A Face Protetora escrita por Livora Escarlett


Capítulo 9
Estréia de Natal!


Notas iniciais do capítulo

Perdoem-me, sinceramente, pelo atraso. Aqui, então, trago, à vocês, mais um capítulo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/5013/chapter/9

Desde então, transcorreram-se alguns meses. Era, então, natal! Nesta época, a vida ganha brilho especial, e tudo se torna genial, como nunca fora! Basta baixar as pálpebras, e transportar-se a outro lugar, onde tudo é mágico. Nesta época, sim, existe música no ar, penetrando todas as audições, todos os afetos, todas as mentes, todas as almas!         Dentro destes meses, achegaram-se algumas meninas, e o coral tornava-se, gradualmente, maior. Albine e François, de forma apagada, tentavam destacar-se. Meg, por sua vez, era a mais graciosa bailarina. Carlota, pobre, era rebaixada, ainda, para papéis secundários, dando lugar à Malrora, que fazia jus a isto.          Desde o outono, ao inverno, nossa protagonista vinha recebendo cartas. Cartas de seu ex-marido, que ameaçava buscá-la, cartas de amigas, cartas de amigos, cartas de pretendentes, cartas de outras pessoas. Porém, não recebia a carta que aguardava, e ansiosamente! Traziam-lhe correspondências, e mais correspondências! Todas, de remetentes menos instigantes, de remetentes já repassados por sua memória. Todos, já vividos, já lembrados, já partilhados. Menos dela, a chave para seu mistério. Muitas vezes, Malrora perdia, de total forma, o interesse por seus admiradores, pelos que exaltavam seu trabalho, sua voz. Não enxergava, neles, o brilho de sua fugaz existência. Assistia, apenas, a queda de sua alimentação, de seus sorrisos, de suas esperanças. Tudo o que ela precisava, caros, era daquela resposta. “Quem é o Fantasma Da Ópera”. “Onde ele está.”. As semanas atingiam-se, e nada. Nada, nada. Ela, então, já estava cansada de esperar. Esqueceu. Sim, Christine Daae não queria responder-lhe, e, certamente, dera um fim à carta. O fantasma nunca existiu. Os barulhos? Serventes exibidos, impertinentes, e insolentes.         Nas últimas semanas do outono, ela ganhara novo papel. Com este, ela se identificara. Eram memórias passadas, memórias mortas, que gritavam, soluçavam para reviver. Reviver; o que Malrora queria. Queria esquecer-se de tudo, e, curiosamente, para quê? Para viver! Nesta personagem, então, encontrou forças para prosseguir... sorrindo!          Desde então, vinha ensaiando. Ensaiando com alma, ensaiando com paixão, com drama!          Quando era adjacente o dia da estréia, seu coração latejava, aos ímpetos da expectativa, e do nervosismo. Seus olhos afogueavam-se, em plenitude apaixonada.          Vestia-se como uma deusa. Seus negros cabelos, brilhantes e sedosos, escorriam-lhe pelas espáduas, dando-lhe um ar libertino. Seu torso, lívido e pujante, tremulava-lhe como o requebrar de uma bacante! Seus lábios, rubros e avivados, provocavam, atraíam. Apesar de tudo, não era vulgar, ou promíscua. Malrora, admiravelmente, vestia toda sua sensualidade, meus caros, de melancolia, tristeza, morbidez. Sim! Tristeza, como exigia o papel que retrataria.          Ao centro do palco, Malrora prostrou-se, aguardando a abertura das cortinas. Já não tremia. Já não respirava. Já não existia. A única coisa que, nela, existia, meus caros, era sua voz, e suas expressões. Apenas, pois, isto. O chão? Já não estava sob seus lindos pés. O ar não lhe penetrava os pulmões. O sangue não corria-lhe as veias. As lágrimas, armazenadas em algum recanto dos olhos, ardiam, assim: Como pimenta!         Sua voz soltou-se, suas expressões vestiram-se de uma dramaticidade incrível! Todos, naquela platéia, e no mundo, podiam sentir a vibração que aqueles gestos passavam. Todos, que possuíam uma alma, sim, a palpitar, podiam escutar aquela doce e poderosa voz. Suas agressões sutis, seus ultrajes silenciosos, exprimiam tudo o que um artista poderia descobrir.          “Midnight, Not a sound from the pavement(Meia Noite, nem um som vem do pavimento)

Has the moon lost her memory?(Será que a Lua perdeu sua memória?)

She is smiling alone(Ela está sorrindo sozinha)

In the lamplight(À luz das lâmpadas)

The withered leaves collect at my feet

(As folhas secas caem em volta dos meus pés)And the wind begins to moan(E o vento começa a lamentar.)…”          Atiladamente, sua voz alçava vôo, e expressava as partes que não vinham ser as mais exageradas. Então, ela sabia medir seu temperamento musical, e dosar os escândalos expressivos. Seus olhos, em momentos propícios, brilhavam, faiscavam, explodiam em estrelas.           Memory, All alone in the moonlight(Memória. Sozinha, à luz do luar)I can smile at the old days(Posso sorrir como nos velhos tempos)

I was beautiful then

(Eu era bonita, e então)I remember(me lembro)

The time I knew what happiness was

(Do tempo que eu sabia o que era a felicidade)Let the memory live again(Deixo a memória viver outra vez.)  Every street lamp

(Cada lâmpada da rua)Seems to beat

(Parece soar)A fatalistic warning

(Um aviso fatalístico)Someone mutters

(Alguém murmura)And a street lamp gutters

(e as lâmpadas gotejam)And soon it will be morning(E logo será de manhã.)  Daylight, I must wait for the sunrise

(Luz do dia. Eu devo esperar o nascer do Sol)

I must think of a new life

(Eu devo que pensar na minha nova vida)And I mustn\'t give in

(Mas eu não devo me entregar)         Sorriu, elevando a mãozinha.  Burnt out ends of smokey days

(Os dias esfumaçados queimam até o fim)

The stale cold smell of morning

(O velho e frio cheiro da manhã)The street lamp dies

(Um das lâmpadas da rua se apaga)Another night is over

(Outra noite se acabou)

Another day is dawning(Outro dia está amanhecendo)           Assim, ela prosseguiu, até que sua parte predileta chegara: O drama. Então, arqueando as sobrancelhas, como se sentisse dor, como se seu coração estivesse partido, como se sentisse algo fortíssimo, levou as duas mãos à luz, que atingia-lhe a face. Deu alguns passos à frente: Touch me, It\'s so easy to leave me

(Toque-me! É tão fácil me deixar)All alone with my memory

(Sozinha com minha memória)Of my days in the sun

(Dos meus dias ao Sol)If you touch me

(Se você me tocar)You\'ll understand what happiness is

(Vai entender o que é felicidade)Look a new day has begun...(Olhe! Um novo dia começou)         Não se é preciso, caros leitores, descrever qual foi a emoção, e a reação da platéia. Portanto, sigo. Malrora, então, agradecendo aplausos, e rosas, esperou que a cortina se fechasse. Então, abandonou o palco, pouco desiludida. Agora, sim, que a peça havia terminado, não possuía motivos para continuar. Por pavoroso que pareça, ela estava, até, a sentir falta de seu ex-marido.          Passou, desoladamente, por todas as bailarinas, que entravam em cena. Andou, pois, como perdida, até chegar ao dormitório, e encontrar Meg, que aprontava seu leito.          -Meg! – Exclamou ela, sem forças.          -Malrora, tu fostes perfeita! Daqui, pude escutá-la! – Disse a moça, sorrindo.           -Obrigada, minha querida. – Balbuciou a outra, sentando-se à cama. – Estou muito cansada! Preciso dormir!           - Quer que eu ajude-lhe a aprontar a cama? – Sorriu-se Meg, fitando-a.          -Podes deixar, Meg! Eu apronto!          Silenciaram-se, então. Meg, no entanto, fitava Malrora. Como ela gostaria de saber o que se passava, lá, no interior de sua amiga! Como queria! No entanto, não concebia meios. A moça de belíssima voz, modos perfeitos, e célebre maturidade, era cerrada, e não possuía, sequer, a intenção de confidenciar-se.         Pensava nisto, quando, suavemente, uma voz belíssima e entorpecente, sem pestanejar, desceu-lhes sobre os ouvidos. Não podia-se distinguir se pertencia a uma mulher, ou a um homem.                  -Que é isso, Meg? – Malrora surpreendeu-se.           -O coral. – Disse Meg, sorrindo. Entretanto, ela sabia que, no coral, ninguém possuía uma voz como aquela. Disse-o, ao que aparentava, para não preocupar a amiga.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Face Protetora" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.