Apenas aconteceu escrita por Azaroseuquerida


Capítulo 1
Capítulo único.




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O céu mostrava seus primeiros traços de noite, enquanto o sol se escondia sob o horizonte do mar. Igor e Mauricio riam sob uma mangueira, notando suas semelhanças físicas, no momento em que cada um se perdia no olhar do outro.

Seus rostos tinham semelhanças incríveis, não que fossem tão parecidos assim, alguns traços, o desenho dos lábios, os cabelos. E, para a infelicidade (será?) de ambos, seus corpos se mostravam completamente masculinos.

Igor se aproximava lentamente de Maurício, temendo o que seus instintos pudessem desejar. Não que o segundo não o correspondesse, mas a sociedade havia implantando na consciência de ambos: o que sentem é errado.

Mauricio se aproximava do outro rapaz, sentava mais perto dele, chegando a deitar em seu colo. Igor corou, e começou a fazer carinhos no cabelo do amigo – amor.

O dia já não estava mais presente, o céu se mostrava em plena escuridão. Os dois, então, começavam a contar estrelas, iluminados apenas pela luz da lua.

– Eu queria poder parar de fingir... – Igor comentou ao observar todas as poucas pessoas que passavam por perto deles. Apesar de falar em poucas palavras, Mauricio entendeu o que o rapaz queria falar, pois ele compartilhava desse mesmo sentimento de opressão.

– Talvez um dia. – Falava numa entonação esperançosa e melancólica ao mesmo tempo, sentindo os carinhos do amigo próximo a sua orelha.

– A lua está linda. Tão bela e brilhante, destacando-se em meio a toda essa escuridão... – Ele tentava mudar o assunto, se levar pelo momento.

– Podíamos seguir as estrelas, fugir por ai, sem rumo, sem ter para onde voltar. – A ideia agradava ambos, no entanto tinham consciência do fato de serem apenas sonhadores.

– Seria um dos problemas: Não ter para onde voltar. – Mauricio riu. – Talvez, com você, eu não me importasse com isso. Poderíamos deitar sempre sob as mangueiras, e sobreviver dos frutos que a natureza nos desse. – Ironizou, num tom sério.

– Não seria uma ideia tão ruim assim. – Mexia, então, nos cabelos nem tão longos do seu amado, que se aproximavam das suas orelhas.

Mauricio então levantou e puxou seu amado pelas mãos, saíram correndo em direção ao mar, apenas encarando o horizonte e sentindo a brisa fria daquela noite nas suas peles claras. Seus olhos se perdiam na linha do horizonte, os dois fitavam o desconhecido, de mãos dadas e corações unidos, apesar... De tudo.

– Eu só queria que nosso amor não tivesse tantos obstáculos. – Igor ainda observava o horizonte.

– Talvez o certo não sejamos nós. Ou talvez... Tudo isso apenas seja para testar o nosso amor. – Mauricio sentia seus pés descalços serem molhados pela fria água do mar.

– Acho que podemos vencer tudo isso, em algum momento as coisas começam a dar certo. – Ele puxava o outro pelas mãos, enquanto caminhavam nas bordas do mar.

– Se fossemos um homem e uma mulher, não seriamos tão mal vistos. Por que nosso amor tem que ser tão ridicularizado pela sociedade e pelas pessoas que fazem parte do nosso convívio? Eu te amo, Igor. Apenas queria que nosso amor pudesse se mostrar, para todo mundo, sem nenhum medo, sem opressão. – Lágrimas começavam a surgir da face do rapaz.

– Nossos pais, nossa família... Eu só não queria sentir medo. – O vento bagunçava seu cabelo.

Estavam com seus corpos próximos, pois Mauricio se confortava no peitoral do amado. Apenas eles e a imensidão do mar, da natureza – aquela, parecendo ser a única a não ser contra o romance deles. As árvores se balançavam com o vento, parecendo estar cada vez mais forte, como se a natureza chorasse junto com eles.

Queriam tocar-lhes os lábios, no entanto temiam a reação das poucas pessoas, aquelas que passavam pela rua, já olhando estranho dois homens andando de mãos dadas pela beira de um mar.

– Eu queria ser feliz, com você. Sem todo o mundo nos crucificando. – Igor também já mostrava suas pequenas lágrimas.

Então, tentando esquecer, por um segundo, a sociedade, a família, as pessoas passando por ali, o preconceito, a tristeza, a melancolia, a homofobia; eles se beijaram, pela primeira vez. Nessa demonstração de afeto, carinho; eles perceberam que no outro tinham tudo que precisavam.


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