Semanas depois que David já havia se instalado na casa e já havia se acostumado a conviver com Rachel, a placa de aluga-se continuava do lado de fora. Ela esperava que algum outro inquilino chegasse para dividirem a renda, ele, porém, não queria que mais ninguém fosse morar com eles. Ele gostava de ficar sozinho com ela. Isso alimentava o desejo que ele tinha de repetir o beijo da praia e ir mais além. David sabia que não estava apaixonado por Rachel, mas via nela uma mulher forte e decidida como ele jamais havia visto em nenhuma outra, além disso, seu corpo o agradava, tanto que, em suas fantasias, ele sonhava em tê-la em seus braços. David não era corajoso, mas era obstinado e, um tanto ambicioso, não iria desistir, a não ser que um obstáculo atravessasse seu caminho.

Um dia David saiu para trabalhar. Ele havia conseguido um emprego em um jornal da cidade. Ele era muito criativo e escrevia charges para o jornal. Nesse dia seu trabalho seria diferente. Seu chefe pediu que ele fosse com uma equipe ajudar a cobrir um acidente que havia acontecido na capital, de lá os novatos como David fariam um rápido curso para uso das novas máquinas no trabalho. Eles estavam sem jornalistas sobrando, e as charges poderiam esperar. A notícia era mais importante e David poderia se tornar o redator caso fizesse uma boa cobertura do acontecido, junto à equipe que ia também. Além disso, o curso também o ajudaria e era a chance que ele esperava para ter um cargo melhor e subir na vida. Porém, eles tinham que ficar por, pelo menos, duas semanas na capital.

Apesar de ter que deixar Rachel sozinha, David aceitou a viagem sem perda de tempo. Então, foi em casa, pegou algumas coisas e se despediu de Rachel. Ao se despedir David a abraçou e ela disse em seu ouvido enquanto o abraçava:

– Boa sorte, meu amigo!

Nessa hora, David sentiu um misto de sensações. Por um lado, entendeu que ela não o via mais do que como um simples amigo. Por outro lado, se arrepiou com aquela voz ao seu ouvido, suspirou, se encheu de coragem e a beijou na boca. Dessa vez ele havia conseguido fazer o que queria, mas, não tudo o que queria.

Duas semanas se passaram e David, finalmente, estava voltando para casa. Estava feliz por ter feito um trabalho bem feito e, certo de que ganharia uma promoção, nem pensava mais tanto em Rachel como há alguns dias atrás, mas, ainda se perguntava:

“Será que ela ficou pensando em mim depois daquele beijo? ... Será que vai me receber de braços abertos ou terá ficado com raiva de mim? ... Talvez, se eu receber essa promoção, subir na vida, será mais fácil ficar com ela? ... Não quero compromisso, mas gostaria de tê-la em meus braços? Gosto dela, mas... Vamos ver! Vamos ver! Vou dar um tempo para ela ... Não vou paquerá-la ... Vai que ela acaba me querendo, se eu bancar o difícil!”

Ele pensava nisso com um sorriso cínico, como quase sempre era seu sorriso.

David chegou à cidade e foi direto para casa. Porém, quando chamou Rachel para abrir a porta, não foi ela quem foi abrir.