Hey Brother escrita por Katara


Capítulo 4
Oh Father


Notas iniciais do capítulo

Bem, nesse capítulo vamos conhecer a família do pessoal, ficou meio grandinho, mas ainda dá pra ler :)

Oh Father - Madonna



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— Que horas você acha que são? — o homem sentado no sofá da sala pergunta quando Fernanda abre a porta da frente.

— Não sei, umas quatro, cinco ou no máximo seis da manhã — ela responde casualmente — o tempo é relativo e muda de lugar pra lugar.

— Hum — ele parece avaliar a resposta — e que horas são aqui no estado do Rio de Janeiro?

— Não sei — ela murmura sentando-se e jogando a bolsa no sofá.

— Você tem um celular? — ele pergunta sarcástico lutando para manter o tom de voz — Porque eu tenho quase que certeza absoluta de que eu comprei um celular pra você recentemente, um bom celular.

— Eu tenho — ela murmura notando o estado de espiríto do pai.

— Ele funciona? — o pai pergunta ainda tentando manter o tom normal.

— Sim — ela murmura novamente.

— Então me responda — ele iniciou — Por que você não atende, não manda mensagem, ou quem sabe vê as horas nele? — o homem grita.

— Me desculpe pai, mas... — Fernanda tenta argumentar.

— Me dê seu celular aqui — ele pede com a palma aberta.

Ela entrega imediatamente não querendo alterar ainda mais o pai já irritado. Ele pega o aparelho e observa por alguns segundos girando-o nos dedos.

— É um belo aparelho — ele examina de volta ao tom normal —, mas infelizmente não serve pra você — ele grita atirando o celular contra a parede, onde ele se quebra em dezenas de pecinhas — Sabe o que eu tinha hoje? — pergunta alterado.

— Não pai — ela responde trêmula com os lábios brancos.

— Uma reunião muito importante com um cliente muito fiel — ele rebate — Sabe o que esse homem faz?

— Não pai — ela responde porque sabe que o pai odeia quando ela só balança a cabeça.

— Ele é quem faz com que eu tenha dinheiro para comprar celulares de dois mil reais pra você — ele responde apontando para o rosto da garota — ele quem contrata meus serviços, pra que eu tenha dinheiro pra comprar essa roupinhas caras que você adora usar, e pra você pegar o cartão sempre que quiser para sair com seus amiguinhos, que você fez nessa escola que me tira vinte e quatro mil reais por ano — ele responde praticamente em cima dela — mas eu não reclamo, sabe por quê?

— Não pai — ela responde branca, mas sem lágrimas.

— Porque ele sempre volta, porque sabe que eu faço um bom serviço, mas o que acontece se eu me atrasar ou cancelar ou remarcar uma reunião? — dessa vez ele não espera pela resposta — ele vai pra outro mais barato, e ele nunca mais volta. A questão é, eu tenho um monte de gente que paga pelos meus serviços, um a menos não faz diferença, faz?

— Não sei pai — ela responde em um murmuro inaudível.

— Faz toda a diferença — ele grita — se um vai todos vão. Se sua mãe me faz ficar em casa para esperar uma filha adolescente ao invés de ir para uma reunião importante, todos vão embora e ficamos sem nada. Nunca mais faça isso, está me ouvindo? — Ele pergunta aos berros novamente.

— Sim pai — ela responde olhando para o chão.

— Ótimo — ele responde — agora vá para seu quarto, não quero mais vê-la pelo resto da semana.

— Como se você me visse durante a semana — ela murmura ao caminhar para o quarto.

...

Larissa entra pela porta da frente fazendo o maior silêncio possível, olha o relógio que fica ao lado da porta e suspira. Caminha com todo cuidado até o quarto e troca com a maior velocidade as roupas cheias de areia pelo pijama e deita na cama tentando controlar a respiração e acalmar o coração. Não se passam cinco minutos até que a porta é aberta por uma mulher com os mesmo cabelos loiros e lisos de Larissa.

— Vai se atrasar pra escola — ela grita sonolenta.

— Minhas aulas acabaram ontem — a garota responde tentando parecer sonolenta.

— É mesmo? — a mãe pergunta.

— Sim mãe, pode voltar a dormir — Larissa tenta parecer relaxada.

— Tudo bem — a mulher sai do quarto batendo a porta atrás de si.

Ela sai da cama, tira o pijama, liga a central de ar, o rádio e vai para o banheiro, toma um banho demorado com água quente, sai do banheiro e ruma direto para a cama, uma coisa não lhe sai do pensamento: aquele é o maior diálogo que tem com sua mãe em meses.

...

Lucas abre a porta tentando não fazer barulho, seus pais estão na sala assistindo TV e comendo torradas.

— Amor, você está vendo quem está entrando pela porta? — Sua mãe pergunta ao seu pai teatralmente.

— Não poderia ser nosso filho querida — o pai responde — ele não nos deixaria esperando preocupados, por uma noite inteira, ele não é de fazer isso.

— Sendo assim, eu acho que temos um intruso — sua mãe retruca sem olhar para Lucas.

— Não querida, esse é nosso novo escravo — seu pai responde.

— Escravo? — eles continuam com o teatrinho.

— Sim, escravo — o pai de Lucas continua — porque com a quantidade de trabalho que ele vai ter pra fazer durante o castigo, ele iria preferir a escravidão verdadeira.

— Pro seu quarto mocinho, agora — sua mãe se dirige a ele.

— E eu quero seu celular na mesa — o pai acrescenta.

— Você sabe que merece isso — a mãe dele continua.

— Sim, eu sei — ele responde de cabeça baixa colocando o celular em cima da mesa e se dirigindo para seu quarto.

Chegando lá ele sobe na parte de cima do beliche, mas não consegue dormir, em sua cabeça flashbacks do dia anterior explodem, as brincadeiras, os sabores, ele se sente feliz por ter amigos tão incríveis, quando chegou a escola não imaginava que alguém fosse querer ser amigo do garoto bolsista, no entanto eles o acolheram quase que imediatamente. Os rostos de seus amigos tomam a superfície de seus pensamentos, mas um rosto se destaca no meio de todos: Fernanda.

...

Nicolly respira fundo uma, duas, três vezes antes de abrir a porta lentamente. Imediatamente ela é recebida pelos braços dos pais que estavam provavelmente esperando-a do lado de dentro ansiosos. Eles rapidamente passam a examinar a garota da cabeça aos pés, tocar no cabelo, passar os dedos pela pele do rosto e dos braços.

— Onde você esteve? — Sua mãe pergunta conduzindo-a para a sala de estar.

— É uma longa história — Nicolly começa aliviada por seus pais estarem de bom humor —, mas o pessoal queria ir à praia, pra comemorar o fim das aulas... — mas seus pais haviam parado de ouvir em “praia”.

— Como assim Nicolly? — sua mãe pergunta irritada — você sabe das campanhas de Inverno, como pôde ir à praia pensando nisso. Eu bem que notei uma cor diferente em você, e quanto ao seu cabelo, sabe o que água salgada faz com ele, além do que, você perdeu uma noite inteira de sono, vai ficar cheia de olheiras. E você foi sem nossa permissão, isso deve ter sido coisa do tal Rafael.

— Ele não tem nada a ver com isso — ela tenta responder, mas seus pais não dão tempo.

— Tem certeza? — Seu pai pergunta — ultimamente tudo que você faz é por culpa dele, até essa rebeldia para ir a Seattle.

— Eu já falei que vou — ela responde desesperada.

— Depois de nós a ameaçarmos — seu pai contrapõe.

— Não é culpa dele — ela tenta novamente — todos queriam ir.

— É por isso que estamos pensando seriamente em tira você daquele colégio — sua mãe exclama.

— Vocês não podem fazer isso — Nicolly responde quase chorando.

— Você não nos diz o que podemos ou não podemos fazer — Seu pai grita.

— Querida — sua mãe abraça seus ombros tentando parecer solidária — pense que é o melhor pra você, pra sua carreira, se afastar dessas más influências, focar em si mesma.

— Não — ela responde engasgada.

— Nós sabemos o que é melhor pra você — sua mãe rebate se levantando — e no momento o melhor é focar na carreira, terá tempo pra amigos, e quem sabe namorados quando já for uma modelo de prestigio, renomada.

— O acordo é que eu vou para Seattle, contando que me deixem namorar o Rafael — ela tenta desesperada.

— Acordos podem ser refeitos — sua mãe responde ainda parecendo solidária.

— Isso não é justo — Nicolly se sobressalta.

— Mas é a vida — sua mãe encerra a conversa.

...

— Casa da namorada? — o pai de Ian pergunta ao vê-lo entrar em casa.

— Não — ele responde parando na porta.

— Imaginei que não — ele retruca se servindo de mais conhaque — sabe, conhaque é uma boa bebida, você concorda comigo?

Ele balança a cabeça afirmativamente.

— Sabia que concordaria comigo — o pai sorri — mas esse conhaque é especial, vem da destilaria do seu avô. Seu avô sempre me disse:“Você pode ser um merdinha sua vida toda, ou pode me impressionar, mas não espere que eu ajude você nisso”, muito sábio ele — seu pai ri com a lembrança — e sabe o que aconteceu com ele? Ele morreu sozinho, o último desejo dele foi o de que eu não tocasse em um centavo da sua fortuna, infelizmente esse foi o desejo que eu não pude cumprir. Agora me diga, você se sente mal com isso?

Ele balança a cabeça negativamente.

— Eu também não me sinto, já havia feito minha fortuna no Brasil, mas eu queria mais, transformei sua pequena plantação em muito mais, agora me pergunte — eu deixei meu pai orgulhoso? — ele espera um pouco, mas grita ao ouvir o silencio — Pergunta!

— O senhor... hum... deixou seu pai orgulhoso? — ele gagueja.

— Não, não o suficiente — o pai responde satisfeito — mas eu achei que nunca passaria por esse desgosto. Sabe filho, eu já tive decepções, mas você... você Ian, eu odeio, odeio, odeio dizer isso, mas você é uma decepção diária. Não pratica nenhum esporte, não é popular, a única coisa que deveria restar seria a Inteligência, mas como sempre você me desaponta.

— Eu não sou impopular, tenho amigos, uma namorada bonita... — ele tenta se impor.

— Essa é a pior parte. — seu pai sussurra — Você não tem capacidade de ser bom em algo, você anda por aí feliz em ser um acessório, contente por ao menos fazer parte do grupo. Você não se impõe, você é fraco, e me envergonha. Vá para o seu quarto.

Ian obedece com os punhos cerrados.

...

— IDIOTA! — Becca grita quando o irmão se atrapalha e cai no meio do corredor derrubando um vaso ridículo, mas muito barulhento.

— Me desculpe — ele pede em um sussurro, mas o estrago já foi feito.

— Pai — Becca parece assustada ao ver a imagem de roupão, com uma garrafa de vodca nas mão surgir.

— Oi crianças — ele parece surpreso e tenta esconder a garrafa atrás das vestes, mas se atrapalha e derruba o outro vaso quebrando-o também — eu não estava bebendo, eu sei que pode parecer que eu estava, mas na verdade, eu estava só levando isso pra sua mãe.

— Claro pai — Becca muda completamente o tom de voz, passa a voz da garota doce, de cabelos loiros e laços que um dia ela fora — Vamos, eu te levo pra cama.

Ela pega o pai pela cintura pelo labirinto que é a casa até o quarto limpo recentemente, mas que ainda tem cheiro de dor, traição, lágrimas e álcool, o quarto onde tudo aconteceu. Seu pai se recusou a mudar a mobília ou a roupa de cama, tudo estava do jeito que ela deixara, suas fotos ainda enfeitavam as paredes, seus falsos sorrisos ainda enchiam Rebecca de náuseas.

— Vamos pai, se deite — ela pede gentilmente e ele se deita, como uma criança. Ela pega a garrafa de suas mão e ele entrega com certa relutância — Boa noite papai. Eu amo você — ela sussurra beijando a testa do pai.

— Eu também amo você princesa — seu pai responde.

Ele dorme instantaneamente. Rebecca fecha as cortinas enquanto Rafael a observa em silêncio, aquele é o segredo deles, que eles guardam a sete chaves. Enquanto as contas forem pagas e as diárias dos empregados feitas, ninguém desconfia. Rebecca sai do quarto silenciosamente e Rafael fecha a porta atrás dela, ela volta para o corredor com a garrafa ainda nas mãos. Balança um pouco, para ouvir o chacoalhar, sentir o peso, e então a joga contra a parede quebrando o vidro em mil pedaços, impregnando a casa com o cheiro de álcool, ela apoia as costas na parede e desliza para baixo lentamente, abraça seus joelhos e apoia a cabeça, Rafael se senta ao seu lado e põe um braço protetor em suas costas, e ela sabe sem a necessidade de palavras, o que isso significa.


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Notas finais do capítulo

E então? Comentem se se sentirem a vontade!