Vermelho. É o que chama a atenção dos seus olhos, vagos e perdidos na rotina. O vermelho é escuro, parecendo sangue, é tão imponente que é impossível não nota-lo ao longe.

Então você vê o branco. Branco como as nuvens nubladas acima de sua cabeça, como neve ou algodão molhado. Está ao lado do vermelho, formando um conjunto de listras em uma tenda gigantesca em uma área vazia da cidade pequena.

Você se aproxima. Não está de fato controlando seu corpo. A curiosidade e a beleza misteriosa daquelas tendas poderosas te atrai como tubarões correm para sangue. Que seria aquilo?

Há sussurros à sua volta. Pessoas cochicham, perguntam sobre a origem do enorme circo que ninguém ouvira falar.

Ao chegar nos portões de ferro negro, você percebe que está fechado. O público não pode entrar, mas em poucos minutos o local está cheio de pessoas. Todas protegendo-se do vento gélido e estreitando os olhos na neblina.

Está escurecendo, você percebe. Luzes são acesas no lado de dentro dos portões negros, embora ninguém tenha saído. As luzes são vermelhas e brancas. Sombriamente estranhas.

Você não sabe quantas horas está ali. Esperando. A aparência do circo permanece a mesma à medida que o céu escurece e a lua sobre. O lugar está silencioso, vazio. Algumas pessoas pensam estar abandonado. E quando um corvo negro sobrevoa o local, agourando, maioria começa a achar que tem certeza.

Mas a visão daquele lugar ainda o atrai. Seus olhos querem espiar, ver o que há além, descobrir o que pode conter dentro daquelas tendas vermelhas e brancas.

As pessoas também não vão embora. Não conseguem. Perguntam umas ás outras pela hora e resmungam (chegando até a xingar o lugar), mas não se mexem. Você também não.

Quando o céu está tão escuro quanto um cobertor de petróleo, os portões se abrem.

Mais uma vez, ninguém sai para abri-los ou receber o público. Você pergunta a si mesmo que tipo de equipamentos causaram esse tipo de efeito, e um leve arrepio o atinge quando não pensa em nenhum.

Você anda. O resto do público também. Todos arrastados por uma vontade estranha de descobrir, saber e sentir o que aquele lugar oferece.

Você olha para dentro, está tudo escuro.

E, estranhamente, há um cheiro de sangue fresco que parece implícito no oxigênio.

Sem se incomodar, você continua andando.

Você passa por uma placa grande e iluminada, que contém os escritos "LE CIRQUE DES TENÉBRES" em vermelho.

Então você entra no circo.

E mais tarde descobre...

Foi sua pior decisão.