A Maldição: O Herdeiro escrita por Calipso


Capítulo 3
O Décimo Oitavo Aniversário Parte 2: O Campo de Tulipas


Notas iniciais do capítulo

Faz um tempo que já escrevi ele, mas eu me lembro muito bem que eu chorei nele. Na verdade no primeiro também porque foi tanta coisa ao mesmo tempo pra ele, cara...
Tô fazendo um drama desnecessario aqui né . Verdade
Então vou deixar voces em paz

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“E naquele dia tão especial que eu deveria ficar mais feliz acabou sendo o inicio de uma tragédia maior que a morte. Minha maldição.”

– Andrômeda

Depois de algumas lágrimas silenciosas finalmente Will teve coragem de encarar novamente o rosto de sua mãe. Ela estava linda, excepcionalmente hoje. “Ela já sabia” ele pensou. Até na morte sua mãe parecia gloriosa, mesmo sendo humilde ela sempre teve uma alma nobre e havia um tipo de elegância que ultrapassava as roupas que vestia. Um vestido branco e bordado com detalhes azuis que ia até os pés agora descalços, caía por todo o seu corpo. Seu cabelo descia pelo seu ombro e se alongava até a cintura, eram belos cabelos negros que estavam domados numa linda trança enfeitada com pequenos alecrins. Seus olhos que agora estavam fechados eram negros como seus cabelos e seu sorriso era o mais gentil de todos que já vira. Will decidiu enterrar o corpo de sua mãe, acho que ela não gostaria que as meninas a encontrassem assim e depois enterrá-la seria muito mais difícil. Pegou-a no colo e caminhou até a entrada da casa abriu a porta e sentiu o vento frio noturno bater em seu rosto. Will gostava da noite, quando tudo ficava em silencio conseguia pensar, a noite lhe acolhia e o tratava como um filho, mas hoje não; parecia-lhe que todos os monstros invisíveis em sua cabeça quando criança haviam saído e o estavam observando, a espreita, pronto para atacar, mas se o fizessem Will nem teria como reagir.

Caminhava pela cidade sem saber para onde ir e de repente uma brisa que passou suave carregou consigo um cheiro de tulipas, ele não sabia como havia sentido esse cheiro já que não haviam flores muito próximas da vila, mas sabia que sua mãe gostava de ir a uma colina ali perto, sempre quando voltava para casa trazia uma tulipa vermelha então certamente devia haver um campo por lá. Tomou a decisão de enterra-la naquele lugar. Deixou que seu instinto o guiasse e antes que percebe já estava lá. Quando chegou ao topo da colina viu uma arvore e ao seu lado o campo de tulipas vermelhas, colocou sua mãe cuidadosamente no chão e percebeu que ali se podia ver toda a vila, mesmo que estivesse escuro. “Terá uma bela vista, mãe”. Quando Will olhou de volta para o campo de tulipas percebeu que elas estavam murchando, como se algo estivesse lhe sugando a vida rapidamente, todas elas se escureceram.

_ Mas... Como...? – antes que pudesse completar sua frase foi interrompido por um sino. Já era meia-noite.

Primeira badalada.

Will sentiu algo estranho, uma dor fina e incômoda que ia passando pelo seu peito.

Segunda badalada.

Seu coração batia rápido e estava suando frio.

Terceira badalada.

A dor em seu peito aumentou e ele ficou desorientado, seus sentidos não funcionavam direito.

Quinta badalada.

Deitado no chão e ofegando, olhava ao lado o corpo de sua mãe e apenas sentia aquela dor se espalhar por todo o seu corpo.

Decima badalada.

A dor se tornara insuportável e não havia ninguém por perto, sua garganta se fechara e não conseguia ao menos gritar. Era alucinante ouviu um de seus ossos quebrarem e não conteve em se arquejar. Não conseguiu ouvir a última badalada, pois no auge de sua agonia tudo desapareceu e ele perdeu os sentidos. A última coisa que viu foi do brilho da lua preencher seus olhos e de o vazio ocupar o lugar da dor.

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Não tão próximo dali na mesma hora, havia uma dupla um tanto curiosa nos jardins atrás do castelo.

_ Respire, não conseguirá me acertar afobada desse jeito – disse uma garota morena que desviava facilmente de golpes de uma outra garota ruiva.

_ É difícil Nina, você sabe que eu tive asma quando pequena, não consigo controlar minha respiração direito. – a morena olhou para o lado e se distraiu.

_ Nina! Desculpe, eu não tive a intenção, eu pensei que estava prestando atenção...

_ Não. Você tem que ter, se você lutar vai fazer isso com pessoas que não terão piedade de você e tem que aproveitar o máximo que conseguir, entendeu Georgie?

_ Sim. – disse ofegante e apoiando as mãos nos joelhos.

_ Vamos fazer uma pausa. Afinal você não vai para a guerra, é uma princesa. – disse a ruiva deitou-se na grama e a morena sentou-se ao seu lado.

_ Dentro desse castelo tenho uma guerra maior do que poderia enfrentar lutando lá fora.

_ Pode até ser, mas provavelmente você não usará essas habilidades, isso é apenas para irritar seu pai, não é? – a ruiva sentou-se e encarando a morena disse:

_ Claro que não. Tenho minhas próprias vontades, ele não pode me obrigar a fazer o que não quero. Eu resolvi que seria bom gastar minhas energias em outra coisa que não fosse em ser paparicada ou aprender aquelas etiquetas ridículas.

_ São essas etiquetas ridículas que fazem de você parte da nobreza, e ter todo o conforto que precisa. – uma voz forte soou como um trovão atrás das garotas fazendo com que se arrepiasse durante um instante, mas se lembrou de quem se tratava e levantou-se e disse petulante:

_ O que esta fazendo tão tarde fora da cama Joseph, meu pai mandou você dormir com os cães hoje?

_ Sua arrogância e cinismo não serão suficientes para me irritar, vossa alteza. Sendo o braço direito de seu pai, sou responsável por você também. E vejo que sua dama de companhia esta fazendo algo além de seu trabalho, não é mesmo? – ele olhou para Nina que tinha a mesma petulância que Georgie nos olhos, mas sabia o seu lugar e ficava calada.

_ Não pode trata-la assim, ela não é apenas minha dama de companhia, é minha amiga e isso foi um favor que lhe pedi.

_ Você pediu para lhe ensinar artes marciais? Eu não entendo. Sendo uma princesa você tem tudo ao seus pés e mesmo assim insiste em desobedecer.

_ Exatamente este o ponto, não quero que ninguém mande em mim.

_ Acredite quando digo que não quero mandar em você, minha única obrigação é protegê-la, porém fica difícil com essas suas escapadas no meio da noite. Sabe quanto perigo corre andando pelos jardins, quantas pessoas ficam a espreita esperando um momento de deslize desse tipo? Sua sorte é que esses muros são fortificados e bem vigiados. Então eu agradeceria se não...

_ Ok. Ok. Ainda estou viva. Muros fortificados e vigiados, não é mesmo. Agora vou me retirar para que vossa nobreza não se aborreça com o meu comportamento inadequado – Joseph resmungou algo inaudível – vamos Nina.

_ Ela fica. – disse firme.

_ O que quer com ela?!

_ Modere o seu tom princesa. Isso não é assunto seu, pelo menos por enquanto, então poderia, por favor, se dirigir aos seus aposentos?

Antes de ir Georgie olhou para Nina que lhe deu uma confirmação de leve com a cabeça. Andou o mais devagar possível para que pudesse ouvir algum ruído da conversa, uma bronca ou qualquer coisa que fosse, mesmo com seus ouvidos atentos não conseguiu escutar nada, antes de atravessar a porta dos fundos do castelo virou-se para onde eles estavam, mas não encontrou nenhum dos dois.

Crescer é difícil e estraçalha a gente por dentro, então como sorrir se sua alma esta em frangalhos? Georgie sabia muito bem como era isso. Andava pelos corredores daquele imenso castelo, quando parou aos pés da escada para admira-la. Seria uma longa subida. Sempre foi ela mesma quase todo o tempo, mas as vezes ir contra a maré cansa, sempre desobedecer seu pai, fugir de suas tarefas, tudo isso para escapar de algo mais além do que isso. Saudade. Era por isso que Georgie sempre corria, fugia e se escondia, depois que sua mãe morreu sentiu muita falta dela, do seu pai, da sua irmã, ela era a única que a entendia. Sempre dizia: “Deixe-a brincar, o que importa se ela usa vestidos ou não? O importante em ser rainha não é ter o vestido mais bonito, mas sim ter um enorme coração e isso eu sei que a nossa pequena Georgie tem”. Seu pai, o rei, depois que sua esposa morreu, ficou deprimido e não dava mais atenção a suas filhas. Sua irmã mais velha, Kaya, há tempos não ligava se ela existia ou não, sentia falta da união de sua família que havia partido, talvez ela fosse a única pessoa pelo qual a família ficasse unida. Pelo menos até o momento se sua morte.

Quando entrou em seus aposentos foi ate o seu banheiro e sua banheira já estava cheia com água cheirosa, ela nunca tinha aprendido o nome que eles davam aquilo. Se despiu e entrou em sua banheira de mármore, gemeu quando sentiu sua pele encostar na pedra e seus hematomas que nem tinha visto arderem em contato com a água quente. Quando terminou colocou suas vestes de dormir e se preparou para deitar. Sentou enfrente a sua penteadeira e desfez a trança que prendia seus cabelos. Quando procurou a escova encontrou alguns objetos que antes não estavam ali: um punhal em uma bainha de veludo vermelho, um pequeno frasco preso em uma corrente, um bilhete e uma tulipa negra. Pegou o punhal nas mãos e ficou admirando-o, era realmente lindo, mas quem o teria enviado? Então abriu o bilhete e percebeu de quem era apenas pelas curvas das letras:

"Querida Georgie,

Antes de partir tenho uma missão para você, nada de muito complicado, apenas quero que guarde para mim o que te deixei, menos o punhal, ele é seu. Faça bom uso. Use a correntinha que lhe dei todo o tempo, ele nos protegerá. Como ultimo pedido queria lhe pedir que continuasse treinando, mesmo que escondido, te ensinei tudo a medida do possível o resto agora é você quem tem que descobrir.

P.S: guarde bem essa flor, ela é preciosa. Nos encontraremos de novo, é uma promessa.

De sua fiel amiga, Nina."

Então era isso? Uma despedida. Pelo menos por enquanto. Aquela noite Georgie não conseguiu dormir, não estava conseguindo ignorar alguma coisa que sentia, um pressentimento de que que algo estava errado, ou um mau agouro. Uma dor fina e constante atravessava seu peito lhe causando muito desconforto. O céu já começava a crepuscular e ouviu ao longe o primeiro passarinho cantar. Levantou-se e foi até a varanda onde viu aquela imensidão ainda escura, um dia aquele reino seria de sua irmã e ela mal o conhecia. Olhou além dos muros e viu algumas colinas, algo chamou a sua atenção para uma especial, tira uma arvore com folhas vermelhas como sangue e um pouco mais ao lado havia algo preto cobrindo a grama. Ela esperou o primeiro fiozinho de luz que nascia para ver melhor aquele lugar. Observou com mais atenção aquilo que cobria o chão, mas continuava não conseguindo ver com clareza, então se lembrou dos binóculos que eram usados para assistir ópera, pegou-os e os colocou na direção da colina. Pareciam flores, mas nunca tinha visto uma flor negra antes... A não ser aquela que estava em sua penteadeira. Será que foi lá que tinha colhido? Sua curiosidade sobre aquele lugar aumentou e continuou a olhar sob o binoculo apesar de estarem negras carregavam uma beleza estranha, quase que sobrenatural, Georgie ficou encantada como sua pétalas pendiam no caule, deslizando uma sobre as outras meio frouxas, caídas, mas ainda de pé. Mais ou menos isso. Até que tomou um susto quando viu algo se mexer. O céu de azul marinho, passava-se lentamente para seu azul turquesa, quando focou o binoculo na coisa que se mexia ficou paralisada. Era um animal, mas não sabia dizer qual era, a única coisa que via antes de cair no chão foi os grandes olhos castanhos que ficaram encarando-a. ainda ofegante levantou-se e fechou a porta de sua varanda e se encolheu na cama sentindo o suor escorrer pelo seu rosto. Seja o que fosse aquilo não era boa coisa. Sem que percebesse Georgie caiu em um sono profundo, pesado e sem sonhos.

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Um pouco longe dali na colina da arvore de sangue um ultimo uivo pode ser ouvido da fera. O corpo da mãe de Will desaparecera durante a noite, foi levado como se o vento o carregasse, mas isso ele nunca saberia, assim como o motivo das tulipas já enegrecidas terem murchado.


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Notas finais do capítulo

ok, está ai qualquer coisa eu estou aqui me perguntem sobre o que quiserem
Lembrando que:
— comentários são bem vindos
então ate a próxima segunda-feira



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