A Face Protetora escrita por Livora Escarlett


Capítulo 5
Capítulo 5




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 -Qual o teu problema?- Gritou Malrora, parando. – O que viste?           -Nada vi, nada conto! Isto está ficando perigoso! Basta!- E, então, correu, deixando, sozinha, a amiga. Esta, revoltada, volta ao camarim. Olhando para o espelho, nada vê.          -Meg enganou-me! Só para não revelar-me o restante!- Após dizê-lo, vai até algumas cômodas, e abre-as. Lá, acha espelhos, e perfumes. Tateava, procurando um... Nem ela sabia o quê. Mais a fundo, encontrou uma carta. Estranhando, observou-a. Curioso! Era um envelope perfumado, de cor bege. Seu selo (cera) era uma caveira. Cravou, nele, sua atenção. Qual não foi o espanto, ao ler, em letras bastardinhas, seu nome! Malrora Morisset. Abriu-o, mais que depressa.            “Srta. Morisset,Se estiveres lendo isto, com certeza, bisbilhotou os pertences de sua maior preocupação. O que, em realidade, parece-me ser tua habilidade, não? Intrometer-se em assuntos alheios. Por que a curiosidade, minha cara? Por que tratar, com outros, o que podes tratar com ela? Se quer, de forma tão inefável, tomar conhecimento de seu paradeiro, e de sua vida, por que não perguntar à própria? Encontrá-la? Siga teu coração. Fácil. Ou, quem sabe, difícil? Sim, pois, em teu caso, o teu está cerrado, não? Tudo bem. Dar-te-ei, por obséquio, um enigma, para que, com ele, possa resolver outro segredo: “Ele, podendo voar, a paz encontrará.” Desejo-lhe sorte, e audácia.  F. O. ”         Malrora não podia crer. As vozes silenciosas, notas roubadas em ensaios... Mas, agora, isto? Quem ousava mandar-lhe isto? Como o remetente sabia? Como sabia que ela estaria ali, vasculhando os pertences de Christine? Seu orgulho pulsava, dolorido. Como este insensível, então, poderia, tão friamente, fazer alusões ao seu coração? Ele, por acaso, a conhecia? Bem, nem se o fizesse! Malrora não confidenciava-se com ninguém! “F.O.”! Quem era? Que queria dizer com “Siga teu coração”?          “Siga o teu coração” , ela repetia, tentando decifrar o enigma.          Após segundos, seu rosto iluminou-se. “Meu coração... – pensava -... meu coração pede que vá para o espelho.” Foi o que fez. Tomando posse de uma tocha, abriu o vidro, passando por ele. Andava, apressada. Nada lhe assustava. Nem, ao menos, os ratos. Seus olhos queimavam, faiscavam. Sorria-se, esperançosa. Será que, finalmente, descobriria algo útil? E o Fantasma da Ópera? Seria, realmente, um fantasma? Ou seria, por suposto, de carne e osso? Nisto, seu espírito encontrava ânimo para continuar. Entretanto, sentiu medo. Se ele, lá, estivesse, poderia machucá-la. Recuou.         Retornando ao palco, foi, de forma severa, punida:          -Acha-te melhor que as outras, Malrora, para faltar, quando lhe aprouver, os ensaios?          -Perdão, monsieur.           -Que não se repita!- Exclamou o maestro. –Teremos estréia principal, e temos de ensaiar! És a protagonista, não podemos fazê-lo sem ti.           Transcorreu-se um mês. Malrora, então, estava, por pouco, esquecendo-se de Christine, de fantasma, de mulher de preto, de Raoul, e de seu ex-marido. Estava no auge de sua carreira, e se julgava a mulher mais feliz do mundo. Algo, em seu coração, dizia que esta felicidade seria duradoura. Que não seria interrompida, como os momentos de um mês atrás. Nestes pensamentos, ela embalava seu corpo divino, ao expressá-los numa nota musical. Ensaiava esplendidamente.          Neste tempo, Malrora e Meg se aproximavam. Logo, eram amigas inseparáveis! Inseparáveis, com certa condição: Sem confidências.          A noite de estréia fora magnífica! Não havia, sequer, um senhor, ou uma senhora, que não as aplaudisse com alma! Estavam, todas, estupendas. O destaque, obviamente, era de nossa protagonista. A bela menina dos cabelos negros, lábios rubros, e carne cor de chumbo. Sua voz alcançava, sem nenhum esforço, a última das fileiras, podendo atingir, ainda, além!          Em todas as disputas, Carlota era rebaixada para papéis secundários, lastimando a chegada da “maldita” nova soprano. Albine e François ralavam-se de despeito, temendo não acrescentarem charme ao coral.            Certo dia, quando estavam, todas, em suas camas, com as velas apagadas, François disse:          -Curioso! O fantasma, ao que me parece, retirou-se. Não é mesmo, Malrora?           -Sim, retirou-se. Agora, se me permites, preciso descansar!- Disse ela, em tom frio. Virou-se, e adormeceu.          “Maldita François! – Pensava -... Já havia me esquecido deste homem.”         Alguns dias depois, estava Meg, caros, a conversar com sua mãe. De fato, era inevitável mostrar satisfação:          -Mamãe, graças a Deus! Penso, eu, que, finalmente, trabalharemos em paz.           Entregaram-se ao silêncio.          As meninas apinhavam-se nos bastidores, para novo ensaio. Ao chegado o momento, entraram, enfileiradas e graciosas. Malrora, durante a atuação, não podia deixar de pensar no enigma. Vinha, secretamente, ponderando sobre isto, e tentando desvendar. Não podia, não conseguia. “Que FO queria dizer com “Ele, podendo voar, a paz encontrará”? Ora, isto é tolice, mas... Que será que ele, quis dizer? Deus meu, ajudai-me!”.           Após o ensaio, as meninas retiravam-se. Ficaram, apenas, a menina dor de chumbo, e Meg, que conversava com uma servente.          -Quero que vá ao correio, para mim. Mande esta carta ao Sr. “De...”. Ah, sim! Depois, vá ter com mamãe. Ela quer que tu limpes a sujeira dos pombos.          Obediente, a serva retirou-se.           -Pombos, Meg...?           -Sim... Sim... Pombos... Por quê? – Perguntou Meg, estranhando, e fazendo uma careta.          -Por nada, nada. - Disse. Após isto, em baixa voz, continuou: -“Ele, podendo voar, a paz encontrará.” Podendo voar? Paz encontrará? Deus meu! Não concebo!- Tremulou a cabeça, frustrada.                   -Malrora, passas bem?- Pergunta Meg, desconfiada.          -Meg, tenho de sair. Com licença. –Disse a moça, erguendo-se, e saindo da presença da outra. Apressada, chega-se a um cocheiro, apresentando-lhe uma paga. – Por favor, à parte mais pacífica das proximidades.           -Ora! Então, devo levá-la ao cemitério!- Disse ele, que conhecia, por sinal, uma série de histórias melancólicas, histórias de um grande peso!          Aceitou a paga, preparou os cavalos, e o carro.  

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