Pocahontas escrita por FaonLV


Capítulo 1
O novo mundo


Notas iniciais do capítulo

Desculpem ter demorado gente! Sara não me mata! Mary e Keth obrigada suas lindas!!! A fic ficou grande... Muito grande... Mas leiam, eu gostei muito de escreve-la. Espero que gostem.



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O novo mundo. Assim foram chamadas as novas terras descobertas do outro lado do oceano, terras que não tinham donos, terras prosperas, ricas... E cheias de jóias. Esse pensamento levou vários homens livres à navios e deles para uma jornada onde o objetivo era conseguir ouro e prata. Homens jovens e fortes, com toda uma vida pela frente eram seduzidos a tentar as sortes lá, jovens que queriam um futuro e um nome promissor que fosse lembrado por muitos. Jovens em busca de riquezas.

Capitão John Smith achava graça desses jovens, a espiritualidade deles era comovente, porém, nada sabiam o que os aguardava.

Debruçado na amurada do navio, John encarava a terra que se aproximava pouco a pouco, o cheiro de vento limpo e água do mar eram reconfortantes em comparação ao dos cavalos e perfumes fortes das ruas de Londres. Ao contrario de muitos, John não veio em busca de ouro, era um explorador, veio ao novo continente em busca de aventuras e de acordo com o governador Ratcliffe, ali ele as acharia se trabalhasse para ele.

O Governador era um homem grandalhão e roliço, as roupas cheias de riqueza deixavam clara em que posição social se encontrava, era um homem persuasivo e falava muito bem. Graças a sua lábia, trouxe vários jovens garimpeiros e colonizadores para as novas terras, famílias inteiras vieram a bordo do navio em busca de uma vida melhor, o que ele prometeu a eles e assim o faria, tinha as ordens da rainha para isso.

De sua cabine ele olhava as terras se aproximarem, sorriu e acariciou seu cachorro de estimação. Finalmente haviam chegado, ele não suportava mais aquele navio e seus sacolejes, mas ele sorria por outro motivo. A alguns meses um amigo o encontrou em Londres, havia enriquecido depois de voltar das novas terras e se gabava do seu feito.

– Grandes riquezas meu amigo! Grandes! – disse em um bar enquanto comemoravam sua fortuna. – Os nativos as escondem de nós, não seja enganado por eles! Os nativos, selvagens que não sabem dar o devido valor as jóias e ouro de suas terras. Mas nós... – o amigo sorriu e lhe apertou o ombro, o governador tinha os olhos curiosos e uma taça de vinho tinto nas mãos, sua curiosidade e avareza se mostravam despertas. – Nós sabemos aproveitar. Sabemos o valor... Não fará falta nenhuma aos nativos. Mas fará você e a sua família rica por gerações! – o amigo riu e Ratcliffe o acompanhou.

Logo depois do encontro, o governador foi até a corte e pediu terras à rainha, ele tinha uma posição respeitada, de família rica, seu pedido foi aceito e concedido prontamente. Em alguns dias conseguiu um navio e pessoas para levar para suas novas terras, garimpeiros que achariam o ouro e prata para ele e lhe dariam metade de tudo para ficarem em suas terras, e ele tinha John Smith. Ratcliffe abriu mais o sorriso, achar um capitão da guarda que queria ir para as novas terras foi um presente dos deuses, somente sua presença ali já daria aos outros a imagem de que existe uma ordem e que Ratcliffe realmente queria criar uma cidade.

O navio parou a alguns metros da costa, pequenos barcos foram descidos lotados de gente pelos marinheiros e depois conduzidos a costa. John e o garoto Thomas - que havia caído do navio à alguns minutos atrás mas logo fora salvo pelo próprio John -, vinham em um barco junto aos garimpeiros de Ratcliffe. Ao chegarem à areia, eles ajudaram as mulheres e crianças a saíram dos barcos e todos foram para o pequeno povoado não muito longe da praia.

– Estou tão animado! – dizia Thomas ao andar entre as pequenas construções. – Nem acredito que consegui embarcar! – John sorriu e lhe bagunçou os cabelos ruivos. Thomas não devia passar dos dezessete anos, John suspeitava que ele tinha menos que isso ainda.

– Bem, você quase não chegou. – Thomas bufou e John riu.

– Vamos esquecer disso, sim? – disse o garoto. John acenou que sim e seguiram caminhada junto aos mineiros, mesmo não estando ali por ouro, tentar a sorte não seria ruim não é? John ajeitou sua espingarda no ombro e continuou andando junto aos homens.

Em seus plenos vinte e dois anos, ele já era considerado passado da hora de casar, mas nunca achou uma mulher que realmente lhe agradasse. Seu espírito era livre, não conseguia ficar em um lugar só, gostava de aventuras, e que lugar melhor para achá-las que em um novo mundo?

Seu coração palpitava de emoção quando os empregados do governador os guiavam para dentro da floresta, John olhava a tudo atentamente, como uma criança em um circo. Seus olhos brilhavam de excitação, estava louco por adentrar aquelas árvores e encontrar coisas novas, quem sabe até um nativo? John sorriu com esse ultimo pensamento, uma das suas grandes curiosidades era em conhecer um nativo daquelas terras, só ouvira relatos sobre eles, e por estes, eram descritos por serem vorazes como animais, não falavam a língua da civilização e andavam nus pela floresta.

Os homens continuaram a seguir por uma trilha, adentrando cada vez mais a floresta, John podia ouvir o ruído de um rio ao longe e o cheiro da natureza virgem lhe invadia as narinas, ele podia ouvir os animais correrem e quebrarem os galhos dentre as árvores, os pássaros cantando em suas copas, tudo era fascinante.

– Vejo que está se divertindo capitão... – comentou Thomas, John deu um tapa na parte de trás da cabeça do garoto e riu.

– Chegamos homens! Sejam bem vindos a fortificação James! – berrou Ratcliffe na frente do grupo em suas roupas espalhafatosas vermelho sangue e roxo, John revirou os olhos para aquilo, era ridículo se vestir assim em um lugar como aquele, mas o homem tinha dinheiro, podia fazer o que quisesse. – Levamos três meses para construí-las! E é aqui que vocês viverão agora! Será o lar de vocês! – o homem sorriu e deu soquinhos na parede de madeira. – É bem rígida e manterá os selvagens longe de nós, assim como animais mais perigosos. Já foi encontrado ouro em um rio aqui perto, vocês podem tentar a sorte por lá. – Ratcliffe apontou para o lado onde John ouvira o rio. – Tem mercúrio o bastante aqui para seis meses, isso irá ajudar a vocês a encontrarem mais facilmente caso achem algum indicio de ouro. – John não gostou de ouvir isso, ele sabia o quão mal o mercúrio pode fazer a água e aos animais que a beberem, em seu íntimo torcia para que não encontrassem nada parecido com ouro no rio. – Temos pás e qualquer outra ferramenta que precisem, fiquem a vontade para usufruir delas. – os portões se abriram e Ratcliffe fez um aceno para dentro. – Eu desejo a boa sorte para todos...

Os homens saldaram o governador e entraram ruidosamente na fortificação, John foi arrastado com eles e quando conseguiu focar o lugar viu que era uma espécie de vila com duas torres de vigia e uma espécie de casa, onde John suspeitava que era o lugar onde o governador ficaria. Thomas correu a frente indo direto ao refeitório improvisado no canto da grande fortificação, fora as poucas construções, era um lugar aberto e amplo, havia também um estábulo e outros animais em uma das extremidades.

– Bem, nada mal. – John caminhou até um dos dormitórios apertando mais a alça da sua pequena bagagem e Thomas reapareceu para guiá-lo até o lugar onde ele mesmo já havia se instalado.

Naquela noite todos foram dormir após o pôr do sol, estavam cansados da viagem e a oportunidade de uma cama sem o sacolejo do mar era imperdível e impossível de ser adiada. John caiu na inconsciência sonhando com as árvores e escutando Thomas devanear sobre as riquezas que conseguiria ali. A fortificação James caiu em pleno silêncio, calma e tranquilamente, foi se misturando com a escuridão da floresta.

A manhã chegou devagar, os animais noturnos se retiravam para suas toca e as aves voltaram a cantar com o reaparecimento do sol.

– John! – Thomas sacudia o loiro que ainda dormia, havia apenas uma hora que o sol nascera e o garoto estava animado para começar a procurar jóias e metais preciosos, John era o único que ele conhecia e ele queria partilhar dessa animação com alguém.

– Levanta daí John! – chamou novamente, voltando a sacudir o outro, John murmurou algo e se sentou na cama espreguiçando-se, olhou para o lado e viu o ruivo o encarar. – Já estamos saindo!

John sorriu para o garoto coçando a nuca, olhou para o lado e viu suas coisas ainda dentro da mala, pegou uma muda de roupas e foi se trocar.

Na cantina os homens mesmo que ainda sonolentos estavam animados, a possibilidade de mudar de vida era animadora, tanto que acordar cedo não afetava aquela expectativa e esperança. Ratcliffe se sentava com seus homens em uma das mesas e levantou o copo em direção a John, que retribuiu o gesto já tendo consciência que o homem era agradecido por ele simplesmente estar ali, e se John continuasse a ter uma cama, comida e a possibilidade de explorar a mata, ele não se importava com isso. Thomas devorou seu café e esperou inquieto que John terminasse o seu próprio, logo os dois já estavam a caminho dos grandes portões com suas picaretas.

– Vai tentar achar ouro? – perguntou o garoto quando atravessavam a clareira em direção a uma ribanceira onde ouviram falar que já haviam encontrado pepitas de ouro antes. – Pensei que você tinha atravessado o oceano para explorar o novo mundo, não para achar meios de viver melhor no antigo. – o garoto riu e John sorriu.

– Tentar a sorte não vai mudar meus planos de explorar. Quem sabe eu acho algo aqui? Não é uma idéia ruim, nem perda de tempo. – o ruivo concordou e eles continuaram andando, a ribanceira era íngreme e dura, John e Thomas ficaram ali a manhã inteira escavando e quebrando as roxas, sem nunca encontrar nem uma joia ou metal.

– Mas que droga! – berrou Thomas se deixando cair sentado no meio da terra escavada e bebendo água no cantil. Ambos estavam sem camisa e as gotas de suor desciam pelos seus rostos e peito vermelhos pela exposição ao sol. – Pensei que seria mais fácil! Isso é trabalho demais! – John se apoiou no cabo na pá e encarou o ruivo.

– Achou é? – o loiro riu da ingenuidade do mais novo. – Encontrar ouro não é fácil assim, levará semanas até que alguém ache algo, Tom. É bom você ter essa consciência...

– Se eu encontrar pelo menos... – respondeu Thomas se pondo de pé novamente. – Não importa o quanto demore, eu ficarei feliz. – John concordou e eles voltaram a cavar.

– Por que você quer o ouro? – perguntou o mais velho, Thomas bateu em algo na pedra e dela caiu uma pedra dourada do tamanho da palma de sua mão, seus olhos brilharam de alegria ao se agachar e pega-la.

– Achei! – disse ele rindo, John olhou abismado para a pedra, era grande para o normal encontrado, Thomas conseguiria um bom dinheiro. – Eu nem acredito! – o garoto olhou para John após guardar a pedra na bolsa. – Quero o ouro para dar uma condição melhor a minha mãe e pai, venho de uma família pobre... Se eu ganhar dinheiro aqui, comprarei terras e os trarei para cá. Eles vão ter uma vida tranquila... – disse o garoto sonhador, John se sentiu sorrir e deu tapinhas em seu ombro.

– Boa sorte então, Tom. Espero que consiga o bastante... – o ruivo sorriu e apoiou a ferramenta nos ombros.

– Já podemos ir? – perguntou ele, John olhou para o céu, o sol estava ao pino e isso queria dizer que o almoço já seria servido na fortificação James.

– Podemos. – respondeu John pegando a camisa e a jogando sobre o ombro assim como a pá que usava. – Já tivemos sorte o bastante por um dia, não vamos abusar... – Thomas sorriu e eles voltaram para o acampamento.

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John se perguntava como as coisas saíram dos eixos tão rapidamente. Após o almoço daquele dia ele decidiu sair para explorar, não ia para muito longe, só queria ter ideia a dimensão do lugar e da vegetação, porém acabou ouvindo um barulho de cachoeira e se sentiu atraído por ele. No fim, acabou se perdendo.

Sua espingarda estava carregada e em suas mãos, pronta para atirar em qualquer animal que lhe atacasse, seus nervos a flor da pele, já era quase crepúsculo, e não importa o quanto corajoso fosse, John tinha conhecimento o bastante para entender que, sobreviver sozinho ali era quase impossível, com tantos animais carnívoros e noturnos. Ele podia sentir o suor frio descer por sua espinha, ele sabia que teria de ir para o sul, foi de lá que ele viera porém, ele não tinha como saber onde ficava o sul, sua bússola havia ficado na bagagem na fortificação.

Um barulho nas arvores o despertou totalmente dos pensamentos e ele parou de andar. Algo pareceu correr entre as árvores e vários pássaros foram espantados, John apertou a arma firmemente com o dedo no gatilho, as folhas voltaram a se mover a sua esquerda e John se posicionou para atirar.

– Não! – ouviu o grito antes de sentir seu corpo der esmagado por outro, sentiu que havia disparado, mas o tiro foi para o alto e sua arma foi jogada para longe de sua mão com a surpresa do impacto, depois de rolar cobre as raízes e folhas mortas sentiu a cabeça doer e rodar. – Meeko! – John ouviu a voz novamente e percebeu e ela vinha de cima dele, abrindo os olhos devagar pode sentir algo gelado na garganta e seu coração passou a disparar, ao mesmo tempo que voltou a fechar os olhos. – Não se mexa. – sibilou o dono da voz. – Meeko! – gritou o homem novamente. – Ah... – suspirou ele e a faca parou de apertar a garganta de John, porém não saiu dali. – Se você o tivesse acertado...

– Desculpe! – pediu prontamente. – Eu me assustei, não iria machucar o...

– Meeko. – disse a voz e John focou os olhos no rosto do homem que continuava sobre si o prendendo no chão com a faca na garganta. Ele tinha cabelos longos que iam abaixo dos ombros, pele acobreada e tatuagens de patas de algum animal no peito, porem, seu rosto era jovem, quase tão jovem quanto Thomas, supunha. – O que pensa que estava fazendo? – perguntou o garoto. John ficou mudo, ele havia encontrado um nativo! – Ei! – exclamou o garoto apertando mais a faca e trásendo John para a realidade. – Eu te fiz uma pergunta!

– Eu... Não era minha intenção... Eu vim em paz... Só estava explorando... - o garoto franziu o cenho e olhou para a direita, uma espécie de guaxinim arrastava a arma de John para entre as arvores. – Hei! – exclamou levantando o tronco para logo depois ser jogado para baixo pelo garoto. – Ele está levando minha arma, me dixe ir!

– Meeko! – chamou o garoto novamente e o guaxinim voltou, subiu por seu braço e se alojou em seu pescoço.

– Esse é Meeko? Você esta me ameaçando por um guaxinim?!- perguntou John incrédulo, o garoto fez uma cara confusa e se levantou devagar ainda apontando a lamina para ele.

John se sentou e o olhou, o nativo não estava nu, usava uma calça feita de pele e tecido. O guaxinim pulou do seu ombro e correu ate John, que se arrastou para longe até atingir uma árvore, o animal passou a farejá-lo e enfiou as patinhas em um de seus bolsos e correu para o nativo novamente, que se abaixou e deu o braço para o animal subir de volta para seu pescoço.

– O que ele tinha que você tanto queria? – perguntou o garoto ao guaxinim, o animal soltou um pacote nas mãos do garoto que o abriu, John apalpou os bolsos e viu que eram seus biscoitos. – Era isso? – perguntou.

– Se não quiser, eu os quero de volta...- disse John mal humorado. O garoto sorriu.

– Não perguntei a você... Estou falando com Meeko. – John bufou.

– Sim, um animal, um guaxinim ainda, você ameaçou minha vida e se atirou na frente de um homem armado por uma guaxinim?- perguntou ainda sem poder acreditar na situação, o garoto franziu os lábios.

– O que te faz pensar que eu não faria isso?

– É um GUAXINIM!!- exclamou. – Olha o tamanho desse bicho! Deve haver vários na floresta!

– Meeko é meu amigo. A vida dele vale tanto quanto a sua, a minha e de qualquer ser. – John franziu o cenho. – Vocês, brancos, são muitos, mas não julgam a morte de um de vocês sem importância por esse número elevado. – o garoto acariciou a cabeça do animal. – O mesmo se aplica a Meeko. – John negou com a cabeça e se pós de pé.

– Ótimo. Pode devolver minha arma? – perguntou ao garoto que sorriu zombeteiro.

– Não. – John o olhou incrédulo.

– Como não!?

– Você está fora dos limites de nosso trato pelas terras, bárbaro. Sua sorte é que me encontrou antes que outro guerreiro de meu povo o achasse e matasse por ter uma arma daquelas. – o garoto deu de ombros. – é melhor que fique sem ela, para que não faça mal a outro ser da floresta.

– Me devolva a minha arma! – exigiu.

O garoto riu e correu pela floresta com o animal em suas costas, John correu atrás dele por um tempo, mas acabou o perdendo de vista. Desesperado voltou pelo mesmo caminho, agora não apenas sem meios de se localizar, mas também sem proteção. Ele se sentou em uma árvore e escondeu o rosto nas mãos, agora ele poderia dizer que estava ferrado com toda a certeza. Amaldiçoou o garoto por ter corrido com sua arma e zombado dele daquela maneira, e se amaldiçoava por não ter sido capaz de se defender ou fazer algo quanto a ele.

John sentiu um ventinho na frente de seu rosto e olhou o que fazia aquilo, na sua frente um beija flor batia suas asas rapidamente e o encarava. John suspirou e tentou espantar o animal, mas este deu voltas em sua cabeça, voou para frente e voltou a dar voltas em seu corpo. John pensava que já estava enlouquecendo, o animal realmente estava mostrando queria que ele o seguisse?

O beija flor voltou a fazer os mesmo movimentos e John franziu o cenho se levantando e dando dois passos na direção que o pássaro ia, o animal deu uma pirueta no ar e disparou pela floresta. John pensou que definitivamente estava louco e analisou as opções, ficar ali e apodrecer ou ser comido, ou, seguir um passarinho brilhante pela floresta. Ele escolheu pela segunda, se fosse para morrer que não fosse de uma maneira tão insignificante. John ajeitou o capacete e viu o beija flor voltar a aparecer, parecia quase impaciente, John correu até ele e o pássaro voltou a disparar pela floresta.

Pocahontas estava escondido nas árvores vendo se o homem ia seguir mesmo Flit. Quase desceu de impaciência e levou ele mesmo o loiro para a fortificação na clareira, mas ele entendeu o recado e seguiu o beija flor pela floresta. Ele se sentou melhor no galho com os pés balançando e comendo os biscoitos, eram gostosos, Meeko comia também e parecia satisfeito com o achado.

Pocahontas olhou para a arma pendurada a dois galhos acima, era perigoso deixá-la ali, não podia levá-la a aldeia então só tinha um lugar que podia levar e que ficaria segura.

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– Você não vai acreditar no que eu encontrei hoje! – disse Pocahontas saindo dentre as árvores e assustando Nakoma que penteava os cabelos na beira do rio.

– Avisa quando estiver chegando!- ralhou ela desfazendo a trança e a refazendo novamente. – Você me assustou. – Pocahontas se sentou ao lado da garota e passou a jogar pedrinhas na água. – O que você achou? – perguntou Nakoma por fim, sabia que o amigo de infância estava louco para contar o que havia achado.

– Um dos bárbaros. – disse o garoto feliz e sorrindo. Nakoma arregalou os olhos e segurou os ombros do amigo preocupada.

– E você diz isso rindo? – perguntou apalpando os braços do garoto em busca de ferimentos. – Onde estava com a cabeça?

– Calma! – disse Pocahontas afastando a garota. – Ele estava sozinho e distraído, tirei a arma dele. – Nakoma deu um tapa no braço dele e se levantou.

– Então,onde está? Já entregou a seu pai? – perguntou seria, Pocahontas deu de ombros. – Pocahontas...

– Não diga nada a ele. Se ele souber que encontrei um deles vai me proibir de sair sozinho dizendo que é perigoso...

– Mas a arma...

– A escondi na arvore sagrada. – Nakoma arregalou os olhos.

– Você ficou maluco? – perguntou exasperada. – Você escondeu uma arma daquelas, que guardam o trovão e o fogo, na árvore sagrada? Na árvore dos ancestrais e deuses? Quer ser amaldiçoado?

– Não... Não vou deixar lá por muito tempo... Só... Por enquanto... Até achar um lugar melhor... – disse o garoto voltando a jogar as pedras no rio.

Nakoma não sabia mais o que fazer com o amigo, sempre que tinha chance Pocahontas escapulia como água nas mãos para bisbilhotar o acampamento dos bárbaros, aprender sobre eles... Até sua língua ele havia dominado, e isso era o que mais a assustava, só se aprende algo quando se quer por em pratica.

– Por favor... Me diz que você não quer tentar falar com eles... – Pocahontas olhou para o lago e Nakoma se ajoelhou ao seu lado. – Você não pode! Eles nos chamam de selvagens, você será morto assim que pisar fora da floresta!

– Eu não sou tolo. – cortou o garoto. – Sei o que eles pensam e fazem, não vou arriscar minha vida por algo assim.

– Então...

– Só fiquei curioso... – ele olhou para a amiga e apertou sua mãos. – Não se preocupe, não vou atrás deles. – Nakoma assentiu incerta e olhou o céu vendo o quão tarde estava, se levantou pegando sua cesta repleta de peixes e os dois seguiram o rio até as plantações de trigo e milho.

O sol já estava se pondo dando ao céu a coloração rosada e laranja, o trigo era dourado naquela luz e chacoalhava ao mesmo ritmo do vento, suavemente, vagarosamente, como em uma dança graciosa. Uma brisa passou pelos dois e Pocahontas fechou os olhos para sentir totalmente, o vento era seu guia, sua alma era como ele, indomável e curiosa, ia a onde sentia que devia, mesmo que isso causasse dor de cabeça ao seu pai, Powhatan, o chefe da aldeia.

Como líder ele temia por seu filho que tomaria seu lugar futuramente, seu espírito indomável era forte, porem instável. Ser o líder exigia mais que força e mais calma. Pocahontas era tudo, menos calmo. Quando tinha impulsos fazia o que queria e nada o parava, ordens e repressões estavam longe de impedi-lo quando queria algo. O chefe indígena se encontrava sentado entre o pequeno circulo entre as raízes de frente a árvore sagrada, orava aos antepassados e deuses da floresta por proteção.

Na noite interior ele tivera uma visão, viu luta e derramamento de sangue de seu povo acompanhados do som de trovão e fogo das armas dos bárbaros. Estava com medo, medo de que a guerra chegasse e destruísse tudo, medo por seu povo, pela floresta...

Powhatan tocou carinhosamente as raízes a sua volta e olhou o grande salgueiro a sua frente, o vento chacoalhou duas folhas e seu cabelo, Powhatan fechou os olhos e pediu ao vento para guiar Pocahontas para um caminho seguro e como resposta o vento ficou mais forte e rodopiou a sua volta levantando as franjas de suas roupas e seu cabelo, o chefe teve um mau pressentimento e se pôs de pé, tocou o tronco da velha árvore e pediu força para o que estava por vir.

Dentre as arvores da floresta o vento passava levantando folhas secas e carregando as orações do chefe indígena, correndo entre os troncos, fazendo pequenos redemoinhos , e tocando gentilmente as criaturas que encontrava, como uma mãe acariciando gentilmente a cabeça de seus filhos ao passar por eles. Com sua corrida a noite chegou e se foi, o dia amanheceu e com o levantar do sol os nativos já estavam fazendo suas atividades diárias, o vento encontrou seu caminho de volta a aldeia e bagunçou os cabelos de Nakoma ao encontrá-la, os jogando pra frente do rosto. Pocahontas que estava ao seu lado se espreguiçando riu e prendeu o próprio cabelo com uma tira de tecido, eles pegaram suas ferramentas e saíram para colher o trigo.

– Eu já sei o que farei com arma... – comentou Pocahontas deitado entre o trigo mastigando um, Nakoma o olhou sobre o ombro, estavam no meio da plantação e suas cestas já estavam cheias, decidiram descansar ali mesmo e apreciar a brisa e sol da manhã.

– E o que vai fazer? Jogar da cachoeira? – perguntou cínica. Não havia lugar seguro para algo como aquilo, a não ser com o chefe da aldeia.

– Não. Que desperdício seria isso Nakoma! – disse o garoto se sentando, Nakoma, que trançava uma coroa com o trigo, riu e se virou para o amigo.

– Só espero que não me dê àquilo como presente de casamento, se fizer isso eu te acerto com ele! – disse a garota colocando a coroa no amigo agora corado, Pocahontas sempre se esquecia desse pequeno detalhe. Ele e Nakoma eram destinados a se casarem. Bem, não era todo ruim, ele seria chefe da tribo e ela é a segunda filha da xamã, porém acima disso eram amigos e se davam muito bem.

– Terei de caçar um alce para você. – bufou ele ajeitando a coroa na cabeça. – Sabe o trabalho que vai me dar? – perguntou e a garota riu.

– E eu terei de suportar você pelo resto da vida. Caçar um alce é pouco comparado a meu sacrifício...

Pocahontas revirou os olhos e voltou a deixar o corpo cair para trás, sentiu o sol esquentar sua pele e fechou os olhos. Ele havia passado metade da noite em claro pensando em o que faria com aquilo, deixar na árvore por mais um dia era burrice, ele não queria ser vitima dos deuses por desrespeito ao lugar sagrado, mas durante a madrugada teve a ideia que resolveria dois de seus problemas.

– Onde você vai esconder? – perguntou Nakoma, agora interessada e preocupada.

– Vou destroçá-la. – respondeu fazendo um gesto de agarrar e torcer. – Com minhas próprias mãos e enterrarei os restos. – Nakoma assentiu aliviada e se levantou.

– Já está na hora de irmos. – disse jogando os cabelos longos para trás, Pocahontas se levantou retirando a coroa e ficando de frente a garota, colocou o trigo trançado em sua cabeça e acariciou seu rosto, Nakoma sorriu.

– Obrigado por se preocupar comigo... – disse o garoto e a menina assentiu.

– O que seria de você sem mim? – Pocahontas riu, pegou sua cesta e seguiram juntos para a aldeia.

Ele colocou a mão sobre o colar, que antes pertencera a sua mãe, e que seu pai o havia dado de presente em seu aniversario de dezessete anos. Era algo precioso, passou de líder a líder da aldeia, era o presente de noivado do homem para a mulher e da mulher ao filho primogênito. Porém sua mãe havia morrido quando ele ainda era uma criança, quebrando o ciclo, o que fez o colar voltar para seu pai.

Pocahontas sentia falta da mãe, mas sempre que sentia o vento lhe rodear era como receber um abraço maternal, toda vez que corria e pulava da cachoeira e o sentia levantar os cabelos sentia sua mãe ali, o olhando e protegendo, e toda vez que apertava a joia azul como o céu noturno em seu pescoço em suas mãos sentia que ela estava por perto. Ele tinha a mania de sempre fazer isso, segurar o colar entre os dedos, quando tem uma ideia que sabe que será perigosa, ou quando está apreensivo. Neste caso, era pela primeira opção.

O que Pocahontas realmente queria fazer com a arma era algo que colocaria sua vida em risco, porém, era uma oportunidade única de conhecer o povo bárbaro e seus costumes. Pocahontas não sabia quando havia começado com essa obsessão, mas desde que foi com seu pai na aldeia dos brancos pela primeira vez ele havia se encantado pelo lugar, as cores das pessoas, como falavam e se vestiam, era tudo tão diferente do seu povo de cor acobreada e cabelos negros...

Os bárbaros eram, em sua maioria, brancos, com a cor dos cabelos variantes de amarelos como o sol, dourados como o ouro, brancos como as nuvens, vermelhos como o fogo e marrons como casca de cacau; Usavam vestimentas coloridas como flores nas mulheres e tons pasteis e escuros nos homens, os mais ricos usavam cores fortes como vermelho, roxo e azul.

Pocahontas amava todas elas e queria vê-las de perto, mas seu pai o levava apenas para tratar de negócios a fim de evitar conflitos e para que o pequeno aprendesse como agir com aquela gente tão diferente,mas o que ele amava, sobretudo, eram os navios, as grandes embarcações que poderiam levar todos de sua tribo para o outro lado do mar, que sempre trazia gente de um mundo distante para suas terras, ele asseava por um dia poder viajar em um desses e conhecer mais daquela gente colorida e diferente.

E em busca de satisfazer sua curiosidade, ou o mínimo dela, Pocahontas saiu naquela tarde somente dizendo a Nakoma para acobertá-lo e seguiu Meeko pela floresta. Na árvore sagrada ele se ajoelhou e pediu perdão por ter escondido algo como aquilo ali, mas que não tinha outra opção, esperou seus nervos se acalmarem e pensou novamente no que ele estava fazendo, pediu aos antepassados para o protegerem, ele não desistiria agora que tinha um jeito de saber o que queria.

Olhou os raios do sol que passavam através das folhas do salgueiro e protegeu os olhos, se lembrou do rosto do homem que encontrou na floresta ontem e se perguntava se iria conseguir o que queria dele.

Pocahontas estava sentado em uma pedra olhando para a arma, ele a havia olhado de cima a baixo, decorando como era e tomado cuidado com o pequeno ferrinho que a fazia disparar, estava curioso como aquilo funcionava. Meeko guinchou ao seu lado e ele olhou para frente, dentre as árvores Flit apareceu disparando para frente a seu encontro.

O pequeno pássaro pousou em sua mão a frente de seu rosto e Pocahontas acariciou sua cabeça com o dedo e depois sua barriga, suspirou e olhou para a copa das árvores. Ele sabia que o homem provavelmente não viria, mas ainda tinha tido a esperança, ajeitou o arco nas costas e se levantou segurando a arma, Meeko voltou a guinchar para as árvores e seus pelos das costas se arrepiaram, Pocahontas sentiu o coração palpitar no peito e olhou para o lugar.

John Smith não sabia o porquê de ter seguido aquele pássaro novamente para dentro da floresta, ontem se sentiu extremamente aliviado ao chegar à fortificação por ter seguido o animal, mas não pensava que iria vê-lo novamente depois daquilo, era impossível. Mas naquela tarde, enquanto ele escavava a ribanceira com Thomas, o pássaro apareceu e ficou o rodeando por alguns minutos, Thomas achou curioso e queria capturá-lo, mas John achou melhor não.

Já cansado do zumbido do animal e curioso, John deu uma desculpa qualquer a Thomas e seguiu o pequeno pássaro para entre as árvores, levando a picareta sobre o ombro. Dentro da floresta, o pássaro ia e voltava para guiá-lo, John não sabia aonde estavam indo, e sua curiosidade vencia a preocupação de se perder. Quando atravessou a ultima arvore por onde o pássaro havia sumido ele parou de andar. Na sua frente o nativo do dia anterior o encarava, meio segundo depois o garoto sorriu parecendo feliz em vê-lo.

– Você veio mesmo! – exclamou o garoto e John ficou confuso, o garoto beijou a cabeça do beija flor e o pássaro voou em volta de sua cabeça. – Obrigado Flit! – John então entendeu o que estava acontecendo e sentiu um suor frio lhe descer pela espinha, controlou a respiração e deu um passo em direção às árvores, o nativo o olhou antes que ele conseguisse entrar na floresta e deu um passo em sua direção, parecia preocupado. – Não! Espera! Eu não vou fazer mal a você... – John não confiou muito, o governador o havia prevenido sobre os selvagens, disse que eles matariam sem pensar duas vezes e lhe comeriam a carne, John não acreditou nessa ultima parte, mas sobre matar, John sabia que os nativos tinham muito motivo para fazê-lo.

– Por que eu acreditaria em você? Ontem me ameaçou com uma faca... – esclareceu John dando mais um passo para trás.

– Eu... Eu achei que você iria matar Meeko... Me desculpe por aquilo. – disse o garoto ansioso, os cabelos pretos estavam se soltando do rabo de cavalo baixo e moldavam o rosto jovem, John suspirou e se obrigou a parar de recuar. Encarou o garoto novamente, estava armado de sua espingarda e um arco, e John somente a picareta, que não serviria para nada naquele momento. – O que quer que eu faça para que você confie em mim? – perguntou o garoto. John o encarou, se perguntava o que ele queria consigo. Não tinha motivo nenhum para chamá-lo ali, já havia roubado sua arma e biscoitos, o que queria agora? Suas roupas?

– Me devolva minha arma. – respondeu cruzando os braços diante do peito nu, o garoto o encarou e sorriu de lado travesso.

– Faremos uma troca então... – John levantou uma sobrancelha questionando e o garoto pegou a arma entre as mãos.

– O que mais você quer? Já tem minha arma, não tenho mais nada a oferecer... – o garoto negou com a cabeça.

– Te devolvo sua arma se você me contar como é que as coisas funcionam em seu povo, começando por essa arma e pelos navios... – disse o garoto serio, levantando os olhos para John, o loiro coçou a nuca, não era problema nenhum contar a um nativo sobre seu povo, fora que ele mesmo estava curioso para saber como o povo dele vivia, John então encarou o garoto novamente e sorriu.

– Eu aceito... – o garoto sorriu e caminhou ate John, cuidadosamente, lentamente. – Mas... – ele parou de andar e encarou John com cautela, o estudando, John alargou o sorriso. – Você não é o único curioso, eu te digo sobre meu povo se você me contar do seu... – o garoto acenou que sim e deu um passo para trás. – O que foi?

– Preciso de algo em troca. – o nativo sorriu zombeteiro. – Informação por informação, mas seria injusto eu devolver a arma sem receber algo em troca...

– Mas você a roubou de mim!- exclamou John e o garoto deu de ombros invalidando o argumento com esse ato.

– Essa não é a questão, ela agora me pertence e para tê-la de volta você tem de me dar algo. – John bufou, não tinha nada que pudesse dar em troca da arma,massageou as têmporas e mordeu o lábio. – Mas... Podemos fazer um outro trato... – John levantou o olhar para o garoto que havia se sentado na pedra com uma perna flexionada e a outra esticada. – Se me der sua palavra, eu guardarei a arma em um lugar seguro até que você tenha algo para trocar comigo. – John suspirou vencido, não podia fazer nada a não ser aceitar aquilo.

– Tudo bem... – o garoto lhe sorriu. – Quanto tempo eu tenho?

– Você só veio explorar ou para ficar? – questionou o garoto, John revirou os olhos.

– Não é educado responder uma pergunta com outra. E eu não me decidi ainda.

– Então ate que você se decida. – disse o garoto olhando para a copa das árvores. – Amanhã, mandarei Flit atrás de você novamente. – ele olhou para John. – Se quiser saber do meu povo, venha atrás dele, ele te levará a onde eu estiver.

– Tudo bem... – respondeu John e o garoto e pôs de pé e caminhou até ele.

– Qual é seu nome? – perguntou esticando a mão, John sorriu e lhe cumprimentou.

– John Smith.

– É um prazer Sr. Smith. – disse o garoto soltando sua mão. – Espero que as coisas sejam fáceis entre nós. – o garoto se virou de costas e se afastou.

– Mas... E o seu nome? – perguntou John confuso, o garoto deu um risinho.

– Você não tem minha confiança para saber dele ainda. – respondeu correndo para as árvores com o guaxinim atrás dele.

– Isso é injusto garoto! – ele pode ouvir sua risada dentre as árvores e passou as mãos pelo cabelo.

John realmente queria saber sobre os nativos, aprender sobre eles, mas nunca pensou que seria tão fácil encontrar um sociável o bastante para conversar com ele sobre isso, sua mente ainda raciocinava sobre a estranha conversa e trato que acabou de fazer e como em um estalo ele se lembrou que não sabia como voltar para a fortificação James. John crispou as mãos e chutou um punhado de folhas frustrado, perdido na floresta pela segunda vez em menos de um dia! Que maravilha! Quando se controlou e abriu os olhos viu que o pequeno pássaro que lhe trouxe ali voava a sua frente, suspirou aliviado, sorriu e lhe acariciou a barriga.

– Você será nosso meio de comunicação? – o pássaro apreciou o carinho e fez um barulho estranho, John sorriu e o animal disparou pelas arvores, o capitão o seguiu como no dia anterior, mas dessa vez sem sentir que havia enlouquecido por este ato.

~~~~~~♦~~~~~~

Pocahontas não dormiu direito naquela noite novamente, estava ansioso demais para isso, a manhã com Nakoma pareceu se arrastar e a amiga percebeu a estranha inquietação do garoto, até perguntou o que estava acontecendo e este fugiu das perguntas de todas as maneiras possíveis. Quando a tarde chegou Pocahontas amarrou a faca na perna e correu para a mata, mesmo ansioso não podia confiar tão fácil em um bárbaro, não cegamente dessa maneira.

O nativo correu entre as árvores e encontrou Meeko no caminho, acariciou sua cabeça e o deixou subir por seus braços ate seu ombro, onde o animal se enroscou em seu pescoço. O sol passava entre as folhas das árvores fazendo a floresta ter intervalos entre sombra e luz, Pocahontas conhecia o lugar como a palma da mão e corria sem encontrar grandes obstáculos, ao longe podia ouvir o barulho da cachoeira onde planejava ir e se encontrar com John Smith, o cheiro da água e terra molhada já invadia suas narinas o fazendo sorrir.

Quando chegou ao local, estava arfando, caminhou lentamente pelo espaço aberto até a queda d’água e se agachou ali, viu seu reflexo na água, e na imagem ele tinha em suas bochechas a coloração avermelhada pelo esforço, se sentou na margem e bebeu da água com as mãos em concha. Depois de se recuperar colocou os pés dentro da água sentindo uma sensação gostosa lhe subir para o corpo, aliviante e refrescante.

Molhou o rosto e olhou em direção a floresta, John estava demorando, e o garoto se perguntava se o loiro havia desistido do trato. Meeko, que havia sumido á minutos atrás, havia voltado e se deitado sobre o colo de Pocahontas, que fazia carinho em suas costas, o garoto não conseguia ficar com as mãos e pés parados, estava ansiosos demais, cada minuto o fazia querer se mexer mais, por que o homem demorava tanto?

Depois de mais alguns minutos a inquietação de Pocahontas desapareceu, agora se sentia desapontado, ele realmente achou que finalmente iria entender o povo bárbaro, mas parece que se enganara. Suspirando se pôs de pé e encarou a cachoeira a sua frente, a água cristalina descia com força sobre o rio e as pedras em sua base eram pontudas e grandes, a água respingava pela margem e lhe salpicavam o peito e a frente das calças de pele.

– Olha, da próxima vez, marque em um lugar com menos raízes e pedras no caminho. – Pocahontas sentiu o coração disparar no peito e se virou para trás, John Smith saia dentre as árvores acompanhado de Flit.

– Pensei que não viria. – disse o garoto feliz e o homem levantou a sobrancelha.

– Temos um trato certo? – disse o loiro sorrindo, Pocahontas assentiu também sorrindo, John coçou a nuca e encarou o garoto andando sem sua direção. – Agora que estou aqui, eu posso fazer a primeira pergunta?

– Não vejo por que não. – disse Pocahontas animado se sentando sobre uma pedra, John bebeu água da cachoeira e depois se sentou de frente para ele.

– Onde aprendeu nossa língua? – Pocahontas mordeu o lábio e olhou para baixo, era constrangedor dizer sobre isso para as pessoas de sua tribo, eles sempre o criticavam por ter aprendo falara língua Bárbara, mas ao voltar o olhar para o loiro se lembrou que ele não era seu povo e que talvez não o repreendesse por aquilo.

– Eu sempre fico observando quando um de vocês vem à floresta, às vezes até vou para perto do vilarejo, com os anos apenas observando, acabei aprendendo... – John arregalou os olhos, admirado.

– Você deve ser muito inteligente para aprender uma língua assim... – Pocahontas corou um pouco com o elogio.

– Agora sou eu. – disse sorrindo. – Como funciona sua arma? Que magia existe nela que invoca o barulho do trovão e o fogo? – perguntou ansioso e John não conteve o riso, Pocahontas fez um bico resignado. – Não ria de mim!

– Não é de você garoto, é da pouca informação de seu povo. – Pocahontas fechou a cara.

– Meu povo é muito sábio que o seu... – sibilou e John percebeu que estava seguindo pelo lado errado a conversa, se recompôs e olhou o garoto.

– Desculpe, não quis dizer isso, mas é que para meu povo, essas coisas de prender coisas e aspectos da natureza em algo é impensável. Não quis ofender seu povo nem nada, sei muito bem que vocês tem o conhecimento da natureza e da terra que o meu esta longe de compreender. – Pocahontas ficou satisfeito com essa resposta e John decidiu responder a pergunta anterior. – Usamos pólvora, uma pequena explosão acontece lá dentro e da impulso à bala para fora e para frente. Não há magia. – Pocahontas assentiu meio decepcionado, esperava algo mais grandioso, John riu. – Você esperava algo mais emocionante?

– De certa forma. – o garoto deu de ombros e olhou serio a cachoeira. – Algo que matou tantos de meu povo ser tão simples é meio que revoltante. – John sentiu o peito se apertar, ele sabia das atrocidades cometidas pelos seus aos nativos pela disputa de terras e ouro, e por isso, ele ainda se perguntava o porque daquele garoto querer conversar e saber sobre as pessoas que mataram sem piedade tantos do seu povo.

– por que você quer nos conhecer? – Perguntou John e Pocahontas o olhou sem demonstrar nada. – Por que querer saber sobre os que te matam?

– Por que quer nos conhecer? – rebateu garoto. – Por que quer conhecer algo que irá destruir depois? Qual o sentido disso? – John ficou calado e Pocahontas continuou e olhou nos olhos azuis do homem. – Quero entender vocês, quem sabe assim evitaremos guerra?! Ao entender um ao outro, poderemos cooperar e viver em harmonia, como a lua e as estrelas, juntos, mesmo com suas diferenças, cada um com seu papel e lugar, mas sem tirar o brilho e importância do outro.- John o encarou e piscou algumas vezes.

– Isso seria um ótima ideia... – Pocahontas sorriu.

– Sou cheio e boas idéias. – John riu e olhou ao seu redor.

– Então... Como é a divisão do trabalho de seu povo? Onde vivem? – Pocahontas sorriu animado e desceu da pedra se sentando de frente a John.

Com um graveto o nativo contou a ele como era dividida a aldeia por meio de um desenho, o homem achou muito interessante como era a divisão dos lugares e ficou admirado quando o garoto lhe contou sobre os trabalhos e plantações. Os nativos eram fascinantes aos olhos do capitão, a cada palavra do garoto, a cada resposta, fazia John pensar em como sua gente compreendia as estações e uso da terra de uma maneira que ele nunca ouvira falar, mas que de acordo com o garoto, funcionava desde centenas de anos atrás.

Quando John explicou a Pocahontas sobre as pessoas, sobre seu pais e navios, pode ver que os olhos do garoto brilhavam de pura animação e admiração. Pocahontas fazia comentários sobre as roupas e John lhe contava o porquê delas, contava sobre as coisas banais e a monarquia, e o garoto parecia compreender e se não, fingia que sim. As horas foram passando e, sem que eles se dessem conta, o crepúsculo já se instalava sobre eles.

– Acho que hoje terá de ser só isso... – disse John suspirando, ele estava gostando de conversar com o garoto, Pocahontas olhou o céu alaranjado pelo por do sol e depois voltou a olhar John.

– Infelizmente, sim. – o garoto se levantou e estendeu a mão ao loiro, que aceitou e se levantou também. – Meu nome é Pocahontas. – disse ele sorrindo, John levantou uma sobrancelha e sorriu apertando sua mão.

– Foi um prazer, Pocahontas. Já sou digno de sua confiança? – perguntou e o garoto soltou sua mão sorrindo travesso.

– Não. Mas já temos um começo. – Pocahontas olhou em direção a aldeia. – Você aceita se encontrar comigo aqui amanhã também? – John sorriu e acenou que sim, fazendo o garoto sorrir.

– Foi divertido passar esse tempo aqui, podemos fazer isso mais vezes, nos conhecer melhor... – propôs o mais velho e Pocahontas abriu mais o sorriso.

– Isso seria muito bom! – Meeko guinchou para o garoto que o encarou e suspirou. – Tenho que ir e Flit vai te levar de volta antes que fique escuro...

– Tudo bem. – disse John olhando o pássaro. – Amanhã ele ira me achar? – Pocahontas assentiu. – Então boa noite, Pocahontas...

– Boa noite, Sr. Smith. – respondeu o nativo divertido e correndo para as árvores, John seguiu para o lado oposto sendo guiado pelo pássaro.

Depois daquele primeiro encontro John e Pocahontas se encontravam quase todos os dias, trocavam informações sobre seus povos e quando, semanas depois, já sabiam tudo sobre suas culturas, passaram a se conhecer, a falar de si mesmos e gradativamente foram se aproximando e se tornando amigos. Pocahontas ao descobrir que John gostava de explorar fez questão de guiá-lo pela floresta, mostrar cada rio, cada cachoeira, caverna ou gruta, o ensinou como sobreviver na mata e a se proteger dos animais, assim como a respeitá-los.

E quando John soube da paixão de Pocahontas por navios, passou a contar como era estar em um, como funcionava e sua imensidão, falou sobre as pessoas que viajavam neles e seus motivos, contou sobre o mar e as lendas sobre ele, Pocahontas ouvia a tudo com um sorriso no rosto, sedento para saber e entender cada vez mais sobre o assunto. Em uma das visitas de John ao povoado para buscar suprimento para a fortificação James, ele comprou um barquinho de madeira para Pocahontas e foi a partir desse brinquedo que as coisas começaram a se desenvolver entre eles.

– Olha... – disse o mais velho colocando o brinquedo na água do rio e dando um empurrão leve e soprando as velas.

O barquinho passou a flutuar na água e Pocahontas se inclinou sobre a água para ver melhor, estava encantado com o barco, era de madeira pintada de branco e grande o bastante para que fosse necessário segura-lo com os dois braços, as velas eram do mesmo material das velas de um navio normal e saber disso só fez o entusiasmo do garoto com o brinquedo aumentar.

– Eu... É perfeito! É lindo, John! – disse o garoto tirando o barco da água e o colocando em terra e mexendo em suas velas. – Você quem fez? – John coçou a nuca e corou.

– Na verdade, não. – riu sem graça e se agachou para ficar na altura do garoto. – Eu o vi no povoado quando sai com Thomas, achei que você ai gostar... Já que não pode ver um em tamanho real tão de perto... – Pocahontas soltou o barquinho e se inclinou para frente abraçando o loiro, que teve de se equilibrar para não cair com o peso extra.

– Obrigado! É... O segundo melhor presente que já ganhei na vida! – Pocahontas se afastou do maior que se encontrava corado.

– O primeiro é esse colar? – perguntou John pegando a jóia entre os dedos do pescoço do garoto.

– Sim...- disse Pocahontas olhando o loiro enquanto ele mexia na joia, e sentindo o calor de sua mão sobre seu peito. – Era da minha mãe...

– É muito bonito. – constatou o capitão soltando à joia e se sentando de frente ao garoto. – Tem muitas pedras assim nas terras de seu povo? – Pocahontas negou com a cabeça.

– A centenas de anos, talvez tivesse, mas hoje, não tem nada parecido com isso ou com o metal que você chama de ouro e prata. – John assentiu.

– Bem, isso não importa realmente, só é menos um lugar a procurar... – Pocahontas riu e John sorriu ao ver esse ato, amava ver aquele garoto sorrir, era uma das coisas mais bonitas que já vira, esticou a mão e tocou o rosto de Pocahontas e este permitiu.

– Você é muito bonito Pocahontas... – disse acariciando sua bochecha, o garoto sorriu.

– Nakoma vive me dizendo isso. – o garoto riu. – Mas... Você também é bonito Sr.Smith. Seus olhos me lembram o céu e seu cabelo, o trigo ao pôr do sol... – Pocahontas passou as mãos pelos cabelos do mais velho, eram sedosos. – Olhar para você me lembra tardes tranquilas de verão...

John se sentiu encabulado pelo elogio, já havia alguns dias que ele se sentia atraído por tocar o garoto e quando finalmente o fez, acariciando o seu rosto como agora, Pocahontas não se afastara ou repudiara como outro faria, apenas fechou os olhos e sentiu o carinho. John amava isso nele, essa inocência, e ao mesmo tempo pensamento rápido, seu espírito aventureiro e corajoso, mas que se surpreendia e parecia gostar das menores coisas que John fazia. Ele nunca havia se sentido assim antes, e nem sabia o que era, mas ele gostava, e não queria perder aquilo.

– Vocês vão se casar não é? – Perguntou John tirando a mão do rosto do garoto, Pocahontas concordou com a cabeça.

– Mas somente na próxima primavera, quando eu terei de matar um alce para ela. – Pocahontas revirou os olhos e John riu. – Não ria! Sabe o trabalho de matar um animal daquele tamanho? Ainda mais quando eles andam em bando. – John se obrigou a conter o riso, Pocahontas se deixou cair para trás, se deitando na grama. – Um dia desses vou te levar para o penhasco, de lá da para ver a os alces, ai você me diz se vai ser fácil...

John sorriu e encarou o garoto, seus cabelos grandes que formavam uma espécie de halo negro ao redor de sua cabeça quando se deitava sobre a grama, a pele acobreada que escondia os músculos esguios e fortes, os olhos negros brilhantes que olhavam atentamente as nuvens, ele sentiu vontade de se inclinar e beijar os lábios carnudos do mais novo, mas tinha medo do que aquilo podia resultar. Caso se assustasse, Pocahontas fugiria como uma raposa pela floresta e com certeza John não voltaria a vê-lo, por isso controlou seus impulsos e ficou apenas admirando a beleza que existia no garoto, tão diferente de todos que o cercavam na fortificação James e nas cidades britânicas.

– Por que esta me encarando? – perguntou Pocahontas se virando de lado e apoiando a cabeça no braço.

– Só estou admirando. – Pocahontas sorriu. – Sabe... Eu já tenho algo para trocar com você pela minha arma... - disse por fim desviando os olhos e ouviu a risada do nativo.

– Ótimo, quando vai me oferecer? – perguntou ele e John voltou a encará-lo sorrindo.

– Amanhã. – respondeu por fim e Pocahontas assentiu e se sentou pegando o barco nas mãos.

– Pensei que você ia querer a arma em troca disso... – disse ele, John encarou o brinquedo e bagunçou os cabelos do garoto.

– Não, isso é um presente. – Pocahontas olhou para o brinquedo novamente e o analisou de frente ao rosto. – Eu sabia que você ia gostar dele, quando vi só pensei em trazer e dar a você. – Pocahontas assentiu.

– Já que você me deu um presente, imagino que eu deva te dar um também... – o nativo colocou o brinquedo no chão novamente. – Mas eu não trouxe nada para você... - John negou com a cabeça.

– Só de ver a felicidade que você ficou ao ver o barco já vale como recompensa... - Pocahontas negou com a cabeça.

– Eu tenho que te dar algo John. – o garoto esticou a mão tocando o rosto do mais velho e olhou em seus olhos. – Só espero que você goste disso do mesmo jeito que eu gostei do barco...

John sentiu o coração palpitar no peito quando o garoto se inclinou para frente e selou seus lábios enquanto acariciava sua face. De inicio, tomado pelo choque, ele não reagiu, mas aos poucos foi tomando consciência da situação e puxou Pocahontas pela nuca para mais perto aprofundando o beijo. John podia sentir o vento os rodear e levantar sua camisa e cabelos assim como os de Pocahontas, podia sentir Flit voar ao redor se suas cabeças e ouvir o barulho do rio...

Mas aquelas coisas pareciam estar a quilômetros de distância, seu corpo e mente tinham como foco o corpo do nativo a sua frente, as bocas coladas e as línguas se acariciando mandando sensações de prazer por seu corpo. O que existia além daquele momento não importava a John Smith e o que existia além do bárbaro não importava a Pocahontas.

Nakoma sentiu o vento jogar seus cabelos para trás enquanto assistia a cena a sua frente, os olhos ardiam, mas ela não se permitia fechar os olhos. Pocahontas beijava um bárbaro, e ela não iria acreditar nisso se alguém a tivesse contado. Nakoma tirou os cabelos que ricocheteavam da frente do rosto e os amarrou. Há semanas ela vinha percebendo que Pocahontas se tornava cada vez mais distante, mais ansioso, mais disperso...

Ela começou a desconfiar e se preocupar com as sumidas do amigo e naquele dia ela havia o visto sair sorrateiramente da plantação de milho, e curiosa, foi atrás. Nakoma ficou escondida atrás das árvores por todo o tempo, achou estranho eles se encontrarem ali, perto do rio, mas afastado de mais de qualquer lugar para que fossem pegos. Mas o tempo todo pensou que só fossem amigos, até o bárbaro começar a tocar seu amigo, e agora, vendo que Pocahontas foi quem o beijara, Nakoma se sentia sem chão.

Pocahontas se afastou de John sentindo seu rosto corar e olhou a face do capitão, que lhe sorria e acariciou seu rosto. John aproximou seus rostos novamente iniciando um novo beijo e Pocahontas permitiu de bom grado, já estava com essa vontade havia alguns dias, desde que o homem o tocará pela primeira vez com carinho ele vinha imaginando como seria beijá-lo como seu pai fazia com sua mãe. Pocahontas colocou os braços ao redor do pescoço de John o puxando para mais perto e assim o loiro fez, segurando sua cintura. Quando o ar se fez necessário novamente eles se afastaram e John lhe beijou a testa.

– Obrigado pelo presente... – desse olhando nos olhos do garoto. – Eu estava esperando para dar isso a você... Pensei que iria assustá-lo se o fizesse agora... – Pocahontas sorriu e roçou seus lábios com os do maior novamente. – Pensei que iria sair correndo...

– Eu não me assusto tão facilmente. – esclareceu. – E se eu não corri ao te ver armado, por que correria ao ser beijado? – John riu daquilo e puxou Pocahontas para um abraço, sentiu as mãos do garoto enlaçando sua cintura assim como ele fazia com seus ombros. – John... – chamou Pocahontas e o homem murou um “hum” em resposta. – Você vai embora? – John apertou mais o garoto entre os braços.

– Não. Ficarei aqui, pelo menos, ate você se cansar de andar com bárbaros... – Pocahontas riu.

– Não vou me cansar... – John sorriu e beijou o topo da cabeça do nativo, que suspirou e se aconchegou mais no abraço. – Não se preocupe... – Pocahontas olhou para o céu por cima do ombro de John e viu que já era tarde, o por do sol já havia chegado e ele devia voltar. – Tenho que ir... – disse se afastando e se levantando.

– O dia passou rápido... – constatou John olhando para o céu rosado. – Na verdade, o tempo que passo com você nunca parece ser o bastante... – Pocahontas corou com aquilo e sorriu.

– Bem, teremos muitos dias para passarmos juntos, já que você não vai embora... – John acenou que sim e se inclinou para frente o beijando novamente, Pocahontas era apenas alguns centímetros menor que John , e o homem tinha o corpo ligeiramente mais musculoso que o nativo, mas isso se devia a idade, Pocahontas ainda estava se desenvolvendo e por sua vida na floresta, teria o corpo idêntico ao de John em pouco tempo.

– Tenho que ir... – Pocahontas se afastou e pegou o barco entre as mãos.

– Amanhã você ira vir me ver? – perguntou John e o garoto sorriu voltando a se virar para ele.

– Faremos uma troca manha, não é? – John assentiu e o viu desaparecer dentre as árvores.

– Viu Flit. – disse se virando para o pássaro e estendendo a mão par a que ele pousasse na palma. – Eu disse que vir para essas terras iria fazer minha vida ter algum sentido... Encontrar Pocahontas é o meu sentido nesse mundo... – o beija flor alçou voo e John o seguiu pela mata como todos os dias nos últimos meses.

Nakoma corria entre as árvores, seus olhos sérios observavam a tudo ao seu redor, ela viu o céu tomando a tonalidade do anoitecer, tinha que chegar à aldeia antes de Pocahontas. Tinha que contar ao chefe, tinha... Ela parou de correr ao chegar à plantação de trigo e, arfando, foi caminhando para as tendas. Será que era mesmo certo contar o que havia visto? Pocahontas pode ter muitos problemas por se envolver com um bárbaro...

Nakoma ajeitou as roupas e saiu da plantação já com o fôlego recuperado, andou calmamente até as tendas e viu o pai do amigo vindo em sua direção ao longe, ela crispou as mãos e suspirou pesadamente, ela não podia falar o que havia visto. Tinha que interrogar o amigo antes de delatá-lo ao pai, mesmo que sua consciência dissesse para que ela avisasse ao chefe, ela sabia que isso ia trair a amizade que tinha com Pocahontas. O chefe passou por ela acenando e com uma expressão seria, Nakoma o cumprimentou e seguiu para sua tenda. Esperaria Pocahontas chegar para que ele lhe esclarecer o que ela viu.

O chefe Powhatan seguiu caminho para a tenda dos guerreiros onde era solicitado, ele sentia o suor frio lhe descer do pescoço a coluna, temia que seu pressentimento se tornasse realidade, que a guerra chegasse. Ele afastou o tecido que era usado como porta e entrou na tenda, os guerreiros se encontravam sentados em circulo no chão com uma fogueira entre eles, todos com expressão seria, Powhatan se sentou no lugar vazio e encarou o líder dos guerreiros.

– Chefe... – cumprimentou ele e Powhatan o respondeu com um aceno de cabeça.

– O que aconteceu para pedir que eu viesse tão urgentemente? – o guerreiro tirou da bolsa de couro que carregava alguns objetos e entregou ao líder da tribo, ele as analisou e devolveu ao homem. – Vocês viram quem eram? – os guerreiros negaram com a cabeça.

– Não senhor. Encontramos o acampamento com a brasa ainda acesa, mas eles haviam ido. Nós os procuramos, as não deixaram outra pista. – Powhatan massageou a têmpora, ele temia que isso fosse acontecer cedo ou tarde, que os bárbaros não se satisfizessem com a terra que tinham conquistado e quebrassem o trato. – O que faremos?

– Alguém foi ferido? – perguntou o chefe, os homens negaram com a cabeça e Powhatan se sentiu minimamente aliviado. – Então não faremos nada, apenas aumente a guarda e fiquem de olho. Não quero nenhuma criança, mulher ou homem andando sozinho pela mata, devemos reforçar a segurança enquanto os bárbaros estiverem em nossa terra, mas até que eles façam algo contra nós, não precisamos fazer nada contra eles também...

– Podem ser apenas homens perdidos ou escravos foragidos, eu vi o jeito que os cara pálidas tratam os de pele negra como a noite, é desumano. – o chefe assentiu e torceu para que o guerreiro estivesse certo.

– Eu espero que seja só isso mesmo... – disse se levantando e dando as costas aos homens. – Vou à árvore sagrada, Kocoum, venha comigo. – o guerreiro jovem se levantou e seguiu o chefe para fora da tenda.

– O que o senhor quer de mim? – o senhor continuou caminhando com a expressão seria.

– Apenas que me acompanhe, você é como um filho para mim, Kocoum, e eu já não tenho forças para lutar, quero que vá para me proteger...

– E Pocahontas? – perguntou o guerreiro franzindo o cenho.

– Pocahontas é como o vento, nunca se pode prever a onde vai, nem quanto tempo permanece, é um espírito livre...

– Ele deveria ficar com o pai, principalmente em um momento como esse. – esclareceu o guerreiro resignado.

– Pocahontas vai amadurecer e achar seu lugar, ele é como a mãe, mas até que esse dia chegue, tentar prende-lo não adiantará de nada... – Powhatan negou com a cabeça. – só espero que esse dia chegue antes de minha hora...

A quilômetros de distancia, dentre paredes forças de madeira em meio a uma enorme clareira dentre as árvores, a fortificação James se erguia no escuro da noite. O governador Ratcliffe se encontrava em seus aposentos tomando seu vinho e aguardava seus homens. Já fazia quase um ano que ele havia se mudado para a fortificação junto aos mineiros e o ouro encontrado por eles não foi satisfatório o bastante, ele queria mais, e via que já era chegada a hora de fazer algo quanto a isso.

Já estava cansado daquele lugar e daqueles homens sujos de terra e fedendo a suor, Ratcliffe já sonhava em voltar a Londres e esquecer essas terras, não ligaria de dar as terras aos homens imundos que ali viviam se recebesse o ouro que tanto ansiava em troca. Bateram a sua porta e um empregado foi abrir, dois de seus lacaios entraram e se sentaram nas cadeiras diante dele, depositando a taça na mesa ele apoiou a cabeça redonda nas mãos gordas e os encarou com a sobrancelha erguida.

– E então? Acharam algo? – perguntou, os homens se entreolharam.

– Não, os nativos nos localizaram e tivemos de fugir, foi complicado voltar para a fortificação e despintá-los ao mesmo tempo. – Ratcliffe bufou.

– Esses nativos não são mais inteligentes que qualquer animal, vocês não deveriam estar tendo esse trabalho todo, já são três meses de buscas e nenhuma pepita sequer de ouro ou pedra preciosa foi traga a mim pelas mãos de vocês. – repreendeu batendo a mão sobre o tampo da mesa. – Eu quero meu ouro, e o trabalho de vocês é encontrá-lo. – um dos homens suspirou.

– Talvez o ouro se encontre dentro das terras dos nativos, é lá que deveríamos procurar... – Ratcliffe o encarou e negou com a cabeça.

– Eu já pensei sobre isso, mas não há como entrar lá. Eu precisaria de todos os meus homens e garimpeiros da fortificação para entrar lá e tirar algo sem ser morto. – Ratcliffe voltou a pegar a taça de vinho e tomou um gole. – Eu não conseguiria levar nem metade dos homens que tenho aqui para a luta, a maioria aqui segue o principio do trabalho honesto e respeitoso. – ele revirou os olhos desdenhando daquela filosofia. – Deus sabe que o mundo é dos mais fortes e evoluídos, aqueles selvagens não fariam diferença vivos ou mortos, mas os homens de “bem... – disse fazendo aspas com as mãos. – ...nunca iriam aceitar crescer e enriquecer por meio do derramamento de sangue. – os homens se entreolharam.

– E se o senhor forjasse uma desculpa para invadir as terras dos selvagens? – o governador levantou a sobrancelha interessado.

– O que quer dizer? – perguntou cruzando as mãos sobre a mesa, os homens sorriram.

– Vimos algo interessante durante a nossa procura hoje, acho que o senhor ia gostar de saber sobre isso...

– Contem-me o que descobriram. – pediu sorrindo por trás do bigode espesso. – E em como podemos utilizar isso ao nosso favor.

Do outro lado do pavilhão dentro dos alojamentos, John preparava uma bolsa para o dia seguinte quando encontraria Pocahontas, estava animado para ver o garoto e lhe roubar os lábios novamente. Ele imaginava e sorria ao pensar em como seria os sentir novamente. Thomas que estava sentado na cama ao lado sorria ao ver Jhon assoviar distraído enquanto arrumava a bolsa.

– Esta bem feliz não é Sr.Smith? – caçoou o garoto, John riu e o olhou.

– Pode se dizer que estou mais que feliz... – Thomas franziu o cenho curioso.

– Posso saber o por que? – perguntou se sentando na cama. John o encarou e negou com a cabeça.

– Quem sabe um dia? – ele riu. – Acho melhor você não saber por enquanto...

– Ah! Mas nós somos amigos certo? – insistiu o ruivo. – Você pode confiar em mim! – John esticou a mão e lhe bagunçou os cabelos.

– Somos amigos, mas certas coisas devem ser mantidas em segredo. – John riu. – você vai entender quando for mais velho. – Thomas revirou os olhos, John era quatro anos mais velho que ele, e mesmo assim o tratava como se fosse uma criança, o ruivo se deitou na cama.

– Que horas você vai sair? – perguntou olhando John se deitar.

– Acho que depois do almoço... Por quê? – perguntou o loiro já sentindo o cansaço do dia e o sono lhe atingirem.

– Nada, só para saber mesmo.

John murmurou um “tudo bem” e se deixou cair na inconsciência. Thomas o encarou dormir e sorriu travesso, durante aquele ano John desaparecia quase todas as tardes e voltava com um grande sorriso no rosto, já estava curioso havia meses sobre o que ele havia encontrado nas suas explorações que o deixava daquele jeito, e agora, decidiu que definitivamente iria descobrir no dia seguinte.

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Powhatan viu Pocahontas chegar quando o sol se pôs, o garoto parecia irradiar alegria quando foi para sua tenda, Powhatan sorriu ao ver isso e pediu a Kocoum que o deixasse sozinho com o filho, o guerreiro obedeceu e se foi para a fogueira, Powhatan entrou na tenda e viu o filho acariciando Meeko enquanto olhava as estrelas pela abertura lateral deitado em sua rede. O chefe caminhou ate ele e lhe tocou os cabelos.

– Vejo que teve um bom dia... – comentou e o garoto sorriu.

– Melhor impossível. – disse feliz e o chefe concordou com a cabeça se afastando.

– O que você fez o dia todo Pocahontas? – perguntou seguindo para sua própria rede, o garoto deixou Meeko ir e se sentou.

– Só explorando a floresta... – o chefe arqueou uma sobrancelha.

– E essa felicidade toda é só por isso? – perguntou desconfiado, Pocahontas coçou a nuca.

– Eu descobri coisas novas... – o chefe o olhou estreitando os olhos,sabia quando o filho mentia.

– Descobriu é...

– Sim. – Pocahontas disse nervoso. – Eu estou cansado pai... – Powhatan o encarou por mais algum tempo e deu de ombros.

– Tudo bem... Boa noite. – disse se deitando.

– Boa noite... – respondeu o garoto sentindo alivio por ter escapado de mais perguntas, mentir para seu pai era mais difícil que ele pensava, o homem era sábio e o conhecia muito bem.

Pocahontas sabia que no dia seguinte, quando fosse se encontrar com John, teria de ser mais cuidadoso. Ele se aconchegou na rede e sorriu, colocou as mãos sobre os lábios e se lembrou dos beijos trocados com o loiro, mal podia esperar para fazê-lo de novo, e com esse pensamento se deixou cair na inconsciência.

No dia seguinte Pocahontas acordou animado, mais que o normal e isso era perceptível por todos da aldeia. Enquanto corria pelo lugar quase derrubou uma garota que carregava um jarro de água e quando encontrou Nakoma a arrastou pela mão para a plantação de trigo. A garota riu daquela felicidade do amigo e o seguiu alegre, todos da aldeia pareciam ter pegado um pouco da estranha felicidade do filho do chefe, Pocahontas conseguia fazer com que os outros partilhassem seu estado de espírito e naquele momento era de extrema felicidade.

Dentro da plantação Pocahontas e Nakoma brincaram como os velhos tempos e terminaram seu trabalho antes da hora, o que deixou Pocahontas mais feliz ainda. Passar o tempo com o velho amigo fez Nakoma se esquecer de perguntar sobre o que vira no dia anterior e que a assombrou em sonhos, porem, quando o garoto lhe beijou a testa e pediu para acobertar sua fuga ela sentiu o peito apertar, e enquanto assistia ele correr para as arvores acompanhado de Meeko, ela se perguntou novamente se permitir aquele encontro seria o certo...

Se não seria melhor avisar o pai do garoto sobre o que ele fazia.

Pocahontas corria entre as arvores em direção a árvore sagrada, e quando chegou sentiu o vento lhe rodear como se lhe desse as boas vindas, o grande salgueiro se erguia a sua frente vivido e imponente, as folhas balançavam lentamente com a brisa. Por já ter a escalado sabia que de cima de seus galhos podia se ver toda a imensidão da floresta, parte do povoado bárbaro e principalmente, os navios ao longe surgirem da pequena fresta que dividia o mar do céu. Quando mais jovem Pocahontas a escalava e ficava horas ali, admirando, mas quando seu pai descobriu o avisou que aquilo era perigoso e que ele estava proibido de fazê-lo novamente...

Pocahontas cumpriu em parte a proibição, mas desobedeceu ao pai ao esconder a arma de John em um dos buracos do tronco da grande árvore, e par alcançá-lo, ele deveria escalar. Pocahontas se ajoelhou na frente do salgueiro e fez suas orações aos deuses, pediu paz e prosperidade de seu povo, perdão por ter colocado a arma na arvore, mas sua prece principal era que seu relacionamento com John não desbotasse e que ninguém descobrisse. Ao terminar o vento o rodeou trazendo cheiro de rosas e Pocahontas então se pôs a escalar o salgueiro.

Na clareira onde Flit o havia levado, John estava sentado sobre uma das pedras cheias de musgo, estava ansioso por ver Pocahontas e mais ainda por dar o novo presente. Quando havia saído e comprado o barco ele havia achado a outra coisa que queria dar ao garoto, mas essa, ele queria trocar pela arma. John sabia que era perigoso deixar Pocahontas com algo como aquilo, e que mesmo que o garoto não a usasse, ainda seria um problema a esconder em um lugar seguro.

As folhar se mexeram e John se levantou abrindo um sorriso, Pocahontas disparou para dentro da clareira com a arma pendurada nas costas e quando o viu sorriu abertamente e se jogou para cima do homem que o segurou e teve seus lábios roubados por um beijo preciso.

– Oi... – disse John ao recuperar o fôlego e afastar o garoto, Pocahontas riu e olhou ao redor de cenho franzido. – O que foi?

– Não sei... – o garoto deu de ombros e tirou a arma das costas. – Deixa pra lá, o que trouxe para ter a arma de volta? – perguntou sorrindo, John pegou sua bolsa e tirou de lá um embrulho em papel pardo, Pocahontas levantou a sobrancelha.

– O que é? – perguntou pegando o embrulho, John tentou pegar a arma, e mesmo distraído com o que recebera, Pocahontas a afastou do alcance do loiro. John o encarou fazendo careta e o garoto o olhou rindo. – Vou analisar o que você esta me oferecendo, acha que é assim? Que vou trocar isso por qualquer coisa?

John bufou e se sentou na pedra, Pocahontas se sentou a sua frente no chão e colocou a arma no colo, pegou o embrulho e o abriu rasgando sem cuidado nenhum, dento encontrou um cilindro que cabia na palma da sua mão, ele franziu o cenho e olhou para John.

– O que é isso? – John sorriu e o pegou da mão do garoto, puxou as duas extremidades e o pequeno cilindro dourado se expandiu ficando com quatro vezes o tamanho anterior. Pocahontas o pegou novamente e franziu o cenho. – Ótimo, ele cresce, mas e daí? – John riu e bagunçou os cabelos de Pocahontas, se levantou e se sentou ao seu lado.

– Olha, isso se chama luneta, e se você olhar dessa extremidade menor pra qualquer lugar... – John mostrou como funcionava colocando o objeto na frente do olho e apontando para dentre as arvores. – Você enxerga de bem longe, bem mais que o normal. – John colocou a luneta nas mãos de Pocahontas. – Se você for para um lugar bem alto e apontar para o mar, poderá ver um navio chegar, ira parecer que esta bem perto.

Pocahontas colocou a luneta de frente ao olho esquerdo e apontou para as arvores, podai ver os detalhes da madeira e as formigas subirem por ela, apontou para o chão e pode ver os detalhes da grama. Tirou a luneta do rosto e a fechou guardando na bolsa de couro que levava.

– E então? Gostou? – Pocahontas se inclinou para John lhe beijando os lábios e acariciando o rosto. Aquele bárbaro o estava dando cada vez mais maneira de se aproximar dos barcos que ele tanto admirava, o estava dando cada vez mais meios de enxergar o mundo alem de suas terras... – Vou levar isso como um “Gostei muito, obrigado”. – disse John sorrindo quando o beijo acabou, Pocahontas deu a arma ao loiro.

– Considere troca feita. – disse o garoto sorrindo, John lhe acariciou o rosto.

– Eu te daria isso mesmo que não me devolvesse à arma... – comentou John, Pocahontas sorriu travesso e esticou a mão para a espingarda, John deu um tapa em sua mão. – MAS, como você aceitou a troca, ela é minha de novo. – Pocahontas revirou os olhos.

Dentre as árvores Thomas havia caído sentado no chão, os olhos arregalados e as mãos sobre a boca para sufocar o grito de surpresa. Sua mente trabalhava para entender o que estava vendo, John estava se encontrando com selvagens, mas não só isso, o capitão da guarda estava tendo esse tipo de relação com um deles, e como se isso tudo já não fosse estranho o bastante, o selvagem nem mesmo era uma mulher! O ruivo olhou para o chão a sua frente pensando como poderia encarar John a partir daquele momento, como não ficaria com vergonha de ser visto com alguém como ele...

Ele voltou a olhar John e o nativo conversarem, e em um alivio repentino, percebeu que não precisava temer pela sua imagem, ninguém sabia do relacionamento de John com o nativo e ele mesmo só descobriu agora por ter seguido o amigo. Já calmo e passado o choque inicial, Thomas voltou a endireitar o corpo para ver melhor, John pegou a luneta da mão do garoto e a afastou dele, o nativo avançou no loiro para pegar e John ria das tentativas falhas do nativo de reaver o objeto.

Thomas não pode impedir um sorriso ao ver a cena, era estranho imaginar que dois homens podiam se relacionar assim, porém, John era seu amigo há um ano e lhe salvara a vida, dava sempre parte do ouro que encontrava para ele para ajudar sua família alegando que não precisava daquilo. Thomas se viu então, feliz pela felicidade de John Smith com o nativo.

Pocahontas finalmente conseguiu pegar a luneta de John e lhe deu um empurrão ao guardar o objeto na bolsa novamente e a afastar do loiro. John riu de sua expressão raivosa e o puxou para um abraço, que mesmo enraivecido, Pocahontas não pode negar corresponder, o garoto levantou a cabeça para o loiro e se viu novamente o beijando e sendo correspondido com carinho.

Um barulho entre as arvores o fez se assustar e empurrar o loiro que caiu deitado no chão, Meeko começou a guinchar e arrepiar os pelos das costas para as arvores ao mesmo tempo que uma flecha atingia o local onde John estava, Pocahontas se pôs de pé ao mesmo tempo que pegava a lança que estava ao seu lado, John se pôs de pé também mas não se aproximou do garoto, dentre as árvores Kocoum saiu enraivecido, o rosto vermelho e segurando o arco com tamanha força que Pocahontas achou que ele ia se quebrar em suas mãos.

– O que pensa que está fazendo? – gritou o guerreiro se aproximando do garoto que deu um passo para trás assustado.

– Kocoum... Eu posso explicar...

Pocahontas não pode falar mais nada, levou um soco no queixo pelo guerreiro, cambaleou para trás o segurando e sentindo o gosto do sangue na boca assim como ele lhe escorrer por entre os lábios. John ajudou Pocahontas a se equilibrar e olhou cheio de ódio para o guerreiro, mas não disse nada, sabia que isso faria as coisas ficarem piores, mesmo que ele estivesse com vontade de devolver o golpe que o nativo dera no mais novo.

– Não há o que explicar! Você esta traindo nosso povo ao se envolver com esse cara pálida! Como pode fazer isso? Você é nosso futuro líder! – Kocoum cuspiu as palavras e Pocahontas o olhou com raiva se desvincando de John e dando um passo em direção ao guerreiro. John não entendia o que eles falavam, estavam falando em sua língua nativa.

– O que você prefere então? QUE eu estivesse matando eles? Eu busco a PAZ! Meu pai também! – disparou o garoto, Kocoum o encarou com ódio.

– Se vender assim é a paz que você busca? – chiou o guerreiro. – Ele está brincando com você garoto! Eles não são confiáveis! E o pior de tudo aqui, ele é um homem! – Pocahontas rangeu os dentes. – Seu pai está preocupado com você, achou que você estivesse aprontando mais uma das suas, mas ISSO! – o guerreiro negou com a cabeça. – Eu imagino que seu pai nunca tenha pensado NISSO, nem em seus piores pesadelos! Você é uma desonra! – Pocahontas desferiu um soco na lateral do rosto do guerreiro que cambaleou para trás.

– Não abra a boca para falar de mim! – gritou e o guerreiro o agarrou o jogando para o lado.

– Ele está envenenando sua mente Pocahontas! Esse cara pálida o esta envenenado! – disse Kocoum caminhando decidido em direção a John, Pocahontas se colocou na frente.

– Eu não sou influenciável assim! – Kocoum o encarou com raiva e o empurrou para o lado, Pocahontas caiu sentado na grama e o guerreiro tirou uma faca de osso da correia da perna caminhando em direção a John. – Pare! – gritou Pocahontas se levantando, Kocoum tentou acertar John com o objeto, mas o loiro segurou seus braços.

– E eu vou matá-lo, você vai tomar jeito Pocahontas! Depois de acabar com ele vou contar a seu pai o que você anda fazendo! Nunca mais você vai sair sozinho por essas floresta, tenho certeza que sem esse branco para envenenar sua mente com idéias estúpidas, você vai amadurecer e se tornar um líder que valha a pena! – John estava tendo dificuldade para conter o guerreiro e Pocahontas os afastou um do outro com um empurrão, Kocoum já cansado daquela intromissão jogou Pocahontas em direção as arvores com tamanha força que o garoto bateu a cabeça e caiu sentado no chão tonto e semi consciente.

John que tentava não ferir ou se envolver plenamente não suportou ver aquilo e se jogou contra o guerreiro, os dois começaram a lutar, mas Kocoum lutava com ursos e feras, já estava acostumado e sabia lutar e imobilizar o oponente, assim, John foi vencido e teve seu corpo preso no chão com o de Kocoum por cima e coma faca em sua garganta, o guerreiro arfava.

– Acabou. – disse sorrindo e logo depois seu corpo caiu mole por cima do de John acompanhado do barulho dos disparos.

– Kocoum! – gritou Pocahontas tentando se levantar e se arrastar para perto do loiro e do guerreiro.

John tinha o coração disparando e estava sem ação, assustado, o que havia acabado de acontecer? Pocahontas tirou o corpo do guerreiro de cima do loiro e o colocou deitado, uma poça de sangue se formava ao lado da cabeça e do ventre do guerreiro, Pocahontas colocou a mão sobre o coração do guerreiro e o sentiu ir parando devagar de bater, olhou melhor os ferimentos e viu que a bala havia entrado na cabeça do guerreiro e a outra no estomago pela lateral do corpo. John conseguiu se recuperar do choque e olhou em direção de onde os disparos saíram, seus olhos se arregalaram ao ver Thomas saindo das arvores, tremulo e chorando.

– Eu o matei? – perguntou o garoto assustado e John o olhou surpreso.

– O que esta fazendo aqui Thomas? – disparou John se pondo de pé cambaleante.

– Eu segui você, estava curioso... – John agarrou o ruivo pelos ombros e o sacudiu.

– Você não devia estar aqui! Não devia... – ele gritava e Thomas ficava cada vez mais assustado e tremulo com a situação.

– Pare de gritar com ele! – exigiu Pocahontas se pondo de pé. – Ele salvou sua vida John! Kocoum não estava hesitando, ele te ia te matar com toda a certeza, e depois contar ao meu pai, eu provavelmente levaria uma boa surra dele e perderia o respeito de muitos do meu povo! – John suspirou e soltou o garoto que tremia assustado olhando o corpo do guerreiro, o sangue tingia a terra de vermelho e Thomas podia jurar que ele corria em sua direção.

– E-Eu... Eu matei... Matei... Eu vou para o inferno... - John encarou o garoto tremulo e imaginou o caos que sua mente devia estar nesse momento, Pocahontas ouviu gritos de guerra e John olhou na mesma direção que ele.

– Vocês tem de ir. AGORA! – disse o garoto exasperado. Os gritos ficaram mais altos e já se podia ouvir os passos dos nativos dentro da mata, John agarrou o braço de Thomas e o puxou para as arvores assim e os guerreiros entraram na clareira, eram três, um deles perguntava a Pocahontas o que estava acontecendo, o outro olhava ao redor e o outro examinava o corpo.

– Ali! – gritou o que estava olhando o lugar apontando para John e Thomas.

Pocahontas o olhou assustado e o loiro se pôs a puxar o garoto com mais força para dentro da mata, Thomas tropeçava nas raízes e caia, em uma dessas eles se soltaram e o guerreiro saltou sobre o ruivo, John sabia que não podia lutar com três então correu o mais rápido que pode pela floresta sentindo o peito doer por abandonar o amigo naquele momento.

Thomas voltou à clareira sendo arrastado agressivamente pelo guerreiro, ele ainda tremia por ter matado Kocoum, mas agora o medo também tinha grande participação. Pocahontas o encarou e sentiu pesar pelo garoto, mas não podia fazer os guerreiros o libertarem, ele foi pego quando Kocoum foi morto com tiros, e tinha realmente ele quem atirou, mas Pocahontas não ia deixar o garoto morrer, tinha de achar algum jeito de fazer com que o garoto continuasse vivo, o máximo que ele conseguisse.

– Foi ele, Pocahontas? – perguntou o guerreiro jogando Thomas ao lado do corpo e o fazendo se sujar com o sangue de Kocoum, Thomas se arrastou para longe do corpo e tentou desesperadamente tirar o sangue de seus braços, o guerreiro o segurou pelos cabelos. Pocahontas mordeu o lábio ao ver aquilo, ele não podia fazer nada naquele momento.

– Eu não sei, foi disparado entre as arvores, Kocoum se jogou na minha frente para me proteger. – mentiu o nativo, Thomas o olhou temendo. - Tinha mais deles, vocês viram, eu duvido que tenha sido essa garoto quem atirou, ele treme de mais e parece ter muito medo de chegar perto do corpo, imagine matar alguém. – os guerreiros e entreolharam, Pocahontas sabia que por estarem na duvida iam manter Thomas vivo, por enquanto pelo menos. – Vamos levá-lo a meu pai, ele vai saber o que fazer. – disse o garoto indo ate Thomas e o puxando pelo braço o levantando com falsa grosseria, Thomas se deixou ser levado por Pocahontas e os guerreiros se juntaram ao redor de Kocoum para levá-lo para a aldeia. – Vou tentar te manter vivo... Não diga nada, não abra sua boca para nada, se finja de mudo e continue tremendo, você será considerado assustado de mais para ter a coragem de matar alguém. – Thomas não precisava fingir nada daquilo, ele estava em estado de choque e nem conseguia abria a boca para murmurar, ele acenou com a cabeça minimamente e Pocahontas continuou a levá-lo para a aldeia.

John corria pela mata e encontrou Flit no meio do caminho, isso foi um sinal que ele havia despistado os nativos. O pássaro esperou que o homem se recuperasse e o guiou para a fortificação James, ao chegar John podia ouvir os gritos dos homens, e a voz do governador se sobrepondo a eles. John se aproximou e se escondeu entre a madeira da fortificação, nas sombras e passou a ouvir.

– Hoje fui informado que dois de nós desapareceram, eu não teria dado atenção em outro caso, qualquer um de vocês poderia ter saído de mansinho para o povoado, eu sei e eu mesmo faço isso as vezes... – os homens riram nervosos. – MAS, os dois que desapareceram não são assim. Capitão John Smith e Thomas James desapareceram nessa manhã. Já é quase noite e eles não retornaram. – os homens começaram a cochichar e a falar das constantes fugas de John o governador levantou a mão pedindo atenção. – Todos sabem que o nosso capitão é aventureiro, porem, acabo de ser informado que eles foram capturados na floresta por selvagens. – o governador fez uma expressão de desolamento. – Todos sabem que John era nosso protetor, nossa segunda melhor defesa depois das paredes, o melhor guerreiro, e Thomas... Thomas era o mais novo de nós, todos adoram aquele garoto... – os homens concordaram e o governador deu um sorriso mínimo e prosseguiu. – Eu estou levando isso como uma afronta, como se não bastasse esconderem as minas onde contem o ouro em suas terras, algo que e nosso por direito, eles capturam nosso melhor homem e um garoto inocente! Eu digo que eles querem guerra! – gritou o governador e os homens levantaram as mãos gritando em conjunto. – Eles acham que podem contra nós? Pois estão errados! Temos armas melhores que eles! Queremos nossos amigos de volta! E por terem descumprido o tratado, o ouro de suas terras também! – o homens concordaram. – Se eles foram os primeiros a derramar sangue, nós responderemos a altura! – os homens gritaram novamente em concordância e John se perguntava como o governador soube tão rápido sobre a captura de Thomas. – Vamos salvar nossos amigos se ainda estiverem vivos! Vamos tomar o que e é nosso por direito! – gritou o governador abrindo os braços, os homens gritaram e começaram a correr para os alojamentos em busca de armas, John sentia o medo passar por sua espinha como dedos gelados, e seguiu o governador se escondendo nas sombras da fortificação.

John passou sorrateiramente refeitório e encontrou o governador falando com dois de seus homens escondido de todos os outros homens e mineiros. Os dois estavam armados e um deles sorria satisfeito com uma expressão medonha, o outro era apático.

– As coisas funcionaram melhor que o esperado... – comentou o governador jogando um saquinho negro para cada homem. – O que eu realmente aconteceu? Aquele marica Smith foi capturado? – o governador riu-se da situação. – O plano era matar o capitão e colocar a culpa em seu amante... O que aconteceu? – um dos homens riu.

– Acredita em sorte senhor? – disse. – Tudo aconteceu lindamente, nós nem precisaríamos nos envolver se o garoto ruivo não fosse tão ruim de mira...

– Os dois maricas foram abordados por um dos nativos que tentou matar o capitão o garoto Thomas tentou atirar, mas o tiro acertou uma arvore, porem eu fui mais rápido e acertei logo dois tiros no selvagem, os outros que nos caçavam chegaram como barulho e os perseguiram pela floresta. – o homem riu. – Se eles tiverem sorte, já devem estar mortos...

– Mas com isso os selvagens também vão querer guerra... – disse o governador preocupado.

– Isso não é problema, com as nossas armas, eles não terão chance, coloque os mais fracos na linha de frente para servirem de escudo, assim os que importam vivem e nos trarão o ouro... – o governador assentiu.

– Amanhã pela manhã marcharemos ate a aldeia dos selvagens, colocaremos aquilo no chão e queimaremos tudo... – o governador sorriu esfregando as mãos. – E finalmente poderei voltar a Londres dez vezes mais rico que agora...

Os três passaram a caminhar e detalhar melhor o plano, John se encolheu atrás de um barriu de vinho e os viu passar. Rangendo os dentes de ódio e nojo pelo homem de roupas extravagantes, John continuou os seguindo ate o alojamento do governador, e ali ele passou a vigiar os movimentos dos dois homens que atiraram em Kocoum.

Do outro lado da floresta, Thomas foi amarrado a um tronco dentro de uma tenda, dois guerreiros foram postos de guarda ali para que nenhum entrasse. Pocahontas estava com o pai em sua tenda particular e discutia com o mais velho.

– É uma pena a morte de Kocoum e fico feliz que você esteja vivo Pocahontas, mas não ir a guerra agora é impensável! – ralhou o senhor. – O nosso povo quer vingança, os cara pálidas vem nos expulsando e dizimando a anos, está na hora de ir a guerra! Eles foram atrás de você! O futuro líder! Para todos que vejam isso, eles estão pedindo guerra, e isso eles terão! – Pocahontas não sabia o que falar, seu pai não dava espaço para isso. – E não é só pelo que aconteceu hoje, tem meses que eles vem nos observando e circulando nossas terras. – Pocahontas o olhou interessado, não sabia disso. – Até agora não haviam feito nada, mas agora... Eles nos atacaram, foram os primeiros a derramar o sangue! Essa terra não é o bastante para nossos dois povos conviverem! Já tentamos, mas não há como! – Pocahontas ia contestar, mas o pai mandou que ele se calasse. – Você vai entender isso quando for mais velho, nós preferimos a paz, mas nosso povo sabe fazer uma guerra. – batendo o cajado no chão e com expressão seria o chefe saiu da tenda sem ouvir o filho. Pocahontas puxou os cabelos de frustração, como aquilo pode ter tomado tal proporção?

Pocahontas respirava rápido e tinha lagrimas nos olhos, ele não queria aquela guerra, tinha de impedir aquilo. O garoto se deixou cair sentado na rede, ao menos convenceu o pai a manter o garoto Thomas vivo, o convenceu que o menino era potencialmente inocente e o pai aceitou deixá-lo com vida, porem, este seria escravo. Pocahontas viu que era a melhor opção por enquanto e pediu que fosse o seu escravo de guerra, o pai não viu por que de não permitir. Pocahontas suspirou e saiu da tenda e foi em direção ao prisioneiro, os guardas abriam caminho e ele entrou. Pocahontas se sentou de frente a Thomas.

– Parabéns, da forca para a escravidão... – comentou e o ruivo o encarou.

– Já é um começo. – disse ele fungando. – me perdoe...- Pocahontas negou com a cabeça.

– Você salvou John. Lhe devo isso. – Thomas o olhou admirado e logo depois negou com a cabeça.

– Eu nunca imaginara que John fosse assim... – Pocahontas arqueou uma sobrancelha e Thomas negou com a cabeça novamente. – Vejo que vocês se gostam... – Pocahontas sentiu o rosto corar e logo jogou a cabeça para trás soltando o ar.

– De que adianta? Amanha iremos lutar contra seu povo, nunca mais poderei ver John caso sobreviva a guerra... – Thomas se sentiu culpado e ia se desculpar novamente e Pocahontas o mandou se calar. – As coisas iam acabar assim de um jeito ou de outro. A partir do momento que Kocoum chegou e nos viu as coisas já estavam fadadas a acabar entre mim, você me permitiu não ver John morrer na minha frente... – Thomas ficou em silencio podendo ver a tristeza no rosto de Pocahontas. Flit interrompeu o silencio ao entrar na tenda e pousar sobre a cabeça de Thomas.

– O que esse pássaro faz aqui? – perguntou o ruivo e Pocahontas franziu o cenho esticando a mão para ele, o pássaro pulou em sua mão e em suas costas havia um papel amarrado, Pocahontas o abriu mas não entendeu nada que tinha escrito ali, olhou para Thomas e esticou para que o ruivo lesse, Thomas franziu o cenho e leu. – “Thomas, espero que me perdoe por ter te deixado, e se essa mensagem chegou e Pocahontas pensou em pedir a você para ler, eu posso ter esperança que as coisas possam se acertar. Você não matou Kocoum Thomas, é um plano de Ratcliffe para encontrar o ouro que ele acredita que os nativos escondem. Diga a Pocahontas que ele está planejando atacar pela manha, e que é para ele se preparar para o ataque, diga que eu tenho um plano para parar e concertar as coisas, porem não poderei realizá-lo se houver troca de flechas e balas, diga a ele para achar uma maneira de fazer todos hesitarem. Diga que o amo também.” – Pocahontas se levantou e saiu da tenda sem dar a Thomas a opção de comentar o bilhete, o nativo correu ate seu pai.

– Eles atacarão pela manha. – disse serio interrompendo a conversa do pai com o chefe dos guerreiros, Powhatan o olhou franzindo o cenho e encarou o filho. – devemos estar prontos.

– Como sabe? – perguntou o senhor ao mandar o guerreiro se preparar assim como seus homens.

– O vento... Mais uma vez... Me dando a direção. – respondeu Pocahontas. Powhatan assumiu a expressão seria.

– Vamos, temos que nos preparar.

Pocahontas seguiu o pai ate a tenda dos guerreiros, la dentro eles se organizaram e armaram, as pinturas foram feitas, no peito de Pocahontas patas foram desenhadas subindo ate seus ombros, como um caminho feito por um animal com farras, cada guerreiro tinha uma marca distinta, cada um com um significado, a de Pocahontas era de mostrar o caminho. Depois de pronto, Pocahontas foi para a tenda de Thomas e o desamarrou, o ruivo o encarou, viu as marcas em seu peito e teve consciência que a hora estava chegando.

– Vou precisar de você Thomas. – o ruivo assentiu firme apesar do medo. – Vamos dar tempo a John.

Os homens marcharam da fortificação no amanhecer, todos com expressões de medo e seriedade, Ratcliffe ia a frente os conduzindo acompanhado e apenas um de seus lacaios, não sabia onde se encontrava o outro e nem se importava, o ouro o estava esperando, e se o homem tivesse desaparecido era melhor ainda.

John se encontrava na floresta com o homem desaparecido, empunhava uma faca no pescoço do homem com sorriso maldoso do dia anterior e que havia atirado em Kocoum. Antes que qualquer um acordasse John entrou em seus aposentos e o ameaçou, os dois saíram antes de todos da fortificação James e agora se encontravam a meio caminho do campo de batalha. O plano de John era fazê-lo confessar o plano de Ratcliffe perante os dois povos, assim acabando com a guerra.

Os nativos marchavam para a grande clareira que ficava entre as terras dos dois povos, o vento parecia parado e o dia amanheceu silencioso, como se soubessem o que estava a acontecer os animais estavam recolhidos em suas toca e em silencio, Pocahontas e Thomas caminhavam lado a lado, sendo o nativo segurando o ruivo por uma corda que atava suas mãos.

Os dois povos se encontraram na clareira, o silencio se estabeleceu ali enquanto se encaravam. Bárbaros armados com espingardas e espadas, nativos com arcos e lanças. O ar parecia pesado ao sentirem os primeiros raios do sol lhes atingir as peles. Chefe Powhatan caminhou a frente de todos de seu povo.

– Podemos seguir em paz... Não precisamos de guerra cara pálida... – disse o chefe, Ratcliffe se pôs a frente e riu amargamente.

– Em PAZ? Vocês mataram nossos companheiros! Vão pagar com sangue o sangue que derramaram! – disse o homem gordo. – Mas... se vocês aceitarem abrir mãos de sua terra, ouro e nos entregar os assassinos, podemos deixar que os demais vivam... – Ratcliffe sorriu diabolicamente. Powhatan encarou o homem e viu que a avareza o dominava e negou com a cabeça.

– Não há ouro em nossas terras. Mesmo que as descemos a vocês, não teriam serventia a sua avareza. – Ratcliffe crispou os punhos.

– Não minta para mim selvagem! Eu sei que vocês escondem riquezas em suas terras, e sei que mataram John Smith e Thomas James por terem descoberto isso! – Pocahontas se pôs a frente de seu povo com Thomas ao lado.

– Nnão matamos ninguém de seu povo, governador. – disse o rapaz e Thomas encarou o homem roliço ficar vermelho. – Eu proponho a vocês a troca, a paz por Thomas. – os mineiros cochicharam entre si. – A guerra não trará nada de bom a nenhum de nós, não há ouro.- Ratcliffe olhou ao seu redor, os homens começavam a dizer que essa seja a melhor opção, que tinha ouro o bastante perto da fortificação e se pudessem ter o garoto, derramar sangue era ridículo.

– E John Smith? Onde está? – Ratcliffe gritou e os homens se calaram.

– John não está com nosso povo. – disse Pocahontas. Ratcliffe sorriu diabolicamente novamente.

– E quem nos garante que vocês não o mataram? – ele se virou para seus mineiros. – Viemos cobrar o sangue dos dois de nossos companheiros, ficaríamos felizes em receber Thomas, mas o sangue de John Smith chora por vingança! – os mineiros voltaram escutar o governador. – Precisamos vingar a morte do capitão! – os mineiros concordaram e gritavam. – Vocês foram os primeiros a quebrar o tratado, sabiam no que isso resultaria... – Pocahontas mordeu o lábio, sabia que não tinha mais muito tempo. – Agora, saiam das terras se não quiserem morrer, deixem Thomas e o assassino de John Smith! O sangue de John clama por isso! – exclamou o governador, os nativos armaram os arcos e os homens as espingardas.

– Olha, meu sangue não clama por nada agora. – a voz de John se fez ouvir pela clareira e todos olharam em sua direção, John estava na extremidade do lugar e trazia o subordinado de Ratcliffe como refém. – Na verdade... Ele clama por algo sim...- John olhou para o velho roliço com ódio e teve o olhar devolvido com uma intensidade maior. – Ele clama pela verdade! – John empurrou o homem para o meio da clareira e apontou a espingarda para seu peito. – Eu não havia desaparecido, nem Thomas, estávamos explorando. Esse homem que eu lhes trouxe matou o guerreiro dos nativos a mando de Ratcliffe, eu e Thomas vimos e estávamos por perto, fomos perseguidos levando a culpa da morte. Eu consegui escapar e quando voltei a fortificação eu ouvi o governador falar disso com esse homem e aquele. – John apontou para o outro subordinado de Ratcliffe. – Diga se é verdade ou não. – o refém de John confirmou a história, os mineradores começaram a cochichar entre si e a se voltarem contra o governador com gritos.

– Ora, vamos... Vocês não podem acreditar nisso...- disse o homem roliço se virando para os mineiros.- eu nunca faria isso...

– Faria! E fez! – gritou John. – Você fez tudo isso por ganância! Você queria a guerra para poder entrar nas terras dos nativos e pegar o ouro, mas você se enganou governador, não há ouro algum! – o homem encarou John com ódio e os mineiros começaram a se mexerem. – Todos da fortificação sabem de sua ganância e suspeitas para com o ouro das terras dos nativos, mas nunca pensamos que você fosse tão longe para isso. Você me enoja!– Ratcliffe o encarou com ódio e tirou o revolver da cintura.

– Você é um marica bastardo, John Smith! – os mineiros começaram avançar sobre o governador e seus subordinado. – Traidor de uma figa! – o governador disparou em direção de John no exato momento que foi jogado no chão pelos mineiros, Pocahontas gritou enquanto a cena do corpo do loiro cair para trás com uma bala alojada em sua cabeça se passava a sua frente.

O garoto soltou Thomas e correu para o loiro, se podiam ouvir gritos de revolta entre os mineiros, Thomas desatou as mãos e correu em direção ao amigo junto ao nativo. Os nativos não sabiam ao certo o que estava acontecendo e Powhatan mandou que eles abaixassem as armas, a guerra havia acabado antes mesmo de começar, e ele estava aliviado por isso. o chefe da tribo encarou seu filho se agachando ao lado do loiro bárbaro.

– John? – chamava Pocahontas com as mão tremulas ao tocar o rosto do homem, seus olhos ainda arregalados e o azul sem vida olhando para cima, a boca entreaberta e o corpo mole. Pocahontas podia sentir as lagrimas lhe descerem pelo rosto. – Por favor, John... – Thomas tocou o peito do mais velho e não sentiu o coração bater, olhou para a cabeça e pode ver o ferimento da bala bem do meio da testa entrando em seu crânio, não saia tanto sangue, mas Thomas sabia que John não tinha volta, que o loiro teve uma morte instantânea.

– Ele morreu, Pocahontas. – o garoto nativo fechou os olhos derramando mais lagrimas e apertando a mão do loiro entre as suas. Pocahontas não podia acreditar nisso, não podia ser verdade.- sinto muito... – Pocahontas respirava rápido, John se fora. – Não há nada a se fazer agora. – Pocahontas abriu os olhos lentamente e se inclinou para frente beijando os lábios do loiro que perdiam calor rapidamente.

– Há sim algo que eu posso fazer... - Pocahontas soltou a mão de John Smith e se levantou, Thomas o olhava curioso e temeroso, a expressão do nativo era de puro ódio e determinação.

Os mineiros seguravam Ratcliffe em pé assim como seus subordinados, alguns deles foram ate Powhatan e pediam perdão pelo ocorrido, se explicaram dizendo que não sabiam das intenções do governador e que só haviam ido ali pelos amigos que acreditavam terem sido mortos friamente. Ninguém deu importância à cena que se desenvolvia ao lado do corpo de John depois que ele caiu. Pocahontas limpou as lagrimas e armou o arco.

– Por Kocoum... – sussurrou e sentiu o vento lhe rodear e levantar os cabelos e levar suas lagrimas, a flecha foi disparada atravessando a garganta de um dos subordinados de Ratcliffe. Os mineradores que o seguravam o soltaram na mesma hora assustados, ele olharam para a direção dos garotos e Pocahontas já disparava a segunda flecha acertou o segundo lacaio no peito atingindo o coração.

– Por John... – Pocahontas disparou duas flechas ao mesmo tempo, e ambas acertaram o governador Ratcliffe. Uma no olho o fazendo gritar de dor e outro na garganta, o fazendo engasgar e sufocar, o governador olhou em direção de Pocahontas que abaixava o arco lentamente.

– A divida de seu povo foi paga. A sua divida comigo foi paga. Sangue com sangue, não foi isso que você disse? – Ratcliffe sentiu a escuridão invadir seu corpo e sua vida esvair, seu corpo caiu no chão ruidosamente, a clareira se silenciou novamente, todos os olhares voltados para Pocahontas.

– O sangue de John clamou por vingança e foi atendido. – os homens o encaravam assustados e surpresos, os corpos caídos no chão manchando a terra de sangue olhavam para o céu sem nuvens.

Pocahontas sentiu as forças desaparecerem e se deixou cair de joelhos, finalmente sentindo o peso da morte de John Smith devidamente. Sentindo o peso da pessoa que começou a amar apesar das diferenças ir para nunca mais voltar. Sentiu as lagrimas saírem junto com um urro de dor, Pocahontas se deixou chorar e colocar tudo para fora, sentiu braços o envolverem e a voz de Thomas dizer para que ele se acalmasse, mas o ruivo mesmo estava chorando. John não ia voltar. Pocahontas não ia sentir o gosto do loiro, seus braços, não iam mais poder correr pela floresta juntos... Pocahontas não teria mais seu amigo e amante ao seu lado. Nunca mais. E não havia nada que ele pudesse fazer.

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Pocahontas olhava o mar pela luneta de cima da arvore sagrada, podia ver um navio chegando pelo horizonte e ficou maravilhado. Todas as vezes era assim, ver os navios chegando o faziam lembrar de John, ver o trigo ao por do sol, o céu durante a tarde... Pocahontas sentia muita falta do loiro, e ainda doía, mas aos poucos foi ficando suportável.

– Pocahontas! – Nakoma chamou ao pé da arvore, o garoto desceu e encontrou a amiga. – Já não te dissemos que é desrespeito subir ai? – Pocahontas riu e seguiu a amiga pela floresta.

– Onde vamos? – perguntou o garoto guardando a luneta na bolsa.

– Thomas disse que queria que fossemos a fortificação James, ele disse que haverá uma festa de boas vindas para as famílias que estão chegando para morar no povoado e que todos nós fomos convidados. – Pocahontas assentiu e fechou os olhos ao sentir o vento lhe envolver trazendo o cheiro de mar e grama, o cheiro de John.

– Espero que Thomas não nos faça passar vergonha dessa vez... – comentou revirando os olhos, Nakoma riu e eles seguiram em frente.

O vento sempre segue, sempre em frente, furioso pela tempestade ou carinhoso como a brisa de verão, pode encontrar barreiras em seu caminho, mas sempre a vence e continua seguindo. Sempre em frente, contínuo, preciso. E Pocahontas também era assim.


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Notas finais do capítulo

Espero q tenham gostado! comentem! Favoritem! Façam propaganda! Meeko não é um guaxinim, é um glutão, mas John não tem como saber a diferença e ate pra mim aquilo é um guaxinim U.UBoa sorte aos próximos altores! Estou louca para ler as suas fics! Bjs!



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