Em Nome Do Pai escrita por Paula Freitas


Capítulo 5
Onde quer que vá...


Notas iniciais do capítulo

- Félix, olha a estrada! Cuidado!
...



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A chuva já havia parado, mas Félix não viu uma parte rebaixada na estrada que acumulara água. Ele se assustou com o chamado de Niko e pisou no freio. Não deu tempo de desviar da enorme poça de água na pista e o carro derrapou. Parou alguns metros a frente.

Com a velocidade Niko foi lançado para frente, já que seu cinto estava afrouxado. Bateu no canto contra a porta do carro.

Félix foi bem segurado pelo cinto, assim como seus filhos. Todos estavam assustados. Fabrício fez uma expressão de choro, mas antes que começasse Jayme abraçou o irmãozinho.

Rafael, que vinha atrás, parou e desceu para ver o que havia acontecido. Eles ainda estavam tomados pelo susto.

– Félix, Félix... O que houve?! – Perguntava Rafael batendo no vidro da janela.

Félix esfregou os olhos para recobrar-se do susto e a primeira coisa que fez foi virar para olhar os filhos.

– V-vocês... Vocês estão bem?! F-filhos... – Estava tão nervoso que se atrapalhou para soltar o cinto e virar.

Quando conseguiu soltar-se, virou para os meninos.

– Filhos, vocês estão bem? Se machucaram?

Fabrício ainda queria chorar e Jayme o segurava. O mais velho, mesmo estando tão assustado quanto, respondeu ao pai:

– N-não, pai... A gente não se machucou...

– Papai... – Disse Fabrício com a vozinha chorosa. – Papa Niko...

Félix olhou para Niko. Seus olhos encheram de lágrimas ao ver seu amado carneirinho com os olhos fechados e com uma marca vermelha na cabeça.

Rafael bateu de novo no vidro. Félix abriu a porta, mas voltou sua atenção para Niko.

– C-carneirinho... Carneirinho... Responde...

– O que aconteceu, Félix? Você perdeu o controle do carro? O que houve...

Félix interrompeu Rafael.

– Cala a boca advogado, não tá vendo que o Niko... – Félix paralisou por um segundo, pensando: - Eu fui o culpado! Eu quase provoquei um acidente! Se acontecer alguma coisa com o Niko eu não vou suportar...

De repente, os pensamentos de Félix foram interrompidos por uma reação. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Niko. O loiro franziu as sobrancelhas numa expressão de dor.

Félix, ao ver seu amado carneirinho reagindo, abraçou-o.

– C-carneirinho... M-me diz que você está bem, por favor, me diz...

– Aaaiii... – Um grande gemido de dor foi tudo que Niko conseguiu pronunciar assim que Félix tocou nele.

– C-carneirinho, o que foi?! O que você tem?! O que você está sentindo?!

Niko continuava com a expressão de dor.

– Pai, o que você tem?! – Perguntou Jayme preocupado.

Niko abriu os olhos. Sua expressão amenizou, mas ainda parecia sentir uma forte dor.

– E-eu... Eu acho que me machuquei... Mas... Não se preocupa, viu meu filho!

– Papai... – Chamou Fabrício.

Vendo que o pequeno estava quase chorando Niko o acalmou.

– Não, não, Fabrício... Papai tá bem! Tá tudo bem... – Ele tentava sorrir para o seu bebê não chorar.

Félix, porém, estava vendo que seu carneirinho não estava nada bem.

Rafael abriu a porta do lado do passageiro e tocou no braço de Niko. No mesmo momento, Niko deu outro gemido de dor, franzindo as sobrancelhas e fechando os olhos.

– Pelo visto você machucou feio o braço, Niko! Espere, tente mexer...

Niko tentou mexer o braço, mas no primeiro movimento já sentiu dor.

– Deve ter fraturado o braço...

– Ah não... – Niko se preocupou. – E agora?!

– É melhor você imobilizar o braço até chegar em São Paulo!

– V-você também se machucou aqui, carneirinho... – Félix tocou na testa dele.

– Ai! Eu percebi, Félix! Tá doendo...

– Espera, espera, eu já sei o que fazer, carneirinho... Espera, fica quietinho...

Félix teve uma ideia para improvisar uma tipoia. Pegou um pedaço de borracha de um acessório do carro e pôs em baixo do braço de Niko formando um apoio. Pegou na bolsa dois dos paninhos que Niko levava para limpar as bagunças do filho mais novo e deu um nó juntando os dois e passando em volta do braço algumas vezes e depois em volta do pescoço do loiro.

– Pronto, carneirinho... Acho que assim você fica com o braço quietinho até chegarmos...

Feito isso, Félix voltou a abraça-lo, mas desta vez tomando cuidado para não tocar em seu braço machucado.

– Obrigado! – Niko foi frio ao agradecê-lo. Félix pôde perceber sua indiferença.

– C-carneirinho... É... D-desculpa... Isso, isso tudo é culpa minha...

– É mesmo! – Niko foi bem direto, surpreendendo, principalmente, Félix.

O loiro virou para Rafael, dizendo: - Olha Rafael, não daria para o Jayme e o Fabrício irem com você e a Linda?

– É... Claro Niko...

– Por que, pai? – Perguntou Jayme.

– Por que sim, filho! É melhor vocês irem com eles... – Niko suspirou. – Leve suas coisas e do seu irmão, e cuide dele, viu! Com meu braço assim, fica difícil fazer qualquer coisa...

Félix estava entendendo o motivo do que Niko estava fazendo.

Félix tirou a cadeirinha de Fabrício sem questionar e Rafael os levou para seu carro. Linda foi para o banco de trás para ir brincando com os meninos durante a viagem.

Antes de continuarem, Félix acrescentou:

– Eu sei por que você mandou nossos filhos irem com eles, Niko!

– Por que você acha que foi?!

– Por que... Eu quase causei um acidente... Eu pus nossa família em risco... Quer saber, Niko, por que você não vai lá também?! Assim, se eu fizer outra burrada dessas, eu não derrapo apenas, eu capoto logo o carro e morro sozinho...

Niko usou a mão boa para dar um tapa em Félix.

Ele o olhou confuso, aquilo nunca havia acontecido. Contudo, ele não conseguia sentir raiva do seu carneirinho.

Niko falou extremamente sério com ele: - Olha aqui, Félix, eu disse que tinha medo de viajar com a estrada molhada como está! Agora parou de chover, mas, mesmo assim... – Niko olhou profundamente nos olhos de Félix e ficou mais nervoso. – Você disse que teria atenção redobrada, ainda mais por causa dos nossos filhos! Daí você fica aí voando nos seus pensamentos e esquece a vida, esquece a estrada, esquece a sua família... Meu braço tá doendo, Félix! Eu não me importo em quebrar um braço, uma perna, a cabeça por você... Mas, nunca, nunca mais ponha a vida dos nossos filhos em risco! – Niko começou a chorar. – Se... Se tivesse acontecido algo grave, Félix... Com qualquer um de vocês três... Eu não suportaria continuar vivendo!

Félix engoliu seco. Por mais duras que fossem aquelas palavras, eram verdade.

– Q-que pena que você não pode dirigir agora! – Exclamou Félix com a cabeça baixa.

– Pois é... Que pena...

– P-perdão... Perdão! Eu prometo que vou ficar atento de verdade agora... Sem devaneios, verdade, senão vou ficar louco...

– Assim espero, por que nós dois temos dois filhos para cuidar!

Niko entrou no carro e Félix praticamente se arrastou para o banco do motorista. Rafael passou a frente deles e parou esperando eles irem. Quando Félix ia dar a partida, ainda perguntou:

– A-ainda pode ir de carona com o Rafael, Niko! T-tem certeza que quer ir comigo?

Niko pegou em sua mão, e, com a voz serena e firme, concluiu:

– Fala como se não soubesse... Que eu vou onde você for!

Félix engoliu seco outra vez. Ligou o carro e saiu, pensando: Como podia aquele homem ao seu lado ter um poder tão grande sobre ele? O poder de amá-lo incondicionalmente...

...

– Essa música é muito linda, não é Félix?! – Perguntou Niko.

Os dois estavam na praia, deitados na areia, numa noite romântica e muito especial. No celular de Niko tocava algumas músicas românticas. A última havia sido bem conveniente para a noite que viviam. Eles estavam comemorando um ano juntos. A música chamava-se One Year of Love.

– É linda sim, carneirinho! Combina mais comigo que com você!

– Ah é?! Por quê?

– Por que pela letra parece que fala de um amor que não pode mais viver sem o outro, mesmo depois de apenas um ano! Antes eu não sabia o que era amor, estava despedaçado por dentro... E hoje, estou aqui, com você... Você que eu amo tanto... E, ainda mais feliz pelo que meu papi disse antes de ontem... Ele finalmente disse que me amava, e me chamou de filho, pela primeira vez na vida... Tem ideia do que isso significa pra mim, carneirinho?! Tudo isso?!

Niko virou o rosto para olhar para Félix deitado na areia.

– Sabe que posso ver as estrelas refletidas nos seus olhos?!

– Pode?!

– Posso... Sabe por quê?! Dizem que nossos olhos só refletem bem as estrelas quando brilham tanto quanto elas! – Ambos sorriram. – Eu sei o que tudo isso significa pra você, Félix! – Niko o beijou. – E você, sabe o que você significa pra mim?

– Eu... Eu nunca imaginei ter significado para alguém...

– Ah, mas você tem Félix... Se existisse um dicionário da minha vida, no qual eu pudesse escrever sua definição, sabe o que viria como sinônimo de Félix?!

– O quê?!

– Amor para toda a vida!

Félix deu um sorriso apaixonado e abraçou seu carneirinho, pedindo:

– Niko... Promete que não vai me deixar nunca?!

Niko levantou a cabeça para olhar nos olhos do seu amado. Com o olhar mais sincero do mundo, respondeu:

– Félix, meu amor... Vou te repetir o que te disse há exatamente um ano atrás... Pra onde você for, eu vou! E isso foi mais que uma promessa, é o maior sonho da minha vida! E no que depender de mim, Félix, eu vou fazer até o impossível para que esse sonho seja realidade... – Deram as mãos. – Por todos os dias das nossas vidas!

Beijaram-se.

Outra música começou a tocar no celular de Niko e este começou a cantar um trecho olhando nos olhos do amado.

–... E as estrelas que hoje eu descobri no seu olhar... As estrelas vão me guiar...

Os dois acompanharam o refrão, depois de um selinho, cantando juntos.

– Se eu não te amasse tanto assim

Talvez perdesse os sonhos dentro de mim

E vivesse na escuridão

Se eu não te amasse tanto assim

Talvez não visse flores por onde eu vi

Dentro do meu coração.

...

– Félix...

– Hein?!

– Você já estava distraído de novo?! Olha, se continuar assim eu vou dirigir, nem que seja com uma mão só...

– Não, não, não precisa carneirinho... Não estava distraído... Só lembrando...

– Lembrando?! – Niko pensou e perguntou: - Félix... Estava esse tempo todo, lembrando seu pai?

– Antes sim, carneirinho, mas agora não...

– E o que ou quem estava lembrando agora?!

– Você!

– Eu?! Mas, eu estou aqui, Félix!

Félix sorriu. – Eu sei, Niko! E, justamente por isso estava me lembrando de uma coisa que admiro demais em você!

– O quê?

– Sua força de vontade para cumprir suas promessas! Para realizar seus sonhos!

Niko desviou o olhar. Félix não compreendeu sua expressão, nem se ele tinha entendido suas palavras ou não, ou se havia lembrado os mesmos momentos. Então, continuou:

– E assim como você já me prometeu coisas maravilhosas, carneirinho, eu te prometo uma coisa... Eu nunca mais vou me descuidar assim como agora há pouco! Eu vou viver para proteger as pessoas que amo... Minha família... A família que você me deu! Por que eu não tenho dúvidas que, onde quer que eu vá, você estará comigo!

Niko voltou a mostrar um sorriso ao ouvir isso, concluindo:

– Nunca duvide disso!

Após alguns segundos de silêncio, Niko voltou o olhar para Félix quando este começou a cantarolar uma canção que ele logo identificou... A mesma daquela noite do primeiro ano de namoro.

_

Algum tempo depois...

– Já estamos chegando! Daqui a pouco entramos em São Paulo! – Disse Félix. – Ainda está doendo muito o braço, carneirinho?

– Está... Na verdade acho que agora já nem é muito dor, é mais uma dormência...

– Estou preocupado com isso, Niko... – Félix suspirou. – E é tudo culpa minha...

– Isso não importa, Félix! Quando chegar lá, eu posso pedir para a Paloma dar uma olhada!

– Niko, a Paloma é pediatra, querido! O que vai fazer por você?!

– Ué, criança também quebra o braço! Quebra, fratura, luxação, é sempre igual em qualquer idade!

– É, pode ser... Se não for a Paloma, pode ser o Lutero...

– Sim!

– Niko... Desculpa!

– Félix, já disse que...

– Não, carneirinho, não importa o que você diga, eu vou me sentir culpado se você tiver que ficar com o braço engessado! E se não puder mais cortar peixe direito?! Carneirinho, e se você deixar de ser o rei do sushi lá da praia?!

– Félix... Eu vou te dar outro tapa se você não parar de falar!

– Ai Niko, que violência...

– Você que tá pedindo! Amor se acalma, você está muito nervoso, fazendo tempestade em copo d’água como seu pai costumava dizer... – Niko parou na hora que notou o que acabara de dizer.

– Ai, desculpa Félix...

– Não, não tem nada para desculpar, carneirinho! – Ao contrário do que Niko esperava, Félix deu um breve sorriso. – É, o papi costumava mesmo dizer que eu fazia tempestade em copo d’água! – Suspirou.

– Não se importou de eu ter dito isso?

– Eu, me importar?! – Repetiu o mesmo sorriso com ar de tristeza. - Claro que não, Niko! Eu até gosto de lembrar que vocês dois tiveram tempo de se dar bem... E até falaram de mim! Eu ficava muito feliz quando o papi falava com você!

– Eu também ficava muito feliz quando trocava mesmo que poucas palavras com meu sogro!

– Seu sogro... – Félix sorriu de novo. – É bonito te ouvir dizer isso! O que será que seu sogro reservou para seu marido, hein?!

– Seja o que for, Félix, o que importa é que você saiba que um testamento não é nada... O que seu pai demonstrou sentir por você nos últimos meses de vida é que é a sua verdadeira herança!

Félix se emocionou com aquelas palavras.

– A verdadeira herança... O amor do papi soberano! Obrigado, carneirinho! Você é minha luz...

Niko passou a mão boa nos cabelos de Félix, sorrindo para ele.

– Ah, carneirinho, eu quero te compensar pelo braço quebrado! O que você quiser que eu faça, é só pedir!

– Hum... Eu vou cobrar, hein!

Seguiram viagem e pouco tempo depois chegaram ao destino: a casa de Pilar.


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Notas finais do capítulo

Imaginaram Félix com a boca fechada, só cantarolando baixinho "Se eu não te amasse tanto assim..."?

Continua...



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