A Face Protetora escrita por Livora Escarlett


Capítulo 15
Parabéns, Malrora. Aqui, estou.




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         -Parabéns, Malrora! Aqui estou eu, a chave para o teu mistério. - Disse a voz feminina. E que voz! Voz belíssima! Era uma voz de sílfide, uma voz mais bela que a sua!           -Meg... Que é isso? – Perguntou a menina, incrédula. Quando virou-se, viu que Meg havia se afastado. Agora, a menina estava do outro lado do lago. Tinha os braços cruzados, e os olhos cheios de lágrimas.           -Sinto muito, Malrora.           -O quê?         Malrora, agora, arrependia-se amargamente. Sim! Arrependia-se de ter incriminado Albine, de ter culpado François, de ter acusado qualquer um. Arrependia-se, também, de não ter partido com Narciso, quando este havia pedido. Arrependia-se, ainda mais, de ter, um dia, ingressado na grande Ópera.          Estava estarrecida, estava boquiaberta. Estava, na verdade, a beira de um colapso nervoso. Não concebia como poderia ter sido tão tola. Ela, agora, era, em realidade, a única imbecil da história. Não podia acreditar que, ali, em sua frente, jazia...          -Ah! Como é desolador, não? Como é desolador, Malrora, quando descobrimos nossos erros! Ah! Quem diria, não é, Prima Donna? Em pensar que tu, querida, já estavas a aborrecer-me, e a esgotar minha paciência, quando insistia em permanecer aqui. Ah, minha cara. Eu estava, há muito, planejando um modo de retornar a meu posto, na Ópera. Carlota? Ora! É fácil livrar-me de Carlota. Muito fácil. Até que, para minha surpresa, tu apareceste! Apareceste, então, para atrapalhar-me, e o pior: PARA POR MEU AMOR EM RISCO! COMO? MEXERICANDO EM SUA VIDA! Mas, minha cara, fiz uma promessa! Nada, neste mundo, vai machucá-lo, ou, então, manchar sua imagem! – A voz tornou-se grave. – Então, não deixei que meus ânimos caíssem ao chão. Tinha muitas maneiras, Malrora, muitas maneiras, querida, de retirar-lhe de minha casa. Porém, eu necessitava de alguns ajudantes. Ninguém melhor, então, que Meg, e Madame Giry. – Virou-se para a menina loura, e sorriu. – Parabéns, minha querida! Saiu-se muito bem!          -Christine Daae... – Balbuciou a menina, a custo. Depois, voltou a face para Meg, enfurecida.          -Sim, sou eu! – Sorriu-se a moça. – Estudei a tua personalidade, minha cara. Vi, então, que eras perseverante, e não desistirias fácil. Não desistirias de permanecer na Ópera, e de bisbilhotar a vida de meu fantasma. Então, que tinha de errado em assustar-te, nem que fosse um pouquinho?           -Mas... E a carta? E...?          -Malrora, não sejais tola! As cartas, minha querida, foram escritas, todas, por Meg. Pensas que, na manhã em que enviaste aquela correspondência à Inglaterra, minha fiel escoteira deixou-a ser entregue? Faz-me rir! Sim, Malrora. Meg havia advertido a servente, para que entregasse a correspondência a ela, e, então, respondeu-a. Caligrafia? Isto não era problema. Tu não sabias qual era a minha, não é mesmo? Ah, Malrora! Quando estavas a resolver o enigma, Meg pronunciou “pombos”, para que entrasse em tua linda cabecinha. Porém, não teve muito efeito. Sim, Malrora. Meg entregava as cartas, e fora Meg quem deixara o anel de Albine em minha cama. Sim. Tudo, então, para que não desconfiasses de mim. Quanto a AO, minha querida, podem ser minhas iniciais, Aparição Na Ópera, quanto as iniciais de Albine. Albine Olins. A propósito, minha cara, não deixes, por gentileza, de olhar para trás. – Então, apontou o portão. Malrora, que estava de costas para ele, virou-se. O que vira, então, deixara-a ainda mais pasmada. Seu ex-marido, Narciso, estava preso às grades, com uma corda no pescoço, e uma mordaça em sua boca. Quem segurava-o? Ora! Esta, então, fora uma surpresa ainda maior. Um homem, belíssimo, que usava, ao lado direito da face, uma máscara. Vestia-se de preto, e possuía um semblante gravíssimo e nefasto. Fuzilava-a, impiedosamente, com o olhar. – Está aí, minha querida. O Fantasma da Ópera. Porém, voltando a nosso prólogo: hoje, veremos o quanto amas o teu marido. Veremos se é amor, ou é, apenas, atração sexual, como fizeste, audaciosamente, questão de mostrar... naquela tarde. Então, Malrora, vais, hoje, fazer uma escolha importantíssima. O que preferes? Deixar esta Ópera, e, de uma vez por todas, PARAR DE VASCULHAR A VIDA DE ERIK, seguindo com teu “teúdo”, para o lugar de onde vieram, ou vê-lo morrer? Vê-lo morrer, e por quê? Por conta de um capricho. Que egoísmo, caríssima! Reconsideres... Não tens motivo para permanecer aqui. Pessoas mexeriqueiras, sustos, sussurros, e murmúrios... Sombras perseguidoras! Aconselho-te, então, que partas!           -Se fizeres algo com ele, eu arranco a tua cabeça, estás a ouvir-me? Eu arranco tua cabeça! – Rosnou a moça, desfazendo-se em lágrimas. Notando-o, não sabe-se se propositalmente, ou, então, por verdadeira impaciência, Christine revirou os olhos. Recompondo-se, e restaurando uma pose altiva, soberba, e grave, continuou:           -É hora de escolher, Malrora. Sem equívocos... Sem lágrimas... É hora de ser adulta, moça. Afinal, tens dezenove anos, não? Fostes casada... E, ridiculamente, foges de teu marido. Malrora. É morte, ou vida. Faça tua escolha, minha querida. – E, irônica, sorriu-se.             -Christine, não precisas fazer isto!          -Não precisas, digo eu, caríssima. Não tentes; é vão. Sei o que vais tentar fazer. Tentarás tecer-me uma falsa teia de confiança. Ora, ande logo! Tenho coisas mais importantes a fazer. Não conseguiste o que queria? Pronto! Viste o Fantasma da Ópera, sabes que ele é! Agora, vás! Ou... Prefere ver teu marido morrer? Não é pessoal, caríssima. Apenas, então, preciso de meu lugar, na Ópera. Ande.          Podem estar pasmados, podem não estar. Podem estar, até, julgando-me amadora, por este final não ter sentido, em relação ao começo da obra. Bem... As coisas, meus caros, não são como aparentam. Isso, eu lhes asseguro, notarão, então, quando transcrever-vos, aqui, como tudo, realmente, ocorreu.          “-Pobre criatura das trevas, que vida conheceste? Deus deu-me coragem para mostrar, mostrar verdadeiramente, que não estás sozinho. –Dizendo-o, ela se aproxima e, vagarosamente, o beija. Em um momento, bastante breve, ela fixa o olhar no rosto dele. Por qualquer razão, que, no momento, desconheço, ela sabia que ele estaria chorando. Roçou-o, com o lábio trêmulo. Agora, o gesto demora um pouco mais. Quando, então, as faces separam-se, as lágrimas descem em abundância, assim, pelo rosto de Erik, que, sinistro, diz:         -Vá, fique com ela. Esqueça-me. Esqueça tudo isto. Vão, não deixem que eles os encontrem. Vão, e prometam-me que nunca revelarão o segredo que sabem. Que sabem, sobre o anjo do inferno. –Se afastando, então, ele sobe a escada da casa do lago. Christine, mais que depressa, desamarra Raoul, e este abraça-a. Erik, observando de cima, não pode conter esta exclamação:         -Vão, agora! Vão, agora, e deixem-me!                    O noivo de Christine, aliviado pelo término do perigo, soergue-se para beijar a face da menina. Logo depois, os dois se preparam para partir. No entanto, a menina, tristonha, pede que ele a espere.         Nisto, Erik estava assentado em frente a sua “caixinha de música”, murmurando trechos de uma ópera. Continuava naquela resolução triste, quando apercebeu-se de uma presença. Com os olhos perdidos, vagueou a fronte, até que encontra a moça, ali, estacada. Por um minuto, o fantasma pensa que ela ficará com ele. Então, sussurra:          “Christine, i love you...” Ela, desolada e lúgubre, aproxima-se, retirando, do dedinho perfeito, um anel. Então, sem querer prolongar-se, segura a mão do homem, que estava ali, atônito. Abre-a, e, em sua palma, deixa a jóia, virando-se, e indo embora. Descendo, encontra Raoul, impaciente. Segurando-a, ele a coloca no bote. Pensando ser o momento apropriado, canta uma música romântica, que poderia considerar-se de ambos. Porém, Christine, perdida, não corresponde à canção. Ela, apenas, parecia escutar algo. Seus olhos, agora, perdiam, vagarosamente, o brilho, à medida que ela filtrava os sons, à sua volta:“You alone can make my song take flight”Ao escutá-lo, a moça vergou o peito, como se fosse apunhalada. E, realmente, fora. Apunhalada pelo arrependimento, e pelo conhecimento da única verdade. Então, virando-se para Raoul:         -Pessoas mudam, coisas acontecem. Não posso ir contigo. Ele precisa mais de mim. Entenda. Eu o amo.          -O quê? Mas... Não faz sentido!          -Tornemos isto, meu caro, fácil. Não tenho ânsia de consumir-me em rodeios! Minhas palavras são frias, e não quero ferir-te! Nem todas as nossas decisões, realmente, fazem sentido. Sinto muito, já não é viável. Não podemos, eu sinto muito.         -Não, não... Estás precipitada, não sabes o que estás dizendo...         -Muito pelo contrário, Raoul. Eu sei, de forma exata, o que estou dizendo. Estou certíssima. Perdão, meu querido, se, algum dia, eu o enganei. Vá, não quero prolongar isto.          -Não, quero levá-la comigo!         -Leva-me na memória. Lembra-te disto. Vá. - E, sentindo-se arder pelo rubor, baixa as pálpebras, velando os lindos olhos.          -... Não entendo-a! Não te deixareis partir!         -Se me amas, façais o que digo. Tu vais deixar-me.         -Christine... – Ele recomeça, virando-se para ela.           -APENAS VÁ!- Ela exclama, severamente, com a face voltada para o outro lado. Vira as costas, e pula na água. Dando grandes braçadas, consegue chegar à escada, onde desaba. Erguendo, levemente, a fronte, percebe-se que ele vai precipitar-se.            “It’s over, now, the music of the...” – É interrompido, então, pela voz cristalina da moça, que recitava:         -Não estás sozinho, juntos vamos ficar. Eu estarei ao teu lado, tu sabes, eu segurarei a tua mão. Quando tudo estiver frio, assim, como se fosse o final, como se não houvesse lugar para ir, eu não permitirei que tu te percas! Continues agüentando, porque tu sabes: Eu farei valer à pena! Apenas, continues forte! Porque tu sabes: Eu estou aqui, sim, por ti! E não há nada que tu possas dizer, nada que tu possas fazer. Não há outro caminho, quando se trata da verdade. Então, continues agüentando, porque tu sabes: Eu farei valer à pena, valer à pena!          -Christine? - Ele surpreende-se, atônito.          -Ouça-me, caro, quando digo: Eu acredito! Nada vai mudar, nada vai mudar, confie em mim! – Ela sorri- Tu não estás sozinho, eu estou aqui. Nunca estivestes! Eu sempre estive aqui.          -Podes ir, não estou ameaçando. – Ele diz, em trêmula voz, baixando os olhos.         - A questão é, justamente, esta: eu não quero ir com ele. Tu não estás entendendo. Este é o ponto que não possui volta.- E sorri,fazendo alusão à musica que, horas antes, ele cantara a ela, em seu Don Juan Triunfante..          -Vais, mesmo, querer terminar teus dias com um monstro? – Ele indaga, indignado. –Pelas coisas que fiz, já devias tomar ódio de mim!- Torna-se um pouco rude.         -Coisas que você fez? Ah, sim! As mortes que causaste, não? Podes dizer que foi por mim, enfim! Mesmo assim, nada justifica matar. Não precisavas, não podias ter feito aquilo. Existem outras formas de se chamar atenção. Aquela não foi a melhor. Foi, em uma palavra, patético.          Ele abaixa a cabeça, envergonhado. Seus olhos, faiscantes, crestavam o solo.          -Podes dizer, também, que tiveste motivos, mas... Motivos? Que sei lá de mim, saberei de motivos? Nada justifica, nada. Nem a humilhação que tu já passaste, nem tua criação, nada. Uma vida não paga a outra. Tu, realmente, me decepcionaste. Todavia... quem disse que é tarde? Não, não é tarde. Nunca é tarde. Quanto ao teu rosto... És excepcional como tu és. Não precisas mudar, não! Para ninguém! Quando vais acreditar? És um gênio, quando vais acreditar nisto?          Ele sorri, corando.          -Sei que precisas de mim. - Pausa, estática. Num auge, seus olhos marejam-se. -E tu sabes: Eu te amo. E, meu caro, estas coisas não se explicam. Elas, apenas... acontecem.          Erik se torna pouco mais sério, e um tanto ofegante. Aproxima-se, e põe as mãos na cintura da menina, que repete o gesto.          -Pares de respirar, e farei o mesmo. Prefiro perder a voz, meu anjo, a te perder! – Pronunciam, de forma ardente, em única voz. Beijam-se. Os lábios da menina, como um espelho fragmentado, pareciam tragar ou, antes, libar, dos lábios agitados do homem, a alma do mesmo! Suas mãos se encrespavam, doentiamente, contra os braços de Erik. Sua respiração, até então suave, sibilara. Passava, de carícia invisível, a súplicas de ar, ou arpejos doentes e escravos, grunhidos silenciosos de um desesperado.          -Pare com isto!- Exclamou ele, afastando, de si, a mimosa fronte. Ela fitou-o, cinzelando-o. As lágrimas saltavam-lhe os grandes e rasgados olhos, como que, ironicamente, para brincar-lhe nos cantinhos dos lábios. Sua expressão congelou-se, sua boca entreabriu-se. Num murmúrio arrastado, numa voz de além túmulo, proferiu:                  -Acredite: é o que lhe peço. Perdoa-me, ou não tenho razões para retirar, do ar, oxigênio. Ou seja, não terei, então, razões para continuar viva. –E, então, após segundos que, para ele, mais pareceram-se eternidade, os olhos de Christine alcançaram-lhe as faces, quentes e confusas.          Esquecendo toda a mágoa, deitando fora todo o desespero, todo o medo, ele sorriu. Sorriu, porém, entre a modéstia. Estava atônito! Não sabia que fizesse. Ali, ela parecia delirar em... em... em algo que... que contaminava! Que convidava! A menina costumava ser, em presença de outros, tão doce, tão serena. Ali, queimava, dilacerava-se em, qualquer fosse, jogo moral! Suas feições eram perdidas, seu falar era arrastado. Seus cabelos, levíssimos, varriam-lhe as faces, cobertas por lividez cadavérica! Não pode conter-se:         -Perdôo-te! Como não haveria de perdoá-la, menina? E tu? Perdoa-me?          -Perdôo-te. Prometa-me, também, que, não importa o que aconteça, não importa o que se quebre... Prometa-me, por favor, que ficarás a meu lado! –Disse, com firmeza. Seu colo, agora, soberbo, sublevou-se, mostrando, delicadamente, o contorno de um decote provocante.         -Perdôo-te. Agora, - Tomou feições sérias, e tornou-se grave. Não queria intimidar-se. – desfaça estas expressões arrepiantes! Estás a enlouquecer-me! – Christine, apenas, sorriu. Como era engraçada, meu Deus, a maneira com que ele tentava aparentar um homem “mau”, sério... - Por que traz esta tristeza?         -Ora, ora!- Ela sorriu, docemente. –Pensei que, por um instante, quem lhe perguntaria tal coisa, anjo meu, seria eu!- Baixou a fronte, iluminada por uma aurora de timidez.              Erik, digamos que... “acordando”, perguntou, entre sombras de ciúmes:         -Que fizeste ao insolente garoto?- Virou-se.         -Mandei-o embora. – Depois, apercebendo-se da reação do rapaz, perguntou: - Estás enciumado?          Ele, apenas, sorriu. Como não estaria?          Fitou, com certa delícia, os lábios dela. Ela, notando, encobriu-os com a mãozinha, perfeitamente afilada. Ele, brincando, segurou-lhe o pulso, para desviar a mão. Conseguindo realizar seu intento, beijou-a. Até que:         - Eu irei esquecer meus sonhos, – Ela suspirou - Afetar-te-ei, proteger-te-ei, anjo meu, de todos estes jogos loucos! Tu nunca me abandonaste, nunca me deixaste... E, agora, verás o que meu sentimento significa.  Agora, tudo o que sentes, será tudo o que sinto... Então, quando sonhamos, gritamos... Se eles o machucarem, eles me machucarão! Então, será, apenas, tu e eu! – Então, com a branca palminha da mão, acariciou o rosto do homem, na face direita, onde havia deformidade. Ele, com os olhos em lágrimas, sorriu. Deus! Nunca poderia imaginar, em sua vida, que alguém fosse dizer aquilo... O que ele sempre quis ouvir! Agora, Deus sorria para ele, e tudo estava em paz. Tudo. Completamente, tudo.          Acariciando-a, então, murmurou:         -Ajude-me a fazer a música da noite!         Ela, então, sussurra:            -Por onde começamos?- Pela casa do lago, então, ecoa o timbre cristalino da risada de Christine.”            Voltemos, meus caros, à descrição do drama “original”, onde deixamos Narciso amarrado à grade, Erik segurando a corda, e Christine mutilando, com palavras, Malrora.          -Se queres saber, cara minha, por que estou assim, explico-te. Não serei ignorante. Sabes, tu, o que pode acontecer, Malrora, quando se está sozinho? Eu sei. Porém, não sei tanto quanto Erik, o teu celebrado Fantasma! É duro, Malrora, ver, dia após dia, seu bem mais precioso mutilar-se, com memórias, e flagelar-se com uma máscara. Sim, e por quê? Por uma sociedade ignorante, uma sociedade odiosa, que importa-se, apenas, consigo mesma. Agora, é tempo de voltar ao antigo posto. Ele, meu professor e dono de nossa ópera. Eu, sua aprendiz, e melhor soprano do teatro. Não te preocupes! Não sou falsa moralista. Detesto mortes, e sou, totalmente, contra assassinatos. Porém, para que eu possa mostrar ao mundo o que ele é, e acabar com este circo, eu preciso que afaste-se de nós. Tu, que és perseverante... e bisbilhoteira. Agora, minha cara, use da tua maturidade elevada, e de teus pensamentos calculistas, para salvar teu ex-marido. Veremos, então, até onde vai o teu amor. És uma mulher fria, ambiciosa, ou, porventura, és amante, amada, e mártir? E, por favor, não peça-me a mim, ou a Erik, minha cara, que tenhamos compaixão. Vós, bailarinas atrevidas e mexeriqueiras, não tiveram-na, quando ultrajavam-nos com boatos de baixo-calão, e insinuações eróticas a meu respeito. Sinto muito. Alguém tem que pagar por isto.             -O que tu te tornaste, minha cara! Uma mulher fria, e...          -Fria?!- A menina exclamou, maquiavélica. Porém, não perdendo o posto superior, endireitou-se. -Penses o que quiseres, faças o que achares melhor. No entanto, eu, ainda, defendo-me. Quero, apenas, um pouco de justiça.          -Derramando sangue inocente?          -Seus sonhos... ou teu marido?- Interrompeu a soprano, impaciente.          Houve um longo silêncio. Malrora? Pobre! Olhava, para o marido, e olhava, também, para si (inexplicavelmente).          -Meu marido. – Disse, por fim, a moça, que desmanchava-se. – Christine, minha cara. Assim como tens amor por Erik, eu tenho por Narciso. Eu amo. Nada mudará isto. Então, vais compreender-me, e não julgar-me uma tola, e sentimental.            -Evidente que não. Felicito-me por tua escolha. – Afirmou Christine, inclinando, levemente, a cabeça, como um ligeiro aceno.          -Obrigada. – Disse, repetindo o gesto. – Se estou a atrapalhar-te, na tua vida conjugal, ou na tua vida teatral, deixe estar. Eu reconheço-o, e retiro-me. Mas... Se permite-me evocar tal lembrança... Seu pai não estaria, por certo, a orgulhar-se disto. – Então, sorriu, soberba. – Ou, então, minha cara, o Sr. Daaé, por desventura, conhecia, quando eras pequena, uma garotinha tão... tão... Determinada...- Acentuou, Malrora, a palavra.- Por melhores dizeres.  – Christine estacou. Não esperava, realmente, aquela alusão, tão dolorosa e triste, à memória de seu pai. Porém, não podia intimidar-se. Não, decididamente, em frente à Erik. Pois, serenou-se, sacudindo, suavemente, os membros.           -Erik, por favor. – Disse ela, com a voz gentilíssima, como costumava usar com o homem. Atendendo ao pedido, ele soltou, cuidadosamente, Narciso. Este, raivoso, retirou, do paletó, um punhal. Sorrindo, ferozmente, tentou golpeá-lo. Seus olhos, pavorosa e terrivelmente, borbulhavam, sim, de insânia! Seus dentes rangiam-se, como o aço, pontiagudo e crispado, sob o cetim. – Se fizeres algo com ele, estouro-lhe, monsieur Narciso, os miolos! – Rosnou ela, apontando, à ele, uma pistola.           -Christine, não! – Gritou Meg, que, felizmente, já não podia, então, conter-se.             -Por quem és, Christine Daae! Não façais isto!- Berrou Malrora, em prantos.           Narciso, então, atendendo ao bom senso, desistiu, e correu ao encontro de Malrora, que abraçou-o.         Cabisbaixos, preparavam-se para deixar o local, quando, num repente, Christine exclamou:          -Oh, Malrora!           -Sim?- Perguntou ela, indiferente.          -Não contes a ninguém, ouvistes? A ninguém. Não quer arrepender-se, não? – E, lentamente, pousou o dedo indicador sobre os lábios, indicando silêncio.          Malrora, então, adentrou o espelho, aliviada. Narciso seguiu-a.                  -Christine... – Murmurou Meg, com os olhos mortos.          -Ora, Meg! Acalma-te! Sabes que nunca feriria ninguém! Precisava de uma desculpa para que, finalmente, aquela mulher deixasse este local! Era, de certa forma, fria! Tenho nojo de pessoas frias. Fria, e intrometida! Onde já se viu? Bisbilhotando a vida de Erik, e pondo-o em risco, oras! – Então, pousou os lábios sobre os lábios do rapaz, que cingia-lhe, com os fortes braços, a cintura.           -Então... Não ias machucar Narciso?                  -Meg! Que há? Desconhece-me? – Perguntou ela, sorrindo – Não, se ele soltasse o formidável punhal. Se, tolamente, o rapaz tivesse-o conservado... – E, em seu olhar, brotaram reticências. - Não desminto a parte que quero justiça, e quero que Erik esteja protegido! Mas, creia-me, não a custa de inocentes!          -Christine... Não sei... Tenho medo. Por favor, prometa-me que nunca, nunca deixarás de ser aquela Christine? Eras, menina, tão gentil!          -Era, e sou. Não o duvides! Prometo-lhe, Meg.           Os uivos do vento, ao além, podiam mesclar-se com as perdidas notas de um piano. Nisto, o lodo apodrecido observava, com passivos olhos, a escuridão, que, então, descia sob o crepúsculo da lua cheia, incendiando os edifícios de Paris, até encontrar-se, em algum lugar remoto, com as pequenas liras do solo. Com passos lentos e calmos, desceu, pois, um pouco mais, para, na névoa perdida de um espaço secreto, bater os gélidos lábios. Um espaço que, até hoje, nunca fora corrompido.  

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Notas finais do capítulo

Nota da autora ;D



Olá, queridos leitores. Bem, imagino que, a este ponto da história, estejam roendo-se de ódio. *Risos* Perdoem-me. Apesar de, com toda certeza, ser minha primeira fic completa, eu a odeio, também. Antes de escrevê-la, eu ponderava. Seria, mesmo, uma boa idéia, Flaísa, fazer, de Christine, uma má pessoa? Cheguei, então, à mesma conclusão que vocês: NÃO!!! No entanto, eu precisava de um bom mistério. Pois, a minha maior vontade, ao escrever este texto, era que se tornasse agradável. Por isso, fiz com que Christine tomasse uma personalidade, até certo ponto, duvidosa.
Como viram, pessoas, quando descrevi a segunda versão de que nossa querida soprano, então, ficaria com Erik, ela se opunha, de total forma, ao assassinato, ou às mortes. Porém, com o desenrolar da continuação, imaginei que ela, revoltada com a história do fantasma, passasse, de alguma forma a exigir justiça... sem, no entanto, aparecer. Para mim, fora dificílimo manter a história, então, sem que desconfiassem de que, por trás de tudo, era a mocinha boazinha. Na verdade, não sei se consegui. Como é meu primeiro conto, preciso de aprimoramento. Mesmo assim, julgo que não ficou tão mal.
Vocês viram, também, que, ao final da fic, Christine, de certa forma, ameniza a situação, dizendo que nunca machucaria ninguém. Bem, e é verdade. Desesperada, eu tentei fazer com que ela não parecesse perversa, fria, ou assassina. Por outro lado, vi que, se fizesse-a desmentir tudo o que dissera à Malrora, ela desmentiria, também, que tinha compaixão de Erik, o que não é verdade. Por isso, dei a entender que ela, apenas, queria justiça. Justiça, que não fosse à custa de inocentes.
Faço, também, pequenas observações a respeito de Malrora e Narciso. Estes, amigos, são personagens de um livro que estou escrevendo, cuja história e personalidades, acreditem, são totalmente diferentes. Malrora é uma revolucionária, apaixonada por Narciso, etc. Enfim! Não quero escrevê-lo aqui! *Sorri, desajeitada.* Quero, apenas, esclarecer a história “feiosa” que escrevi. *Gargalha*
Oh, sim! Quase esqueci: A música Memory, que aparece em meio à minha fic, é antiga, e desconheço o real autor. Foi gravada, também, por Sarah Brightman, que é a original Christine.

*Esta fic é baseada no filme O Fantasma Da ”pera, na versão de 2004, com Emmy Rossum, e Gerard Butler.*

Beijos, obrigada! ^^



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