Cama de Rosas escrita por Paula Freitas


Capítulo 17
Chuva de Novembro




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Rachel correu de volta ao sótão, chamando:

David! Vem comigo! Me leva para o aeroporto o mais rápido possível, por favor!

David compreendeu o que ela queria fazer e se apressou a pegar as chaves do carro.

Era novembro. Uma chuva fina e fria começava. Mas, Rachel não se importou, saiu antes que David pudesse pegar o guarda-chuva e entrou no carro. David fez o mesmo.

Ele foi o mais rápido que podia, mas lembrou-se no meio do caminho:

Mas, Rachel, tem dois aeroportos! Você sabe para qual ele foi?

Rachel pensou um pouco e lembrou-se das passagens que havia visto em cima da mesinha. Disse:

Com certeza, o internacional! Afinal, é um voo para a Inglaterra, não é?!

– Sim, deve ser! Então, vamos para o aeroporto internacional!

Quando David ia estacionar, Rachel já se apressava para abrir a porta do quarto. Ele parou para que ela pudesse sair e ficou para estacionar. A chuva estava aumentando, mas ela não se importou. Parecia que nem estava sentindo. Correu para dentro do aeroporto para tentar encontrar o grande amor de sua vida.

Ela não estava acostumada com aeroportos. Parecia perdida em meio a tanta gente e portões. Perguntou a um funcionário:

Por favor, sabe de onde estão embarcando os passageiros do voo para a Inglaterra?

– Sim, senhorita! É no portão 5. Mas, já estão todos entrando, o avião já vai sair!

Rachel correu apressada para o portão 5. Não era possível que ele já estivesse dentro do avião.

Ela corria dentro do aeroporto, parecia que não ia parar mais. Mas, parou. Quando avistou de longe, através das paredes de vidro, o avião, a fila de passageiros e, ele. Finalmente, ela tinha encontrado. Parecia que a sorte havia sorrido para ela, afinal. Ele ainda não tinha entrado no avião, mas, estava prestes a fazê-lo.

Ela não continha a felicidade. Então, agora sem correr, mas andando com passos largos, ela foi indo ao seu encontro. Mas, não a deixariam passar do jeito que ela estava, ainda mais, sem as passagens. Ela tentou explicar:

Mas... Eu preciso falar com alguém que está lá! Se você não me deixar falar com ele, tudo estará perdido!

– Desculpe, senhorita! Mas, não posso deixar ninguém passar sem as passagens!

Ela ainda tentou. Mas, ameaçaram chamar a segurança se ela tentasse atravessar. Então ela se afastou um pouco e, olhando para Adam pela parede de vidro, pôs-se a gritar chamando seu nome.

Era inútil. Ele não ouviria, por causa da distância e do barulho. Mesmo assim, ele olhou para trás... Parecia que tinha visto ela... Mas, ele virou de costas e, de repente, ela parou de gritar. Foi quando ela viu uma cena que a deixou muda.

Ele... beijando... outra!

Ela não podia crer no que estava vendo. As lágrimas escorreram em seu rosto, como a chuva escorria no vidro.

Apenas seus pensamentos falavam:

“Por que Adam?! Por quê?!”

Ela estava ofegante. O vidro ficava embaçado a cada suspiro. Mas, ela limpava. Não conseguia parar de olhar. Mas, virou de costas, fechou os olhos por um segundo para comprovar que aquilo não era um sonho. Estava mais para pesadelo. Voltou a olhar, mas, para sua infelicidade, não era sonho nem pesadelo. Aquilo era real. O grande amor da sua vida já estava embarcando no avião, abraçando outra mulher. Eles sorriam, enquanto Rachel, não conseguia chorar mais. Era tamanha a dor, que ela não se mexia. Estava inerte. Estava em choque. E, permaneceu ali até o avião fechar as portas para decolar.

Então, Rachel saiu do aeroporto. A chuva estava mais forte, mas ela não sentia nada; não conseguia. Não sentia frio, pois seu coração havia congelado naquele momento. Ela estava sem rumo. Era como se o chão tivesse saído de debaixo dos seus pés. Os pingos de chuva escorriam pela sua face junto à suas lágrimas. Mas, ela não estava chorando. Pelo menos, não aparentemente. Seu coração despedaçado chorava por dentro e, as lágrimas, escorriam involuntariamente pelos seus olhos confusos que não sabiam para onde olhar.

Andando sem saber para onde, ela começou a se sentir mal e se segurou em uma parede já num local mais distante das portas do aeroporto. De lá, ela viu quando o avião decolou... Levando seu maior sonho.

Ela estava sem forças. Foi escorregando encostada a parede, como se tivesse perdido toda força de suas pernas, deixando-se cair no chão. Lá ficou, sem se levantar, sem se mexer, apenas sentada, encostada na parede, sofrendo, debaixo da chuva fria de novembro.

Minutos depois, David a encontrou. Ainda estava no mesmo lugar. Ele foi até onde ela estava e a levantou. Tirou sua própria jaqueta e colocou em cima dela, dizendo:

Está ficando frio! Porque você ficou aqui fora?! Vamos para o carro!

Ela parecia uma morta-viva. Deixou que ele a levasse, mas, não dizia nada; não tinha nenhuma reação. David a colocou no carro e entrou também. Foram para casa e, durante todo o caminho, Rachel não falou uma só palavra. Assim que chegaram, David tentou puxar conversa, mas era em vão; ela apenas balançava a cabeça concordando.

Está com frio?

– ---

– Quer entrar agora? Você precisa trocar essa roupa molhada!

– ---

– Ah... Você vai ficar bem?

– ---

Ela se limitava a balançar a cabeça para cima e para baixo, respondendo a tudo que ele perguntava.

David não queria dizer para ela que também havia entrado no aeroporto um pouco depois dela e havia visto Adam pouco antes de embarcar com aquela mulher misteriosa. Talvez fosse pior para ela se ele tocasse no assunto. Ela podia ter uma crise nervosa, estava muito abalada. Mas, David sabia que não podia deixar que ela ficasse assim por muito tempo. Ele tinha que fazer alguma coisa para que Rachel esquecesse aquele sofrimento e esquecesse Adam de uma vez por todas.

Eles entraram em casa. Rachel foi direto as escadas e quando estava subindo, David perguntou:

Vai para o seu quarto?

Foi então que ela, finalmente, o dirigiu a palavra.

Não! Vou para o sótão!

– Para o sótão... Por quê?

– Porque eu não deveria ter saído de lá!

David compreendeu o que ela quis dizer com isso, e começou a sentir culpa, mas, logo mudou de opinião.

“Foi culpa minha! Se eu não tivesse falado com ela, ela não teria ido atrás dele e... não estaria tão triste! Mas... Não! Definitivamente, não! Não é culpa minha! Ela estava enganada, isso sim! Eu não sou o culpado; ele é! Poderia ter sido pior! Foi melhor mesmo ela ter visto aquilo! Foi melhor ela ter descoberto quem ele é agora, do que se decepcionar depois, esperando iludida durante quatro anos a sua volta! Ele nunca mais vai voltar! E se, um dia, voltar... Ela não vai mais gostar dele tanto quanto agora! Isso eu garanto!”

No sótão, Rachel olhava a chuva pela janela. Passou o resto da manhã e da tarde lá. Não desceu. Não comeu nada.

O sol estava começando a se pôr. David achou melhjor deixá-la sozinha durante algumas horas, mas estava ficando tarde e ele ficou preocupado. Então, ele subiu lentamente a escada do sótão para ver como ela estava. Ela estava sentada perto da janela. As roupas molhadas estavam no chão e ela estava enrolada em uma toalha. Ela ainda não parecia bem, mas, pelo menos, agora ela respondia quando ele falava.

Oi?!

– Oi!

– Não está com frio?!

– Um pouco!

– E com fome?! Trouxe isto! Você não comeu o dia todo! Disse mostrando um prato com um lanche que ele havia preparado.

David pensou que ela recusaria, mas para sua surpresa...

Obrigada David! Eu estava mesmo com fome!

Ela pegou o prato que ele havia levado e comeu tudo. David ficou feliz e surpreso ao mesmo tempo com aquela reação. Parecia que ela estava se recusando a sofrer. Seus olhos ainda aparentavam uma profunda tristeza, mas não combinavam com suas reações a seguir.

Rachel, quando você vai sair desse sótão?

– Não sei!

– Rachel! Sei o que você deve estar sentindo agora! Só quero dizer que, ninguém merece que você derrame uma só lágrima!

– Não se preocupe comigo, David! Não pretendo derramar nem mais uma lágrima, por ninguém!

David notou então, que a tristeza que ela sentia havia se transformado em outra coisa. Talvez raiva. Talvez ódio. Qualquer coisa que poderia tornar seu coração duro e frio. Uma ferida tão profunda como a que ela havia sofrido seria difícil de ser curada. Mas, David estava disposto a encontrar uma cura, nem que tivesse que comprar uma guerra para isso.

Ele teve, então, uma ideia para fazê-la se sentir melhor.

Rachel... Você ainda tem a rosa que eu te dei quando nos conhecemos?

– A rosa? ... Sim!

– Sim?! Onde está?!

– Bem guardada; no meu quarto!

– Pode ir buscá-la? Quero te dizer uma coisa! E, preciso dela!

– Não vou entrar no meu quarto agora David! Não posso!

– Mas... Tudo bem! Então, pode me dizer onde ela está?

– Se você pegar apenas a rosa e não ler nada...

– Como assim “ler”?

– A rosa está no meu diário! Embaixo da última gaveta da cômoda!

– Nossa! Obrigado pela confiança!

– Você nunca fez nada para que eu não confie em você! E, espero que continue assim!

David balançou a cabeça, confirmando. Desceu rapidamente para o quarto dela e pegou seu diário onde ela havia dito. Logo encontrou a rosa por entre as primeiras páginas, mas para corresponder sua confiança, deixou o diário outra vez onde estava sem ler uma só palavra. Mas, ele viu sobre a cama a carta que Adam havia deixado. Esta ele leu, e a levou escondida. Voltou, então, para o sótão com a rosa nas mãos, dizendo:

Veja! Lembra como essa rosa era linda quando eu te dei?! Quando a coloquei no seu cabelo?! E veja como está agora: murcha, seca e morta! Está assim, porque você a sufocou no meio das páginas do seu diário! Mas, você não é uma rosa! Você não pode morrer sufocada aqui dentro deste sótão! Você é uma flor jovem e bonita que tem uma vida inteira pela frente! Como eu te disse antes: a Rosie que eu conheci não desistiria tão fácil dos seus sonhos! Onde está aquela Rosie agora? Também vai morrer sufocada como esta rosa?

Rachel olhava fixamente para David. Cada uma de suas palavras tocava profundamente sua alma. Ela segurou a rosa que ele havia trazido. E chorou. Apesar de ter dito que não derramaria mais uma só lágrima por ninguém, ela chorou naquele instante, encostada em seu ombro.

Sente a vida que esta rosa deixou de viver?! Quantos beija-flores ela deixou passar?! Não faça o mesmo com você! Você não é uma flor, é uma mulher! Onde está a Rosie que eu conheci?! Onde está aquela dama de vermelho que vi um dia?! Onde foi parar aquela garota cheia de sonhos, que queria ser uma artista?! Onde todas elas estão Rachel?! Todas essas representam a Rosie que eu sempre tive em minha imaginação! Por favor... Não deixe aquela Rosie murchar, secar e morrer como esta flor em suas mãos!

Rachel enxugou as lágrimas em seu rosto. Depois, ela olhou nos olhos de David e sentiu que ele estava sendo sincero como nunca. Havia algo a mais que sinceridade no olhar dele; havia lágrimas e um brilho especial. Rachel nunca o havia visto daquele jeito. Ela passou a mão levemente pelo seu rosto, pelo seu cabelo, e disse:

Você é o beija-flor que toda rosa gostaria de ter!

Ele sorriu e não conseguiu impedir que uma lágrima escorresse, então, abaixou o rosto para disfarçar, mas ela viu e disse baixinho:

E, um beija-flor não pode derramar uma só lágrima por ninguém, David! Você não merece isso; você vale muito para chorar... por quem quer que seja!

Rachel dizia isso sabendo que David estava triste por ela. Ela virou-se novamente para a janela e apertou a rosa contra o peito.

Ele ficou sem palavras. Não conseguia entender a atitude dela ou o que ela poderia estar sentindo naquele momento. A única coisa que ele conseguiu fazer foi perguntar novamente:

Você... Vai sair desse sótão agora? Quando vai voltar para seu quarto?

Eu não sei, David! Só voltarei quando o cheiro dele tiver saído de lá! E, sobrar apenas o cheiro dessa rosa!

Ela entregou a rosa para David e, na mesma hora, ele teve uma ideia. Ele saiu do sótão, e sorriu, pois já sabia exatamente o que ia fazer para tirar Rachel daquele lugar e fazê-la esquecer Adam.

O que ele não podia suspeitar era que Rachel também não estava disposta a entregar-se a amargura por causa da traição de Adam. Ela queria mais que apenas esquecer, ela queria provar que podia dar a volta por cima, que podia trancafiar seus sentimentos no fundo do seu coração para jamais sentir os mesmos novamente. Um misto de emoções havia tomado conta dela. Ela não sabia mais o que sentia; se amor, se ódio, se desprezo. Mas, ela sabia que não bastaria jogar fora todas as lembranças do que viveu com Adam, nem poderia. As lembranças permaneceriam em algum lugar perdido em sua memória. Mas, ela queria mais que simplesmente continuar vivendo; ela não queria se conformar; tampouco perdoar. Adam havia acabado com seus sonhos naquele dia; mas ela ainda tinha pelo que lutar; ainda lhe restava uma gota de esperança. Só ela sabia disso.

Ela pensava em várias coisas ao mesmo tempo. Não conseguia distinguir razão de emoção. Sua cabeça estava um caos. Mas, ela sentia uma vontade naquele dia, que poderia mudar sua vida para sempre.

“Você me machucou muito, Adam! Mas, isso não vai ficar assim! Se você pensava que eu ficaria feito uma boba esperando por você... Se enganou! Quatro anos é muito tempo! Muitas coisas podem mudar! E vão mudar! E se, um dia, você tiver coragem de voltar...”.

Ela sorriu sozinha.

”... É Adam! Se você voltar um dia, você não vai nem saber o que aconteceu aqui! Tudo vai ser diferente! Você prometeu regressar, e... Eu espero que cumpra! Porque, se você vier nada será igual! A vingança é um prato que se come frio, como dizem! Só que ninguém sabe o gosto que tem até provar!... E pelo que você me fez Adam... Eu estou disposta a provar desse prato!”

Ela ficou séria outra vez, abaixou a cabeça e se recostou na janela.

“Talvez me arrependa... Apenas por um motivo... Que você nunca vai saber Adam... Nunca!”


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Notas finais do capítulo

...Continua...



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