Felizes... para sempre? escrita por Enthralling Books


Capítulo 28
Não há paz em um lugar dividido


Notas iniciais do capítulo

Hey, dears!
Nem deu tempo de sentir saudades dessa vez. Como o prometido, aqui está mais um capítulo de FPS.
Esse era um capítulo pelo qual eu esperava há bastante tempo e eu ainda não sei se ele está a altura das minhas expectativas, mas eu espero que vocês gostem tanto quanto eu gostei de escrevê-lo.
Ah! Esse capítulo tem leves spoilers de A Rainha, mas nada além do que a Kiera já tinha liberado nos extras de O Príncipe e O Guarda, então podem ler sem medo.
Boa leitura.

Enjoy!



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— Tem certeza disso, Ames?

— Não. Mas precisamos disso.

Ele assentiu.

— Se é o que precisa ser feito, será feito. Espero não me arrepender mais uma vez.

::

Eu acho que reconheço esse quadro.

— Alteza? Precisa de algo? – Uma criada passou por mim, notando logo que eu estava perdida.

— Não, não, obrigada. Eu estou apenas explorando. – Sorri, sem querer admitir que eu tivesse me perdido dentro da minha casa. A criada sorriu de volta e acho que ela percebeu o que eu estava escondendo, porque logo disse que levaria um chá para a rainha no Salão das Mulheres, dando a deixa para eu segui-la.

Fingi que não tinha entendido e fiquei só olhando para o quadro, que era uma pintura de Gregory Illéa, nosso fundador. Esperei apenas ela virar à direita no corredor, pra segui-la de longe. Se eu conseguisse chegar ao Salão das Mulheres, eu saberia ir ao Grande Salão, e, se eu conseguisse chegar ao Grande Salão, acharia meu quarto sem problemas.

Eu sou uma princesa, mas poderia ser uma espiã, porque sou muito silenciosa. Só minha mãe consegue saber quando eu estou escondida por perto, por isso a criada não reparou que eu estava atrás dela nas três vezes que conferiu.

Quando finalmente encontrei o pequeno busto de Damon Illéa em prata, soube que tinha encontrado o corredor para o meu quarto e pensei que iria me jogar na minha linda cama com dossel espelhado – eles não chamam isso de quarto de princesa à toa – e hibernar até a hora do jantar, mas, quando entrei, meus pais estavam bem ali, com uma cara nada boa. Será que já descobriram sobre vaso que eu quebrei correndo com o Evans? Quer dizer, foi sem querer. Ninguém mandou ele me assustar.

— Filha, senta aqui. A gente tem uma coisa pra te falar. – Meu pai parecia desconfortável. Pelo menos eles não descobriram sobre o vaso ainda. Mas desde que chegamos a Illéa, tantas coisas ruins aconteceram, que eles não estariam assim só por causa de um vaso quebrado, não é?  Ah, caramba. O que foi que aconteceu agora?

— Pai? Mãe? Aconteceu alguma coisa?

Caminhei e sentei no espaço que eles deixaram para mim no meio deles, na minha cama. Minha mãe suspirou e concordou com um gesto de cabeça.

— Nicole, o que nós vamos falar não é nada fácil. Vamos precisar que você haja como a princesa que sabemos que você é. Pode fazer isso? – Papai perguntou.

Tá bom, agora fiquei assustada.

— Posso. O que está acontecendo?

— Filha, eu... Eu... – Papai não estava conseguindo falar. Ele segurou minhas mãos entre as suas e ficou olhando para elas enquanto fazia carinho. Depois olhou para mim e ele parecia querer estar em qualquer outro lugar.

— Pai?

— Maxon, eu posso falar com ela. Você não precisa se torturar desse jeito, amor.

— Não, Ames. Sou eu quem tem que falar. Só... Só preciso de um tempo.

Olhei para minha mãe, assustada, e perguntando com os olhos o que era tudo aquilo. Ela apenas fez um sinal de “não” com a cabeça e eu não entendi o que ela quis dizer. Alguma coisa ia mal, era tudo o que eu sabia.

— Tudo bem, vamos lá. – Papai me olhou com olhos determinados dessa vez – Primeiro, eu quero que você saiba que eu não quero isso. Nem eu, nem sua mãe. Se pudéssemos, seria evitado, filha, eu juro a você.

— Só me diz o que está acontecendo. – Sussurrei.

— O Conselho pensa que está na hora de você provar sua fidelidade às leis de Illéa.

Suspirei aliviada.

— É só isso? Minha mãe já tinha me contado que isso iria acontecer. É a tradição, não é? Eu não tenho problem...

— Nicole, deixa eu terminar. Eles querem que você leve Clarkson a julgamento. – Disse de uma vez.

— O que? Eles querem que eu julgue meu avô? – Perguntei sem entender.

— Na verdade, filha, não existe um julgamento em si. Seu avô tem que ser condenado por tudo o que fez. Não tem outra opção. Mas eles querem que seja você a dar a sentença. – Minha mãe explicou.

Tentei pensar direito naquilo. Eu nem conhecia meu avô. Eu não conseguia nem matar uma barata. Meu primeiro ato público seria mandar matar meu avô? Como eu faria isso?

— Por que... Por que eu? – Gaguejei, olhando para os dois, mas foi meu pai quem respondeu.

— Apenas duas pessoas podem julgá-lo, Nicole. Eu ou você. E é claro que eu prefiro julgar meu pai a obrigar você a fazer isso. Só que eu já... O povo não gostou quando eu me separei da sua mãe. Quase ninguém gostou. E ela ainda estava grávida de você na época, então foi pior ainda. Se eu condenar meu pai, se eu fizer isso, podem usar contra nós, podem fazer o povo me odiar. Podem nos atacar de novo e eu não vou correr o risco de ter vocês em perigo mais uma vez. É diferente para você de muitas formas, querida. – Ele colocou a mão direita no meu rosto, acompanhando o movimento com os olhos, e depois beijou minha testa – Se eu fizer isso, filha, pode não sobrar um reino pra você reinar. Você entende?

Não, eu não entendia. Mas eu confiava nos meus pais. Se era o melhor para nós e para o povo, eu faria. Senti meus olhos se encherem de lágrimas, mas não deixei que elas caíssem.

— Eu entendo que tentam me proteger sempre, mesmo quando isso significa mudar de país e ficar longe da família. E entendo que jamais me pediriam isso se não fosse realmente necessário. Tentariam me proteger de novo e de novo, pra sempre. Mas eu sou a princesa de Illéa e, se é o que eu preciso fazer, farei.

Meus pais se olharam por um segundo e quase sorriram, me abraçando logo depois.

— Tenho muito orgulho da minha princesa. Nunca se esqueça disso. – Papai sussurrou e uma lágrima teimosa acabou descendo. Eu me afastei do abraço, limpando a lágrima e pedi:

— Eu faço, mas com uma condição.

— O que?! – Papai pareceu confuso.

— Nicole, o que está...

— Eu só quero poder falar com meu avô antes. Quero ficar um tempo sozinha com ele. Eu posso? Posso conhecê-lo?

— Filha, ele...

— Por favor!

Meu pai suspirou.

— Tudo bem, você pode conhecê-lo. Mas vai ser com ele em um lado das grades e você em outro. E vai ter soldados na porta, esperando para entrar e te socorrer caso você fale um “ai” sequer. Estamos entendidos? – Colocou as condições dele também e, mesmo que eu pensasse que meu avô não ia me atacar, concordei.

Ele não poderia ser tão mau assim. Poderia?

— Quando vai ser o Julgamento? – Perguntei.

— Amanhã, depois do funeral do seu tio Kota.

— Tudo bem.

— Você quer ver seu avô agora? – Minha mãe perguntou.

— Sim, por favor.

— Então vamos. – Ela disse, olhando para meu pai, que concordou.

...

— Lembra o que eu disse?

— Sim, pai, ficar a uma distância segura.

— Isso, qualquer coisa...

— Eu grito e os soldados entram no mesmo milésimo de segundo.

— Ótimo. Boa sorte lá dentro. Eu te amo.

— Também te amo, pai.

Os soldados abriram a porta e eu passei, observando atentamente ao lugar em que estava. Não era bem o cenário de uma masmorra suja e escura de um filme de terror que eu esperava, era só uma cela comum, tinha até uma janela grande – com grades, é claro – por onde entrava a luz do sol do fim da tarde em Angeles e soprava uma brisa leve. Meu avô estava sentado na cama de solteiro dentro da sela e a suas costas estavam apoiadas na parede. Ele tinha os olhos fixos em mim, reparando cada um dos meus movimentos e, de repente, eu não sabia onde colocar minhas mãos. Acabei por colocá-las atrás das costas, tentando manter uma postura tranquila.

— Oi, vô. – Tentei.

— O que veio fazer aqui? – Ele parecia querer descobrir meus segredos, pelo jeito que me olhava. Já tinha ouvido minha mãe falar sobre os olhares questionadores dele, mas nunca antes tinha entendido. Até agora.

— Eu só... Eu queria conhecê-lo.

— Ah, sim? E por quê?

— Porque o senhor é meu avô. E porque queria ter a oportunidade de conhecê-lo antes do seu julgamento. – Ele apenas levantou uma sobrancelha.

— Antes que eu morra, você quer dizer. – Disse tranquilamente.

— O senhor sabe o que vai acontecer daqui para frente, não sabe?

— Sim, eu sei. Maxon vai me condenar à morte porque eu sou um traidor de Illéa. Sou um monstro e você deveria ter medo de mim e correr de volta para as pernas da sua mãe.

— Não sabia que o senhor pensava tão pouco de mim. – Ficamos em silêncio, apenas nos encarando. Fui até o canto, peguei um pequeno banco de madeira que estava ali e arrastei até que ficasse bem no meio, em frente às grades. Vi quando ele pegou um banco igual dentro da cela e colocou de frente para mim, onde sentou e cruzou os braços. – Por que me odeia?

— Eu não odeio você. Você é minha neta e sangue do meu sangue.

Tentei digerir aquela informação.

— Por que odeia minha mãe?

— Eu não odeio a sua mãe.

— Acho difícil de acreditar. – Ele soltou um sorriso e eu fiquei surpresa. Muito surpresa!

— Eu já esperava por isso. Mas, veja bem, eu não odeio a America, e sim o que ela representa. Nós trabalhamos muito para construir esse país depois que conseguimos nossa independência de volta apenas para uma menina sem instrução aparecer e tentar jogar todo o trabalho de anos no lixo. – Por mais estranho que fosse, vindo do homem que tomou o trono do filho, isso não parecia tão cruel.

— Mas se o povo puder melhorar, se qualificar, mudar de casta, não seria muito melhor para o país? Se cada um pudesse fazer aquilo no que é melhor e não o que é obrigado a fazer apenas por causa de quem é filho, teríamos muito mais vantagens. Aproveitaríamos nossos potenciais. – Tentei fazê-lo ver o que eu via.

— É um discurso muito bonito e eu já o ouvi antes. “O país é como um grande navio e, se todos trabalharmos juntos, mesmo sendo tão diferentes, ele chegará ao porto em segurança”, não é isso?

— Exatamente isso, vô! – Exclamei, animada com a possibilidade de tê-lo convencido tão depressa.

— Mas é um discurso muito ingênuo, Nicole. Temos que trabalhar com a realidade que temos. Sei que muitas pessoas pensam que eu não me importo com o povo, mas não é verdade. Se o povo souber o seu lugar, então o país terá ordem. Não há paz em um lugar dividido. Eu posso lhe assegurar. – Me animei cedo demais.

— Por que não poderíamos crescer com nossas diferenças? Por que não poderíamos simplesmente nos respeitar como seres humanos capazes de decidir e ter opiniões diferentes?

— Porque isso é uma ilusão! O ser humano é egoísta e não respeita. Quando alguém contradiz uma opinião não gera respeito, gera revolta e violência. Você é uma princesa, Nicole, e teve acesso aos livros das histórias dos povos de antes de Illéa existir. Conhece as guerras, conhece muitas revoltas, conflitos... Diga que é mentira! Diga que o ser humano é capaz de respeitar. Olhe o histórico que temos e me diga isso, se puder. – Ele aumentou o tom de voz e eu temi que invadissem o lugar e me tirassem dali antes que eu pudesse dizer “está tudo bem”.

— Não posso dizer que é mentira. Mas não é toda a verdade. As pessoas querem o melhor para elas mesmas, é verdade, mas muitas vezes o melhor para elas também é melhor para o país. Por exemplo, veja nosso sistema de alistamento. Qualquer homem, de qualquer casta, pode se alistar. É melhor para eles porque passam a ganhar mais para sustentar suas famílias e é melhor para o país porque precisamos de um exército forte para vencer os conflitos dos países que ainda não reconhecem nossa soberania. Os dois saem ganhando. Imagine como seria se fosse assim em todas as profissões, não apenas no alistamento. Se eu deixar de acreditar que as pessoas podem melhorar, então meu governo perde o sentido.

— Sabe que isso é uma utopia. Sabe, não sabe?

— Sei. Mas a utopia é o que nos move na luta.

— A utopia é uma frustração. Acordar todos os dias, sabendo que jamais viverá para ver os resultados da luta de toda uma vida. – Ele acreditava sinceramente em cada palavra que dizia, e eu me dei conta de que ele não era mau como os vilões dos contos de fada. Então por que era tão pessimista?

— Por que é tão pessimista, vô? Por que não consegue acreditar nas pessoas?

Ficamos em silêncio por um tempo e eu pensei que ele não me responderia. Até que me respondeu com outra pergunta.

— Você veio aqui para me conhecer? Este é mesmo o motivo, Nicole?

— Sim, vô. Jamais acreditei que fosse um monstro, como disse. Nunca o entendi, é verdade, mas queria entender. Agora sei que não me odeia, sei em que acredita, mas não sei o motivo. E não gosto de não entender as coisas.

— Pois bem, eu vou morrer mesmo. Sabe a história da minha mãe, não sabe?

— Sim. Ela era casada com Justin Illéa, quando ele morreu, deixando o trono sem herdeiros. Então ela se casou com o primo de Justin, Porter Schreave, por quem era apaixonada, para manter o sangue real, tirando o trono dos Illéa e passando para os Schreave. - Citei.

— Certo. Exceto por alguns detalhes. Justin Illéa não morreu simplesmente. Meus pais o mataram. Casaram-se apaixonados, é verdade, mas isso acabou logo que meu pai percebeu que ela poderia tentar matá-lo com a mesma facilidade com que matou o ex-marido. Tudo o que eles faziam era brigar, discutir, gritar. Meu pai nunca conseguiu controlá-la e a casa era um inferno. Sua avó viu tudo isso na minha Seleção e eu a amei porque ela era tudo o que minha mãe jamais foi. Eu a amei, porque juntos conseguiríamos ter paz. Por isso, diga o que quiser, princesa Nicole Singer Schreave, eu sempre soube que não há paz em um lugar dividido e vou levar minhas convicções comigo para o meu túmulo.

— É por isso que tudo tem que ser do seu jeito sempre, não é? – Eu disse, sem o menor tom de acusação. Apenas tentava entendê-lo.

— As pessoas precisam ser controladas. Não podemos governar pensando no melhor de nós. Não podemos esperar que todos sejam bons e pacíficos. Não é nossa natureza. Entre manter a paz e manter a vida, ninguém vai escolher a paz. E ninguém vai ser bom ou pacífico. As pessoas lutam por suas vidas. A função do rei é lutar pela paz e a paz só vem com a ordem. Temos que pensar no pior de nós. Se pudermos contê-los, então as pessoas boas e pacíficas também estarão seguras e em paz.

— E meus pais são umas dessas pessoas? São o pior de nós? – Questionei.

— Maxon não é uma pessoa ruim e nunca foi um mau filho. Mas ele não sabe o que é melhor para Illéa. Não sabe o quanto manter a ordem é necessário. Foi algo que nunca consegui ensinar a ele. Por isso, tentei contê-lo. Para manter a paz.

— O senhor diz que o povo luta pela vida e o rei luta pela paz. E se o povo não precisasse lutar pela vida? E se todos já tivessem pelo menos o básico para viver? Penso que, se uma pessoa não tivesse que matar para comer ou para conseguir remédios ou dinheiro, então não precisaria matar. Se ninguém precisasse lutar por suas vidas, teriam tempo para lutar pela paz. Se o rei lutar pela vida do povo, então sua luta por paz será muito melhor, não acha? Porque assim todo o povo lutará por paz, porque já terá a vida garantida. – Insisti.

— Eu sou um homem velho e vivido, Nicole, e vivi demais para acreditar nisso. Mas você é uma menina jovem e sonhadora. Tentei fazer Maxon entender meus ideais, mas ele não entendeu. E você também não vai entender enquanto não tiver vivido o que eu vivi. Por isso, eu só te alerto uma coisa, minha neta: você não viverá tempo suficiente para ver sonhos tão grandiosos deixarem de ser somente sonhos. A vida é muito curta para se mudar o mundo e para se mudar as pessoas.

— Eu sei, vô. Mas morrerei feliz se eu souber que vivi como acreditei. Que fiz minha parte e que um dia as pessoas chegarão lá.

— Pois então eu também morrerei realizado. Porque vivi como acreditei. Lutei pelo meu povo e pelo meu reino mesmo quando isso significou lutar contra meu próprio filho, sangue do meu sangue. Fui um rei que sabe que é um rei e que, sua vida particular jamais virá antes do reino. Amanhã meu filho me condenará à morte, mas terei cumprido meu propósito aqui.

Abaixei minha cabeça. Eu não poderia deixá-lo acreditar que seria meu pai a matá-lo, se estávamos sendo sinceros.

— Vô?

— O que?

— Meu pai não vai condená-lo. – Disse de uma vez.

— É claro que ele vai. Ele não pode me deixar viver se quiser continuar reinando e qualquer tolo sabe disso. – Explicou.

— Não foi isso que eu quis dizer. O senhor vai ser julgado, mas não vai ser meu pai a fazer isso. – Olhei diretamente em seus olhos.

— Mas só ele tem autoridade suficiente para... – Parou abruptamente e me olhou como se finalmente tivesse me notado, como se me visse por dentro. Então, depois de um segundo, voltou ao normal - Ah, já vejo.

— O senhor vê? – Lutei contra a vontade de abaixar a cabeça de novo.

— Sim. Será você, não é? – Ele não precisaria completar para eu entender a pergunta.

— Sim. Serei eu.

— Isto sim é uma surpresa. Não achava que Maxon seria capaz de algo assim.

— Ele não está dando saltos de alegria, é verdade, mas que sua vida particular nunca virá antes do reino foi uma lição que o senhor conseguiu ensinar a ele.

— Ainda assim. A primeira vez em que Maxon condenou alguém à morte, ele já era bem mais velho. Conseguirá fazer isso?

— Sou uma princesa e esse é meu dever. Meus pais me ensinaram e acho que isso eu devo ao senhor.

— Fico contente em saber que um dos meus princípios será perpetuado, apesar de ter a impressão de que todo o resto mudará.

— E isto é algo ruim? – Perguntei.

— Eu não viverei o suficiente para saber. Mas espero que não. – Ele respondeu, com um pequeno, quase imperceptível, sorriso de canto. Quem sabe se ele tivesse mais tempo de vida, poderia finalmente aprender a acreditar. Infelizmente, ele não tinha. E não havia nada que pudesse ser feito sobre isso, nós dois sabíamos.

— Algum conselho, vovô? – Ele pensou um pouco, enquanto continuava me encarando. Se tinha alguma coisa em que eu queria me parecer com Clarkson Schreave, era a confiança de sempre olhar os outros nos olhos.

— Acredite em si mesma e faça o que tiver que fazer. – Ele disse, depois de um tempo.

— Farei. – Prometi – Seria demais desejar que o senhor tivesse orgulho de mim, não seria? – Mais afirmei do que perguntei.

— Eu não concordei com o que você falou para mim hoje da mesma forma que jamais concordei com sua mãe. Seria demais esperar que eu concordasse. Mas você tem o porte de uma governante. Fala e age com segurança e tem senso de dever. Disso me orgulho.

— Obrigada. – respirei fundo – Sinto que essa conversa que tivemos apenas fará tudo mais difícil amanhã.

— Fará. Mas você irá até lá fazer o que tem que fazer como a princesa que é. E eu morrerei orgulhoso de você.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu, mais uma vez no mesmo dia, as contive. Não as deixaria cair desta vez.

— Adeus, vovô.

— Adeus, princesa.

Foi a primeira vez que senti um tom de carinho em suas palavras e eu fiquei me perguntando como seria se as coisas fossem diferentes. Se minha avó tivesse ido me buscar no Hospital, não meu pai. Se ele jamais tivesse sido deposto e se eu tivesse convivido com meu avô por mais do que uma hora.

Caminhei a passos lentos para a porta e já estava quase abrindo, quando ele me chamou e eu virei novamente, vendo ele se levantar.

— Sim?

— Mentiu para mim. – Disse, em uma postura invejável e com uma voz imperiosa, embora tranquila, e eu fiquei confusa.

— O que? Eu não... – Ele me interrompeu.

— Disse que tinha vindo apenas para me conhecer, mas não era verdade. Queria ouvir as últimas palavras de um homem sentenciado, como fazem as pessoas honradas.

— Está bravo?

— Não. Agradeço que o tenha feito.

Apenas assenti e, dessa vez, abri a porta, me deparando com meus pais vindo rapidamente em minha direção.

Sem saber, meu avô tinha me dado muito em que pensar.

Continua...


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Notas finais do capítulo

Capítulo não revisado. Farei isso amanhã.

E então, o que acharam?
Conseguiram ver nosso Clarkson além do vilão da fic?
Para as pessoas ansiosas que não podem esperar para o Julgamento, ele vai acontecer no próximo capítulo. Segurem os corações, porque na minha cabeça está bastante tenso. Espero conseguir passar essa tensão para as palavras.
Como vocês devem ter percebido, foi o primeiro POV da Nicole. No próximo capítulo, o POV dela continua, então críticas são muito bem vindas. Eu sei que não ficou muito em linguagem de criança, mas isso é porque ela é uma princesa e foi treinada para saber falar bem. Tentei evitar palavras mais difíceis, mas posso ter deixado passar... Se puderem, me ajudem com isso e digam: "O que?! Nunca uma criança falaria ou pensaria isso, mesmo que seja uma princesa!". Espero o feedback de vocês. Caso não receba nenhuma crítica, vou escrever o próximo capítulo na linguagem desse.

Estou indo responder os comentários atrasados agorinha. Espero por vocês lá.
E, para quem for escrever os bônus dos quais eu falei no último capítulo, não deixem de me avisar, okay?
Próximo capítulo, se tudo der certo, na quarta. No máximo, quinta.

Beijos e até breve!
Enthralling Books.



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