Minha pequena, sei que já faz um tempo desde a última vez que estivemos juntas, que nos falamos, sete meses exatamente. Não sei se ainda se lembra de mim, mas eu lembro de ti, todos os dias... Creio que lhe devo explicações pelo meu repentino sumiço, e são estes que, enfim vim lhe dizer. Minha vontade era falar pessoalmente contigo, mas falta-me coragem...

Duas pessoas completamente opostas que nós éramos, mas mesmo com todas as diferenças, tornamo-nos amigas. Antes de te conhecer, eu vivia fechada em meu próprio mundo, era uma pessoa fria e que não gostava de expor-me. Mas um dia você apareceu, com seu jeito descontraído e alegre de ver as coisas, fez-me deixar você se aproximar de mim. Aos poucos você mostrou-me as boas coisas da vida, e como eu poderia desfrutar dela. Um pouco mais de dois meses depois que começamos nossa amizade, você revelou-me seus sentimentos além dela que sentia por mim. Aquilo fora novo para mim, você disse estar apaixonada pela pessoa boba e sem graça que eu era. Feliz pelo que falastes, eu disse que sentia o mesmo por você, mal sabendo eu que as palavras que proferi naquele instante, traríam um peso difícil para carregar no futuro...

Nós começamos um relacionamento sem que ninguém soubesse, e estávamos indo para o segundo mês juntas quando você decidiu deixar seus pais a par do que estava acontecendo. Confesso que nunca senti tanto medo em minha vida antes, e se eles não deixassem você me ver mais? Se não permitissem nosso namoro? Fiquei estática enquanto eles somente olhavam de mim para você, mas ao sentir seus braços em minha volta e seu calor, eu percebi que no fim, tudo deu certo.

Fora a partir deste momento que comecei a questionar-me sobre nós duas... Você afirmava veemente que sentia algo forte por mim mas, e eu? Eu gostava de ti, obviamente, e sentia-me muito bem ao seu lado, mas eu realmente te amava? Eu poderia retribuir todo esse amor que você me dava, com a mesma intensidade? Essas e muitas outras dúvidas pairavam sobre minha mente, chegando a deixar-me atordoada. Fora então que eu decidi o que fazer, por mais errado que fosse, eu deixaria a casa que compramos juntas, sem que você soubesse de minha partida. Sairia de noite, enquanto estivesse dormindo. Não diria porquê nem para onde iria, não queria e nem sei se poderia manter contato contigo. Antes de sair, pela última vez por aquela porta, aproximei-me de você lhe dando um beijo na testa. Você remexeu-se na cama abertando mais a pequena raposa de pelúcia que eu tinha lhe dado e murmurou baixo um "Eu te amo". Uma lágrima rolou de meus olhos nesse momento, quase fazendo-me desistir de partir, mas fui firme, dei uma última olhada em você e sai.

Eu fiz isso tudo por medo. Medo de não poder corresponder esse sentimento forte seu por mim. Medo desse sentimento confuso que eu tinha. Medo de não ser boa o bastante para você. Medo de um dia magoar-te, mas acho que mesmo querendo evitar isso, eu te fiz sofrer por desaparecer, não é mesmo? Hoje eu vejo o erro que cometi ao sair por aquela porta... O quão estúpida foi minha decisão. Eu escrevo está carta neste momento de arrependimento, mas não sei se um dia terei a coragem de lhe enviá-la. Mas caso você venha a recebê-la, eu peço desculpas se lhe fiz sofrer. Não acho que você vá aceitá-las, mas...

Espero que possa me perdoar...