A Razão do Rei escrita por Andy


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Olá, leitores mais lindos do mundo! Como vocês estão? ^^
Então, aqui estou eu... Com o PENÚLTIMO capítulo da fanfic! Oh my Lord...!
Bom, só tenho a agradecer a todos que estão aqui até agora. Estarei ansiosa esperando pelos comentários de vocês... Já vou falando logo que não me sinto nem um pouco segura escrevendo cenas de ação. Mas espero que o capítulo atenda às expectativas.
E antes de ir, gostaria de deixar meu agradecimento mais que especial à Lia! Obrigada pela recomendação! Fiquei muito tocada por saber que mesmo não costumando fazer isso, você fez questão de comentar minha fanfic. Obrigada! É muito bom saber que você está aqui, me acompanhando nessa jornada. Muito obrigada mesmo pelo carinho! ^^
Por falar nisso, essa foi a 10ª recomendação da fanfic! Eu nem estou acreditando nisso! Nunca que eu iria imaginar, quando postei o primeiro capítulo, que "A Razão do Rei" se tornaria uma fanfic tão querida assim. Obrigada a todos vocês que participaram e participam desse sucesso! ♥

OBSERVAÇÃO: Ei, não acabou ainda! Eu disse "penúltimo"! Ahaha! Pelos comentários, agora que fui que minha mensagem soou como despedida... Mas ainda tem MAIS UM capítulo semana que vem, ok? ^^"" Hahaha!



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– Esse colar... Essas gemas... Syndel! – ele estendeu a mão, tocando o pescoço dela, imaginando. – Agora... Por direito... Eles são seus, Syndel!

– O quê? – ela sussurrou.

– Ha! Agora tudo faz sentido! – a voz veio da porta da sala do tesouro.

Os dois elfos se viraram de uma vez, alarmados. Parado à porta, trajando uma armadura negra que o vestia dos pés à cabeça, ocultando até mesmo seus olhos, estava o Rei Bruxo de Angmar. Thranduil ergueu a espada imediatamente, colocando-se à frente de Syndel. Ela buscou uma flecha na aljava e apontou para a cabeça do inimigo, onde supostamente estaria o centro de seus olhos. Ele riu e sua risada sinistra ecoou por toda a sala.

– Então é por isso que os elfos verdes se juntaram à batalha... Como vocês descobriram que Aglartur estava aqui? – ele fez uma pausa. – Não importa. E nem como entraram aqui.

Syndel disparou a flecha. O Rei Bruxo fez um movimento com a mão e um vento fortíssimo partiu a flecha ao meio e fez espalharem-se moedas e gemas por todos os lados. Sem dizer uma palavra, ele deu as costas e pareceu flutuar acima do solo, se distanciando, passando pela porta...

– Covarde! – Thranduil gritou e se adiantou atrás dele.

– Thranduil! – Syndel o seguiu. – Nós devíamos... Nós não podemos...!

– Vá e procure uma entrada para os outros! Eu vou atrás dele!

– Eu não vou a lugar algum sem você!

O espectro, servo de Sauron, se distanciava à frente, enquanto os elfos corriam atrás dele. Por onde ele passava, as chamas verdes se apagavam, e uma escuridão infinitamente densa tomava conta de tudo atrás deles. Ainda que Syndel quisesse voltar, certamente não encontraria o caminho. A única escolha que tinham era continuar seguindo o Rei Bruxo.

A cada vez que uma chama se apagava, o inimigo desaparecia por alguns segundos, antes de reaparecer sob a luz de uma nova tocha no que parecia ser um corredor infinito. De repente, porém, ele desapareceu e não tornou a emergir das sombras e Thranduil e Syndel se viram envoltos em trevas. Ela segurou o braço dele, para não perdê-lo.

– Eu não tenho tempo a perder com ratos como vocês... – a voz sinistra ecoava e parecia estar por toda a parte, cercando-os, penetrando suas mentes, falando de dentro deles. – É uma pena que não vão sobreviver... Eu adoraria mandar uma mensagem a Oropher Verdefolha... Mas vocês... Vocês vão... Queimar!

De súbito, um fogo alaranjado, fortíssimo, tomou conta do lugar. Thranduil puxou Syndel para baixo, fazendo-a deitar-se no chão bem a tempo. Uma chama passou sobre as cabeças deles. Os dois elfos se puseram de pé. Estavam num lugar pequeno, uma sala quadrada feita de pedra, de teto alto. Em cada parede havia uma porta, exceto naquela que estava atrás deles. A porta do lado direito estava fechada. As tochas das paredes haviam sido acesas pelas chamas. Eles olharam para cima. Não havia sinal do Rei Bruxo, mas dependurando-se no teto estava um dragão negro, comprido e sem asas. Ele era muito pequeno para um dragão, mas pareceria uma cobra gigante, não fosse pelas patas e pela maneira como as escamas se arriavam em sua cauda.

A fera pulou sobre eles, que saltaram para fora de seu caminho. A luta contra o dragão teve início. Thranduil tentava como podia acertar golpes entre as escamas, mas era dificílimo. Syndel mirou nos olhos da fera e a certa altura da luta conseguiu deixá-lo cego de um olho. Mas isso só serviu para provocar mais a fúria da besta, que se voltou contra ela. Thranduil se pôs à frente dela e acabou ferido no ombro.

O dragão, ao que parece, era apenas um filhote. Mesmo assim, ele deu muito trabalho aos dois elfos, como era de se esperar, e a batalha durou um longo tempo. No entanto, como tinha de ser, pouco a pouco Thranduil e Syndel pareceram começar a ganhar vantagem sobre a fera.

De seu esconderijo nas sombras, o Rei Bruxo observava a tudo isso com grande insatisfação. Por fim, decidiu acelerar um pouco as coisas. Com um estalar de seus dedos, uma corrente surgiu e prendeu um dos braços de Thranduil à parede.

– Mas o quê...? – o elfo reclamou. A fera se atirou sobre ele, e por pouco ele conseguiu se defender, embainhando a espada e erguendo o escudo com a mão livre. Do alto, o Rei Bruxo se divertia assistindo, completamente alheio à batalha que se travava do lado de fora de sua fortaleza. Sentia-se perfeitamente seguro em sua grande Angmar.

– Thranduil! – Syndel correu para perto do marido.

– Fuja, Syndel! – Thranduil começava a se desesperar, vendo que, naquelas condições, a batalha estava perdida.

– Nunca! – ela sacou sua própria espada.

– Syndel, você não cons...

A fera veio com tudo para cima dos dois. Corajosamente, Syndel ergueu a espada e, com um golpe, acertou o outro olho do dragão, cegando-o para sempre. O animal recuou em agonia.

– Não me diga o que eu posso ou não fazer. – Syndel respondeu ao marido. Ele lhe abriu um de seus famosos sorrisos tortos em resposta, e não disse mais nada.

Mas o lagarto gigante não havia desistido. Às cegas, ele se adiantou mais uma vez, dando um golpe com a cauda.

– Cuidado! – Thranduil tentou alertar a esposa, mas ela não conseguiu ser rápida o bastante. Para Thranduil ou qualquer outro elfo, teria sido fácil se defender do golpe, tendo uma espada em mãos. Mas não para Syndel. O dragão acertou a parte de trás das pernas dela e a dor lancinante que sentiu lhe deu a certeza de que elas estavam quebradas. Ela cedeu, com um grito de dor.

– Syndel! – Thranduil largou o escudo para segurá-la.

Então, um grande estrondo se fez ouvir, vindo de algum lugar da fortaleza, e o lugar todo tremeu. O chão sob os pés dos elfos se rachou, com um ruído arenoso.

– O que foi isso? – Thranduil perguntou.

A mesma pergunta se fazia o Rei Bruxo, sabendo perfeitamente de onde tinha vindo o som. Os portões ocultos da face da montanha estavam prestes a ceder. Mas como...? Outro estrondo ainda maior se fez ouvir, e metade do piso da sala em que estavam os elfos cedeu. As pedras caíram alguns metros, até atingir um rio de lava fervente lá embaixo. A Fortaleza de Angmar havia sido construída sobre um vulcão. As salas mais profundas eram usadas como forjas. Agora o piso das salas superiores, feito de magma endurecido, parecia estar começando a ceder. Syndel se agarrou a Thranduil.

O Rei Bruxo ficou furioso. O tempo de brincar tinha acabado. Em língua negra, a língua falada nas terras sombrias de Mordor, ele chamou o dragão e se virou em direção aos portões que estavam sendo atacados pelas forças que combatiam no lado de fora da fortaleza.

Na urgência do obedecer, a fera, completamente cega, se atirou ao chão, derrubando quase tudo que restava do piso e por pouco não caindo na lava ardente. Ele se esgueirou, passando por uma das portas abertas, deslizando seu longo corpo bem rente ao corpo de Thranduil, sem vê-lo. E o elfo também mal se importou com ele, porque quando o dragão quebrou o piso da sala, o chão desaparecera sob os pés de Syndel, e ela só teve tempo de agarrar o pulso de Thranduil para evitar cair no rio fervente que corria abaixo dela.

– Syndel!!

O chão sob os pés de Thranduil também começava a se desprender, inclinando-se em direção à lava.

– Você precisa subir! – ele estava desesperado.

– Eu não consigo! – ela não conseguia mover as pernas. Se conseguisse, poderia tentar fazer alguma coisa, apoiar-se na rocha, ou qualquer coisa assim. Ela olhava desesperadamente ao redor, buscando uma saída, algo em que pudesse se agarrar. Não havia absolutamente nada, e suas mãos começavam a escorregar.

A outra mão de Thranduil ainda estava presa à parede pela corrente. Ele tentou fazer força com o braço, tentando erguer Syndel, mas tudo o que conseguiu foi fazer com que a pedra em que se apoiava deslizasse um pouco mais em direção ao calor lá embaixo.

– Syndel, por favor... – a voz dele era suplicante.

Syndel olhou para baixo e de volta para Thranduil e, ainda, para a pedra sob os pés dele, que se desprendia mais a cada segundo, incapaz de suportar o peso dela. E então compreendeu o que devia fazer.

– Thranduil... Thranduil! Olhe para mim. Me escute... – ela engoliu em seco. – Você mudou muito desde que nos conhecemos...

– Syndel, não...

– E eu tenho certeza de que um dia você será o maior rei que Greenwoods já viu. – os olhos dela se encheram de lágrimas.

– Não! Por que você está se despedindo? – ele também sentiu os olhos marejados.

– Nunca se esqueça... – ela continuou, sem ter tempo para se importar com mais nada. – O povo... Proteja o nosso povo! Eles amam muito você e... E você deve proteger as vidas deles. – ela sentiu a pedra cedendo um pouco mais e os seus últimos momentos, se esvaindo. – Eu sei que você não vai fazer mais nada idiota. – ela riu, sem humor. – Você aprendeu muito. Sei que sangue élfico jamais será derramado em vão sob seu reinado.

– Syndel! Não se despeça!

Os dois ouviram um estalido. A corrente que prendia Thranduil começava a se soltar da parede. A pedra sob os pés dele se moveu de novo, desta vez violentamente, e ele quase perdeu o equilíbrio. Estava ficando cada vez mais difícil para Syndel se segurar.

– Eu te amo tanto... – ela murmurou. As lágrimas agora fluíam livremente por seu rosto.

– Não! – ele fez outro esforço para erguê-la, e desta vez conseguiu puxá-la alguns centímetros, mas a pedra sob seus pés se moveu bruscamente de novo, soltando-se quase completamente do resto do piso. Thranduil sentiu seu corpo se inclinando para frente e a tensão no braço que estava preso lhe fez soltar um “Aah” de dor. Agora, a corrente era praticamente tudo o que o segurava. Syndel estava ainda mais perto da lava. Ela já podia sentir o calor insuportável subindo por suas pernas.

Foi aí que um barulho chamou a atenção dos elfos, vindo da porta da parede contígua àquela em que Thranduil estava preso. Os dois olharam e viram Thror, que parou subitamente ao ver que não havia mais piso em que pisar ali. Ele arregalou os olhos ao ver a cena. Em uma das mãos, segurava um machado. Na outra, uma corda, com que parecia puxar alguma coisa pesada.

– Thror! – Thranduil chamou.

O anão ficou olhando sem reação. Se ele tivesse coragem, poderia saltar da porta em que estava para a porta ao lado da qual Thranduil estava preso. Ele olhou para baixo, para a lava ardente, e deu dois passos para trás.

– Thror! – as lágrimas escorriam dos olhos de Thranduil sem cessar. Ele sabia que o anão era sua última esperança. – Thror, por favor...

O anão olhou para Syndel, que lhe suplicava com os olhos. Ela se esforçava para se segurar ao braço do marido, mas a dor em seus braços começava a ficar insuportável e o suor fazia com que escorregasse cada vez mais rapidamente, milímetro a milímetro. Thror olhou para os dois mais uma vez e para a corda em sua mão e então lentamente, com um pedido de desculpas no olhar, virou as costas.

– THROR!!! – Thranduil gritou, mas não houve resposta. O anão desapareceu nas sombras.

Thranduil tentou ainda uma última vez erguer Syndel, mas não tinha mais forças para fazê-lo. O peso da elfa ameaçava quebrar-lhe o braço. O tempo estava se esgotando. Syndel percebia isso ainda melhor do que ele:

– E Legolas... – ela continuou. – Por favor, tome conta dele! Você é um pai maravilhoso, Thranduil, sempre foi... Eu não poderia desejar um marido melhor.

– Syndel... – ele continuava tentando erguê-la, segurando-se à corrente que o prendia à parede. Tudo o que ele conseguiu foi fazer com que a corrente se soltasse um pouco mais.

– Por favor, tome conta do Legolas... Mas não o prenda demais! Ele é como eu e você quando éramos jovens, Thranduil. – ela riu de leve. – Ele é um espírito livre. Mas é muito mais sensato do que eu e você éramos juntos, na idade dele. Confie nele, Thranduil. Ele vai saber retribuir essa confiança.

– Por favor, não... – ele tentou virar a mão do braço em que ela se segurava, numa tentativa de segurá-la, mas não conseguiu.

– Diga a ele que eu o amo muito, muito, muito... – ela olhou para as próprias mãos e cuidadosamente soltou uma das mãos, segurando-se apenas com a outra. A pedra sob os pés de Thranduil se inclinou ainda mais. Estava por um triz agora.

– Aah! – ele gemeu de dor, quando o peso dela se tornou ainda maior em seu braço. – Syndel, não! – a elfa olhava para sua outra mão. – Não ouse! Eu... Eu te proíbo! – outro dos pinos que prendia a corrente à parede se soltou. – Você tem que continuar se segurando! Isto é uma ordem! Ouviu?

Syndel sorriu, olhando nos olhos do marido:

– Eu não vou levar você junto comigo... Você vai viver, Thranduil Verdefolha, e se tornará um rei que fará todos os elfos verdes orgulhosos.

– Você não está me ouvindo, não é? – as lágrimas dele caíam sobre o rosto de Syndel e se misturavam às dela.

– E eu vou me orgulhar mais do que todos. – ela sentia os dedos escorregando. – Eu te amo, Thranduil. Nunca se esqueça disso. Eu te amo mais, muito mais do que você imagina. – ela fez uma breve pausa. – Sei que vai ser difícil agora. Mas você precisa ser forte! Legolas... O povo... Eu conto com você para tomar conta deles. Especialmente do nosso filho. – ela sorriu para ele. – Lembra-se de quando você me pediu para ser forte? Para lutar, para resistir? Agora, eu preciso que você seja forte! Prometa, Thranduil!

– ... – ele não conseguia dizer mais nada. Sua garganta doía com o esforço de chorar e sustentar Syndel lhe exigia todas as suas forças. Ela compreendeu isso.

– Tudo bem, você não precisa dizer... Eu sei que você não vai me decepcionar. Você nunca me decepcionou. – ela fez um esforço tremendo e se ergueu o suficiente para beijar a mão dele, deixando-se cair logo em seguida. – Aah...! – a dor em seu braço foi quase insuportável. Ela olhou para ele de novo, sabendo que seria a última vez: – Eu confio em você. Viva! Saia daqui! Volte para nosso filho e nosso reino! – ela engoliu em seco. – Eu te amo! – e dizendo isso, deixou-se cair.

– SYNDEL NÃO!!! – os dedos dele agarraram o vazio.

Ele desviou o olhar, não querendo assistir e teria tapado os ouvidos se pudesse. Mas não foi necessário. Syndel não gritou. Porque os Valar se apiedaram dela, e Mandos levou seu espírito antes que o corpo dela atingisse a lava fervente lá embaixo. A última coisa que ela sentiu foi o calor se aproximando, e depois mais nada. Não houve dor no fim para Syndel Verdefolha.

Thranduil sentia uma dor indescritível ameaçando destruí-lo por dentro. Era pior do que qualquer dor que ele houvesse conhecido, pior até que a da chama do dragão. Nada se comparava àquilo. Ele implorava que parasse, que aquilo fosse removido dele. Sentiu pouco a pouco que a consciência lhe deixava e soube o que estava acontecendo. Ele tinha perdido a vontade de viver. Estava morrendo.

– Não! – lembrou-se de súbito das palavras de Syndel. – Não! – precisava resistir.

Com o que lhe restava de suas forças, saltou da pedra que se desprendia, em direção à porta da parede em que estava preso. Com o impulso, a corrente terminou de se soltar da parede e ele conseguiu por muito pouco se agarrar à abertura da porta. Abaixo dele, a lava fervia. Parte da corrente, que ainda estava presa ao braço dele, pesando, submergiu no calor, derretendo instantaneamente.

Os dois braços dele doíam e ele estava fraco, mas num último esforço, juntou tudo o que restava de suas forças e, com um grito, tentou se erguer.

­– Aaaaaaaaaaaah!!! – apoiando os pés na parede de pedra, num só ímpeto, conseguiu suster o peso do próprio corpo e passar pela porta. Ofegante, deixou-se cair no chão de pedra, que ali estava frio. Tudo nele doía: braços, pernas, coração.

Por alguns minutos, permitiu-se ficar ali, no escuro. Até que sentiu de novo que estava perdendo a consciência e soube que precisava lutar. Que não podia se deixar abater. Com esforço, colocou-se de pé e, sem outras escolhas, adiantou-se pelo corredor escuro à sua frente, mantendo um braço estendido, para o caso de haver algum obstáculo.

Andou pelo que lhe pareceram dias (o tempo não era o mesmo dentro da fortaleza amaldiçoada), até que seu pé encontrou alguma coisa, que saiu rolando com o impacto. Ele se abaixou e, tateando no escuro, a encontrou. Era um objeto arredondado. Ele investigou com a ponta dos dedos. Demorou algum tempo, mas reconheceu a marca de Durin, gravada em alto relevo, e soube o que era. Era um artefato explosivo fabricado pelos anões das Montanhas Azuis. Ele girou o objeto e encontrou o mecanismo que ativaria a explosão. Então teve uma ideia. Se ao menos conseguisse encontrar o caminho por que tinha passado antes, seguindo o Rei Bruxo...

Continuou andando na mesma direção, sabendo que essa era a melhor estratégia. Por fim, chegou a uma encruzilhada e teve que escolher qual lado seguir. Não se lembrava de ter feito nenhuma curva antes. Escolheu aleatoriamente e foi pela esquerda. Depois de uma longa caminhada, avistou ao longe um fraco brilho dourado e uma luz esverdeada. Se adiantou para lá, correndo tanto quanto podia.

Era de fato a sala do tesouro, mas tudo havia sido reorganizado. Ou talvez fosse outra sala do tesouro. Procurou pela velha arca, mas não a encontrou. Do lado de fora, as tochas esverdeadas estavam acesas novamente. Ele seguiu por ali, e logo encontrou o que parecia ser um portal.

– Vamos, abra... – ele tateava a parede, empurrando, forçando, buscando algum tipo de maçaneta ou fechadura. Nada. – Tudo bem, então... – ele olhou para o objeto em sua mão esquerda. – Espero que funcione. – cautelosamente, ativou o mecanismo de explosão. Rapidamente, pôs o objeto no chão, em frente à porta, e se afastou tanto quanto pôde, correndo na direção de que tinha vindo. Virou a curva do corredor bem a tempo.

Thranduil ouviu a explosão e sentiu tudo tremer, enquanto lascas de pedra voavam por toda a parte. Foi muito mais forte do que ele estava esperando. Voltou pelo corredor. O portal permanecera intacto. Era selado e protegido por magia, não cederia a ataques físicos como aquele. Apesar disso, um buraco enorme fora aberto na parede oposta, e o elfo podia ouvir os sons da batalha e sentia um vento fresco vindo dali. Se não estivesse em tamanha agonia, teria aberto um de seus sorrisos sarcásticos naquele momento. Mas o elfo sentia que nunca mais seria capaz de sorrir. Conformando-se com a sorte, arrastou os pés naquela direção. Ele sentia que aquele seria o último esforço de que seria capaz.

Agora, meu amigo, torno a palavra a nosso jovem príncipe Legolas. Ele havia acordado um pouco antes de Thranduil conseguir passar pela porta da sala quadrada e pode assumir a narrativa novamente de agora em diante. Obrigado por escutar este pobre narrador...

– A sua mãe fez o quê? – Sam ficou horrorizado.

– Ela ficou louca? – Boromir, sempre nada delicado, franzia as sobrancelhas.

Legolas ergueu os olhos para Aragorn, em busca de apoio. O guardião não sabia o que havia acontecido, mas entendeu de imediato o que tinha se passado na mente de Syndel ao empurrar o filho. Ele assentiu com a cabeça, incentivando o elfo a continuar contando a história. O outro respirou fundo. Estava chegando à parte verdadeiramente dolorosa da história.

– Eu acordei umas duas horas depois, já fora d’água, completamente seco.

“– Legolas! Meu senhor Legolas! – Erundulë, uma elfa de Valfenda, me chamava.

Abri os olhos lentamente, e vi a luz das estrelas entre os galhos de uma árvore. Eu podia ouvir os sons da batalha bem próximos de nós, mas não muito altos. Para o bem ou para o mal, estava acabando. Tentei me mover. A base de minhas costas doía, mas era suportável. A parte de trás de minha cabeça também doía. Quando tentei erguê-la, senti uma tontura fortíssima e minha visão escureceu. Recostei-me de novo, respirando devagar.

– Graças aos Valar! – a elfa suspirou. – Airetauri! Airetauri! Ele está acordado.

Ouvi quando o guarda preferido de meu pai se aproximou correndo pela grama.

– Alteza! – ele se inclinou sobre mim, e eu vi que ele tinha chorado. Uma lágrima ainda escorria. – O senhor está bem? Pode se levantar?

– Espere só um momento. – respondi, tentando novamente me mexer. – Num instante estarei de pé. – eu não queria ficar ali, deitado, mas quando tentei erguer a cabeça tudo girou novamente. – O que aconteceu?

– Valfenda chegou, meu senhor. Foi um massacre. Glorfindel matou o dragão. Os orcs já estavam cansados, não tinham chance. Os anões estão se livrando dos últimos, lá dentro, agora. Parte da fortaleza cedeu, alguns dos nossos foram pegos de surpresa, mas a maior parte das baixas foi do lado deles. Mestre Elrond está esperando que todos saiam de lá para lacrá-la para sempre. Vai acabar logo.

– O Rei Bruxo...?

A expressão de Airetauri me serviu de resposta antes mesmo que ele dissesse:

– Ele escapou, meu senhor. Saiu com o rabo entre as pernas, direto para Mordor.

– E quanto a Oropher...? Meus pais...?

O guarda se calou. Eu fiquei olhando para ele, esperando, mas não houve resposta. Um mau pressentimento tomou conta de mim. Eu tentei mais uma vez me reerguer, lentamente. O esforço me custou muito, mas com o apoio de Airetauri, consegui me colocar de pé. Eu olhei para ele, sério.

– O que aconteceu?

Ele abriu a boca para responder, mas um grito nos distraiu:

– Meu senhor Thranduil!

Todos os elfos se voltaram para lá. Ao longe, vi meu pai saindo da fortaleza através de uma das aberturas por onde os orcs passavam. Ele se arrastava, mal parecia vivo. Eu olhei, mas não vi sinal da minha mãe atrás dele. Senti um aperto no peito, um mal-estar insuportável tomava conta de mim. Esquecendo minha própria dor e todo o resto, corri para lá. Os outros me abriram caminho.

– Pai! Pai! – eu parei em frente a ele.

Ele olhou para mim, e eu vi apenas um leve brilho de reconhecimento em seus olhos, antes que ele desabasse à minha frente. Eu me adiantei para segurá-lo e alguns outros elfos se apressaram para ajudar.

– Pai? Pai! – eu o sacudi, mas não houve resposta. Ele estava inconsciente.


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