Adeus escrita por Helena
Notas iniciais do capítulo
Comentem *3*
''Todo mundo diz que a felicidade vem de dentro, e que só você pode fazer seu mundo feliz. Mas e quando a realidade bate à porta, tornando-se insuportável?''
Era uma vez um palhaço.
Era conhecido como Big Bob. Trabalhava em uma pequena cidade, alegrando pequenos cidadãos. Não tinha muito dinheiro, nem muitas ambições. Não tinha nada, a não ser aquela força de vontade e aquela bondade que todos conheciam muito bem.
Big Bob era muito popular entre as crianças, e nada o deixava mais maravilhado do que as gargalhadas gostosas da pequena garotinha que recebia um balão rosa em forma de cachorro, ou o sorriso radiante do menino que o assistia fazer malabarismo na calçada. Todos amavam o palhaço.
Mas tudo isso era apenas a calmaria antes da tempestade.
O dia amanheceu chuvoso e cinzento no coração de Big Bob, mesmo com o sol matinal iluminando o pequeno apartamento onde morava. Levantou-se pesadamente do colchão onde dormia, e dirigiu-se ao banheiro. Parou em frente ao minúsculo espelho, e não gostou da imagem deplorável que observava: uma camiseta sem mangas rasgada, uma barriga formada pelo vício em bebidas e cigarro, uma barba malfeita, olhos cansados, olheiras de noites e mais noites passadas em claro.
Lavou o rosto, forçando um sorriso. Já havia virado rotina esconder sua triste realidade. As crianças de que tanto gostava não precisavam descobrir tão cedo o potencial destrutivo da sociedade.
Vestiu sua fantasia, recolheu suas bolinhas coloridas e flores, fez a maquiagem. Assim era melhor. Sua aparência colorida contrastava com a decadência da minúscula residência fria e com mais lixo do que mobília.
Desceu para mais um dia de trabalho na calçada. Seguiu pela rua do seu prédio velho, num bairro pobre da região. Olhou ao redor: jovens sem futuro, homens sem esperança, pessoas sem expectativa, todas elas rodeando as ruelas escuras, no fundo procurando uma luz. Um mundo isolado e triste.
Manteve aquele bom humor rotineiro até o fim da tarde. Big Bob era mesmo muito forte, mas as risadas infantis, antes sua terapia, já não faziam mais o mesmo efeito. Era irônico o modo que criaturas tão sensíveis como crianças pudessem ser iludidas com um simples truque de mágica, com uma flor, com um balão.
Com um sorriso.
O fim do dia estava próximo. O sol começou a se pôr, mas apenas Big Bob sabia o que aquilo significava realmente.
Enquanto voltava para casa, ele pensava. Em sua ex-mulher, a quem amou um dia. Em seus filhos, como queria poder vê-los novamente. Em seus pais, que Deus os tenha.
Seu coração apertava enquanto as lágrimas borravam a tintura do rosto. As pessoas à sua volta pareciam não perceber o que estava acontecendo.
Subiu as escadas do prédio, mas passou o seu andar. Foi até o terraço, apreciar uma das únicas coisas que ainda não haviam tirado dele: o laranja do céu, no fim do dia. Era lindo.
Mas aquele era ainda mais especial.
Pois seria a última visão que teria desse mundo.
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Gostaram? Meio deprê? Não vão se matar por minha culpa, tá? :p