Thorns, Claws and Horns escrita por Equipe TCH


Capítulo 2
Capítulo 2 - Cassandra




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Os movimentos da carruagem somados ao calor exagerado fazem-me sentir levemente nauseada. Balanço meu leque convulsivamente na direção do meu rosto numa tentativa falha de me resfrescar. A verdade é que o calor nunca me agradou muito, porém terei de suportá-lo durante os próximos dias, enquanto viajamos em direção a Porto Real.

– Você vai acertar seu olho com essa coisa. – Meu irmão diz, com o seu típico ar de deboche. – E eu vou rir.

Paro de me abanar e cruzo os braços na mesma hora, encarando-o de forma séria e insatisfeita. Meu irmão encontra-se toscamente jogado no banco da nossa carruagem, sem postura alguma, coisa que realmente me incomoda. Acontece que está prestes a se casar com princesa Tyrell e continua fingindo que nada está acontecendo.

– Não seja rude, Ethan. – Repreendo-o pela grosseria. – Dúvido que sua noiva aprecie esse tipo de comportamento.

Percebo que escolhi as palavras erradas quando o rosto de Ethan se retorce em uma careta.

– Eu não ligo para o que a princesa Tyrell aprecie ou deixe de apreciar. – Responde, na defensiva, aparentemente sufocado com a ideia do casamento.

Ethan pode até ser o irmão mais velho, mas é definitivamente o menos responsável e preocupado em manter as boas aparências perante os outros. Foram incontáveis ás vezes em que tive que ajudá-lo a acobertar escândalos envolvendo bebidas e mulheres... E agora, apesar de prometido à filha do rei Tyrell, ele continua absolutamente do mesmo jeito.

– Você deveria ligar, Ethan. – Aconselho-o, de forma preocupada.

– Relaxe, irmãzinha. – Responde ironicamente, arrumando-se no banco. – Deixe-me fazer do meu jeito e dará tudo certo.

Respiro fundo, engolindo em seco e não digo mais nada. Não quero discutir com meu irmão. Não aqui, onde estamos presos no mesmo lugar e eu não posso fugir. Quando Ethan fica irritado e quer ser rude, acredite: ele sabe como ser.

– Nossa, estou impressionado. Você não vai discutir mais comigo?

– Não aqui. – Respondo, irritada. – Aproveite o silêncio para refletir.

– Não preciso refletir, Cassie. – Ele diz, com um sorrisinho maroto no canto dos lábios. – Já tenho alguém fazendo isso por mim.

Suas palavras fazem meu estômago se revirar por completo. Eu sei exatamente a quem meu irmão está se referindo.

– Ethan, por favor, não faça isso. – Não consigo me controlar e as palavras simplesmente saltam para fora de minha boca. – Não confie tanto naquele bruxo.

– Cassandra... Ele não é bruxo, pare de falar essas besteiras.

Se tem uma coisa que eu não quero fazer agora, é discutir sobre nosso tutor, Octavius. Nós fazemos isso praticamente o tempo todo, porque, para ser sincera, não confio nem um pouco nele.

Ethan e eu não somos filhos da mesma mãe, mas ambas morreram muito jovens, assim como nosso pai. Eu tinha apenas quatro anos de idade, e Ethan, nove, quando nosso pai se foi, deixando-nos órfãos. A partir de então, passamos a ser criados por Octavius, conhecido por ter sido um grande amigo da mãe de Ethan, e que por essa razão, mora conosco em Ponta Tempestade.

Para Ethan, Octavius é a voz da razão, seu principal conselheiro, enquanto que para mim, não passa de um descarado interesseiro. Sua falsa gentileza comigo é impressionantemente visível, mas meu irmão não consegue enxergar nada disso.

Na minha sincera opinião, tudo o que Octavius quer é enriquecer em cima de nossa família. Não seria por acaso que arranjaria a tão disputada filha do rei para se casar com Ethan, afinal.

Minha desconfiança para com nosso tutor não acaba por aí. Já perdi a conta de quantas vezes o peguei no flagra, falando sozinho, como se recitasse uma espécie de mantra ou feitiço. Para mim, além de interessado nos nossos bens materiais, Octavius está para lá de envolvido em rituais de magia negra, ou algo do tipo. E disso, eu só quero distância.

– Ethan, por favor, escute-me pelo menos uma vez na vida.

– Não precisa nem começar, Cassandra.

– Eu não entendo: Como é que você pode confiar em alguém que não seja sua família? E que aparentemente está envolvido com magia negra.

Ethan não gosta do que digo. Ele cruza seus braços e franze seus olhos, já bufando.

– Entenda, Cassandra: Octavius era conselheiro de minha mãe. Ele é parte da família, sim. Pelo menos da minha. – Fala, para lá de impaciente. – E quer saber do mais? Eu o considero meu pai. O pai que eu não tive.

– Nosso pai já está morto, Ethan. Culpá-lo pela ausência não vai adiantar em absolutamente nada. – Defendo a memória de meu pai. Acontece que ele costumava ser muito ocupado antes de falecer. Quase nunca tinha tempo para nós, e Ethan cresceu magoado por conta disso.

– Eu sei. – Ethan rosna, parecendo extremamente infeliz com o rumo que nossa conversa toma. – Só estou querendo dizer que Octavius me criou muito bem, aliás, nos criou muito bem. Se não fosse por ele, não sei o que teria sido de nós, sinceramente. Você deveria ser um pouco menos mal agradecida.

Reviro os olhos, passando a me concentrar na paisagem dos campos verdejantes do lado de fora da carruagem.

– E o que você me diz sobre a feitiçaria, Ethan?

– Não acredito em boatos. Principalmente quando se dizem respeito a pessoas próximas de mim. – Dá de ombros.

Quero contestá-lo, dizendo já ter flagrado momentos em que Octavius estava praticando sua maldita feitiçaria, mas decido ficar de boca fechada em relação ao nosso tutor. O clima já está pesado demais e não quero piorá-lo.

– Eu estou preocupada, irmão. – Digo, suplicante. – Estamos saindo pela primeira vez de Ponta Tempestade e tenho medo de algo dar errado em relação ao seu casamento. Você não vai se casar com qualquer uma, e sim, com a filha do rei.

– Chega, Cassandra. Está passando dos limites. – Ethan diz de forma ríspida, massageando suas têmporas com os dedos.

– Por favor, prometa-me que vai tomar muito cuidado com suas atitudes em Porto Real. E que não vai deixar tudo sob o controle de Octavius.

Meus olhos passam da paisagem lá fora para meu irmão, e eu os fixo nas suas íris esverdeadas, que infelizmente, não herdei dos antepassados de nosso pai.

Por incrível que pareça, Ethan sorri com leveza, como se tentasse me tranquilizar. No geral, é bem raro isso acontecer.

– Cassie, como eu disse antes, relaxe. – Meu irmão continua sorrindo. – Confie em mim, tenho tudo sob controle.


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Notas finais do capítulo

Capítulo escrito por Giovana

***
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