–Eu decidi ficar? - O mundo começou a girar um pouco mais para a direita do ponto de vista de Emma.

–Sim, por isso estamos devolvendo seus animais... Bom dia, Mulan! - Regina acenou para uma moça chinesa, de pele bronzeada e longos cabelo negros, usando botinas, calça jeans, camisa xadrez azul e um colete preto por cima; que trazia duas galinhas amarradas pelos pés.

–Bom dia, prefeita! Bom dia, Emma! - Ela retribuiu soltando as galinhas e caminhando de volta por onde veio.

Emma acenou sem nenhuma lembrança de ter se apresentado à aquela moça.

–O que aconteceu ontem a noite? - Emma cobriu o rosto com as mãos tetando conter uma certa dor de cabeça.

O sorriso no rosto da prefeita se desfez, agora ela parecia até um pouco constrangida.

–Você não se lembra? - Seu tom de voz era triste.

Emma sacudiu a cabeça negativamente, ainda cobrindo o rosto, um tanto envergonhada.

–Bem, - Ela respirou fundo, assumindo uma postura mais formal. - eu te apresentei algumas pessoas da cidade, amigos dos seus pais... você ouviu algumas histórias, comeu pizza, disse que era e melhor pizza do mundo... que não tinha nada te prendendo em Boston e que adoraria ficar pra comer pizza conosco todos os dias... combinamos de trazer seus animais de volta e te ajudar no começo... e depois eu te trouxe pra cá e... Está passando mal?

–Um pouco... - Emma foi se encolhendo até deitar no chão.

Regina olhou em volta. Deixou Relâmpago pastando e caminhou até o poço ao lado da casa. Puxou um balde de madeira cheio de água e levou até onde Emma estava. A loira estava deitada de costas sobre a grama, com o rosto franzido e os olhos fechados. Regina prontamente despejou toda a água do balde sobre o rosto de Emma, que se contorceu de susto.

–Bom, - Regina jogou o balde pro lado. - todos da cidade estão contando com você para reerguer esta fazenda, não nos desaponte.

A prefeita montou no cavalo e saiu galopando, deixando uma Emma molhada e confusa no chão da fazenda. A loira tentava secar o rosto e o cabelo com a camiseta, que estava igualmente molhada. Ainda não tinha nenhuma lembrança da noite anterior, mas o banho que Regina lhe dera amenizou a dor de cabeça, talvez a mulher tivesse de fato boas intenções... Agora seus olhos podiam enxergar confortavelmente a moça chinesa voltando com mais duas galinhas, se aproximando.

–Hey! - Ela cumprimentou, se abaixando perto de Emma.

–Hey... Desculpe, eu não lembro seu nome... - Emma se endireitou para conversar.

–Meu nome é Mulan, minha família cria galinhas na fazenda aqui perto. - Ela soltou as galinhas e estendeu a mão. - Bebeu demais ontem?

Emma fechou os olhos por um momento, se sentindo envergonhada. Se recompôs e apertou a mão de Mulan.

–Para dizer a verdade, não lembro nem o que bebi...

Mulan sorriu e se levantou, puxando Emma pela mão. Graças a ajuda, a loira estava de pé novamente, e se sentia capaz de continuar assim.

–Chama-se "lobisomem". - Mulan informou.

–O que?

–O que você bebeu ontem. Receita secreta da vovó.

–Obrigada, agora já sei o que nunca mais pedir.

–Haha... Suas galinhas estão entregues, se precisar de alguma coisa...

–Na verdade... - Emma se adiantou. - Eu não faço a menor ideia do que fazer com elas...

–Oh... você as põe no galinheiro, - Ela apontou uma casinha de madeira depois do poço. - alimenta e pega os ovos. Ainda tinha um pouco de milho lá quando vim buscar as galinhas, só pegar um punhadinho e jogar no chão uma vez por dia. Os ovos você vende ou come. As galinhas também. - E sorriu.

–Hum... Okay, parece simples...

–Se precisar de alguma coisa, estarei logo ali, - Apontou uma direção. - na Granja Imperial.

–Obrigada!

Mulan se despediu e deixou a fazenda. Emma estava se sentindo mais animada apesar do frio das roupas molhadas. As vacas, as galinhas e o cavalo pareciam bem, pastando pela fazenda. Ver os animais ali fazia o lugar parecer mais vivo, dava um certo conforto. Talvez fosse bom tomar um banho de verdade e começar o dia. Que mal faria cuidar dos animais um pouco?

De volta à casa, entrou e sentiu o cheiro abafado de novo. Abriu algumas janelas e deixou as roupas molhadas ali perto para secarem, incluindo seu novo boné azul. Foi então explorar o banheiro e suas funcionalidades; o chuveiro não era grande coisa, e a água não esquentava tanto quanto gostaria. Conformou-se com o banho insatisfatório e se enrolou numa das toalhas que estavam penduradas ao lado do box. Escovou os dentes, penteou o cabelo e saiu. No quarto, abriu o armário em busca de roupas mais apropriadas ao ambiente. Como não eram suas, não vestiam tão bem; felizmente conseguiu se acomodar em um macacão azul jeans, uma camiseta branca, e as botas de fazenda jogadas ali do lado até que ficavam confortáveis com uma meia mais grossa. Terminando de se aprontar, Emma foi interrompida pelo ronco de seu estomago. Foi até a cozinha rever seus suprimentos. Encontrou a luz do sol torrando a toalha de mesa e seu cavalo bebendo água da pia pela janela, não tinha certeza de como espanta-lo...

–Bom dia!

Alguém chamou, e em seguida bateu na porta. O barulho fez o animal recuar, dando a Emma oportunidade para fechar a janela e a pequena cortina. Com a cozinha segura, foi ver quem era. Ao abrir a porta se deparou com a garçonete que a servira na noite anterior, agora trajando roupas menos reveladoras, botas pretas de caminhada, calça jeans, camiseta regata branca e uma camisa xadrez vermelha por cima, as mangas dobradas até o cotovelo, exibindo uma serie de pulceiras.

–Bom dia. - Emma respondeu.

–Eu não me apresentei formalmente ontem, sou Ruby. - E estendeu a mão. Emma cumprimentou. - Estarei recolhendo a produção da sua fazenda nos dias úteis, o que for vender é só deixar naquela caixa ali - Apontou um baú de madeira um pouco à frente da casa. - e eu deixo o dinheiro na sua caixa de correio, ou onde quiser... Eu venho por volta das cinco da tarde...

Emma começou a sentir certa responsabilidade, aquelas pessoas realmente estavam esperando que ela cuidasse da fazenda e fizesse parte da comunidade. Como reagiriam se ela não atendesse as expectativas? E que obrigação ela tinha de atender?

–Ah, sim, eu... provavelmente não terei nada para entregar hoje...

–Ah, claro, você deve estar reabastecendo a geladeira, logico...

–Na verdade... - Emma ficou sem graça. - Eu ainda não fiz nada hoje.

–Oh... - Ruby parecia surpresa. - Você... quer ajuda? Eu me lembro o que costumava ser produzido aqui...

–Eu adoraria... - Emma não se sentia confortável aceitando ajuda de estranhos, mas não tinha muita opção.

–Okay... - Ruby olhou em volta. - Se você capinar ali deve encontrar alguma coisa plantada...

A garçonete revirou o mato baixo e puxou uma batata da terra.

–Ahá! Tem mais algumas aqui, você puxa e põe na caixa assim. - Ela demonstrou. - Eu não entendo muito de cultivo mas deve ter livros na biblioteca... agora, as vacas.

Ruby tirou duas garrafas de vidro de dentro da caixa de coleta.

–Me acompanhe. - Ruby chamou.

Emma seguiu Ruby enquanto a moça guiava as vacas para dentro do celeiro.

–Ai você põe comida para distrai-las... - Ela despejou a ração no... lugar de ração lá* - e ordenha. O leite vai pra essas garrafas. Você pode por na geladeira, ou na caixa de coleta pra eu buscar. Tenta!

Depois de muito esforço e incentivo, Ruby conseguiu ensinar à Emma o complexo processo de ordenhar uma vaca corretamente. Não que ela tenha aprendido tudo certinho de primeira, mas era só o primeiro dia.

–As galinhas não tem muito segredo, - Ruby continuou sua aula. - você pega os ovos e tenta não levar uma bicada! - Ela disse rindo.

–Sim, a... Mulan explicou! - Emma sorriu de volta.

–Hum... tem mel também, naquela arvore... - Ruby se apressou até uma arvore solitária ao lado do laguinho, tinha um buraco no tronco. - Presta atenção, tem uma colmeia enorme dentro dessa arvore. E tem uma garrafa aqui dentro que pinga mel da colmeia. Não sei como seus pais fizeram isso, mas a garrafa enche de mel, e você põe outra. Se você cuidar bem dessas flores aqui em volta, a colmeia produz melhor e a garrafa enche mais rápido.

–Nossa, eu nunca ia adivinhar... - Emma não havia reparado nem nas flores naquela parte da fazenda, quanto mais no sistema de coleta de mel dentro da arvore.

–Acho que é só isso... - Ruby olhou o relógio de pulso. - Quase meio-dia, quer almoçar?

–Aceito, - Emma se lembrou que nem tomara café da manhã. - onde?

–No restaurante da vovó, o bar que você esteve ontem a noite. De dia é "Restaurante de Vovó", de noite é "Bar do Lobisomem".

–Ah, haha... - Emma riu e foi caminhando com Ruby na direção da estrada. - Só um minuto.

A loira correu pra dentro da casa, fechou as janelas e saiu trancando a porta, agora, com seu boné azul na cabeça.