Dia zero

Olá! Hoje é o primeiro que escrevo, e também o primeiro dia de férias. São 23:00 horas, e estou na casa do Lucas, melhor amigo do Marcus.
Marcus me deu este diário hoje mais cedo, e disse para eu escrever todos os meus sonhos nele a partir de agora. Ele explicou que vamos fazer um tipo de jogo que envolve nossos sonhos. Eu não entendi direito como será esse jogo, mas a forma como começamos ele me deixou curiosa, e um pouco assustada...
Marcus havia me chamado para sair, e disse que um grupo de amigos dele havia nos chamado para passar uma semana na cassa de campo do Lucas para podermos jogar sem perturbações. Meus pais não queriam me deixar vir, dizendo que eu era “muito nova para isso”. Eu já tenho 16 anos, sei me virar sozinha. E afinal, meu namorado está aqui para cuidar de mim. Ele foi na minha casa convencer meus pais a me deixarem vir. Após alguns minutos conversando e comendo o bolo que minha mãe havia feito, Marcus finalmente convenceu meus pais a me deixarem vir.
Então fomos até a casa de Lucas (a outra casa, que fica no meu bairro), onde enchemos uma mala de biscoitos, salgadinhos, pão e coisas do tipo, enquanto Manuela (a namorada do Lucas) enchia uma outra mala de bebidas alcoólicas. Ela me viu olhando para a mala e disse “você é menor de idade, não pode beber”, e Marcus disse que enquanto eu estava sob a responsabilidade dele, eu poderia fazer o que quisesse. Manuela riu e disse que “era melhor arranjar leite para as crianças”. Eu odeio quando me tratam como criança, e pelo visto, Marcus também não gosta. Ele reclamou com Manuela de uma forma um pouco grosseira, mas eles continuaram rindo. Por que ela se acha no direito de falar da minha idade? Ela deve ter uns 18 anos.
Lucas pegou o carro do tio dele, e nós entramos no carro. Eu perguntei sobre os outros amigos deles, e ele me disse que iriam mais tarde para lá. Eu estava distraída no carro, sentada no banco de trás com a Manuela. Ela ficava me encarando durante a viagem toda, mas eu preferi me ocupar com minhas músicas. Os amigos de Marcus não apoiam muito ele namorar uma garota quatro anos mais nova...
Marcus me chamou e me entregou uma caixa branca com um laço vermelho. Eu abri e lá dentro estava este diário no qual estou escrevendo. Marcus me disse para escrever nele todos os sonhos que eu tivesse a partir de hoje, e botar a data de hoje como dia zero. Eu resolvi que vou escrever também o que aconteceu durante o dia, pois é um diário, foi feito para se escrever sobre o dia, não?
Lucas parou o carro na frente de uma casa em um bairro vizinho. Eu sabia que não era a casa de campo, pois ainda estávamos no meio da cidade. Perguntei ao Lucas onde estávamos, e ele disse que era a casa do pai dele, e que foi obrigado a levar a irmã dele com a gente. Manuela reclamou, dizendo que não ia ficar de babá. Ele buzinou, e esperamos alguns minutos, então vi uma garota saindo da casa, com uma mochila e um videogame na mão. Lucas abriu a porta do carro e falou para ela sentar com “as garotas” (eu e Manuela), e disse também que ela não deveria falar um pio durante a viagem. Ela sentou do meu lado, me olhou com algo que chegou perto de um sorriso e começou a jogar. Perguntei o nome dela, e ela disse que se chamava Ana. Ela parecia meio desconfortável para conversar comigo, então eu apenas disse “prazer, sou Letícia”, apertei a mão dela e voltei a ouvir minha música. Ela parecia ter 12 anos, mas tem 15. Parece ser meio antissocial.
Após umas 3 horas de viagem, finalmente chegamos aqui na casa. Ela é enorme, tem cinco quartos, piscina, lareira e tudo mais... Só é meio distante de tudo. Começamos a encher os armários e a geladeira com a comida que trouxemos (é muita comida, mas será que vai durar por uma semana?), e Lucas mostrou os quartos. Mais tarde, chegaram Pedro e Amanda. Eles levaram mais comida, e começaram a conversar sobre o jogo que iríamos fazer.
Pedro começou a explicar as regras do que eles chamaram de “god” que seria “game of dreams”, que se eu fosse traduzir seria algo como “Deus – o jogo dos sonhos”. Nós sete sentamos na sala, e ele começou a explicar o jogo. Ele disse que iriamos fazer um tipo de ritual, que faria com que nós nos conectássemos pelos sonhos, e que deveríamos cumprir os desafios que fossem propostos. O objetivo disso seria ter um desejo realizado.
Começamos o ritual, formando um círculo no piso de madeira, tinha um prato branco com areia e uma vela de sete dias no centro do círculo. Nós pegamos um pedaço de papel para cada e escrevemos nossos nomes, depois tínhamos que queimar o papel na vela, deixando as cinzas no prato. Pedro disse para fazermos isso em sentido horário, começando por ele, e sendo seguido por Amanda, Manuela, Lucas, Ana, eu e Marcus. Após isso, nada aconteceu, Pedro levou o prato com a vela acesa para uma estante, e disse que o jogo iria começar assim que formos dormir.
Ficamos conversando, bebendo e jogando verdade ou consequência durante o final da noite. A única que não bebeu nada foi Ana, mas ninguém chegou a ficar bêbado. Pelo menos não até agora.
O pessoal ainda está se divertindo aqui, mas eu estou com sono, e vou dormir agora. Marcus disse que talvez virem a noite, o que não me surpreenderia muito. Só espero que eles tenham energia para amanhã, estou afim de ficar na piscina. Pelo menos Ana também está indo dormir, então eu poderei conversar com ela de manhã.
Vamos ver se esse jogo realmente vai funcionar, mas me pareceu tão desanimador simplesmente não aparecer nenhum espírito na sala ou nada de sobrenatural ter acontecido... Acho que esse jogo foi só uma tentativa de se divertir que não deu certo. Mas ainda temos seis dias para nos divertirmos aqui, é uma casa bem legal... Só espero que parem de me tratar como uma criança.
Bem, então é isso, eu acho que deveria escrever algo no rodapé como:

Fim do dia zero.