–Onde estou…?

Acordei num quarto estranho. Não tinha janelas nem iluminação, à exceção de um pequeno candeeiro numa mesa cheia de livros e papéis. Conseguia-se ver também estantes cheias de capas, cadernos e ainda mais livros…

Decidi sair dali o quanto antes pois aquilo era muito arrepiante, não sabia quem me tinha levado para ali, porquê nem quando…. Corri o mais depressa para a porta e mal a abri quase fiquei cego (ao contrário do quarto, aquela divisão era bastante iluminada), mas por um lado bastante surpreso. Comecei a abrir todas as portas e sentia sempre o mesmo… ‘’ Este lugar é me familiar’’ … Fazia-me lembrar o meu apartamento em todos os aspetos: as portas, as cores, a localização de janelas… Estava a começar a ficar assustado, até que comecei a ouvir passos e vozes de dentro de um quarto. Engoli em seco e decidi bater à porta.

–C-Com licença… Está aqui alguém?!

Comecei a abrir a porta lentamente. A luz da divisão começava a invadir aquilo que me parecia um escritório, mas um escritório COMPLETAMENTE desarrumado e escuro. Reparei que alguém estava sentado na cadeira porém parecia um pouco distraída, ou talvez estivesse a dormir, sei lá…

–H-Hum, você está bem? Poderia dizer-me onde estou?

Toquei de leve no ombro daquela pessoa que rapidamente se levantou. Ainda não conseguia ver o seu rosto. Mal olhou para mim, soltou um familiar e belo cabelo preto, que quando preso não fazia jus a sua beleza. Foi aí que percebi quem era.

–Vejo que já acordas-te, Len.

–V-Você outra vez… Onde estou?! Não tem o direito de me prender aqui!

–A porta está aberta (ele sorriu de uma forma irónica), não te prendi aqui…

–Kurogami-san, não sei o que se passou ontem, mas eu DEFINITIVAMENTE vou sair da empresa. Não sei o que esperava ao trazer-me aqui. Além disso, exijo uma explicação.

– Hannn… É por isso que odeio crianças… Ontem não me convinha nada que a Alice me visse numa certa situação no pátio, então, peguei em ti e trouxe-te até ao meu apartamento. Digamos que ontem se passou muita coisa (ele voltou a sorrir, mas agora foi um sorriso incrivelmente sádico e assustador…), e ao que parece tu vais mesmo ficar na empresa.

–Eu?! Nem morto…

–Hummm… Então, ouve bem isto... (Ele tirou um telemóvel do bolso e pôs qualquer coisa a tocar. O pior foi quando percebi que aquilo não era música nem nada, mas sim uma conversa entre mim e ele). É-É melhor passar esta parte à frente… (QUE PARTE?!!) É isto mesmo:

‘’- Isso mesmo, Len. Agora, diz. Diz que vais ficar.

– E-Eu vou ficar… Eu vou ficar no cargo.’’

–E posso repetir isto quantas vezes tu quiseres, Len.

–M-Mentira…

Por momentos fiquei congelado. Só de pensar que parte seria aquela que ele passou à frente, e que outras coisas eu tenha dito… Ele provavelmente vai usar isso tudo no futuro para me enterrar! Isto é mentira, não pode estar a acontecer!!....

–Como acho que ainda não percebes-te eu vou voltar a-

–JÁ PERCEBI! Mas porque você quer tanto que eu fique?! Existe muitas mais pessoas que precisam deste emprego e que certamente seriam muito mais adequadas!

–Acho que te devo uma explicação… Primeiro, tu já sabes do meu segredo porque vieste para este emprego, ou seja, se fores substituído e assim sucessivamente, cada vez mais pessoas vão saber e isso não favorece nada a empresa. E segundo, tu pareces uma rapariga (ele pega no meu rosto e olha-me de uma forma arrepiante…), de facto, vais ser muito úti-

–E O QUE ISSO TEM A VER?!

–Bem, como sabes, ‘’a’’ romancista terá de começar a ir a várias convenções, entrevistas e festas. Então, precisamos de alguém que se pareça com uma rapariga para poder se fazer passar por Akihiko Kurogami. E antes que perguntes, não pode ser a Alice ou outra funcionária da empresa pois já todos as conhecem. Também não pode ser uma outra mulher qualquer pois, uma mulher nestes casos não se iria conter e este segredo não iria durar… E para terminar, nós precisamos que te faças passar por Akihiko Kurogami. Vamos nos dar bem, Len!

–Vamos nos dar bem uma OVA!!!!!

Saí dali disparado para pedir explicações à Alice. Quando abri a porta para sair da casa dele, percebi uma coisa horrível… ELE VIVE NO MESMO APARTAMENTO QUE EU!

–MENTIRAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA! ( O Kurogami-san veio atrás de mim, e simplesmente cruzou os braços…)

–É verdade! Esqueci-me de te dizer. Somos vizinhos!

Porquê, porquê? Porque raios ele tinha de morar no meu apartamento?!... Já não bastava ser irmão do Yuki-san...

Depois desta confusão toda, corri dali para fora. Fui diretamente para a empresa, e cheguei lá num instante ( de tantas vezes corri para lá, já sei o que caminha de olhos fechados…)

–ALICEEEEEEEEEEEEE!!!

–Irmãozinho! Já sei da notícia! Ainda bem que vais ficar na empresa!! Estou muito orgulhosa!

–O Kurogami-san já me contou tudo…! Porque raios tenho de me vestir de mulher?! O único travesti aqui é ELE!

–Len… Provavelmente o Aki não te contou mas, ele não sai muito em público, mesmo para o dia-a-dia como uma simples pessoa. Ele não é muito bom em público, provavelmente… Eu sei que os nossos pais nunca estão por perto, mas eles também quereriam que estivesses com a tua irmã, já que eles não podem!

–Irmã… (As palavras dela comoveram-me um pouco…) Eu vou pensar nisto, primeiro vou falar melhor com ele. Com licença.

Pensei bastante sobre o que a minha irmã me disse. De facto, não me agrada nada o que tenho de fazer caso fique. Não me lembro muito do que se passou ontem, mas sinto que o Kurogami-san me disse algo importante…. Eu percebi que realmente me apaixonei pelas palavras daqueles livros que simplesmente não parecem deste mundo. Tudo naquele homem não parece deste mundo. Os seus olhos, o seu cabelo, o seu jeito de ser, e as suas histórias… são como se fossem reais. Como posso dizer…? Elas salvaram-me da escuridão do meu coração, de certa forma, com escuridão. Será que se eu sair, vou deixar aquelas belas palavras morrerem? Serei eu a fonte de luz para iluminar o meu próprio coração…? Sinto que aquele homem não emite a luz e sim a escuridão…….

À medida que ia avançando para fora da empresa, o meu corpo desgastava-se de uma forma inacreditável. Decidi ir para casar descansar e talvez amanhã nem vá para a Universidade…

Quando cheguei ao apartamento passei, eventualmente, pela casa do Kurogami-san , mas algo chamou-me à atenção. A porta deveria estar fechada… Quero dizer, nestes dias, acho que é um pouco estranho deixar a porta completamente aberta como ela estava. Decidi entrar para ver se se passara algo.

–C-Com licença. Está tudo bem, Kurogami-san?!

Eu chamei várias vezes mas ninguém respondeu. É verdade que eu não simpatizei muito com ele, mas comecei a ficar preocupado… Corri todos os quartos e só restava o dele.

– Kurogami-san?!?! EI, Kurogami-san, que se passa?! Aguente firme!

– Len…

Quando entrei, o Kurogami-san estava caído no chão. O quarto estava gelado mas quando lhe toquei, o seu corpo estava a ferver. Entrei em pânico porque nunca me tinha acontecido algo parecido e ele parecia ter perdido a consciência.

–Ei, EI, Kurogami-san, aguente firme!! (Eu peguei no meu telemóvel) Alice! É o Kurogami-san! Anda rápido!

A minha irmã chegou em poucos minutos. Levou logo o Kurogami-san para o hospital… Eu, claro, acompanhei-a, seria um pouco mau não ir também…

–Doutor é muito grave….?

– Izaya-san, não se preocupe pois não é nada de grave. Se esse menino não o tivesse encontrado seria muito pior! Ao que parece este homem perdeu a consciência devido ao cansaço e isso combinou-se com uma febre, provavelmente devido a correntes de ar.

Esperem… correntes de ar?! Não acredito… Não acredito que ele ficou assim por minha causa. Já por duas vezes esteve comigo no pátio e ainda não está propiamente calor. E ainda por cima ele é muito sensível nestas coisas… Sinto-me tão culpado… Tenho de me desculpar apropriadamente.

–Bem, por agora ele apenas precisa de descanso, daqui a três dias poderá receber alta mas mesmo assim deverá descansar por mais algum tempo. Já podem visitá-lo, agora, com licença.

A minha irmã teve um montão de tempo com ele. Eu fiquei cá fora, não queria ficar a servir de vela e ao me desculpar, prefiro uma conversa privada…

–Len, obrigado por tudo. Já está muito tarde, precisamos todos de descansar. Eu vou para casa, mas se ficares aqui mais algum tempo liga-me caso a situação mude, ok?

– Claro… Até manhã nee-san.

Ela saiu de imediato, parecia muito atarefada. Apesar de tudo, tenho muito orgulho nela… E acho que agora é a minha vez! Vou mas é despachar isto!

–C-Com licença…

– Len, porquê…?

– Q-Quero deixar bem claro que eu só vim para me d-desculpar! Afinal seria muito rude se não me desculpasse adequadamente à pessoa que ficou doente por minha causa. A culpa ia-me matar só isso!

–Hahahaha...

– O-O que foi isso…

–Não é nada. Apenas pensava que me odiavas, Len…

–Não… Sabe, eu estive a pensar um pouco e não precisa dessa gravação para eu ficar. Eu vou ficar porque quero. (Eu peguei na mão dele) Kurogami-san desculpe-me… Eu julguei-o mal, fiquei agindo feito um idiota e deu nisto. N-Não é que você seja uma má pessoa, mas…

Ele ficou especado a olhar para mim. O seu rosto apresentava nada mais, nada menos do que uma expressão totalmente rendida à situação.

–O-O quê?! Eu não sou assim tão horrível… Não precisa de fazer essa cara…

– (Ele sorriu e puxou os meus braços, fazendo-me cair sobre ele…) És realmente fofo quando ficas envergonhado, Len. (Ele voltou a puxar os meus braços, mas desta vez ele levantou a cabeça e seguiu na minha direção…) Len, eu acho… que te amo.

No mesmo momento em que ele acabou de dizer estas palavras, ele continuou e… beijou-me… UM HOMEM BEIJOU-ME! O MEU PRIMEIRO BEIJO!! MENTIRAAAAAAAAAAA!