, depois.

-- Johnson... Há quanto tempo não o vejo. – Ele falou, estendendo a mão para o antigo companheiro de patrulha.

-- Como vai, Jones? – O detetive perguntou, apertando a mão do amigo e retirando os óculos escuros, que cobriam os olhos castanhos curiosos e atentos. – Parece que engordou um pouco... Como vai Hannah?

-- Bem. Estamos morando há algumas quadras daqui. Devia aparecer por lá enquanto está por aqui.

-- Vou tentar. Onde está a prisioneira?

-- Ali. – O policial gesticulou para o vidro há alguns metros dele. Devagar, o detetive caminhou até aonde o amigo gesticulou. Diante dele, havia uma pequena sala, de apenas 4x4 metros, cinza, e cujos únicos adereços eram uma mesa e duas cadeiras, de frente para a outra, sendo que uma estava ocupada.

-- Jones? – Ele balbuciou, sem deixar os olhos da prisioneira. – Pode ir, eu já posso tomar conta daqui?

-- Tem certeza?

Ele virou-se e acenou com a cabeça. O amigo policial apenas acenou, também, e saiu do escritório, deixando o detetive e a prisioneira sozinha.

A garota (sim, garota) devia ter entre 22 e 23 anos. Ela usava uma bandana preta em cima dos longos e lisos cabelos loiros, tinha sobrancelhas grossas, porém definidas, escuras, lindos olhos azuis e uma boca pequena. Ela usava uma jaqueta de couro totalmente negra, sem adereço algum, por cima de uma camiseta cinza. Também usava calças jeans claras, rasgadas nos joelhos, e botas de cano longo, com saltos que pareciam ter entre 10 e 15 centímetros.

Sem pestanejar, o detetive pegou o relatório da jovem fora-da-lei e adentrou o pequeno recinto. A garota sequer moveu-se da sua posição, que ela já sustentava há mais de quatro horas – sentada, com as duas pernas sobre a mesa, enquanto brincava com uma mecha do cabelo, enrolando-o entre os dedos.

-- Então, seu nome é Gui...

-- Dani. – Ela falou. Sua voz era grossa, melodiosa até, de modo que deixou o detetive um pouco assustado, afinal, essa garota poderia ter virado uma cantora famosa. – Dani California.

-- Não é o que consta em sua certidão, senhorita Guinevere Banks. – Ele proferiu, olhando de soslaio para ela, que apenas bufou e voltou á atenção para a pequena abertura no canto esquerdo da sala.

-- Qual é o seu nome? – Ela perguntou.

-- Johnson.

-- Eu quis dizer o seu “primeiro” nome.

-- Frank.

-- Gostaria que eu lhe chamasse de Frank?

-- Não.

-- Ótimo. Eu também não. Agora, por favor... Dani California.

O detetive apenas balançou a cabeça e sentou-se na única cadeira disponível, ficando frente á frente com a garota.

-- Segundo sua ficha, senhorita Dani California, você destruiu uma propriedade privada em Alabama, roubou um banco em Indiana, assaltou uma casa em Louisiana, matou um homem em Dakota do Norte e ameaçou o prefeito de Minnessota, fazendo com que fosse procurada por todo o estado.

-- Sim, eu fiz tudo isso.

-- Senhorita, eu vou ser bem franco. Nenhum desses crimes tem relação com o outro. Diferentes estados, diferentes vítimas, diferentes nomes. O que eu quero saber é... Por quê?

E então, de repente, a garota riu.

Foi alto, estridente e ecoou por toda a sala. O detetive ficou impassível em seu lugar, enquanto a criminosa ria, como se ele estivesse terminado de contar uma hilária piada. Minutos depois, a garota parou para recobrar o fôlego e limpar as lágrimas que brotaram nos cantos de seus olhos, e olhou para o oficial.

-- Por quê? Você realmente quer saber por quê?

Nenhuma resposta do detetive, além do silêncio.

-- Tudo bem, eu vou lhe dizer o porquê. Mas... Tire as algemas antes.

-- Não vou fazer isso.

-- Pois ficará sem a resposta do seu por quê.

Ele arqueou uma sobrancelha e ela sustentou o olhar agitado do homem, até desistir e jogar as mãos ao alto.

-- Por favor?

O homem sorriu, levantou-se, deu a volta na mesa e abriu as algemas da garota. Logo depois, sentou-se na mesa, bem ao lado dela, e fez um sinal para ela começar.

-- Eu nasci no Mississipi. Em abril de 1991. Meu pai era policial e minha mãe... – Ela deu um pequeno sorriso e baixou a cabeça. – Minha mãe é difícil de descrever, porque, bom, ela era hippie. E, apesar de ser dona de casa, odiava que a chamassem assim, e dizia á todos que seu emprego era “ser hippie e perpetuar tal cultura enquanto ainda podia”. Apesar de meu pai ter esse emprego, eu sempre fui pobre. Ele tinha outra família, em outra cidade, e a maioria do dinheiro ia para a mulher, enquanto minha mãe ficava com os restos que ele deixava ou que ela tirava da carteira dele. Desde pequena, eu não cresci para sobreviver. Eu sobrevivi para crescer. Sempre fui vegetariana e minha mãe me ensinou á sobreviver com o que a natureza podia me dar, já que passou anos e anos morando em um trailer no meio da floresta. Meu pai e ela se conheceram assim. Quando completei 5 anos, eu não estudava em nenhuma escola (minha mãe era minha professora) e já cuidava do trailer aonde morávamos, enquanto mamãe fugia com o dinheiro que tinha e ia comprar ervas e drogas. E quando voltava, já tarde da noite, era apenas para cair no sofá/cama e dormir, para no outro dia, tudo repetir-se. Eu via meu pai chegar (quando estava em casa) exausto e estressado, reclamando dos bandidos que pegava e de como adoraria matá-los, e via minha mãe morrer dia após dia do vício e aprendi á conviver com a morte cedo.

A garota fez uma pequena pausa e voltou á olhar, séria, para o detetive á sua frente.

-- Com 7 anos, fiquei órfã de mãe e meu pai, que já não tinha tempo pra mim, me mandou para um abrigo.

-- E esse abrigo era...

-- Em Alabama. Sim, eu destruí o abrigo que me acolheu. Mas, foi por uma boa causa. As crianças de lá me irritavam, viviam chorando, brigando entre si, e tirando sarro de mim, me chamando de nome horríveis ou fazendo coisa pior, com minha mente ou meu corpo.

-- Por quê nunca contou nada á dona do lugar?

-- Irina White? Ela nunca ligou pra qualquer um que lá estava. Só nos dava comida porque era preciso, ou quando o Governo fosse averiguar o lugar, não notasse que estávamos desnutridos. A única refeição que eu tinha era o almoço, e ele era composto de duas colheres pequenas de arroz, um pedaço de carne pequeno e com uma cor estranha, e uma gosma nojenta que diziam ser purê de batata. Fora isso, acho que mais nada. Essa era nossa dose alimentar diária. E tínhamos que ser obedientes. Qualquer reclamação, bagunça, grito perto de Irina era motivo de retirada do almoço por uma semana. Foi aí que eu explodi. Uma noite, já bem tarde, fui, absurdamente discreta, até o porão e peguei o martelo, que era usado para consertar coisas por nós. Comecei pela cozinha, quebrando tudo, e logo Irina acordou, junto com o pessoal. Ela começou á correr atrás de mim, mas eu era mais magra e, enquanto corria pelos corredores e quartos, ia deixando uma trilha de destruição. A mulher achou que eu tinha ficado louca e me mandou para o internato de uma amiga dela, em Louisiana.

-- No seu depoimento, você diz “doce Louisiana”, quando se refere ao assalto na casa. O que isso quer dizer?

-- Quando cheguei em Louisiana, já tinha 10 anos. Ainda fiquei mais três anos, presa, em um centro para jovens encrenqueiros por mais três anos. No internato, eu ficava lá o dia todo e, se quisesse, ia para casa ou dormia lá. Lá eu conheci alguém. Ben.

-- Mas não é permitida a entrada de garotos em internatos.

-- Ben era o filho do homem mais rico da cidade. E, como o pai dele dominava todo o município e a mãe dele sempre falou bem da escola, as freiras foram pressionadas á aceitar Ben em sua escola. Mas, com uma condição. Ben nunca poderia dormir lá. Era inadmissível uma coisa dessas. Os pais concordaram e Ben entrou na mesma sala que eu. Como eu era a rebelde que ninguém gostava e o único homem da escola, eu e ele nos tornamos amigos rapidamente. Eu nunca contei á ele sobre o incidente no Alabama e nem pretendia, ou ele podia falar para os pais dele e eu iria para outro centro de delinquentes por mais três anos. Bem era muito legal comigo. Dividia o lanche comigo, fazíamos trabalhos juntos, andávamos pela escola sem desgrudar do outro... Eu me apaixonei por ele. Minha primeira paixão foi pelo meu melhor amigo e eu não podia estar mais feliz. Porém, algo aconteceu. O pai dele aconteceu, mais precisamente. Ele apareceu um dia para buscar Ben e viu nós dois no portão, de mãos dadas, esperando o carro chegar... Eu ainda me lembro do que ele me disse, antes de entrar no carro...

“ – Tchau, Bem!

-- Tchau, Guinny! Amanhã te trago chocolate!”

-- Eu nunca mais o vi depois disso. E isso me deixou furiosa e com um aperto tão grande no meu peito, que eu não pude me controlar. Mais uma vez, á noite, eu fugi e corri para a casa dos pais de Ben. Era bem fácil identifica-la, afinal, era a maior casa da cidade e a escola ficava no alto e Ben sempre me mostrava onde ela ficava. Eu entrei no quarto dele e não achei nada. Vasculhei nos armários e não havia roupas. Meu Ben havia ido embora. Sem pensar duas vezes, decidi me vingar e roubei á casa. Pelo menos, o que pude. De manhã, já estava á caminho de Indiana.

-- Quer dizer que fugiu, com 10 anos, para Indiana?

-- Sim. E lá assaltei um banco.

-- Com uma calibre 45.

-- Foi a única arma que eu havia conseguido. Era essa ou nada. O carinha que havia conseguido ela pra mim disse que era a melhor que ele tinha. – A loira sorriu. – Ainda bem que nem precisei dela, porque ela deu defeito quando fui testá-la, perto da hora do assalto.

-- Estava sem grana?

-- Sim. Eu havia sobrevivido uns bons dois anos com a prataria da família de Ben. Eu fui para uma cidadezinha bem afastada, com apenas poucos habitantes, aluguei uma pequena casa pra mim ( a dona só pensou no dinheiro, nem viu quantos anos eu tinha) e morei lá.

-- Essa história é um tanto bizarra demais. Como uma pessoa vê uma garota de 11 anos e nem se preocupa com ela?

-- Minha vida é bizarra, não percebeu?

-- Continue, por favor. Mas, agora, passe para o próximo crime.

-- Ah, a ameaça ao prefeito.

-- Foi lá que ficou conhecida como Dani California?

-- Sim. Eu havia dito que meu nome era Dani e eles viram minha pele bronzeada e acharam que eu era da California. Aí, ficou Dani California.

-- Por quê ameaçou o prefeito, afinal?

-- Não gostava dele.

-- Só por isso?

-- Hm... Não gostava do cabelo dele. A única coisa que fiz foi mandar uma carta, dizendo que ele tinha 24 horas para me mandar 1 milhão ou ele morreria dormindo.

-- Bom, isso é alguma coisa.

-- Não sei porque ele acreditou. Todo dia deve ser mandadas cartas como essa. Por quê esse alvoroço todo pela minha?

-- Um prefeito não era ameaçado assim, no estado de Minnessota, há mais de 234 anos. Isso chocou o prefeito e a população. Por isso, é banida do estado.

-- Ah... Agora faz sentido.

-- Okay, senhorita, só temos mais um caso. O homem morto em Dakota do Norte. Segundo minhas informações... – Ele remexeu na pasta, que ainda estava em sua mão. -... seu nome era... Benjamim Trent.

O detetive virou-se e viu a garota, a tão procurada Dani California, a que diziam ser marrenta, durona, falsa, vingativa, e ela estava chorando.

-- Eu o encontrei, por acaso, em uma rua no centro da cidade. Ele estava com um bebê no colo e segurava a mão de outra criança, enquanto uma mulher segurava a outra. Os dois entraram em um restaurante e eu fiquei parada, como uma estátua, tentando entender aonde eu tinha errado. Eu juro que não queria, eu juro... Eu comecei á correr... Ele não estava na mesa aonde eu tinha visto ele sentar... Eu corri... Banheiro... Eu atirei... Eu atirei nele. No amor da minha vida. – Ela fungou e voltou os olhos ao homem, já vermelhos. – Ele olhou para mim, deu um sorriso, e pegou algo do bolso antes... antes de... morrer.

-- O que ele lhe deu?

Uma das mãos foi descida da mesa e ela pegou algo no bolso de dentro da jaqueta e jogou pela mesa. Ele pegou o pequeno objeto entre as mãos (já estava velho e desgatado) e não acreditou no que viu.

Era uma embalagem de chocolate. Datada de 2001.

-- Ele guardou durante todo esse tempo. Ele não havia me esquecido. E eu o matei. Ele morreu na minha frente, graças á mim.

O detetive guardou o pequeno chocolate no bolso e pediu para abrirem á porta.

-- Sabe que não vou ser presa, não é? Nada pode me deter.

Ele parou, olhou para ela, na mesma posição do início, e saiu da pequena sala.

***

“ Era um corredor vazio, branco e enorme. Havia dois guardas ao lado dela. Em sua roupa laranja, cabelos soltos e opacos e nenhuma maquiagem, ninguém acreditaria que aquela era a famosa bandida procurada.

-- Aqui é a sua cela. – O homem falou para um cubículo com camas de ferro e uma pia, que ele chamava de cela.

-- Eu vou entrar. Mas, antes... – A garota abaixou-se e deu uma voadora no guarda. Em seguida, pulou sobre as pernas e fez com que as mãos ficassem na parte da frente. O outro guarda veio para sua direção e ela apenas desferiu um chute no meio de seu peito. Enquanto ele caía, ela pegou a arma do primeiro derrubado e atirou nos dois. As prisioneiras começaram a gritar e os alarmes foram tocados.

Afinal, como ela já havia dito...

Nada detém Dani California.”


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!
Dúvidas, sugestões, críticas... Me mandem pelos reviews!
XOXO ;***



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