Pelo escuro escrita por Olavih


Capítulo 17
Lembrado


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente :3. Como fora a semana de vocês? Aqui está mais um capítulo. Eu não sei o que vocês andam achando da história toda sabe, então quero as opiniões de vocês, quero mesmo. Aqui está mais um capítulo, espero que gostem. A partir daqui eles vão ser meio melancólicos, desculpe, mas é o que temos para hoje kk. Boa leitura.



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Tobias recolheu a garrafa enquanto eu arrumava meus cabelos. Nós acabamos com ela em questão de três horas, mas agora se ele não saísse iria se atrasar. Por sorte, ou pensamento racional, ele havia ido de carro. E, por mais que eu negasse precisar de carona, que não seria assaltada ou estuprada, que ele não precisava me levar para casa, ele insistiu que devia. Então, lá estávamos ele e eu em seu carro, indo buscar sua namorada, antes de me deixar em casa.

—Relaxa Eva, ela não vai achar ruim. — ele falou sorrindo. Só porque eu torcia a barra da minha blusa de nervosismo. Sorri de volta, não tão confiante ainda.

—Sei. Se ela quiser arrancar o meu coro...

—Você vai arrancar o dela sem dó, eu sei! Eu sei. — nós rimos.

—Eu iria dizer que fugiria, ou que era tudo culpa sua, mas tu já tá me conhecendo o suficiente não?

—Claro uai. — ele parou o carro e eu me agarrei à porta da frente. Abri-a e saltei do carro, quase tropeçando no próprio pé. Tobias saiu calmamente e rindo muito. Depois balbuciou. — é trauma! Só pode. — e riu mais.

—Talvez. — ele me encarou com a expressão que dizia: fale logo essa história. Eu ri, mas depois falei. — já corri três quarteirões de uma namorada de um amigo, porque ela me pegou usando a blusa dele, na parte de baixo só a roupa íntima. E nem foi porque a gente transou, foi só porque ele derramou iogurte na minha roupa tudo. Então, como ele era muito grande, eu só peguei a blusa, ficando só com a calcinha.

—Você é louca Eva. — Tobias riu e tocou a campainha.

—Louca era ela. Eu até tentei explicar, mas já voou em cima de mim sem querer me ouvir. E eu até iria arrancar o coro dela, mas meu amigo a amava, então eu resolvi correr. Imagina a cena. — nós rimos. O portão abriu e a namorada do meu amigo pulou no pescoço dele. Nem vi seu rosto. Eles se abraçaram e eu virei o rosto, como se aquele gesto lhes desse privacidade. Passou no mínimo três minutos até que se lembrassem da minha existência.

—Er... Samantha esta é...

—Eva! — Samantha completou a frase de Tobias. Virei-me para contemplar os olhos castanhos e os cabelos ruivos e longos da minha ex-colega de trabalho. Éramos muito amigas, mas quando fui demitida, ela estava em uma viagem e então perdi meu telefone e nunca mais nos falamos.

—Samantha! — a abracei tirando toda saudade de mim. — então você é a modelo que fisgou meu amigo?

—E você é a garota que precisa de conselhos amorosos? Quem diria a menina que dava conselhos. — Tobias havia ficado vermelho com minha fala, mas eu fiquei ainda mais com a fala de Sam.

—Então alguém aqui dava conselhos amorosos? — Tobias falou, zombando. Chegou perto da namorada e passou os braços ao redor de sua cintura.

—É, né? Já tive meus bons momentos. — sorris sem graça. — vamos? Vocês tem um jantar, se não se lembram. E Ethan deve estar louco já.

—Ele ligou?

—Só duzentas vezes.

—Gente, me sintoniza. Quem é Ethan? — perguntou Sam confusa. Tobias beijou sua bochecha e eu sorri. — não era Patrick?

—Sabe Sam, os dias passam, as pessoas são demitidas e novos amores vêm e vão. Mas você é a única que continua com o raciocínio mais lento que internet discada. — ela riu meio ofendida. Fez um bico que provocou em seu namorado uma carinha fofa de consolo. — Patrick é passado. E Ethan...

—É futuro. — Tobias piscou para mim, completando minha frase. Sam riu da minha cara de assassina.

—Não, um amigo. Vamos gente. — senti meu celular vibrar de novo e todos escutaram.

—Certo, nós vamos. Mas você precisa mesmo me passar o seu telefone. Nós precisamos conversar. — disse Sam.

—Também sinto falta de você. É tão ruim estar de fora das passarelas. A gente sente falta até da correria sabia? — comentei sentindo tristeza. Ela franziu a testa.

—Eva, você não está trabalhando em nenhuma companhia?

—Não. Desde que fui demitida. E duvido que vá voltar, porque eu engordei tudo de novo. — falo sentindo remorso.

—Era mais magra que isso? — Tobias parecia abismado.

—No mínimo três quilos. — respondi meio envergonhada. Até gostava de estar mais gordinha. Agora eu vejo o quão doente eu estava.

—Sabe o que é? Eu montei uma companhia enquanto você esteve fora do “nosso mundo”, como sempre sonhei. E, bem, se você quiser, eu estava precisando de uma modelo sabe... — levantei as sobrancelhas, impressionada. E não é que ela conseguiu mesmo? Quando ficávamos juntas ela vivia comentando o quanto seria legal ter sua própria agencia. E dizia isso com vontade, como se fosse seu sonho. Talvez fosse. Seja como for, ela o realizou e estou feliz por ela. Mais feliz ainda por pensar em voltar às passarelas.

—Bem, eu posso pensar? Sabe, isso me pegou desprevenida. Tem o restaurante ainda e eu estou fora de forma...

—Vai nos abandonar Eva? — Tobias perguntou fazendo um beicinho fofo. Aproximei apertando sua bochecha e rindo.

—Não Tob, claro que não. Mas morro de saudade da minha passarela.

—Então, pense direitinho. E me dê à resposta até quinta, por favor.

—Tudo bem. — sorri e entramos no carro e partimos rumo a minha casa.

***

POV Ethan

Depois que Evangeline saiu o almoço continuou. Era bom ter todos ali, reunidos, rindo e brincando. Kyra não parava de olhar para Caio, lançando lhe sorrisos quando esses olhares eram correspondidos. Jaqueline quase não olhava para mim. Em vez disso ela observava os detalhes da mesa com destreza, tímida de mais para corresponder um sorriso meu que seja. Senti falta de algo, mas não sabia o que era. Uma tarefa deixada de fazer? Um objeto? Uma pessoa? Não fazia ideia, mas a dor aguda no peito não me saía dali.

Jaqueline era legal e ela beijava bem. Provocava em mim sentimentos calmos e agradáveis e eu sempre me sentia compreendido com ela ali. Mesmo que fosse tímida, tinha seus momentos corajosos onde dizia seus sentimentos a mim. Geralmente eram feitos pela internet, mas eu não ligava. Ela falava com todas as letras e aquilo era o que importava. Mas eu sentia falta de algo. Como se ela não me completasse. Eu não me sentia em casa quando a abraçava e nem me sentia apaixonado. Não estremecia ao tocá-la e ao beijar seu pescoço apenas sentia meus lábios quentes em contraste com sua pele fria. Não tinha sentimento e mal tinha prazer. Era errado eu sabia, devia ser mais corajoso e contar-lhe a verdade. Mas como acabar o que acabou de começar?

Pensei em Eva. Estava acostumado com sua voz sempre falando, seus assuntos sem noção e seu jeito de moleca. E o jeito que ela mexia o cabelo, tão sedutora. Quando o amarrava era pior, pois deixava aquele pescoço perfeito à mostra. Amava a risada gostosa que ela soltava quando achava algo engraçado, e, embora eu sentisse vergonha, amava o modo como ela soltava as coisas tranquilamente, as verdades que todos preferiam esconder. Quando ela ficava nervosa era linda e quando acordava de manhã, com os cabelos bagunçados era ainda mais.

Sentia falta de como éramos, mas não sei como concertar isso. Sei que posso, mas não sei como. E não entendo o que fiz de errado. Mas me dói ficar longe dela, como doeria se eu cortasse alguma parte do corpo. Sentia dilacerar e se espalhar, dando-me agonia. Era como se a dor visse em mim um instrumento de tortura e me usasse o tempo todo. Sentia tanta falta que chegava a entristecer o tempo todo, pensando em um modo de voltar para ela, voltar a sermos como antes.

—Sabe o que eu acho que seria bom? E se fossemos a pracinha, aquela aqui perto? Podíamos só curtir o dia mesmo. — sugeriu Kyra, sorrindo. Caio a acompanhou, apoiando a namorada.

—Sim, é uma brilhante ideia.

—Concordo. — minha mãe se manifestou. Meu pai e eu demos de ombro. Jaqueline continuou calada, observando as mãos.

—Credo Jaque, parece que você fez algo de errado. Anime-se. — brincou Kyra. Ela sorriu claramente forçada e peguei a sua mão.

—Quer que eu te deixe em casa?

—Sim, por favor. — ela pediu baixo, apenas para mim. Sorri de sua timidez, chegava a ser maior que a minha. Ela se levantou desesperada para sair dali, e eu me levantei também, sorrindo a todos.

—Encontro vocês na praça?

—Claro. — concordou minha mãe sorrindo. Peguei a mão de Jaque e saímos dali sem nem olhar um para o outro.

Só de respirar o ar puro do lado de fora da minha casa, Jaqueline parecia mais leve. Nunca pensei na timidez como um problema. Mesmo que eu saiba que ela me impede de fazer algumas coisas, sempre pensei nela como meu escudo. A usava para tudo. Mas percebi hoje como a timidez pode ser ruim. Minha mãe queria conversar com Jaqueline, queria ver se ela era tudo isso que eu realmente lhe contei. Porém Jaqueline mal se revelava a mim, quem dirá a estranhos.

O caminho até sua casa foi silencioso. Ela não fez menção de falar e eu simplesmente não dei ouvido. Não estava com humor para conversar, porque eu sabia que tinha ficado chateado por ela ter sido tão antissocial. E no fundo ela sabia também. Então caminhamos, os olhos perdidos, os ombros caídos. A casa dela ficava a algumas quadras, mas nós conhecíamos um atalho. E, por mais que nunca o pegássemos para ficarmos mais tempo um com o outro, dessa vez eu a guiei por ele, rezando para dar fim a essa caminhada.

Enfim chegamos. Avistamos a casa laranja e nos aproximamos lentamente. Jaqueline puxou-me para o lado, segurando timidamente minha mão. Eu sabia o que ela queria, e durante o percurso, minha raiva se esvaiu o suficiente para que eu também o quisesse. Então a avancei contra a árvore e beijei sua boca com avidez. Saboreava seus lábios contra os meus tão macios e suaves. Mas dentro de mim aquela saudade louca veio novamente. Uma dor que estava apertando meu coração desde o dia que sai com Eva. E não me deixava de modo algum. Aprofundei ainda mais o beijo tentando esquecer a dor, mas ela se intensificou.

E então me veio algo à mente. Um sabor. Um sentimento. Uma lembrança. Eu havia beijado Evangeline.

***

Sabe quando você se dá conta de uma coisa e tudo faz sentido? Quando quase literalmente a ficha cai? Então, era exatamente assim que eu estava. Paralisado com a verdade, finalmente compreendendo tudo que havia acontecido ultimamente. Agora eu sabia por que Eva estava daquele jeito era porque eu não me lembrava de seu beijo. Sinceramente acho que qualquer mulher enfartaria no lugar dela.

Flashbacks começaram a surgir em minha mente sobre tudo que acontecera no dia. O karaokê. O lago. O beijo. Como eu pude esquecer? Só podia ter sido a bebida mesmo. Agora que me lembrei, sentimentos que eu nem sabia que estavam sufocados floresceram levando-me a uma overdose emocional, se é que isso existe. Parecia que uma venda havia sido tirada de meus olhos e agora eu podia ver. Ver o quanto eu estava apaixonado por Eva.

Mas ao mesmo tempo em que veio o calor da paixão, o medo também chegou e me cegou novamente. Como eu faria agora? Como agiria com ela? Será que valia a pena levar essa paixão a sério, ou eu deveria manter-me calado? Eva não comentou nada, então pode não ter sido nada para ela. Mas se não fosse nada ela não estaria como está comigo. Então isso significa que ela gosta de mim? Que corresponde aos meus sentimentos?

Essa aflição me matava. Não pude ir ao parque, porque tinha que ver Eva. Talvez ela já tenha chegado a casa. Liguei para seu celular, mas chamou até dar caixa postal. Sem deixar recado liguei novamente e depois de novo apenas para me deparar com a mulher da caixa postal. Estava ficando nervoso. Talvez devesse deixar para lá. Fingir que as três ligações perdidas eram porque eu estava preocupado, coisa que irmão faz. Mas não sou seu irmão. E não posso continuar agindo como um, porque não me sinto seu irmão, não quero ser seu irmão.

Opiniões divergentes brigavam em minha mente, deixando-me louco. Cheguei a casa com a cabeça doendo e querendo paz. Mas assim que abro a porta vejo Evangeline comendo chocolate de modo secreto, olhando para mim de modo assustada, como se fosse uma criança pega em ato errado. Ela sorriu e seus dentes estavam sujos de chocolate. Nojenta e incrível. Naturalmente Eva.

—Porque não me atendeu? — perguntei roubando seu chocolate e sentando-me ao seu lado.

—Porque não o senti tocar. — ela pegou novamente o chocolate, mas eu sabia que estava mentindo. Seu lábio tremia ao falar e sua face indiferente era muito forçada.

—Mentira. — assegurei.

—Não queria te atender.

—Por quê? — assustei quando ela falou a verdade. Eva deu um suspiro cansado antes de responder.

—Porque achei que ia me convidar para ir ao parque com sua família. E eu não estava a fim de ir. — ela olhou nos meus olhos, tristes. Procuravam algum brilho nos meus que já sabia que não estava lá. Ou pensava não estar. Ela franziu a sobrancelha.

—Eu me lembro Evangeline. Eu me lembrei. — falei. Ela arregalou os olhos e se levantou nervosa.

—Do que comeu no café da manhã? Eu também! Foi skinny...

—Não Evangeline. Quero dizer que me lembro do lado. Que eu me lembro do nosso beijo. — Eva ficou tensa, como se não gostasse da notícia.

—Isso não muda nada. — sua voz era fria.

—Como assim não muda nada? Não quer saber qual é a minha opinião sobre nosso beijo? — perguntei irritado. Há essa hora eu estava em pé também, falando com as costas da loira.

—Não importa. Se gostasse de mim não teria esquecido o nosso beijo.

—A culpa não foi minha. Eu bebi de mais. — argumentei melancólico.

—Mesmo assim. Se estivesse apaixonado por mim...

—Eu teria sentido algo. E eu senti. Todos os dias desde que saímos, eu sinto uma tristeza incurável. Exceto claro, quando estou ao seu lado. — peguei seu braço e ela se virou sem que eu usasse minha força. Trazia uma ponta de esperança sufocada pela tristeza em seus olhos azuis.

—Não faz isso comigo Ethan. Não me quebre assim.

—Essa seria a última coisa que eu faria. — e sem me segurar, beijei delicadamente seus lábios.


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Notas finais do capítulo

Pronto, o que vocês acharam? Ficou bom, ruim, sem graça, o que? Preciso mesmo saber como estão as coisas, porque eu prometi que iria tentar transformar a fic em livro, então quanto mais críticas melhor! O que acharam dele lembrar agora? Acho justo, o que vocês acham que acontecerão a seguir? Dois beijos e até mais.