Cama de Rosas escrita por Paula Freitas


Capítulo 10
Um presente para David




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Pouco mais de uma semana depois, David voltou de viagem. Ao chegar, foi direto ao local de trabalho para entregar tudo que havia feito e receber o pagamento. Ao entrar no escritório do seu chefe, David viu o velho muito doente, quase sem forças para falar, porém entusiasmado, com o trabalho que David e a equipe que fora na viagem havia feito. Seu chefe, o Sr. Ashburty, era um senhor rígido em suas decisões, mas tinha muita experiência e sabia quando tinha um trabalho bem feito nas mãos. David renovou suas esperanças de subir de cargo naquela empresa, mas, quando ia tocar no assunto, foi interrompido por seu chefe.

David! Meu mais jovem jornalista, entre! Sente-se!

David começou gostando da conversa. Afinal, antes de viajar, ele ainda ocupava a posição de, praticamente, um estagiário. Não era mais considerado um, porém, era muito jovem e não podia ocupar um cargo de maior relevância; além disso, ainda estava em treinamento. Mas, como o próprio chefe o havia chamado de “jornalista”, David sentiu que sua vida iria mudar.

Porém...

David, quantos anos você tem?

– Dezoito, senhor!

– Tão novo?!

Se surpreendeu o chefe.

– Li seus textos e vi suas ilustrações para as reportagens! Dei boas risadas com suas charges! São criativas e bem feitas! Não é qualquer um que consegue isso, David, ainda mais, sendo quase um menino!

David sorria e não sabia o que dizer sobre os elogios que o chefe fazia a ele.

O chefe continuou:

É David! Sinto que preparei mais um pupilo! Você será bom na carreira que decidir seguir, criança! Se quiser continuar aqui, continue fazendo seu trabalho sempre bem e logo será um dos melhores que esta empresa já viu!

Mas, o semblante do chefe logo mudou. Ele ficou triste e David, intrigado com a conversa que tiveram a seguir.

Porém, meu filho, se quiser seguir outros rumos ou trabalhar em outra empresa, sinta-se a vontade para ir quando quiser!

– Mas... Porque, senhor?! Não entendo! Porque quer que vá para outra empresa se o senhor mesmo acabou de dizer que fiz um bom trabalho?!

– Por isso mesmo, meu filho! Não quero que seu trabalho seja desperdiçado!

– N-não estou entendendo, senhor!

– Estou velho... Doente... Fraco! Sinto que não vou aguentar muito tempo mais comandando esse escritório e não tenho para quem deixar. Meus dois filhos não têm capacidade para isso! Um tem sua vida feita, mora do outro lado do mundo! O outro, não quer saber de trabalhar, muito menos, no mesmo negócio que eu e que toda uma geração da nossa família. Este jornal, David, está com os dias contados!

David ficou desconcertado. Parecia que suas esperanças de subir na vida com aquele trabalho que ele gostava tanto e era seu primeiro emprego, haviam sido enterradas na lama. Mas, seu chefe, percebeu sua desilusão estampada em seu rosto, e disse-lhe:

Sei o quanto você gosta de trabalhar aqui! Mas, não tenho outro remédio, David! Quando a velhice e as doenças chegam, compreendemos que é hora de parar! Hora de ficar quieto, descansar e apenas recordar o que passou e foi bom! Tudo isto que você vê, daquele portão de entrada, até o pó nas prateleiras desse escritório... Fez parte da minha vida! É a minha história! David, agora, seja como for, meu filho, escreva a sua história! Você é muito jovem e tem sua vida inteira para escrever uma bela história! Você não depende somente disso! Isso é só o começo da sua história, enquanto eu estou perto do fim da minha!

David compreendeu o que o chefe falava e até se emocionou com suas palavras. No fim do dia, o Sr. Ashburty já havia conversado com todos os empregados do local, mas quando estava saindo, chamou David mais uma vez.

David! Venha cá! Quero dar-lhe algo!

David o seguiu. Ambos foram do lado de fora, no estacionamento. O chefe então, disse:

David, eu já dei alguns presentes para alguns dos meus empregados mais especiais! São presentes de despedida... Pois, a partir de agora, estou me despedindo de todos vocês! Minha saúde não me permite voltar mais... Enfim, meu filho virá com um advogado para dar-lhes o último pagamento e acertar tudo, mas, quanto aos empregados... Estes de que falei, os “especiais”, são pessoas da minha confiança! Alguns porque já trabalham comigo há um bom tempo, outros porque rapidamente conseguiram conquistar minha admiração e orgulho... Vocês faz parte destes últimos, David! Por isso, quero lhe dar um presente que tem um significado: não deixe a vida parar, nem pare na vida! Você tem ela inteira para viver!

Dito isso, o velho senhor entregou algo na mão de David e, puxando-o, disse:

Gosta?

David olhou para o que o velho apontava e era, simplesmente, um carro muito bonito. Um tanto antigo, se via que era usado já há algum tempo, mas estava em bom estado. Era amarelo claro, tinha rodas e detalhes cromados, com alguma ferrugem sim, mas nada que tirasse a beleza que causou logo no primeiro momento que David o viu. O Sr. Ashburty notou como os olhos de David brilharam e continuaram a conversa:

Acho que você gostou, não foi?!

– Puxa, s-senhor! É para mim? Mas...

– Sim, David! Você é um jovem brilhante e sinto que esse carro será muito útil para você como já foi para mim!

– M-mas, senhor! Eu não posso aceitar...

– Pode sim, David! Já viu o que eu coloquei na sua mão?!

Foi então que David abriu a mão e notou que o velho havia colocado uma chave, a chave daquele carro que agora era dele. David pensava consigo:

“Não sei se aceito por consideração ou por que gostei muito desse carro! É muito legal... e eu nunca tive um carro! Que faço? Se eu aceitar muito fácil, vou parecer um interesseiro... Se recusar muito, ele pode mudar de ideia... e eu quero muito um carro!”

Enquanto David pensava, o seu chefe foi saindo do estacionamento e entrando em um carro que estava lá para buscá-lo. David estava tão distraído que nem notou, mas quando percebeu já estava sozinho e o velho já estava indo embora. David correu atrás do carro que o velho estava gritando:

Espere! O que eu faço com este carro?

O senhor colocou a cabeça para fora e falou em voz alta, dando um tchau para David;

Faça o que quiser com ele! É seu agora! Boa sorte, meu filho!

David parou de correr. Entendeu que o velho, realmente, queria que ele ficasse com o carro. Afinal, era um presente de despedida como o velho falou e, aceitar aquele presente era, para David, como uma forma de agradecimento pelos ensinamentos que o velho tinha lhe dado durante seu estágio na sua empresa.

David estava inconformado por ter perdido o emprego, mas, por outro lado, estava feliz, pois agora ia voltar para casa com um carro novo. Era seu primeiro sonho se realizando. Era só o começo. David sonhava muito mais alto e sabia que realizar seus outros sonhos não seria tão simples assim.


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Notas finais do capítulo

continua...



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