Eu sou meio... como posso dizer? Ah, especial, é assim que dizem. Sou uma pessoa especial.

Vou contar-lhe um pouco sobre mim, talvez você descubra o porque acham que sou especial, até agora não entendo isso!

Eu acordo sempre muito alegre, abro a janela de meu quarto e encaro o sol, um desafio para meus olhos, olho para ele até meus olhos começarem a doer com a tamanha luz que meu lindo sol emite. Ele sempre ganha de mim na brincadeira que fazemos, você deve conhecer, a de duas pessoas ficarem se encarando, quem piscar primeiro perde, ele é muito bom.

Vou ao banheiro e realizo minha higiene matinal, escovar meus dentes é uma coisa que eu adoro fazer, sempre gostei de pastas de dente com sabores de frutas, sei que é para crianças, mas não posso evitar de usá-las! A única coisa que não entendo, é por que não posso engolir a pasta! Tem um cheiro e sabor tão bom! Depois de sair do banheiro, eu vou no meu armário e troco de roupa, adoro roupas largas e folgadas, mas nem preciso ficar bonita, todos dizem que apesar de eu ser especial, eu sou uma garota linda! Não acho que sou tão bonita assim, tenho o cabelo dourado igual a pulseira que dei para minha tia ano passado no natal, olhos cor de mel, tenho uma "cintura de pilão", como minha mãe diz, mas não entendo o por que dessa expressão também.

Não me importo muito com a roupa que visto, mas não deixo de andar por aí com meu casaco branco por fora e multicolorido por dentro, eu o A-M-O!

Vou te contar como consegui ele: um dia eu estava andando pela rua normalmente e avistei em um brechó um cachecol verde limão em um manequim, entrei na loja para saber se a vendedora trocava o cachecol verde limão pela cesta de café-da-manhã que eu havia comprado há poucos minutos na padaria, enquanto eu procurava uma vendedora, vi em um cabide a peça de roupa mais linda que já existiu no mundo, a minha própria constelação de estrelas consegui em troca de uma cesta de café-da-manhã!

Eu não vou para nenhum lugar sem meu casaco, que mais parece um sobretudo, não sei que peça de roupa ele é, mas sei que é minha vida! Quando eu o visto, eu me sinto pura, eu me imagino inteirinha pintada de branco, e por dentro colorida, eu rio e choro quando estou vestindo esse casaco, sinto como se eu tivesse super-poderes, como se eu pudesse mover uma montanha com minhas mãos, como se eu pudesse ser invisível, como se eu pudesse salvar todas as pessoas do caos que o mundo está, como SE eu pudesse.

Sempre ouço meu nome saindo das cordas vocais de meus colegas de classe, a maioria deles ri de mim, eles fazem brincadeiras que não gosto comigo, mas eu rio junto com eles de mim mesma, eu rio das brincadeiras, rio junto com eles quando eles colocam o pé na minha frente e eu tropeço,às vezes eu tropeço de propósito para fazer eles rirem, não que eu gosto de ser um dos "Trendings Topics" da escola, eu só quero ver as pessoas felizes.

A felicidade é o melhor sentimento de todos os sentimentos, se eu pudesse fazer todas as pessoas do mundo felizes pela minha tristeza, eu faria, eu tento pelo menos.

Voltando ao assunto de meu maravilhoso e mágico casaco/sobretudo/peça de roupa, eu ando com ele/ela/não definido o tempo todo, só para tomar banho ou nadar eu tenho que tirar, o que é uma pena, porque esse é o porque de eu odiar tomar banho, ter que tirar ele! Os momentos mais tristes da minha vida ocorrem no momento em que eu tenho que tirar meu casaco, pois assim fico exposta aos perigos da vida, quando vou tomar banho eu fico vulnerável a tudo, quando tomo banho, parece que entrei no mar, porque a água da banheira se mistura com o salgado das minhas lágrimas que correm sem parar pelo meu rosto. Sem meu casaco me sinto desprotegida, tudo de ruim que acontece comigo no dia, me vem em mente e começo a chorar muito, quando eu tiro meu casaco, eu passo a odiar o mar, odiar o sal, odiar as lágrimas, odiar meu choro, odiar tomar banho, odiar a água, odiar minha banheira, odiar meu banheiro, odiar meu quarto, odiar o andar de cima da minha casa, odiar minha casa, odiar minha mãe por ter a comprado, odiar minha cidade, odiar meu Estado, odiar meu país, odiar meu continente, odiar o mundo, eu passo a me odiar.

Eu acho que me odeio com e sem minha peça de roupa mágica, porque eu sou uma garota fraca, falsa comigo mesma, infantil, chorona, alegre demais, me sinto culpada por estar feliz enquanto milhões de pessoas no mundo passam fome, passam sede, morrem. Por isso tento fazer as pessoas ficarem felizes.

Quero morrer por isso.