–Dona Carmem! A pia ta com problema e agora a cozinha ta ficando toda alagada. –disse Ernestina entrando na sala.

–Cadê a Cíntia?

–Ela deu uma saída e não disse quando voltaria.

–Que ótimo! Agora vai sobrar pra mim! Descansem enquanto eu vou ver isso. –ela falou entrando na cozinha.

–Então, me conta, Luize. Ta gostando? –perguntou Duda.

–To, muito, todo mundo é muito legal aqui.

–E algum amigo em especial?

–Acho que a Vivi, e a Bia é muito engraçada... Além disso, tem a Ana e a Tati que são muito fofas... E é claro o Mosca é muito legal.

–O Mosca? –perguntou Duda com as sobrancelhas erguidas.

–É o Mosca, por que?

–A esse Mosca é um chato...

–Que nada, ele é muito legal!

–Ele já te contou da Mili?

–Não, mas eu já ouvi falar.

–Ela era aqui do orfanato, e o Mosca era amarradão nela. Mas eu tenho que admitir que eu também era, aí a gente brigou a beça...

–Então é isso, vocês viviam brigando, nunca pararam pra conversar.

–Ta bem... E você morava aonde?

–Na rua.

–E você sabe ler e escrever?

–Sei, eu tenho uma amiga que me dava roupas, e me ensinava tudo que aprendia na escola.

–Que escola ela estuda?

–Eu não sei o nome, só sei que é uma bem grande no final da rua.

–Jura? Uma com uns portões bem grande?

–Isso.

–Eu estudo lá! Qual é o nome dela?

–Juliana Marinho.

–Eu sei quem é, mas nunca falei com ela.

–Ela é muito legal...

–Você que é, adorei o seu jeitinho.

–Obrigada. –ela disse sem graça.

Os dois continuaram conversando, enquanto isso, Rafa e Mosca conversavam do outro lado da sala.

–Olha só ele... O Duda é um idiota mesmo... Ele da muito mole... Acabou de conhecer a garota e já ta dando em cima dela... –disse Mosca.

–Por que esse ciúmes todo?

–Porque a Luize é minha amiga.

–Sei...

–E eu também acho que o uma menina tão legal e bonita não pode ficar com um carinha desses.

–Então não deixa.

–Como assim?

–Vai lá e chama ela pra sair.

–Mas eu não posso... Ainda gosto da Mili.

–Mosca, a Mili já ta em outra cidade, com outro cara, com outros amigos, vai lá! Chama ela.

–Você tem certeza?

–Olha pra eles Mosca. –Duda e Luize riam bem alegres.

–Eu vou!-ele disse alegre. –Mas vamos esperar um pouquinho...

–Ta bem... –disse Rafa revirando os olhos.

Enquanto isso, Duda levou Luize para o jardim.

–Sabe... Se você estiver afim de sair um dia desses...

–Eu adoraria!

–Que bom, tem um filme muito bacana passando no cinema, você vai fazer alguma coisa amanha?

–Não vou fazer nada, não. Eu vou perguntar pra Cíntia se eu posso ir.

–Ela é maneira, ela vai deixar. –ele disse sorrindo. –Eu preciso ir, até amanha então. Eu passo umas três, pode ser?

–Claro. Até amanha!

Assim que ele saiu, Luize continuou sorrindo olhando pras flores.

–Luize, você pode falar? –perguntou Mosca entrando no jardim.

–Sim, pode vir. –ela disse olhando pra ele, ainda contente.

–Então... É que amanha... Eu estava pensando... Você quer ir no parque comigo?

–Eu adoraria, mas... Eu vou no cinema com o Duda.

–Ah ta... Entendo... –ele disse dando as costas.

–Mosca, ta tudo bem?

–Ta sim...

–Mas se você ainda quiser ir no parque, acho que da tempo. Eu posso trocar de roupa depois do almoço e a gente vai.

–A ta, ia ser maneiro.

...

Mosca estava esperando ancioso no primeiro andar. Assim que ela desceu as escadas ele se levantou animado. Ela tinha chegado na hora certa.

–Oi. Eu não me arrumei tanto já que a gente só vai ali do lado, né?

–Claro! Sem problemas! Vamos?

–Sim. –ela falou sorridente.

Assim que eles chegaram no parque ele puxou assunto.

–E então? Gostou do Duda?

–Sim, ele é muito divertido.

–Ele é um chato!

–Você só acha isso, porque viviam brigando por conta da... Esqueci o nome dela.

–A Mili.

–É, isso. O que houve com ela?

–Ela descobriu que na verdade a mãe dela é a filha do dono do orfanato e agora ta morando em Minas.

–E você ainda gosta dela?

–Eu... Faz muito tempo...

–Eu vi o jeito como você fica quando fala dela. Pode admitir, Mosca. Somos só amigos.

–Ta... Eu ainda gosto dela... Mas eu to tentando esquecer... Ela já até tem um namorado e ta em Minas!

–Mas se você gosta mesmo dela, você tem que correr atrás, Mosca.

–Você acha?

–Eu quero o seu bem, você é meu amigo. E se você quer ficar com ela, fica. –ela falou num tom doce.

–Você é minha melhor amiga, sabia?

–E você é o meu. Eu te devo muita coisa, se não fosse por você eu continuaria na rua.

–Você merece isso e muito mais. –ele disse lhe abraçando.