Thank You For Everything escrita por Ishikari Kanna


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Olaaa!!! *--*C estou eu, novamente, com mais uma fanfic de KNB *--*Espero que gostem dessa shot ♥33333Boa leitura ;333Ps.: Se tiver algum erro de gramtica/sintaxe, favor me avisar ♥333



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#POV Midorima#

Qual foi o pior momento pelo qual você já passou? Talvez, o que eu vivi, possa ser algo banal.... Insignificante.... Irrelevante para você, que está lendo isso agora... Mas, para mim, foi demais.... Acredite: ver o próprio namorado.... A pessoa que você mais ama no mundo, por quem você dedicou quase dez anos de sua vida para poder curar uma doença rara que ele contraiu, morrer... Perder a vida bem na frente de seus olhos, evolvido em seus braços, sem poder fazer nada, além de chorar e chamar incessantemente pelo seu nome em uma vã tentativa de ser atendido... Não é fácil... Tal dor é praticamente insuportável... No meu caso, eu estudei.... Esforcei-me... Dediquei-me vinte e quatro.... Quarenta e oito... Noventa e seis horas por dia para tentar encontrar alguma cura para a doença, mas não consegui salvá-lo.... Não consegui curá-lo.... Não consegui cumprir a nossa promessa: de que curá-lo-ia, a qualquer custo.... Chorava todos os dias, culpando-me pela morte de meu amado.... Só consegui me levantar e seguir em frente porque, antes de “desaparecer”, o moreno havia me dito algo, dentro de meu sonho, como se fosse ele mesmo a entrar em meu subconsciente para mandar-me aquela mensagem... Para dar-me forças e, mais uma vez, fizemos outra promessa.... A nossa última e, dessa vez, estava decidido a cumpri-la.

Nossa história... Nosso amor... Tudo começou na época em que eu havia me desentendido com os outros integrantes da Kiseki no Sedai. Estes, eram membros do clube de basquete da Teikou Gakuen, onde eu estudava anteriormente. O time era composto por seis pessoas: eu, Midorima Shintarou (o shooting guard); Aomine Daiki, o ás e Power Forwarder; Kise Ryouta, o copiador e Little Forwarder; Akashi Seijuurou, capitão e Point Guarder; Murasakibara Atsushi, Center e Defender e, por fim, o Sexto membro fantasma, Kuroko Tetsuya. Com a briga que o nosso desentendimento acarretara, saí da Teikou e fui cursar meu ensino médio na Shuutoku Gakuen. Motivo da briga? Não gosto nem de lembrar... O Kuroko, do nada, veio com um papo estranho de que estava faltando algo em nosso time, sendo que estávamos vencendo todos os nossos oponentes. Mesmo eu falando isso, ele sempre retrucava que o basquete não era divertido, se o lema fosse “vencer é tudo” .... O que ele queria? Que déssemos as mãozinhas e agíssemos como uma equipe.... Ah, por favor! Vai ser ridículo assim, no inferno! Ele tem talento, eu admito... Além disso eu o admiro muito. Mas, com essa conversa fiada nem eu nem os demais membros da Geração dos Milagres aprovamos e, dias depois, o time de basquete da Teikou fora dissolvido. Meses se passaram desde a última vez que tive contato com meus ex-colegas de time e logo no primeiro dia de aula na Shuutoku Gakuen eu estava extremamente mal-humorado porque o Ohasa disse que aquele dia não seria bom para cancerianos (e eu sou de Câncer). Além disso, havia acordado atrasado, ou seja.... Meu dia estava sendo um saco, logo no início! Como se não bastasse, tinha um cara moreno de olhos cor-de-mel, estatura mediana, feição andrógina e pele clara, sorrindo e me perseguindo, aonde quer que eu fosse, enquanto se apresentava sem mais nem menos... Sem que eu tivesse perguntado algo sobre ele:

–Olá! Você é Aquele famoso shooter da Kiseki no Sedai, Midorima Shintarou, certo?

– Como você sabe o meu nome? –indaguei-lhe indiferentemente, já que ainda não conhecia aquele estranho indivíduo, mas, mesmo com minhas frias atitudes, o moreno sorria abertamente e respondia em um tom de voz alegre

Apenas um por cento das pessoas que jogam basquete não te conhecem. Além disso, eu sou seu fã! Graças a você, criei coragem para voltar a jogar basquete. Sempre tive medo porque eu tenho uma saúde muito frágil e tinha receio de... Sei lá... Ter uma taquicardia e morrer... Ou algo assim.... – ele forçou uma risada, abrindo um bobo sorriso- À propósito, sou Takao. Takao Kazunari. Muito prazer. – pegando, sem mais nem menos, a minha mão destra, chacoalhou-a em um cumprimento- Ei! Você vai entrar para o clube de basquete daqui, da Shuutoku? Já estão abertas as inscrições. Vamos lá!

O moreno, aproveitando que segurava minha mão, repentinamente, começou a correr, puxando-me e arrastando-me até uma das mesas, em frente à lanchonete do colégio, onde um de nossos veteranos tomava o seu café da manhã. Com este, peguei uma espécie de... “Formulário” que deveria ser preenchido para ingressar ao clube de basquete... Acho que aquilo era uma ficha de inscrição.... Enfim.... E, para ser honesto, tal atitude daquele estranho moreno fez com que a minha primeira impressão dele fosse: “Esse garoto tem sérios problemas mentais.... Ele deveria procurar um psicólogo ou um psiquiatra e se tratar, antes que todos os seus neurônios se explodam devido à tanta estupidez...”. Mas, com o tempo, eu fui me acostumando com o seu jeito extrovertido e louco de ser e ele passou a ser meu parceiro nos jogos de basquete. Não que eu me desse mal com os demais membros do time... Apenas identifiquei-me mais com o Takao e uma coisa que eu admiro bastante nele, é a sua visão. Com sua “Hawk Eyes”, o nosso point guard podia ver tudo o que acontecia, do lugar em que se encontrava, até metade da quadra. Apesar de ser uma visão menos ampla... Mais limitada que a do meu antigo capitão, Akashi Seijuurou, o moreno nunca conseguia deixar de me impressionar com suas incríveis habilidades visuais. Desde então, a impressão que eu tinha do Takao começou a mudar, até que tornamo-nos amigos.

Havia se passado dois meses desde que entrei na Shuutoku Gakuen. Participamos das seletivas da Winter Cup para, depois, participar do campeonato de basquete de inverno. Treinamos arduamente, dia após dia. Nosso treinador passava um menu especial para que cada jogador aperfeiçoasse cada vez mais as suas habilidades. Porém, um dia o Takao chamou a minha atenção, ironizou-me um pouco e, por fim, dissera, sem mais nem menos:

–Shin-chan, eu te acho realmente incrível... Todos os dias eu penso “como seria bom tê-lo para mim...” e.... Sabe.... Fico me perguntando... Se você... Não... Poderia namorar comigo?

No primeiro momento, quando soube que ele me amava, fiquei espantado. Pensei: “Ele só pode estar brincando... Mas também tem a possibilidade dele ser mais retardado do que eu imaginava ou talvez seja o cansaço”. Olhei o céu pela janela da quadra. Já era de noite. Estávamos lá desde às quatro horas da tarde, o horário que costuma acabar o treino de basquete. Apesar disso, tinha pedido, para o meu treinador, para eu ficar mais um pouco treinando meus arremessos e Takao disse que queria treinar comigo. Logo, vendo que estávamos a sós, deu nisso. Pensei um pouco, mas, por mais que eu pensasse, nada mais me vinha à cabeça, a não ser uma brincadeira sem-graça, já que o moreno as adorava e disse:

–Você está falando sério, Takao? - quando proferi aquelas palavras, ele continuou com um sorriso irônico nos lábios

–Como se eu pudesse mentir sobre meus sentimentos. Ainda por cima, com o meu parceiro de basquete. Claro que eu não estou mentindo. – Mesmo assim, eu ainda duvidava e passava a encará-lo

E você acha que eu namoraria com você?

–Bem...-o point guard pensou um pouco e respondeu-Se você me namorasse, eu seria o cara mais sortudo do mundo!

–E se eu me recusasse?

Indaguei, a fim de testar... A fim de ver se os seus sentimentos eram verdadeiros. Sim, era... Tive certeza, depois de vê-lo ficar quieto por um tempo, desviando seu olhar para qualquer outro canto da quadra. Por fim, respondeu-me em um triste e doloroso tom de voz, apesar de tentar disfarçar com um sorriso:

–Acho que... Eu passaria os três anos do ensino médio em lágrimas e tristeza.

A princípio, disse que pensaria no caso e que daria uma resposta, assim que eu pudesse. Porém, depois disso, percebia que ficava pensando todos os dias sobre aquela declaração, e que algo, dentro de mim, estava nascendo... Algo que nunca havia sentido antes... De repente, não mais que de repente, pegava-me pensando, imaginando todos os dias o que o levou o Takao a falar uma coisa daquelas... Indagava-me o que era o amor... Como era amar alguém... Se eu seria capaz de amá-lo? Não tinham apenas aqueles problemas individuais, como no coletivo, na sociedade também, uma vez que noventa por cento dela era homofóbica. Eu não me importo se me ofendessem, mas.... O que o Takao faria se fosse ofendido por uma pessoa que nem sequer conhecia? Todos os dias, todas as horas, todos os minutos e todos os segundos eu pensava naquele estúpido, porém, honesto e sincero point guard, que conquistara o meu coração, com simples palavras. Assim, passei a amá-lo incondicionalmente e estava pronto para poder corresponder-lhe, mesmo que tivesse passado um tempo... No entanto, ficava pensando em todos os problemas que poderíamos enfrentar, o que nossos pais pensariam se soubessem sobre nossa relação, até que...

Aconteceu algo entre vocês dois? – no meio do treino de basquete, uma voz masculina ecoara pela quadra. Nesse momento, eu estava ao lado do Takao e nós viramo-nos em direção a ela. Era o nosso capitão, Otsubo Taisuke. Parecia preocupado. – Ou melhor, vocês brigaram?

–Não, mas...-Takao respondeu, mas o Otsubo-san continuou

Mesmo? Vocês estão sempre se estapeando e “brigando” como duas criancinhas. Dava até raiva...

–O Takao que começa…-Retruquei

–Tá, mas ultimamente eu mal escuto suas vozes. Todo esse desânimo está afetando o time, então, peço que se resolvam logo.

–Mas nós não brigamos…–repeti, já cansado de ter que falar sobre isso.

Otsubo-san: –Então, comuniquem-se mais!

Eu:–Quer que conversemos enquanto jogamos?

Otsubo-san: -Estou dizendo para vocês se comunicarem apropriadamente

Eu: -Humpf... Como se fosse necessário...

Otsubo-san:–aaah ~~... Como eu disse...

–Ahh, “aquilo”. Foi “aquilo” ... Você ainda acredita naquilo que eu disse? Desculpe, desculpe...- Depois de um tempo quieto, olhando tristemente para o nada, o Takao começou a falar, em um tom de deboche, explicando o que acontecera-Outro dia, eu me “confessei” pro Midorima, mas só estava zoando. Disse que estava apaixonado por ele e que eu queria que fosse meu namorado. E, por causa disso, o Shin-chan ficou sério... Ele levou a sério.

No momento que o Takao disse aquilo, fiquei atônito. Eu estava pensando seriamente no assunto... Eu realmente o amava... Mas estava inseguro, pois não queria que o moreno fosse agredido ou ridicularizado por alguém só pelo fato de ter se confessado pra outro homem.... Cerrei os olhos, ouvindo o que ele continuava a dizer, até o momento que perdi a paciência e desferi um soco no rosto do point guard, derrubando-o no chão. Em seguida, meus colegas de time viram que eu estava para avançar no Takao e me seguraram pelos braços, enquanto eu relutava, praticamente gritando:

–NÃO BRINQUE COMIGO!

–Desculpe, Shin-chan...- sem se levantar, o moreno abaixou o seu olhar, murmurando algo que eu não entendi... Mas... Algo me falava que não era para eu ter feito aquilo... Algo me falava que aquelas palavras não eram do Takao... Que ele estava escondendo seus verdadeiros sentimentos ao dizer tudo aquilo.... Mesmo assim.... Estava com a cabeça quente...

–Você consegue fingir que nada disso aconteceu?

–Não consigo, mas...-ele levou uma de suas mãos ao próprio rosto...-Darei o meu melhor... Mesmo assim.... Eu ainda te amo....

Fingi não ter ouvido as últimas palavras. Havia ficado realmente chateado. Durante dias, evitei-o.... Até que ele passou a não comparecer às aulas. Dois dias depois, nos treinos de basquete, comecei a errar meus arremessos...Nenhum deles entrava e sempre me pegava pensando a todo o momento no Takao.... Perguntava-me o que ele estava fazendo... Se estava se cuidando direito... Sentia-me incomodado com todo aquele silêncio me envolvendo enquanto praticava...

Tempos depois, estava ouvindo o “Ohasa”. Um programa de rádio que fala sobre o horóscopo. Queria saber qual era o meu item de sorte daquele dia, mas meu coração apertou: “Nada dará certo, se você não andar com o item da sorte de hoje: um amigo cujo nome comece com a letra T”. Abaixei o meu olhar... A princípio, pensei que teria que me virar sem esse item... Procuraria pelo colégio... Estava saindo de casa, quando de repente...:

Yo!– vi o Takao levantar-se. Ele estava me esperando, sentado na calçada. -Seu item de sorte de hoje chegou. Melhor me tratar bem hoje, viu? – o moreno tentou se mostrar animado, mas estava bem claro, para mim, que ainda não estava bem.

–Por que você veio? - apesar de estar feliz de vê-lo, sentir-me-ia muito mal se fosse só porque ele se viu obrigado.

–Você tem outros amigos, além de mim? – ele arqueou uma sobrancelha

–Como se eu tivesse, idiota... – suspirei, fitando-o de esguelha, em seguida- Mas não se orgulhe com coisas tão óbvias como essa.

–Bem...– ele desviou o seu triste olhar. Parecia, ainda, estar magoado com o ocorrido... – Se você não tem, aceite os fatos e fique comigo, hoje... Que... Que também aceitarei e continuarei com você, como amigo...

–Mas esse cara é realmente estúpido...–pensei alto, depois de ouvir tais palavras. Eu estava disposto a aceita-lo como meu namorado, uma vez que em minha mente e coração estavam preenchidos por ele. Não tinha mais como negar... Como já disse anteriormente, havia passado todos esses dias sem deixar de pensar, um segundo sequer, nele.... Foi aí que percebi: eu também o amava... Logo, continuei-Eu não me importo em namorar com você...

–Hã?– ele indagou, depois de permanecer em silêncio, por um tempo.

Erm... Como eu disse... Você... Eu... Te...– percebi meu rosto corar enquanto falava-Eu disse que te darei tudo que...-mal ele sabia que eu estava tentando organizar as minhas palavras embaralhadas e o maldito começou a rir de mim- DO QUE VOCÊ ESTÁ RINDO?

–Pff.... Desculpe... Desculpe... Sinto muito mesmo

–Se você não quer ficar comigo, tudo bem! –virei-me de costas, pronto para ir para a escola, fingindo estar bravo com ele, quando ouvi-o

–Waaah!!! Espere, espere!! Eu quero! Eu quero! – Takao puxou-me, com uma de suas mãos, pela manga de meu uniforme, enquanto a outra tocava o meu rosto. Assim, ele murmurava para que apenas eu pudesse ouvi-lo–Shin-chan.... Por favor... Dê-me seu amor... Seu corpo, sua alma... Tudo o que te pertence... Quero-te única e eternamente para mim...

–Você não tem jeito mesmo... Dar-te-ei tudo o que quiser…-envolvi-o pela cintura e selei demoradamente os doces e ternos lábios de meu amado.

E foi assim que começamos a namorar. Contei tudo o que se passou pela minha cabeça, no dia em que ele se confessou para mim, pela primeira vez, como eu percebi os meus sentimentos por ele, o que eu pensava sobre isso, quão confuso eu fiquei durante o tempo em que não nos vimos... Disse que não conseguia deixar de pensar nele, um dia sequer. Contei tudo isso, ao longo do nosso primeiro dia de namoro. Desde então, passei a frequentar todos os dias a casa de meu amado, para estudar, para convidá-lo pra sair, entre outros assuntos...

No fim, acabamos ficando juntos por nove anos e onze meses. Só não havíamos nos casado porque, a cada dia que se passava, a doença dele ia se agravando e sua saúde ia ficando cada vez mais instável.... O que o Takao tinha? Bem... Certo dia, já havia me formado na faculdade... Já fazia plantões, na área de cardiologia e estava trabalhando em um hospital. Deveria ser aproximadamente dez horas ou dez e meia da noite, quando chegou para mim um exame de emergência e o nome do paciente era Takao Kazunari. - “Takao? Ele está aqui? Está se sentindo tão mal assim, a ponto de sentir necessidade de vir até o hospital?” -perguntei para mim mesmo e, no desespero e na preocupação, mandei-o entrar, apesar de ter mais seis pacientes na frente dele. Assim, o meu amado me disse:

–Sinto muita dor no peito, Shin-chan... Como se algo estivesse espalhando... Não sei descrever como é a dor... E também sinto falta de ar. Ambos os sintomas estão ficando cada vez mais frequentes.

Receitei vários remédios, mas nenhum deles surtiu efeito. Ele continuava tendo dores e acabara sendo internado no hospital onde eu trabalhava. Sem resultado, mandei o meu namorado fazer uma série de exames e um deles, o Eco cardiograma, detectou uma Neoplasia Cardíaca, ou seja, um caso raro de câncer no coração. Fiquei chocado. Nem sabia da existência de tal enfermidade e, obviamente, desde o dia em que tive essa péssima... Essa horrenda notícia, fui estudar sobre ela porque era o MEU Takao que estava em risco. Estudava direto... Passava dia e noite em claro... Ia e voltava da biblioteca do hospital... Virava e revirava todos os livros, pegando um monte de livros, que falavam sobre enfermidades cardíacas e câncer, para estudar em meus tempos livres. Geralmente, no quarto do Takao. Este, era pequeno. Assim que entrávamos, havia um pequeno corredor, o qual, ao lado esquerdo, havia uma porta de madeira que dava acesso ao banheiro. Um pouco mais à frente ficava a cama do paciente, tinha uma pequena geladeira à direita deste e, ao lado esquerdo, havia um sofá de veludo rubro para os visitantes. No canto esquerdo do teto havia um ar-condicionado e à frente da cama do enfermo ficava uma televisão.

Enfim.... Certo dia, enquanto eu estudava, percebi que todos os livros definiam o câncer de coração praticamente da mesma forma: “uma doença que pode ser detectada através de Ecocardiograma, Tomografia ou Ressonância Magnética. O órgão pode ser acometido por metases de outros tumores malignos intratorácicos”– ou seja, o câncer não se forma NO coração mas, sim, a partir de um tumor intratorácico (câncer de pulmão, leucemia, câncer de mama) existente e que sofre mutações, infiltrando-se nele, através do sangue que circula pelo nosso corpo. - “em outras palavras, é um câncer de fase avançada. Tal enfermidade pode ocasionar hipercoagulabilidade, causando obstrução dos vasos sanguíneos de qualquer parte do corpo do indivíduo, a qualquer momento, além de uma provável Endocardite Trombótica”– abri um outro livro para ver o que era isso e nele dizia- “A endocardite infecciosa é uma infecção microbiana de uma das valvas cardíacas ou do endocárdio mural causada por bactérias ou fungos. A lesão primária é uma vegetação, que consiste em um trombo de plaquetas e fibrina infectado, localizado dentro do coração. Com base em seu curso clínico, a endocardite pode ser classificada como aguda ou subaguda. A forma aguda, frequentemente denominada endocardite bacteriana aguda (EBA), é causada por patógenos invasivos e tende a apresentar progressão rápida, em geral levando à internação do paciente em menos de 1 semana após a manifestação clínica e causando sua morte em menos de 4 semanas, exceto quando tratada com sucesso. A forma subaguda, muitas vezes chamada endocardite bacteriana subaguda (EBS), é geralmente causada por patógenos de baixo grau ou organismos comensais, com sintomas que costumam persistir durante semanas a meses até serem diagnosticados”. Ok... Havia descoberto o que era e passei a procurar um método de tratar da doença. Para a minha surpresa, e meu desespero, nenhum dos livros que havia consultado constavam a cura da neoplasia. Congelei por uns instantes: o caso era mais grave do que havia pensado. Passava, então, a folhear desesperadamente as páginas dos grossos livros, esquecendo-me completamente do fato de que eu estava no quarto de eu namorado e o mesmo estava dormindo, acabando por acordá-lo com tamanho barulho que eu fazia, sem querer.

–Hn... Shin-chan...-o moreno abria os olhos, coçando os mesmos, com as suas mãos-Está estudando de novo? Por acaso, está se cuidando direito?

–Ah... Desculpe por fazer muito barulho, Takao- para não preocupa-lo muito, larguei um pouco os meus livros, levantando-me para sentar-me à beira da cama de meu amado e beijar-lhe a testa-Pode voltar a descansar.

–E você? – o point guard retrucou, ainda deitado, olhando feio para mim e levava uma de suas mãos a alisar a pele de meu rosto- Quando que você vai deixar seus livros para comer e descansar um pouco? Parece abatido...

Eu sabia muito bem que ficar sem comer e dormir por muitos dias deixava-o preocupado. Mas, mesmo assim, eu pensava que, se eu não o fizesse, nunca encontraria um meio de curá-lo, o que me doeria muito mais do que qualquer coisa no mundo... Precisava urgentemente saber o que fazer para curar o meu amado. Não vou morrer sem achar um método. Porém, somente aqueles livros não bastavam... Nenhum deles dizia como eu podia fazê-lo. Contudo, eu não podia desistir... Tinha que dar um jeito... E foi o que fiz, decidi sair à procura de alguém, um veterano, um médico, um enfermeiro-chefe que soubesse mais sobre o assunto. Se nenhum deles souber, procuraria na internet. Levantei-me novamente, dirigindo-me para a porta, depois de selar demoradamente os seus lábios, enquanto respondia-lhe calmamente:

–Logo, logo, meu amor. Preciso fazer uma análise que acabou de vir e já descanso, ok? Já volto. – abria a porta de correr

–Você sempre diz isso, mas nunca faz....–o moreno murmurava, parecendo ficar chateado comigo.

Minha vontade era dizer: “Não consigo ficar parado, de braços cruzados, sabendo que a sua doença é grave e enquanto você está sofrendo, além da probabilidade de você sobreviver é praticamente nula”, todavia, minhas palavras não saíram.... Simplesmente ficaram entaladas em minha garganta, por conta da dor em meu peito, só de pensar em pronuncia-las. – “Não...”–Pensei comigo mesmo- “Não posso falar algo que o machuque.... Que cause medo no Takao... Não posso deixar que ele sinta a mesma insegurança que tinha, há alguns anos” ... No ensino médio, quando conheci-o, fiquei sabendo que, desde pequeno, ele tinha uma saúde frágil. Mesmo que tenha passado três anos inteiros falando para mim: “Não importa se terei uma vida longa ou curta. Apenas quero viver intensamente, cada segundo, como se fosse o último” ou por mais que ele tenha jogado basquete comigo (algo que ele não poderia praticar... Ou melhor, ele nem podia fazer atividade física...) sabia que, no fim das contas, o Takao estava com medo... Tinha medo da morte... Eu soube disso na primeira vez que ele teve uma crise cardíaca num dos primeiros dias em que começamos a morar juntos. Lembro-me muito bem do desespero por que passei, o medo que senti por pensar que o perderia logo no começo de nossa relação. Segurava sua mão, rezando para que ele melhorasse e ele melhorou. Quando ficara temporariamente curado, Takao me abraçou com força e disse, desabando-se em lágrimas: “Eu fiquei com medo, Shin-chan... Com muito medo... Não quero morrer!”. Recordo-me, até hoje, do quanto ele chorava... Do quanto ele tremia... O quanto ele me implorava para não deixa-lo sozinho... Das inúmeras vezes que ele disse que passar por uma crise cardíaca, sem ninguém por perto, era algo desesperador... E eu, enquanto via-o desmoronar, aos prantos, em meus braços, decidi que protegê-lo-ia a todo e qualquer custo e, por conta disso, decidi seguir a carreira de Cardiologista. Entretanto, nesse dia, eu ainda não sabia que se tratava de um câncer.

Voltando... Sem dizer nada, saí do quarto para procurar informações sobre a doença do Takao. Perguntei para todos os residentes do quarto ano, para cardiologistas profissionais, para todos daquele hospital.... Porém, não consegui nenhuma resposta: alguns nem sabiam da existência do câncer de coração; outros, nem pensavam que era possível; por fim, outros disseram que ainda não existia cura para tal enfermidade, por quase nada se saber sobre ele e por ser extremamente raro (entre 0,001% e 0,3% de chance de um indivíduo contrair o tumor). Ouvi dizer, também, que meu moreno teria pouco tempo de vida, uma vez que fora vítima desse terrível caso. Isso, deixou-me em choque. Por mais que fossem mais velhos, muito mais experiente do que eu, não queria acreditar... Eu simplesmente recusava a me render ou desistir de procurar um meio de curá-lo.... Para eles, podia não fazer diferença, mas, para mim, fazia toda a diferença, porque ele era a minha vida... A razão pela qual eu sorria e vivia... A pessoa que eu mais amava no mundo... Estava convicto de que conseguiria... Porém, não consegui conter o medo de perde-lo.... De não conseguir salvá-lo.... Acho que eu já repeti isso mais de mil vezes, mas era o que ecoava todos os dias em minha cabeça: “Tenho que curá-lo, custe o que custar... Não posso perde-lo.... Tenho que curá-lo, custe o que custar... Não posso perde-lo....”. A cada segundo, meu desespero só aumentava... Cheguei no quarto do Takao e joguei-me no sofá, sem ao menos responder ao “Bem-vindo de volta, Shin-chan”, pronunciado pelo meu amado.

–Shin-chan, o que foi? Aconteceu algo?

–Não foi nada...–disse em poucas palavra, sem ao menos me dar ao trabalho de olhar em seus olhos para responde-lo

–Ah, é? Diz isso, mas não é o que parece. - o tom de voz dele era calmo... Doce e gentil... Estava preocupado comigo de novo- Se tiver algo te incomodando, se abra comigo...

–Takao, por favor, não me pergunte.... Não quero falar sobre isso...–interrompi-o, do modo mais calmo possível. Não queria que ele soubesse do meu choque... Do que ele tinha... Não queria que ele se assustasse por causa de sua doença... Não queria voltar a vê-lo, como o vi, uma vez... Frágil, vulnerável... Inseguro...

–T... Tá bom... –vi, pelo canto de meus olhos, que meu namorado havia abaixado o rosto, em seguida, encarando o teto, novamente. Mas, por conta de um barulho, voltei a fita-lo, percebendo que este segurava, em uma de suas mãos, uma sacola de plástico.

–E o que é isso? Enjoou da comida do hospital e foi comprar porcarias, durante e minha ausência?– arqueei uma de minhas sobrancelhas, ironizando-o

–Não seja grosso! A comida do hospital é boa, tá? As cozinheiras fazem com toda a paciência do mundo, panelas e panelas de comida para cada paciente desse imenso hospital. Por isso, não diga uma coisa dessas! E....-ele estendeu a mão que segurava a sacola, em minha direção-isso é seu, senhor Midorima Shintarou, já que não come há dias.

–Ah... Obrigado-fiquei meio surpreso, porque eram poucas as vezes que o Takao ficava bravo comigo... Deixa pra lá... Levante-me do sofá, vendo que ele estendia o braço, com o qual segurava a sacola, em minha direção. Fucei para saber o que tinha dentro, encontrando um pacote de macarrão instantâneo, uma caixa de plástico contendo bolinhos de arroz, sushi e carne e, em uma outra, salada, além de uma garrafa de suco de laranja-Não precisava, amor.

–Precisava sim. Você está há dias sem dormir, por minha causa...

–Ora... Quem ama cuida, certo, Takao Kazunari? Enquanto você precisar de mim, eu estarei sempre ao seu lado. –envolvi-o pela cintura e encostei a minha testa na dele

–Não foi bem isso o que eu quis dizer, mas... Eu fico feliz por ser tão amado por você, Shin-shan

–Hn? Não entendi. – sentei-me à beira de sua cama, como costumava fazer, para poder abraça-lo– O que quis dizer com isso?

–Eu não tenho muito tempo de vida, certo? – ele me perguntou com um triste tom de voz, o que me fez arregalar brevemente os olhos e alisar carinhosamente o seu rosto

Do que você está falando, Takao? De onde você tirou essas ideias absurdas?–procurei disfarçar. Não queria que ele ficasse assustado ou atordoado com tal fato... Mas, pelo que eu ouvi dizer de outros médicos mais experientes que eu, o que o meu namorado dizia era verdade e, como se tivesse lido a minha mente, este fitava-me meio revoltado

Não minta para mim... Você sabia disso o tempo todo... Sabia que eu tenho câncer no coração e ficou estudando o tempo todo, sem ao menos me dizer sobre o que era ou fingindo que estava indo entregar um relatório ou sei lá o que mais...

Decidi parar com os disfarces, uma vez que ele havia descoberto sobre sua doença- Porém, não sabia como-. Senão, ele me odiaria para sempre. Sim... Eu estava ciente disso... Que o Takao abominava mentiras... Mas, mesmo assim, o fiz para poder poupá-lo do medo e da dor... Para que ele não precisasse mais sentir-se inseguro, novamente... Sei que ele não é mais nenhuma criança de cinco anos a ser protegida pelos pais... Que já era um adulto bem formado, assim como eu, mas, como eu havia dito anteriormente, “Quem ama cuida”. Aliás, eu cuido e protejo quem amo. Só queria que ele compreendesse isso... Respirei fundo e perguntei diretamente, sem rodeios:

Até onde você sabe?

–O resultado do meu exame de Ecocardiograma saiu faz tempo. Eu estava mesmo estranhando a imensa demora. Hoje, quando fui perguntar sobre ele para o Kinoshita-sensei, aquele que fez o exame em mim, ele disse que havia entregado pra você e, como a expressão dele não estava muito boa, perguntei qual foi o resultado e ele me contou sobre o câncer em meu coração...

–Entendo...

–E ouvi o resto, que eu não teria muito tempo de vida, quando eu estava em frente à máquina de bebidas comprando o suco de laranja pra você, e acabei ouvido a sua conversa com o Mikajima-sensei, o assistente do Kinoshita.

Sei... Olha... Eu…-tentava me desculpar de alguma maneira que ele não passasse a me odiar. Pensava que ele estivesse bravo comigo ou algo assim e abaixei a minha cabeça para pedir o seu perdão-Sinto muito...

–Tudo bem... Eu... Para falar a verdade, também estava escondendo algo de você, então estamos quites...-Takao abriu um triste sorriso, após beijar carinhosamente o meu rosto e abraçar-me novamente, como se fosse a última vez.

–C... Como assim? -assustei-me com as suas atitudes... Estava até suando frio

–Para falar a verdade, eu também posso sentir o quanto eu poderei viver... E sei que não será por muito tempo... Não sei explicar direito, como é a sensação... Só sei que é horrível... É triste... Por isso, Shin-chan... Queria passar cada momento, cada hora, cada minuto, cada segundo com você... Só com você e mais ninguém...

Correspondi o seu abraço, não querendo soltá-lo mais. Querendo, quase gritando para que o tempo parasse naquele mesmo instante... Para que eu não precisasse vê-lo partir... Porque eu não suportaria perde-lo.... Seria muito para mim... Uma ferida profunda se abriria se ele me deixasse... O que seria de mim sem ele? “Takao, não me deixe!” - era o que o meu coração gritava e a sua voz ecoava, transformando todo o meu desespero em dor... E esta dor, tornava todo aquele sentimento de tristeza em lágrimas.

–Shin-chan... Não chore...- o moreno dizia calmamente, com um tom de voz sereno, como sempre fazia quando procurava me acalmar e apoiar, enquanto alisava gentilmente o meu rosto com as costas de sua mão

–Eu prometo... Prometo que vou te curar, Takao... Custe o que custar, nem que eu tenha que me sacrificar por isso...

–Ei, ei! Não diga isso! – meu amado me dera um peteleco em minha testa, fitando-me com um ar de reprovação, mas logo voltara a sorrir, como sempre fazia-Eu acredito em você e em suas capacidades, Ace-sama da Shuutoku Gakuen! Ah é! Posso te pedir um favor? Faz tempo que não te vejo jogar basquete. Será que poderia me mostrar seus arremessos?

–Mas...-procurava me recompor, enxugando as minhas lágrimas-Já é tarde e você precisa descansar ou não se curará nunca.

–Por favor...-Takao segurou ambas as minhas mãos-Pode ser só um ou dois arremessos... Eu quero ver....-Assim, beijara o meu rosto.

Tudo bem... Só dois arremessos. Será um problema se pegar um resfriado.

Após aquelas palavras, ajudei meu namorado a vestir seu casaco e a sentar-se na cadeira de rodas para que pudéssemos ir a uma das quadras de basquete que pertencia ao Hospital Geral de Tóquio. Descemos um andar de elevador e passamos pela porta automática de vidro que dava acesso a uma espécie de parquinho, onde alguns outros pacientes passavam o tempo, tomando ar, comendo ou jogando alguma espécie de jogo. Não demorou muito para que chegássemos em uma quadra e, lá, encontramos uma bola de basquete. Alguém devia ter praticado antes de nós chegarmos. Enfaixei meus dedos da mão direita com esparadrapos, como de costume, e passei a arremessar algumas vezes a bola na cesta. Pude reparar que Takao me olhava como se estivesse presenciando algum espetáculo, sendo que não era nada demais, para mim, arremessar do meio da quadra... Enfim... Resolvi deixar quieto porque, desde o dia em que começamos a namorar, não gostava de ser mal-educado com ele... Só quando passávamos a zoar um com o outro...

–Você é realmente incrível, Shin-chan...-ele sorriu para mim- Como esperado do Ace-sama da Shuutoku!

“Ace-sama” ... Era como ele me chamava por ser, na opinião dele, o melhor jogador do time de basquete, na época em que ainda cursávamos o ensino médio. Para ele, eu era o ás, apesar de ter muita gente talentosa no clube. Eu nunca entendi o porquê daquilo... Apenas sorri e empurrei a sua cadeira de rodas, rumo ao quarto dele:

Vamos voltar. Esse vento não está fazendo bem para o seu cérebro, Takao- depositei um beijo em sua testa, iniciando uma caminhada lenta com meu amado que ria

Como você é cruel!

Nesse momento, senti algo... Uma pequena dor em meu peito. ”O... O que foi isso?” –respirei fundo, procurando manter a calma e levei Takao de volta para o quarto. Porém, enquanto este fazia sua higiene bucal e se preparava para dormir, eu acabei apagando enquanto o esperava no sofá. Pelo jeito, ele resolveu não me acordar. Graças a isso, eu tive um pesadelo horrível. Sonhei que estava ouvindo o Ohasa, uma programa de rádio que fala sobre o horóscopo. Lá, falou que, para os cancerianos o dia não seria muito bom e, por isso, não poderiam se descontrolar com perdas de pessoas importantes. Logo, deveriam se preparar para enfrentar a pior dificuldade de nossas vidas. Depois de tal frase, surgiram, repentinamente, algumas imagens assustadoras à minha frente. Ouvia gritos de desespero, cores berrantes passavam a me envolver e, no fim do pesadelo, a voz do Takao passava a ecoar triste e dolorosamente, pedido socorro, dizendo que não queria morrer.

Num espasmo, acordei, sentando-me em um brusco movimento enquanto respirava ofegante, com o meu coração a mil. Tentava me acalmar, levando uma de minhas mãos à minha própria testa, inspirando e expirando algumas vezes. Não consegui associar nada com nada... Apenas olhei para o relógio digital ao lado da cama onde meu namorado dormia e deitei novamente. De um jeito ou de outro, tinha um mal pressentimento quanto a dor que eu senti quando o Takao sorriu para mim e o sonho que havia acabado de ter. Sabia que algo ligava ambos os fatos e, tudo isso, fazia-me sentir uma insegurança inexplicável, o que me fez ficar tão intrigado a ponto de mal conseguir dormir, naquela noite. Quando dei por mim, já havia amanhecido e, em plena seis horas da manhã, vieram me chamar para ajudar em uma cirurgia de emergência, que durou aproximadamente quatro horas e só fui sair daquela bendita sala abafada às dez. No entanto, antes que eu pudesse respirar, um colega meu chegou correndo para mim, dizendo que a saúde do Takao havia piorado e já não teria mais jeito. Por isso, teria que comunicar aos pais do moreno.

Sem pensar duas vezes, saí correndo para o quarto do point guard:

–Não!! Não! Takao.... Merda... Isso não pode estar acontecendo...-murmurava baixo para mim mesmo, tentando conter as minhas lágrimas.

Entendi... Nesse instante, tudo fazia sentido... Tudo encaixava... A dor em meu peito... Meu pesadelo... Estariam essas dores, más impressões e pesadelos me avisando sobre isso?

Cheguei na porta do quarto de meu amado, abrindo-a com violência e lá estava ele, suando, respirando ofegante, com dificuldade, conseguindo fazê-lo com a ajuda de tubos de oxigênio. Seu rosto estava pálido e estampava uma expressão dolorosa... Posicionei-me ao lado de sua cama e segurei firmemente as suas mãos, ajoelhando-me e encostando a minha testa em seu corpo, podendo perceber que a frequência de seus batimentos cardíacos estava cada vez mais lenta... Ao mesmo tempo, meu desespero voltava a aumentar, novamente... Meu corpo todo tremia de medo de perde-lo.... Não teve como... Meu temor de ser deixado foi maior... Tamanho ele era, não pude segurar as minhas lágrimas, que passavam a escorrer pelo meu rosto, incessantemente.

–Takao... Takao... Takao... Takao...! Kazunari!!!!-chamava-o inúmeras vezes, sendo atendido, apenas na última. Ele voltou suas íris cor-de-mel para mim e os mesmos olhos arregalaram por uns instantes, mas logo voltaram a sorrir. Em seguida, uma de suas mãos tocou a pele de meu rosto, a fim de secar minhas lágrimas, enquanto sua voz saiu... Mais baixa e mais fraca que o de costume

–Shin-chan...

–Takao...-beijei a sua mão e ele continuava a sorrir ternamente

–Não chore... Sorria...-pediu ele, como se fosse fácil

Neguei com a cabeça, encostando a minha testa em seu colo. Assim, como se ele já soubesse que partiria exatamente naquela hora, Takao tirou um envelope de seu bolso, entregando-o para mim. Sem deixar de sorrir, o mesmo passava, novamente, o polegar ao redor de meus olhos, em uma vã tentativa de secar as minhas lágrimas. Recebi o envelope, segurando-o juntamente com suas mãos, entendendo que, aquela, seria a última carta que eu receberia de meu amado... Que ele usara as suas últimas forças para escrevê-la... Por conta da tristeza e da angústia que tomava conta de mim, as minhas palavras não saíam... Ficavam entaladas em minha garganta... Demorei muito para suplicar-lhe:

–Não morra, Takao!!!

–Eu sempre atendi aos seus egoísmos... Mas... Não dessa vez, ace-sama... – ele tentou uma risada, mas ela pouco saiu... Pouco fora ouvida por mim e, com um gentil sorriso em seus doces lábios, seus olhos foram cerrando, suas mãos perdendo a força... Sua voz ficando mais fraca, conforme o mesmo terminava de pronunciar a sua última frase, em seu último suspiro, fazendo-me desabar em lágrimas-Obrigado por tudo, Shin-chan... Eu fui muito feliz com você...

–Takao...? TAKAO!!!!- abracei com força o corpo de meu amado, já sem vida.

Aquele dia, sem sombra de dívidas, foi o pior da minha vida... Foi como se tivessem arrancado metade de meu coração... Ele doía... Doía muito... Aquela foi a primeira vez que chorei... Em nosso décimo ano de namoro, ocorreu uma desgraça daquelas... Não conseguia me conformar com a morte do Takao.... Simplesmente não queria aceitar... Queria-o de volta para mim, mas sabia que era impossível... Tudo passou pela minha cabeça, que girava e girava, sem parar, quase me deixando louco... Não sabia ao certo se era por raiva de mim ou pela tristeza que transbordava de meu coração. Para piorar a minha situação, nesse mesmo dia, a família de meu namorado resolveu fazer o enterro e, só depois disso que tive tempo de abrir o envelope que meu amado havia me dado. Naquela hora, o relógio marcava sete e meia da noite. Tinha acabado de voltar para casa que, anteriormente, dividia com o point guard. Quando cheguei, não tinha comida pronta, não fui recebido com um animado “bem-vindo de volta, Shin-chan”, acompanhado de abraços e beijos... Aquele lugar já não era mais o mesmo... Aquele silêncio todo era insuportável... Fazia com que surgisse uma intensa dor em meu peito, o que tirava-me a fome. Logo, apenas tomei um banho e fui para a cama... Ela parecia tão grande... Tão vazia, sem ele... Encontrei o ursinho de pelúcia que o Takao mais gostava. Era o preferido dele. Abracei-o pela primeira vez, pois ainda tinha impregnado, nele, o seu cheiro... Nesse instante, lembrei-me da carta, tirando-a de meu bolso e abrindo-a, encontrando, junto a um bilhete, uma foto nossa:

“Meu amado Shin-chan,

Feliz dez anos de namoro, ace-sama! Hahahaha! O tempo passou rápido, não? Faz dez anos que nos conhecemos, que estamos juntos, que descobrimos o que é o amor e a felicidade. Fizemos muitas boas lembranças, passamos por momentos difíceis, também, como todo o casal, mas um apoiou o outro até o fim, não é mesmo? E, primeiramente, desculpe-me por te fazer passar por dificuldades, por tê-lo feito passar horas e horas, dias e dias em claro, sem descansar e, muitas vezes, sem comer... E queria te agradecer tanto, mas tanto... Que uma vida inteira não seria o suficiente para expressar tanta gratidão por tudo que você fez por mim. Obrigado por sempre estar ao meu lado... Obrigado por sempre cuidar de mim... Obrigado por ter cruzado o meu caminho... Por ter me aceitado como seu namorado... E, o mais importante de tudo: obrigado por existir e me amar como me amou.

E saiba que eu também te amo, Shin-chan. Você foi, é e sempre será meu único e eterno amor... estarei sempre... eternamente ao seu lado, onde quer que esteja... Sempre dentro de seu coração... Não importa quanto tempo se passe... Eu te amo.... Te amo muito....

Com amor,

Takao Kazunari”

Takao....-Não consegui conter as minhas lágrimas- Por que? Por que você me deixou? Por que você teve que sofrer tanto com essa doença? Por que tiveram que tirar você da minha vida? Justo você?– afundei meu rosto na pelúcia. Horas se passaram, desde que eu havia começado a chorar, e acabei pegando no sono.

Minha visão havia se tornado branca... Não tinha nada no cenário. Era apenas eu em uma sala alva. Caminhava ao longo desta, tentando descobrir que local era aquele, até ouvir uma voz conhecida me chamar e falar para eu seguir em frente. Mesmo sem saber onde que seria essa “frente” (uma vez que todos os lados para onde eu olhava eram igualmente brancos. Parecia que eu estava em uma caixa sem fundo) apenas segui em linha reta e, para a minha surpresa, quem me guiava era meu amado moreno. Corri para abraça-lo, mas não sentia o seu calor. Olhei direito para seu rosto, percebi que estava meio transparente, como se fosse uma alma.

Takao...

–Shin-chan... Me desculpe por te fazer chorar desse jeito... Mas não fique triste... Sorria...

–Não diga isso como se fosse fácil, seu idiota! - puxei-o para um intenso, longo e demorado beijo. Seus lábios estavam frígios, assim como o resto de seu corpo. – Você não faz ideia de como é não ter mais você comigo... Não tem noção de como eu me sinto a cada minuto... A cada segundo sem você... Ao pensar que já não pode mais voltar para mim... Ao pensar que a minha vida já não é mais a mesma, uma vez que eu o perdi...

–Shin-chan... – seus olhos se encheram de lágrimas e o moreno logo voltara a me abraçar-Desculpe... Tenho raiva de mim mesmo por ter sido tão fraco, a ponto de sempre estar dependendo de você... Sinto-me um lixo por te fazer sofrer... Me desculpe por ser um fardo.... Por favor... Me desculpe...

–Não diga besteiras. Você nunca foi um fardo para mim... Eu cuidei de você porque eu te amo... E a é culpa minha se a sua saúde ficou cada vez pior... E, como se não bastasse, eu quebrei a nossa promessa: de que eu te curaria, custe o que custar....

–Eu não te culpo por isso, eu amor... Afinal, você estudou, se esforçou por mim e isso me deixa muito, mas muito feliz mesmo. Se não está satisfeito, faremos outra, sim? – ele estendeu o dedo mindinho e sorriu- Prometa-me que seguirá em frente, sem abaixar a cabeça, até que a chama de sua vida se apague. E, depois dela, nos encontraremos novamente e seremos eternamente felizes juntos... Nesse trajeto, você não pode desistir, se abater, e nem pensar em acabar com a sua vida, por minha causa, entendido?

–Certo... Eu prometo... –cruzamos nossos dedos mindinhos, em uma promessa, e percebi que ele ainda estava com a nossa aliança.

Contudo, depois de tal ato, sua pele cintilou e começou a se desfazer, como uma poeira que esvoaçava pelos ares, sendo sobrado por uma suave brisa. Takao sorriu novamente, aproximando-se vagarosamente de meu rosto para selar demoradamente os meus lábios e murmurar perto de meu ouvido, antes de desaparecer completamente de minha visão até restar, apenas, resquícios de sua sutil e serena voz:

–Eu te amo, Shin-chan... Nunca se esqueça disso... E, mais uma vez, obrigado por tudo...

Havia amanhecido... Uma noite havia se passado desde o dia de sua morte. Apesar de ainda não me sentir bem... De não estar nem um pouco disposto, sabia que teria que trabalhar. Afinal, as contas de luz, telefone, água e impostos não se pagavam sozinhas. Como estava sem paciência para nada, preparei um lamen instantâneo, comi e sai para trabalhar. Não me sentia totalmente pronto, confesso, mas deveria viver o meu primeiro... O meu segundo... O meu terceiro... Todos os dias de minha vida que me restavam, sem ele... O que me deixa em pé, até hoje, é a nossa última promessa e, dessa vez, tenho que cumpri-la para que, no dia em que nos reencontrarmos, eu possa falar: “Takao, eu cumpri a nossa promessa”. Sim, ele me faz falta... Sinto saudades de seus carinhos, seus beijos, de seu calor, de seu sorriso, sua voz... De tudo... Mas, o que é nosso, está em meu coração e apenas isso basta para me dar forças para viver. Me sinto só mas sei que não estou, enquanto sentir a sua presença... Aonde quer que ele esteja, sei que ele vai me proteger... Sei que ele pode me ouvir, pois nossos corações estarão eternamente ligados, um no outro... Posso dizer que tirei todas essas conclusões e que me sinto bem melhor com as últimas palavras de meu amado moreno e eu quem deveria dizer: “Obrigado por tudo, meu único e eterno amor, Takao Kazunari...”


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Notas finais do capítulo

E então? o que acharam? >espero reviews ♥3



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