Queimada escrita por Beatriz Dionysio


Capítulo 1
Uma nova história


Notas iniciais do capítulo

História nova, espero que gostem.



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- A uma vida nova! – Hanna sorria com seus próprios pensamentos, enquanto levantava sua taça.

Nunca pensei em como minha vida seria, nunca me imaginei fazendo o que estava prestes a fazer. Tenho certeza de que mamãe e papai estão se revirando em seus túmulos neste exato momento.

- A uma nova história! – disse, levando minha taça de encontro a dela.

Minha irmã e eu erámos assim, tão parecidas quanto a noite e o dia, enquanto ela se preocupava com coisas como a faculdade ou livros, eu me divertia em festas e desperdiçava meu tempo com garotos das quais nem me preocupava saber o nome.

- O que acha que eles pensariam disso tudo? – ela não precisava dizer, eu sabia a quem ela se referia. Joanna e Brandon Ryder, nossos pais, mortos por estarem no lugar errado, na hora errada.

- Tenho certeza de que tentariam nos impedir, papai provavelmente citaria as diversas doenças que poderíamos contrair enquanto mamãe se acabaria em lágrimas.

Hanna sorriu, como se imaginasse a cena. Ela era linda, com seus belos cachos castanhos claros e olhos verdes. Mas seu sorriso era o motivo de muitos corações partidos por toda a São Francisco. Enquanto ela parecia uma boneca de porcelana, eu me sentia como uma cria do Chuck. Meus cabelo era uma confusão de tons loiros avermelhados, mas eu gostava assim, gostava da bagunça em mim, de minhas roupas rasgadas e largas, minhas tatuagens e meu jeito estranho de ser, mesmo que isso contribuísse para espantar algumas pessoas.

- Mesmo com tudo isso, com a loucura de viajarmos pelo mundo, sei que eles estariam orgulhosos. – esta era minha irmã caçula, sempre vendo o bem, mesmo quando eu não era capaz de vê-lo.

Assenti, sabendo que orgulho não era algo fácil de se conquistar, muito menos de pessoas como nossos pais.

Duas horas depois estávamos no aeroporto, prontas para nosso embarque. Hanna estava radiante com um sorriso bobo em seu rosto. Tomando minha mão na dela, ela sussurrou antes de caminharmos para o portão.

- Tudo ficará bem.

...

Quando finalmente pousamos em Dublim Hanna praticamente correu para fora do avião. Até mesmo o ar aqui parecia diferente.

Era refrescante estar em outro lugar, sentir novos ares, ver novos rostos...Em minha própria distração, acabei trombando em algo, ou alguém para ser mais especifica. Um cara me estudava com seus grandes olhos azuis por trás de seus óculos.

- Sinto muito, senhorita.

- Não foi nada, sou eu quem lhe devo desculpas. – falei, sorrindo para ele.

- Hailey?

Desviando minha atenção para Hanna, a vi acenando perto do que parecia a cafeteria do Aeroporto. Virei-me para dizer adeus ao garoto, mas ele já havia sumido no meio da multidão de corpos.

...

- Por onde começamos? – minha irmã estava tão eufórica que nem mesmo se importou em desfazer “suas malas” quando chegamos ao hotel, ou com o fato de que já estava quase anoitecendo.

- Que tal dormirmos um pouco?

Eu não estava assim tão cansada, mas...

- Que tal tomarmos um banho e saímos para beber algo, explorar um pouco?

Seus olhos verdes brilhavam, ela toda brilhava em sua felicidade, não havia como dizer não a ela.

- Saímos em vinte minutos.- respondi, sendo recompensada com um beijo estalado na bochecha.

...

- Tem certeza de que este é o lugar?

- Sim, o cara que carregou nossas malas disse que este era um dos melhores pubs daqui.

Aquele não parecia apenas um pub normal, não com os seguranças que bloqueavam as portas e a música que explodia pelas paredes.

- Olá, nós estamos...

Um dos seguranças, sorriu exibindo seus dentes de ouro, o que apenas fez com que a cicatriz que cruzava o lado direito de seu rosto o deixasse ainda mais horrendo. Estremeci com a visão, pensando em meus próprios fantasmas.

- Americanas?

Seus olhos passearam por mim e minha irmã, como se ele estivesse faminto e nós fossemos um banquete de Natal, o que me assustou e fez com que eu desejasse estar usando algo mais do que um simples vestido verde e sandálias de salto.

- Sim. – respondeu Hanna, também desconfortável com a atenção que estávamos recebendo. Os sorrisos dos homens aumentaram e como naqueles filmes bizarros, eles se olharam e assentiram como se estivessem se comunicando silenciosamente e então nos deixaram passar.

A primeira coisa que notei foi a multidão de corpos em uma dança frenética. Isso definitivamente não era um pub, estava mais para uma boate ou algo do tipo, com certa dificuldade conseguimos encontrar lugares no bar.

- Duas dozes de tequila, por favor. – pedi ao barman que não tirava seus olhos de Hanna.

Homens, era quase impossível que não fossem afetados pela beleza dela.

- A recomeços! – brindamos.

Depois de mais algumas dozes, minha irmã e eu estávamos altas o suficiente para dançar junto dos outros corpos na multidão. A noite estava maravilhosa, enquanto requebrávamos ao som da batida das musicas.

- Hale?

- Sim?

- Cara de camiseta preta, a sua esquerda, encarando a mais tempo do que devia. – Hanna sorria, olhando para o tal cara atrás de mim. Como manda o protocolo, não olhei de imediato, girei em meus saltos para que parecesse que estava apenas dançando e encontrei aqueles olhos azuis novamente. O cara do aeroporto.

Ele sorria, como se me convidasse a me aproximar, e foi o que fiz.

- Olá estranho. – falei, sorrindo.

- Senhorita. – ele tomou minha mão direita, beijando a sua parte inferior.

- Minha irmã acha que você é um perseguidor ou algo do tipo. Sabe, por encarar mocinhas indefesas. – brinquei, rindo. Amanhã eu culparia o álcool.

- Algo tão belo deve ser admirado, sinto muito se pareci rude. É um grande prazer conhece-la...?

- Hailey Ryder.

- É um prazer conhece-la Hailey Ryder.

Os olhos dele tinham um tom frio de azul e...

- Ei, Hale, preciso de outra bebida. – minha irmã, sempre em seu time perfeito.

Sim outra bebida!

- Nós acompanha...?

- Joshua. – ele respondeu, sorrindo.

Mais algumas dozes e eu estava tonta o suficiente para sentir o arrastar das palavras que saiam de meus lábios. Hanna não parecia tão diferente quando saiu cambaleante para o banheiro.

- Vocês são da onde?

- São Francisco. – São Francisco, um ótimo lugar para se viver quando...

- Seus pais? Namorados, noivos?

- Meus pais estão mortos, e não sei se notou, mas não faço o tipo que namora. – namoros eram coisas de outro mundo para mim, durante tanto tempo venho evitando pessoas e qualquer tipo de relacionamento que ás vezes temo não saber me portar em meio as pessoas. – Somos só Hanna e eu.

Hanna estava demorando o que começou a me preocupar, minha cabeça também doía muito, acho que era hora de voltarmos para o hotel. Deus sabe o que pode acontecer a duas garotas estrangeiras bêbadas. Cambaleante, levantei dizendo que ia até o banheiro chama-la.

O banheiro fedia a urina, cigarro e mofo. – Hanna?

Uma a uma, abri as portas dos boxes, mas não a encontrei. O pânico começou a tomar conta de mim, onde diabos estava minha irmã?

Em meu desespero, tropecei, derramando todo o conteúdo de minha minúscula bolsa no chão, bufando agachei-me para apanhar... Ou tentei, já que de repente eu estava sendo agarrada por trás, alguém puxava meus cabelos e prendia meus braços, tentei gritar, mas foi inútil. Com uma mão meu agressor pressionou algo contra meu nariz, o cheiro era tão forte, lágrimas brotaram de meus olhos antes que eu me entregasse a escuridão.

...

O barulho da cama e a pressão em cima de mim me despertaram.

O vai e volta era constante enquanto eu tentava inutilmente abrir os olhos. A sensação de não poder abrir os olhos, de permanecer na escuridão mesmo quando já se esta acordada de certa forma, era terrível.

Eu podia ouvir os sons dele, eu podia senti-lo dentro de mim.

As lágrimas escorriam por minhas bochechas enquanto eu pensava em Hanna, mas isso era tudo, não havia nada a ser feito.


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Notas finais do capítulo

Review?