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– Nós temos que pegar aquele livro. – Digo aos dois que estão sentados à minha frente sem prestar a menor atenção. Anne estava quase dormindo sentada enquanto Henry folheava um livro. Eles podem ser diferentes em muitas coisas, mas de uma coisa eu tenho certeza: Se ignorar a Gwen fosse uma disciplina, os dois estariam com 10.0. – Não é Henry?!

– Hã? É! Claro! – Ele olha meio confuso para mim. – Do que nós estamos falando mesmo?

– Aaaah! Isso é sério gente! – Já estou ficando sem paciência. – Já estou cansada de falar para os meus pais que o livro que meu tataravô escreveu tem me ajudado muito nas aulas!

– O quê você pretende fazer então? – Pergunta Henry, enquanto Anne agora dormia sentada. Não tenho certeza, mas acho que ela está babando.

– Anne! – Chamo atenção da loira. Ela tem estado tão estranha durante o semestre. Ela dorme durante as aulas e fica meio estranha quando nós falamos sobre sonhos ou livros. Ela acorda atordoada.

– Hã? O quê? Quando? Onde?

– Continuando... Quero tentar invadir a sala do Stonem e pegar o livro. Não posso chegar em casa nesse meio tempo sem aula sem o livro. Meus pais acham que eu ainda estou com ele! E daqui a dois dias, a gente estará em casa. Eu preciso do livro.

– Invadir?! – Perguntou Anne perplexa limpando a saliva do rosto.

– Você é nojenta Anne. – Brincou Henry. – Sério, por que você tem dormido tanto em horas... Erradas?

– Nada, seu babaca – Anne disse se levantando ofendida e saindo da sala.

–Obrigado Henry. Agora somos só nós dois.

***

Chegou o grande dia.

Henry e Anne não tem se falado muito desde então. Hoje era a ultima prova do semestre. Amanhã, arrumaremos as malas e voltaremos para casa cheios de histórias para contar. Mas para isso, eu preciso da droga do livro!

Olho para Henry pouco antes de entregarem a nossa prova de “Pequeno mágico” – Não me pergunte o porquê do nome – e ele assente com a cabeça. Em nosso código que criamos faz alguns minutos, isso significa “to dentro”.

Faço a prova calmamente. Tenho dificuldade em algumas questões, mas não adianta nem eu pensar em cola, pois – por coincidência – professor Stonem jogara o feitiço anti-cola. Droga, só por que estou sentada atrás da Meredith.

Chuto uma questão aqui, outra ali. Acho que todos fazem isso. Meredith se levanta e entrega a prova. Daniel, Dylan... Em questão de minutos, só estavam na sala cerca de dez alunos de todas as turmas de primeiro ano da escola. Henry já havia saído.

Olho as paredes, na esperança de um “é a letra C” apareça ali. Mas isso não deu muito certo. Sinto-me humilhada por estar com dúvidas em uma disciplina que se chama Pequeno Mágico.

Resolvo chutar, pois se demorar muito ali, não vai dar tempo de pegar o livro. Mando logo a letra A, de amém, a única coisa que pode me salvar nessa prova é um milagre.

*Dicionário de chutes da tia Gwen*:

– A = Amém. Quando usar – Quando não usar C

– C = Certo. Quando usar – Quando não usar A

– E = Errada. Quando usar – NUNCA.

Agora que já te ensinei como chutar em uma prova objetiva, vamos voltar para a história. Chuto as questões cujas não consigo me lembrar, ou seja, quase todas.

Devia ter dado mais atenção para está disciplina, mas o nome é tão ridículo que não dá para levar a sério. Entrego a prova ao professor, largando alguns alunos para trás.

Passo pelos corredores até chegar à escada ao lado da sala do Stonem. Henry está escorado na parede com fone de ouvidos e examinando atenciosamente cada detalhe de sua varinha. Ele olha para mim saindo de seu mundo da lua.

– Pronta?

– Sim. - Digo séria. Estou com muito medo de sermos pegos.

Andamos "calmamente" até a sala do professor. Ao chegarmos lá, encontro a porta feita por uma madeira escura e uma maçaneta de ouro entreaberta.

Henry estava para entrar quando o empurrou para trás.

– Shhh! Tem alguém aí - Murmuro para ele.

Olho pela fresta da porta e vejo cabelos lisos e loiros. A menina se vira de lado e posso ver seus olhos azuis. Annelise!

Abro a porta com toda a minha força e ela quase cai para trás de susto. Estou com muita raiva. Do nada está lá ela, mexendo nas coisas do professor. Ela poderia ter muito bem ter estragado nosso plano.

– Anne! O que você está fazendo aqui agora?!

–Eu quem perdi seu livro, então achei justo que eu tivesse que pegá-lo de volta.

– Você já achou o meu livro? – Começo a me acalmar, afinal, ela só queria ajudar.

– Ainda não, mas tenho quase certeza que está em uma dessas duas gavetas. – Diz ela apontando para duas gavetas, uma do lado direito da estante e a outra do esquerdo. – As duas estão trancadas.

– Me deixa ver. – Ando até a mesa e dou a volta na mesma.

Paro por uns dois minutos, pensando em algum feitiço que poderia usar para abri-las, e... Eureca!

Recito as palavras de um feitiço bastante conhecido:

– Alohomora! - A gaveta sai voando pela sala. Anne abaixa a cabeça e a gaveta acerta a parede, deixando uma marca.

Uffa! Acertei a gaveta. Lá estava meu livro, intacto, exceto por algumas páginas amassadas nas pontas!

Coloco a gaveta de volta ao lugar, tirando antes meu livro. Nesse meio tempo escuto passos.

– É ele! – Avisa-nos Henry. Stonem está vindo.

– Corre Henry! – Ordeno ao menino que em segundos não se ouvia mais seus passos. – Arranja um esconderijo! – Digo à Anne.

Vou para trás de umas caixas e Anne se esconde atrás de um pequeno armário branco. Ela poderia até se camuflar ali. Antes que ele chegasse, lanço um feitiço na porta:

– Colloportus! – A porta se tranca imediatamente.

Segundos em silêncio até que ouvimos gritos.

– Ei, seu moleque! DEVOLVA MINHAS CHAVES! – “Valeu Henry”, penso eu.

Destranco a porta com o mesmo feitiço que uso para abrir a gaveta e junto à Anne saio discretamente, enquanto Stonem ainda persegue Henry.

É, nós somos um trio e tanto!