Em Nome Do Pai escrita por Paula Freitas


Capítulo 9
Ansiedade...


Notas iniciais do capítulo

Outro lado do Félix...



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Na manhã do dia seguinte...

Todos tomavam café da manhã na casa de Pilar. Naquela manhã, aquela família estava mais silenciosa que de costume. Ninguém se atrevia a puxar algum assunto, a não ser algo banal, às vezes, banal demais até para ser falado durante a refeição.

O único pensamento que todos tinham em comum era o testamento. Não o que havia nele, mas a tensão que estava causando. Tanta coisa havia mudado, especialmente no último ano e, no entanto, ler aquele testamento poderia ser como ver uma velha fotografia, de um passado sombrio, que todos queriam deixar no passado.

Estavam presentes à mesa, Pilar, Maciel, Bernarda, Lutero, Niko, Félix e os filhos, Jonathan e Jayme. Os bebês ficaram sob os cuidados da babá que ajudava Pilar com Júnior.

Passava das sete e meia da manhã quando Paloma chegou com sua família. Pelo tom de voz com que ela os cumprimentou, parecia que também não estava muito satisfeita com aquela obrigação.

– Como está, Félix?

Ela sabia como o irmão havia ficado após a morte do pai e desde então foram poucos os contatos que tiveram. Félix a surpreendeu, levantando e abraçando-a.

– Félix... Você está bem?

Ele suspirou profundamente.

– Mais ou menos, Paloma! Só vou ficar melhor quando tudo isso acabar...

Eles olharam nos olhos um do outro. Paloma se emocionou.

– Eu... Eu também, meu irmão! Eu não queria estar aqui...

– Ah, Palominha... É nessas horas que temos vontades em comum!

Voltaram a se abraçar, e então se sentaram a mesa.

Todos estavam apreensivos, abatidos, mas todos podiam notar que Félix era o que estava mais diferente. Diferente do Félix de sempre. O Félix que estava lá era outro homem. Mais calmo e sereno, até no tom de voz. Mais relaxado, porém, ansioso. Mais emocional também.

Não era segredo para ninguém o quanto Félix amava Niko. Mas, era surpreendente ver o cuidado com que ele o tratava naquela manhã. Como Niko estava com o braço direito imobilizado, Félix não começou a comer até não ajudá-lo, cortando os alimentos em pedaços para facilitar para Niko pegar com a mão esquerda. Também dispôs tudo na mesa de forma que facilitasse o acesso de seu carneirinho. E, a cada minuto, perguntava se ele estava bem ou se precisava de alguma coisa.

O mais incrível era que Niko não havia pedido para Félix fazer nada, mas ele fez, por que queria fazer. Da última vez que Félix lhe perguntou, Niko finalmente pediu algo.

– Ah, Félix, eu me esqueci de pegar aquele remédio que eu tomo! Pode pegar pra mim, amor?

– Claro! Onde que tá?

– Lá no quarto, na mala!

– Tá! Já volto!

Sem fazer nenhuma objeção, piada ou sinal de preguiça, Félix imediatamente levantou e subiu para pegar o remédio. Todos estavam surpresos com aquele estranho e estupendo comportamento.

– Niko... Eu nunca vi o Félix assim! – Falou Paloma.

– Meu filho nunca foi tão prestativo... – Disse Pilar.

– Meu pai tá mesmo estranho, ainda não ouvi nenhuma piadinha dele hoje! – Exclamou Jonathan.

– O pai Félix tá triste por causa do vô César, né?! – Perguntou Jayme para Niko que estava ao seu lado.

Niko passou a mão na cabeça do filho. – É, é sim, meu filho! – E olhou para os outros.

Bernarda se pronunciou. – O Félix ainda está ansioso pelo que pode ocorrer hoje não é, Niko?!

Niko suspirou. – Ai, é sim, dona Bernarda! Não sei se vocês puderam notar, mas ele está cuidando de mim, do mesmo modo que cuidava do seu César!

– Ele tinha os mínimos cuidados com o papai, não era?! – Perguntou Paloma.

– Era Palominha... E só por que eu machuquei o braço ele acha que tem que fazer tudo pra mim, imagina o que ele não fazia pelo pai de vocês... E olha que desde ontem ele melhorou muito o estado em que ele ficou desde que soube do testamento! Enquanto eu estava na consulta, o Félix teve uma conversa com a Márcia e ela o levou à capela do hospital...

– À capela? O Félix nunca entrou naquela capela! – Exclamou Pilar.

– Pois é, Pilar! Eu não sei bem o que eles conversaram, mas o Félix me disse que ficou sozinho lá alguns minutos e que se sentiu estranho enquanto estava lá, mas de um jeito bom! Quando o perguntei o que ele fez durante esse tempo que ficou só, ele me respondeu de um modo meio, sei lá, subjetivo!

– O que ele respondeu Niko? – Perguntou Bernarda.

...

– E o que você ficou fazendo lá durante o tempo que ficou só?

Félix demorou um pouco com o olhar distante. Olhou pela janela para ver as estrelas. Respondeu:

– Aqui não dá pra ver as mesmas estrelas que dá pra ver lá da praia... Tem muita luz...

– Tá, mas... Você ainda não me respondeu, Félix! O que você ficou fazendo lá na capela quando a Márcia saiu?

– Entendendo... Pensando... Recordando... Agradecendo! Era o que faltava... – Voltou a olhar pela janela. – Daqui não vou poder procurar a estrela do papi! Agora, só falta isso...

...

– Foi isso que ele disse! – Contou Niko.

Todos os presentes se olharam. Ninguém compreendeu. Mas, provavelmente, só Félix compreendia.

Quando ele voltou com o remédio de Niko e fez questão de dar a ele, todos continuaram surpresos com suas atitudes, mas achando bonito de ver aquele Félix que estava diante deles.

_

Oito da manhã...

Eron e Rafael chegaram. Em seguida, Atílio chegou. Pouco depois, Priscila, com Pérsio e Rebeca também chegaram.

– Já que estão todos, podemos começar quando quiserem! – Falou Eron.

Uns segundos de silêncio pairaram no local, até que Pilar se pronunciou.

– Bem, eu já mandei arrumarem a mesa de jantar para que todos se acomodem... Já já poderemos ir para lá...

O mordomo anunciou que já estava tudo pronto, mas ninguém queria ser o primeiro a ir. Priscila tomou a iniciativa e foi. – Bom se é pela memória do meu irmão... Vamos!

Pérsio foi logo em seguida, depois da esposa dar-lhe um beijo e desejar-lhe tranquilidade. Logo depois, todos foram aos poucos.

Félix levantou, mas não deu um passo. Sabia que tinha que ir, mas ainda estava relutante. Paloma levantou por último e saiu andando após dar um abraço em Bruno e em Paulinha. Parou e virou para Félix que estava como uma estátua no mesmo lugar.

– Não vem, Félix?! Quanto mais cedo isso acabar, melhor!

– S-sim, Paloma... Eu já vou...

– O que você tem? Está pálido...

– É... Nada! Pode ir, eu já vou!

Ela voltou a andar e foi à mesa com os outros.

– Félix... – Niko ficou de frente para ele. – O que você está sentindo agora? Fala pra mim...

– Frio...

– Está com frio, meu amor? Não quer vestir um casaco, uma jaqueta? – Perguntou Niko.

– Não... Não ia adiantar... É frio por dentro!

– Por dentro?

– É! A Paloma, o Junior, eles vão ter os nomes naquele papel... O meu também vai estar lá, mas vai soar frio... – Ele suspirou profundamente. – Mas... Meu nome soou frio por muito tempo na boca do meu pai! Não vou fraquejar agora diante de um documento... Como você me disse, Niko, não importa o que o papi tenha reservado para mim, a verdadeira herança é o que ele desmonstrou!

Niko lhe deu um beijo no rosto. – É assim que se fala, meu amor! Vai lá!

Félix começou a andar, mas antes de se dirigir para lá, virou para Niko e lhe abraçou. Niko lhe afagou em seus braços e com um beijo delicado lhe falou:

– Vai lá, meu bem! Vai dar tudo certo!

– Eu sou quero que acabe rápido!

Niko pôs a mão em seu peito. – Tranquilize-se! Vai acabar logo, você vai ver... E, se precisar de mim, eu estou aqui!

Félix lhe beijou a palma da mão. – Obrigado por tudo, meu carneirinho! Eu te amo!

Niko sorriu com a afirmação do que ele já sabia há tempos. – Eu também te amo!

Félix soltou seu carneirinho e caminhou até onde os outros estavam. Ainda parou e olhou para Niko e sorriu meio torto para ele, seus olhos ainda eram tristes, sua expressão abatida. Niko estava, com razão, preocupado. Ele ficou vendo seu marido ir até a sala de jantar e nem notou que Eron permanecia ali.

– Niko...

– Eron, você não tem que ir pra lá ler o testamento?!

– Sim, eu já vou...

– Posso te pedir um favor?

– Sim, claro...

– É... O testamento é muito longo?

Eron não entendeu muito bem a razão dessa pergunta, mas respondeu: - Não, não muito... Por quê?!

Niko o olhou nos olhos, pedindo: – Tenta acabar com isso o mais rápido possível, por favor!

Agora, Eron estava entendendo. – Você está muito preocupado com o Félix, não é?!

Niko confirmou com a cabeça e completou: - Com ele e com toda minha família!

O modo como Niko falou fez Eron se encaminhar para a mesa de jantar. Antes, ainda falou: - Não se preocupe, Niko! Sua família vai ficar bem... E você também! Em todos os aspectos!

Agora, Niko foi quem não entendeu aquela afirmação de Eron. Mas, não havia mais nada a ser questionado, a leitura do testamento já ia começar e Niko foi esperar o desfecho de tudo na outra sala, cuidando das crianças, assim como Rebeca, Bruno e Maciel. Tudo que ele queria era que Félix voltasse bem.


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Notas finais do capítulo

...Continua...
...Comentem...



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