Acordo suada e arfando. Luzes foram acesas e uma garota de cabelos loiros caindo em cachos pelos seus ombros e uma mulher muito parecida ao seu lado, ambas com seus pijamas, me olham aturdidas e eu fico com a garganta seca as encarando.

Me lembro então de onde estou e tudo o que aconteceu até chegar aqui. Bem, a realidade não está melhor do que meus sonhos ruins. Será que isso nunca acaba?

Se estas pensam que eu falarei alguma coisa... Oh não Alaíde! Você não pode ser a garota de antigamente agora! Tenha modos. Você agora é Ângela. Engulo em seco e sussurro "Pesadelo" e elas parecem entender perfeitamente. A menina me oferece um copo de água que bebo lentamente, pois tenho medo de me engasgar. Enquanto a mulher, acho que a senhora Green, passa um pano úmido sob meu corpo. Braços e então mãos ensanguentadas, rosto, pescoço. Eu fico calada e sempre que ela me pede para me virar ou para me deitar eu faço sem reclamar.

A garota começa então a me dar sopa na boca e facilmente estas duas desconhecidas ganham um pouco da minha confiança. Existe algo sobre elas tão reconfortante, tão familiar, algo que eu perdi a algum tempo... carinho, atenção; família. Isso me faz lembrar a minha mãe, quando ela me acolhia depois de um treinamento exaustivo. Eu não sei bem o porquê, mas começo a chorar.

Não costumo fazer o tipo que chora, todavia enquanto a mulher descalça meus pés e os limpa delicadamente e a outra garota se senta ao meu lado fazendo uma iratze em meu braço lágrimas rompem pelos meus olhos e eu não tenho controle nenhum sobre isso! Quando as duas terminam o que estavam fazendo sentam-se cada uma ao meu lado e seguram minhas mãos. Parece impossível, mas eu começo a chorar ainda mais até cair de novo no sono.

Você é uma fraca Alaíde. Vazia e oca. Fraca e sem ninguém no mundo. O que é terrivelmente pior. Digo a mim mesma e me deixo envolver no sono na esperança que nenhum sonho mal me incomode. Eu quero continuar com essa sensação de que alguém se importa comigo. Que eu sou uma garota normal e que logo logo tudo isso vai passar. Mentir um pouco não deve fazer tão mal assim.