Parte 2 - SÉCULO XIX

- Fiquei sabendo que papai e mamãe contrataram alcoviteiras! E Três delas?!

- Ora! Você poderia ajudar Brigit, posso perceber que é uma ótima alcoviteira! - Brinca Elizabeth.

- Pensarei no assunto! Assim terei mais dinheiro para comprar os vestidos da moda!

- Pensei que os negócios de seu marido estivessem prósperos!

- E estão! Acontece que dinheiro e vestidos da moda nunca são demais!

Ambas riem.

- Acho melhor parar com brincadeiras deste tipo, ou todos acharão que você é tão fútil como aparenta, Bri!

- Não ligo, Beth. Não ligo para o que todos pensam, desde que meu marido, minha família e, especialmente, você gostem de mim.

As duas irmãs, que sempre se adoraram, ficam com os olhos marejados.

- Não sei o que seria da minha vida se você não existisse Bri. Nem quero pensar no que já teria feito!

- Nem eu quero pensar minha irmã. Se permitisse se aproximarem… Você é a pessoa mais incrível, encantadora e bondosa que conheço. É mais incrível que eu, veja só! Mas esta sua timidez...

- Eu não consigo! Você sabe que já tentei, não deu certo! Pare de me culpar! Não acha que se eu soubesse como, mudaria esta minha sina?!

- Eu sei, eu sei! Não se martirize, eles é que estão perdendo por não lhe conhecerem. E deixe de birra, nem parece minha irmã mais velha! Às vezes sua doçura a faz parecer uma criança de dez anos!

- Quem te contou sobre as casamenteiras?

- A mamãe, é claro! Com quem acha que aprendi a fazer mexericos?! Agora, me diz. Como você está se sentindo?

- Péssima! As duas primeiras senhoras que vieram foram horríveis, piores do que eu imaginava. Me senti um pedaço de pão velho. Fizeram perguntas indiscretas e tiraram conclusões maldosas. Foram embora como chegaram, prepotentes.

- E a terceira?

- Ah! A senhora Ruthie, eu adorei! Ela foi um amor! Muito diferente das outras. Não parecia uma entrevista, como se eu estivesse preste a ser posta à venda na feira. Me pareceu mais uma boa conversa, com uma amiga antiga. Estou com boas esperanças por causa dela.

- Estou ficando com ciúmes desta senhora Ruthie! E, você, em uma boa conversa com alguém de fora da família? Vejo um progresso!

- Com a senhora Field foi muito fácil, ela me deixou completamente à vontade. Ela tem um jeito de avó, sabe?

- Então vamos torcer para que ela encontre seu príncipe, e que ele seja bonito.

- Bonito? Não faça piadas Bri!

- Não é piada! Estou mesmo torcendo para que seu futuro pretendente seja lindo!

- Brigit, nem na realidade mais absurda isto seria possível!

***

Lorde Jonathan David Cavendish, ex-futuro conde de Newcastle, estava em apuros, perdido e em breve na sarjeta. Logo teria que sair da casa de seu melhor amigo Charles, o único que fielmente lhe estendeu a mão. Charles Sean Howard, próximo duque de Norfolk, era um grande amigo e não decepcionou, como todos o outros ditos companheiros fizeram, quando Jonty se viu na pior das situações. Agora, meses após o ocorrido, Jonathan não queria abusar da ajuda e hospitalidade de Howard. Charles, por sinal, já estava com sua cota de problemas, problemas amorosos, e J. Cavendish não queria atrapalhar o amigo.

Jonathan sempre foi uma criança intensa em seus atos e sentimentos. Aos sete se apaixonou por Charlotte, sua prima de dezesseis anos, a ponto de cair doente ao saber que a jovem se casaria com um lorde qualquer.

Quando tinha quatorze anos foi levado por seu pai, John Donald Cavendish, ao bordel da Senhorita Mirka para ter sua primeira vez com uma mulher. Serafinne, uma prostituta de vinte e três anos, foi a escolhida para torná-lo um homem. Jonty se apaixonou pela moça e ia todas as noites encontrá-la. Depois de um tempo seu pai descobriu a nova paixão de Jonathan e proibiu os encontros. Jonty não aceitou, em uma semana tinha uma fuga planejada rumo a Paris e levaria Serafinne com ele.

O plano não deu certo, John, que previu a reação do filho, o conhecia muito bem, pagou uma imensa quantia em dinheiro a Serafinne para que esta fosse embora do país. Jonathan ficou arrasado e não falou com ninguém durante três meses, nem com o pai, com a mãe, Catherine Lydia Cavendish, ou com o irmão mais novo Charles Leon Cavendish.

Estas e algumas outras paixões de morrer acometeram o ex-futuro conde de Newcastle… E, cada uma delas, trouxeram desonras para a família Cavendish.

A última paixão fulminante foi sua derrocada. Se envolveu com a belíssima, Evelyn Marisse Fountain Broome, condessa de Shropshire e esposa do conde Christopher Anthony Broome. Os amantes foram pegos no ato da traição, na própria cama dos Broome. Chistopher, que tinha um amor descomunal por Evelyn, mesmo furioso, resolveu perdoar a mulher e abafar tudo. Porém os empregados possuem olhos e bocas, mexericos sobre o caso atravessaram a Inglaterra e chegaram aos ouvidos de John.

O atual conde de Newcastle, e pai de Jonty, que já não mais aguentava as vergonhas praticadas pelo filho mais velho, deserdou Jonathan, retirou-lhe o futuro título e expulsou-o da casa e da família. Sem ter para onde ir, Jonathan conseguiu refúgio na casa do amigo Charles, local no qual estava até então. Mas sabia que precisava ir embora o quanto antes, não poderia viver às custas do amigo.