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A Face Protetora escrita por Livora Escarlett
Capítulo 11
Capítulo 11
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No corredor, algumas meninas, insolentes e estúpidas, vestiam-se de maldades, e comentavam sobre coisas que não deviam. -Que estão, eles, a fazer no dormitório? – Dizia uma, gargalhando. -Algo muito decente, por sinal. – Ironizava outra. -Não comentem sobre o que desconhecem! – Disse Madame Giry, achegando-se a elas. – Façam algo de produtivo, mexeriqueiras. – Então, retirou-se, caminhando até a porta do dormitório. Bateu. -Que há? – Disse Narciso. -Madame Giry, monsieur Narciso. – Malrora está desperta? Precisamos dela, para ensaiar! -Madame, creio que não precisarás, mais, de Malrora. Amanhã, partimos. -Mas, monsieur... -Por favor, Madame. Compreenda-me. -Jesus... – Giry sussurrou, recompondo-se. – Gostaria de falar com ela, monsieur. -Madame, ela não verá ninguém. Repousa como uma pedra. -Narciso? – Indignou-se Malrora, erguendo-se. Havia escutado o diálogo. – Não vais levar-me a lugar algum! Vou, agora mesmo, ao palco, prosseguir com os ensaios! Quem tu pensas que és? Se me amas, mesmo, como dizes, entenderás, e não tentarás coisa alguma! -Malrora, não compliques tua situação. És minha esposa, deves-me obediência. -Não, não sou tua esposa, e, sequer, devo-lhe obediência. Com licença. –Ela afirmou, caminhando para a porta. O mancebo, então, ergueu-se, apenas, para impedi-la. -Malrora, não há como fugir. -Afinal, qual foi o maldito que trouxe-lhe aqui? -Uma carta, minha cara. Uma abençoada carta. -Deveras? Qual remetente? -Não identificado. Infelizmente. Iria até o inferno, menina, para agradecê-lo. -Seu... – Ela pretendeu, mas não pôde insultá-lo. -Malrora? Estás aí? – Perguntou Giry, preocupada. Tirando, então, um molho de chaves, abriu a porta. -Graças a Deus!- Malrora exclamou, indo para junto da senhora. Narciso, agora, não poderia fazer nada. -Venha, menina. – E saíram do quarto. Narciso, a pretexto de assistir ao ensaio, seguiu-as. Malrora estava lá; cantando deslumbrantemente, e dando o melhor de si. Como sempre. Chegou, então, a meio do ensaio, quando um dos cenários do palco, misteriosamente, despencou, e, por pouco, não atingiu-lhe a cabeça. Caiu. -Que é isto? – Narciso perguntou, enfurecido. Estava adorando o desempenho da menina, e detestou a interrupção. Além de que, por pouco, ela não estaria desmaiada, ou morta. -É ele, o Fantasma da Ópera! – Exclamou Albine, tremendo. -Como?! – Narciso surpreendeu-se, boquiaberto. Nunca ouvira nada, caros, tão ridículo como aquilo. -Fantasmas não existem. – Disse Malrora, recompondo-se. Estava, porém, assustadíssima, e excitada. O fantasma! Poderia, muito bem, ser ele... ou não. Um simples acidente. Ah, mas, mesmo assim, como ela queria crer que fosse ele! -Madame Morisset, correspondência! -Correspondência? – Perguntou ela, confusa. -Deus! Isto é um ensaio! – Exclamou o maestro. -Um minuto, maestro, eu peço-lhe. –Disse a moça, indo de encontro à servente, que entregou-lhe o envelope. Ansiosa, ela correu os olhos sobre o papel, e sorriu imensamente. Sua alma expandiu-se, e seus olhos incendiaram-se. Em letras bastardinhas, lia-se: “De Christine Daae”. Em um rasgo, abriu a carta, lendo o conteúdo. “Srta. Morisset,Entendo, perfeitamente, a tua aflição. Como passas por isto, hoje, passei, da mesma forma, ontem. Porém, sei que vais compreender-me, assim como eu a compreendo. Este homem, minha cara, fez parte de meu passado. Meu passado. Tocar neste assunto, caríssima, seria abrir uma ferida, que está por cicatrizar-se. Uma ferida, Srta, que não habita só em mim, mas em meu marido. Infelizmente, não poderei ajudá-la. Deixemos que os mortos descansem em paz. Dar-te-ei, apenas, um conselho: Parta, o quanto antes. Não sabes, tu, minha cara, os perigos que corre. É o melhor a fazer.” O sorriso que, antes, borbulhava nos lábios rubros da menina, desvaneceu-se, então, no ar. Suas expressões tornaram-se graves, e seus olhos baixaram para o papel, que ela deixara cair. Num movimento arrastado, pesado, ela inclinou-se, e resgatou, do solo, o envelope. -Com sua licença, bons messieurs. Preciso arquivar esta nota. – E, dizendo-o, retirou-se. Narciso, obviamente, seguiu-a. Ao que notava, estava preocupado com sua “esposa”. Alcançaram, então, um dos corredores, abduziram-se dos outros, e, então, encontraram-se a sós. -Malrora! Que há? Quem lhe enviou? -Ninguém! Deixe-me sozinha! – Exclamou ela, autoritária, e zangada. -Mas... -Nada. Deixe-me. Raivoso, o homem retirou-se. Estava tão atordoado, que serpenteava entre a violência, e a amabilidade. Ao encontrar-se só, Malrora fechou, à chave, o envelope, de papel rosa e perfumado, em um pequeno baú. Então, retirou um fino lenço, e enxugou duas lágrimas que seus olhos deitaram. Alguns minutos depois, tomando consciência do ensaio, correu dali, encontrando, no palco, olhares estupefatos. -Qual será o próximo motivo? – Perguntou o maestro, irritado. -Perdão. Posso recomeçar. -Um, dois, três. Malrora estava, realmente, estranha. Narciso exercia, sobre ela, uma insanidade deliciosa, lascívia, e concupiscente. Ela não podia escapar. Porém, seus sonhos, como um pobre mutilado, gritavam em alto tom! Ela não os deixaria! Não poderia deixar! Ela, ainda, possuía um mistério a resolver, e havia tantas coisas por resolver! Não poderia, nunca, abandonar seu novo papel. Aquilo, sim, era sua vida! Pôs-se, novamente, em posição de ballet, iniciando o canto, quando, num outro repente, um jato, uma cachoeira jorra sobre sua cabeça, deixando-a ensopada. -Deus!- Exclama o maestro, parando de reger a orquestra. -Malrora! – Grita Narciso, correndo até ela. -Para mim, basta!- Bradou a moça, deixando o palco, furiosa. -Não suporto isto! -Malrora, acalma-te! – Disse Meg, saindo de sua posição. – Foi, apenas, um acidente... -Acidente, Meg? Oras! Água jorrando do teto de uma ópera, e, exatamente, na nova soprano? Qual acidente! -É ele! O fantasma da ópera! – Gritaram algumas bailarinas. -Fantasmas? Por Deus! Viram algo? Não! Então, foi, apenas, acidente!- Gritou outra, que era recém chegada. -Só pode ser! Por que os serventes fariam isto?- Disse Albine, provocativa. -Por que são uns abusados! – Rosnou Meg, bufando. -Malrora, venha! Precisas trocar-se! Antes que tomes alguma moléstia!- Disse Giry, puxando-a. -Não creio no que está havendo. – Resmungou a moça, rangendo os belíssimos dentes. Então...
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