No Hope escrita por The Mother


Capítulo 1
No Hope




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Estou correndo desvairadamente há dez minutos. Tropecei algumas vezes e tenho certeza que dei algum mal jeito no meu tornozelo, mas foda-se. Eu não vou parar. Não até achá-lo.

Bom, pra começar, não era assim que eu imaginava meus 24 anos. A vida não é só absolutamente imprevisível, mas é cruel também. Pensei que depois de terminado o curso de Artes eu estaria pintando e ganhando dinheiro a beça com exposições.

Em vez disso estou correndo. E gritando eventualmente. Não que eu seja louco ou algo parecido, mas às vezes o melhor jeito de se acalmar é gritando o máximo que você pode. Principalmente quando a sua vida parece ter virado de cabeça para baixo. Agora, por exemplo, estou me sentindo bem mais calmo.

Vinte minutos atrás, tentei me declarar para uma garota que eu acho que gostava. Ela jogou tudo no pátio da casa dela quando leu a carta... É. Não tenho mais certeza se gostava dela. Pra falar a verdade, talvez nunca tenha gostado, ou talvez eu só esteja realmente zangado. Ou surpreso. Por que sentimentos são tão absurdamente complexos? Não sei o que estou sentindo na maioria do tempo. Por que não nasci uma pedra?!

Respirei fundo e senti meu passo desacelerar. Então, num impulso quase desesperador, acelerei ainda mais...

Sabe, meus amigos dizem que sou egoísta; só penso em mim mesmo. Talvez seja por isso que todos os meus relacionamentos acabam cedo. Eu costumava me gabar dizendo para eles que era apenas porque ninguém conseguia me domar. Hilário! Eu nunca quis tanto bater minha cabeça num poste.

Eu também nunca quis tanto beijar alguém. E é por isso que não posso parar de correr.

Vinte minutos atrás, um garoto da minha idade juntou as flores e carta que eu havia dado àquela garota de quem eu falei. E eu conheço aquele garoto. Nós tocamos na mesma banda; ele é vocalista e eu toco guitarra; nada profissional, apenas uma banda de amigos. Nos conhecemos a anos e eu sempre gostei de ficar perto dele, é provavelmente a única pessoa com quem eu me identifico. O mais próximo de melhor amigo que tenho, já que eu não costumo me aproximar demais das pessoas.

E lá estava ele. Na casa daquela garota, que também era amiga dele. E ele juntou as flores. Ele leu a carta. Ele sorriu e ele cheirou as flores. E, de repente, eu nunca me senti tão confuso e tão frustrado na minha vida.

E por puro ato de choque, eu o deixei ir. O vi ir embora, levando as minhas flores e guardando a minha carta no bolso, como se fossem para ele.

Por isso agora estou aqui. Procurando desesperadamente por ele em meio dessa cidade pequena, porque eu simplesmente preciso vê-lo.

Eu nem sei exatamente o que vou fazer quando vê-lo. Pensei em beijá-lo e arrastá-lo para a minha casa. Caso ele não me amasse, eu o esconderia no porão e lhe alimentava com flores e cartas até que se apaixonasse definitivamente por mim.

Eu nunca conto isso para ninguém, mas, a verdade, é que eu acho estranha a ideia de alguém se apaixonar por mim. Pelo menos facilmente. Não tenho uma opinião muito elevada sobre mim mesmo, sabe? Tenho certeza que não sou o único no mundo a se sentir assim, mas isso não muda nada. Não importa quantas pessoas passaram pelo que eu estou passando. Isso não muda o fato que meu peito parece pesar uma tonelada e cada pedaço de mim está com tanto medo que está tentando fazer de tudo para que eu pare e volte para casa.

Mas eu não posso parar. Minha vida é bagunçada e tediosa, eu não vou perder a única chance de dar um pouco mais de sentido a ela. Se for pra eu crescer e finalmente me tornar um adulto, quero que o primeiro passo seja achar aquela pessoa com quem vou passar o resto da vida. Porque a vida é tão mais fácil quando você tem alguém ao seu lado.

E é ele. Eu sei que é ele. Eu sempre soube, mas não queria admitir. Eu sempre soube.

E sim, eu poderia esperar até amanhã para falar com ele, mas não vou. Não vou perder nem mais um minuto. Porque é ele.

Há dois anos eu digo pra mim mesmo que estou passando por uma fase. Que vai passar, que eu vou pintar os meus quadros e vendê-los. Mas eu não consigo. E estou cansado de passar as manhãs de domingo me sentindo miserável e sozinho. E pensando nele. Porque eu sempre me pego pensando nele.

Meus pés me levaram ao porto. Acho que eles sabiam para onde estavam indo o tempo todo. Eu é que estava atordoado demais para pensar. É claro que ele estaria aqui. É sábado e é fim de tarde, ele sempre vem para o porto.

E ele estava lá. Sentado no chão de concreto, as flores deitadas ao seu lado. Parecia calmo e feliz. Eu quero um pouco daquilo. Eu quero ele. Me acordando nas manhãs de domingo, me fazendo sentir um pouco menos desprezível ou sem esperança.

Ele se levantou, pegou as flores, e quando virou-se para ir embora, me viu.

Oh, Deus.

Ele é tão lindo.

E ele está me chamando.

“Você está bem?” ele perguntou, amável e preocupado.

Oh, meu Deus. Diga alguma coisa!

“Uh...”, mas eu não parecia capaz de formular qualquer coisa coerente.

E então, depois de vasculhar, sem sucesso, aquele lugar por alguma resposta, e depois de decidir que meus pulmões já não podiam aguentar tanta ansiedade, eu corri até ele. E, sem aviso prévio, o beijei.

O beijei. E quando ele me abraçou e beijou de volta, finalmente, depois de 6 anos desesperadores de uma vida sem objetivo, tudo se encaixou.


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Notas finais do capítulo

Pra quem tiver curiosidade: https://www.youtube.com/watch?v=S_3eEPpmKwE A fic foi baseada nesse vídeo e música.

E aí o que acharam? Comentários são bem-vindos! :3



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