Apaixonados por maçãs escrita por Caramelkitty


Capítulo 14
Despedidas e promessas


Notas iniciais do capítulo

Ai, a imagem é tão fofa ^ ^
E eu que achava que ia ser difícil encontrar 15 imagens bonitas de maçãs.
Mas enfim, este é o último capítulo, como vocês bem sabem, mas ainda vai ter o epílogo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/499325/chapter/14

A arma, ainda de cano gelado, caiu no chão do beco. Kaori assustara-se ao ouvir o som do tiro e deixara-a cair. Por momentos ela pensou que tinha sido ela própria a disparar contra Raito e isso foi bastante desesperador. Mas cedo percebeu que não, que não fora ela a causadora da morte de Kira. Como se viesse de um planeta distante, o som das sirenes e de passos apressados, chegaram aos seus ouvidos. Eram os policiais que tinham chegado. L vinha logo na fileira da frente junto com todos os outros detetives. Karl ainda estava em choque olhando do corpo sangrento de Yagami Light, para os seus colegas e destes para Kaori. Um dos policiais tinha disparado o tiro certeiro, mas Kaori não conseguia identificar ao certo qual. Isso porém, já pouco importava. Como se tivesse corrido uma maratona, sentia-se exausta. Mais do que isso, sentia que estava a perder o foco. A luzes da sirenes piscavam, misturavam-se, a chuva que começara a cair naquele momento parecia-lhe pétalas sobre o corpo. Caiu de joelhos no chão e a mão passou ao de leve pela camisola molhada fazendo-a perceber porque se estava a sentir tão fraca. Conseguiu elevar a sua mão à altura dos olhos e viu-a coberta de sangue. E encharcada de vermelho estava também a camisola, devido à forte hemorragia. Como aquilo tinha acontecido? Tentava recordar-se. Lembrou-se então, como num sonho distante, do sequestro. De Noite Vermelha e Corvo Assassino. Do golpe que o primeiro lhe infligira no dorso e que ela tão descuidadamente ignorara.

Ouviu a voz do pai junto a ela. Ele segurava-a nos braços, impedindo-a de bater com a cabeça no chão.

– Kaori, o que aconteceu? AJUDEM! ELA ESTÁ FERIDA! CHAMEM UMA AMBULÂNCIA! – Gritava Karl desesperado. Queria chocoalhar a filha para impedi-la de fechar os olhos e sucumbir à inconsciência mas tinha medo de que se o fizesse poderia piorar a situação, abrindo ainda mais a ferida.

L surgiu ao lado de Karl e examinou a palidez súbita no rosto de Kaori.

– Ela está a perder muito sangue, não sei se...

– Nem digas nada! – Exigiu Karl, recusando-se a ouvir mais. Sabia que se as palavras de L se fizessem ouvir teriam muito impacto sobre ele. E Karl não queria perder a esperança de ter a sua filha com ele.

L então ficou em silêncio. Rasgou um pouco da roupa para poder estacar o sangramento com o pano. Mesmo assim não demorou para que esse novo tecido ficasse completamente manchado de sangue. «Esfaqueamento» Pensou L. Mas não o disse, porque sabia que não ia ajudar para Karl saber que a filha tinha sido esfaqueada.

Enquanto isso, Raito jazia no chão, em situação semelhante. Não era como se estivesse morto, como à primeira vista todos pensavam. Não demoraria muito porém, para que o destino o fizesse sucumbir. Mas, enquanto todos se juntavam à volta de Kaori tentando ajudá-la, Raito só tinha ao seu lado o Shinigami. Levantou um pouco a cabeça e olhou com ódio para ele.

– Foste tu, Ryuk. Tu escreveste o nome de Kaori no Death note antes de mim! Que data colocaste para a sua morte? – Tossiu um pouco de sangue e voltou a falar. – Idiota, tu salvaste-a, tens noção do que isso implica?

– Tu também irás morrer! – Fez ver o shinigami impassível.

– Por culpa tua!

– Quem mandou tentares matar a minha garota? Estavas tão obcecado em fazê-lo que perdeste qualquer noção do razoável, perdeste até o sangue frio e a capacidade de usar a cabeça. Para que serviu isso, afinal? Kaori vai viver e tu irás morrer agora, sem qualquer conquista.

Raito não teve capacidade de contestar estas palavras, morreu poucos segundos depois, sem chegar a ouvir o som da ambulância que se aproximava. Dois paramédicos levaram Kaori numa maca, com urgência. Ryuuku não pode deixar de temer um pouco. É certo que segundo o que ele escrevera no seu próprio Death note, Kaori teria ainda muitos anos de vida, quase tanto quanto a sua expectativa inicial, antes de ser envolvida em toda aquela confusão. Mas o golpe de Noite Vermelha fora dado antes de ele ter engendrado esse plano. Kaori iria mesmo sobreviver? Karl entrou também na ambulância assim como alguns detetives, seus amigos. L aproximou-se de Raito e conseguiu tirar da sua mão cerrada o Death note. Analisou-o com curiosidade. O que aconteceria então agora ao caderno de capa preta? Ryuuku ficaria preso ao mundo dos humanos até conhecer o seu destino.

*************************************************************************************

Por entre uma névoa branca, Kaori conseguiu avistar uma silhueta tão bem conhecida por ela. Os cabelos brancos da idade, os olhos meigos carregados de experiência, tão verdes quanto os da própria rapariga. A loira correu na direção da figura iluminada que a recebeu no seu abraço.

– Avó! Estou a sentir-te! Isso quer dizer que... – Ela baixou a cabeça. - ... que eu morri mesmo!

– Não, Kaori, tu não morreste! – Viu o rosto cheio de interrogações da neta. – Eu queria poder explicar-te tudo, mas não tenho tempo para isso. Nem tu tens. Foge deste limiar, minha neta, foge da névoa. Tens de acordar, agora.

Kaori apertou mais a avó nos seus braços, antes de soltá-la e despedir-se, ciente de que teria de seguir os conselhos da sua adorada velhinha.

– Adeus, avó, eu gostei muito de poder voltar a ver-te! – Confessou Kaori num sorriso, antes de cerrar as pálpebras. Logo sentiu que a sua cabeça rodava. A tentação de voltar a abrir os olhos era grande, mas por segurança ela manteve-se de olhos bem cerrados até o mundo para de girar. Conseguia ouvir vozes longínquas que pareciam vir detrás de uma parede e o som repetitivo e irritante de uma máquina. Parecia que todo o corpo lhe doía, desde a ponta da unha aos lábios ressequidos. E por fim, ao perceber-se viva, ela analisou onde estava. Paredes brancas, cheiro a álcool, uma cama dura com lençóis finos. Ela estava num quarto de hospital. Suspirou mas com esse simples gesto as costelas reclamaram. Tentou então ficar o mais quieta possível. Pelo menos não tinha uma máscara de ventilação. Embora tivesse a certeza de que já a usara durante um longo período de tempo. Sentia-se sonolenta, mas nem esse estado de torpor conseguia eliminar o desconforto de ter uma agulha espetada no braço, agulha essa que levava a um cateter. As vozes que ouvia eram as de uma enfermeira a conversar com o seu pai. Sentiu-se tentada a chamá-lo, mas antes de o fazer reparou que Ryuuku estava ali também. Ele estava com os olhos postos nela e parecia profundamente satisfeito.

– Ryuk? – Pronunciou ela com dificuldade.

– Pensei que não iria voltar a ver o verde dos teus olhos tão bonitos antes de partir.

Perante um elogio destes, Kaori teve que corar. Mas logo apreendeu o sentido da frase do Shinigami.

– Como assim partir? O que aconteceu? Por quanto tempo eu estive aqui? Porque...

– Ei, calma, senão a enfermeira vai notar a agitação e vem aqui te dar mais sedativos. E eu queria poder despedir-me de ti, sabes? Eu vou ter que voltar para o mundo dos Shinigamis. L e os outros detetives passaram estas duas últimas semanas a analisar o Death note. Não o testaram porém e irão queimá-lo. Assim que o fizerem, eu terei que partir do mundo humano, mas assim que pisar o solo do mundo Shinigami temo que irei me desfazer em pó.

Os olhos de Kaori arregalaram-se.

– Como assim? Tu vais morrer? Porquê?

– Ah, nada demais, é uma regra de Shinigamis. Quando o Raito escreveu o teu nome no Death note, não surtiu efeito, porque eu já tinha escrito o teu nome antes com uma data de muitos anos após este. Só que o objetivo dos Shinigamis é encurtar o tempo de vida de uma pessoa, e não expandi-lo. Porque caso isso aconteça, é a nossa própria vida que estamos a doar. Algo assim, eu nunca prestei atenção nas regras mesmo...

Kaori tentava processar todas aquelas informações, mas o seu cérebro estava lento. Mas de uma coisa ela estava certa. Ryuuku iria morrer... e por causa dela.

– Mas... não! Porque o fizeste? Não era justo trocares a tua vida pela minha! Nem me perguntaste se eu queria. Simplesmente, não podias ter feito isso, agora eu vou ficar a sentir-me culpada pelo resto da minha existência. – Lágrimas subtis começaram a rolar pelo seu rosto redondo.

Ryuuku não pode deixar de pensar em como Kaori era diferente. Qualquer humano iria querer ter a vida prolongada e nem sequer se importaria que um Deus da Morte se desfizesse em pó para o conseguir. Mas a loirinha estava ali na sua frente, revoltada até ao âmago e chorosa.

– Eu estava entediado de qualquer maneira! Deixar cair o Death note na Terra foi a melhor coisa que já fiz. Diverti-me imenso aqui, nunca pensei que podia existir algo tão doce e viciante como as maçãs humanas. Os esquemas de Raito também me divertiam, de certa forma, devo confessar. E depois, eu nunca, nunca imaginaria que iria conhecer uma humana tão especial como tu. - «E que me apaixonaria por ela» Completou em pensamento.

Kaori só negava com a cabeça.

– Deve haver outro jeito! Não podes morrer só para eu poder viver!

– Isso importa tanto assim? – Perguntou Ryuuku realmente curioso.

– Claro que importa! Tu salvaste-me a vida... duas vezes! E compreendes-me! E... – ela baixou os olhos. -... será muito estranho dizer que gostei de ti?

Ryuuku pensou que valera a pena ter passado todos aqueles dias esculachado contra a parede do hospital, com uma enorme crise de abstinência de maçãs, esperando Kaori acordar só para ouvir aquilo. E Kaori corava e chorava ao mesmo tempo e apesar de ser algo lisonjeiro ter a menina a chorar por ele, Ryuuku não queria ver o rosto da sua humana sem o seu habitual sorriso esplendoroso.

– Tu nunca foste o que se pode chamar de normal, Kaori, por isso calculo que não seja estranho seguindo essa linha de raciocínio.

– É... talvez não. – Apressou-se a concordar, para evitar um maior constrangimento.

Quando a menina voltou a levantar os olhos viu que Ryuuku principiara a ficar transparente. Estavam a queimar o Death note e, com isso, o último laço do Shinigami ao mundo dos humanos. Kaori queria ir até onde estavam L e os outros detetives. Queria entrar nas chamas e salvar o caderno de capa preta, mas mal tinha forças para se manter desperta. Não podia simplesmente levantar-se e correr para um lugar que ficava a léguas dali.

– Bem na hora, acho eu... se não tivesses acordado há pouco, já não poderia despedir-me. Por favor, promete-me que não irás ficar a sentir-te culpada, eu dei-te a minha vida e isso foi uma decisão que eu tomei por iniciativa própria.

As lágrimas voltaram a correr, agora mais grossas.

– Promete-me que vais fazer de tudo para sobreviveres e para voltares um dia. – Disse por sua vez Kaori, contrapondo o pedido de Ryuuku com o seu.

Ele ficou sem reação por breves momentos. Não era correto prometer algo assim, a sua morte estava definida por leis superiores às dele. E não havia ninguém que fosse dar a vida por ele, nem sabia o Shinigami se algo assim era possível. Então, se era certa a sua morte, porquê dar esperanças a Kaori? Porém, foi tomado pela súbita urgência de o fazer. E sim, se dependesse apenas da vontade dele, lutaria para ficar com a sua humana.

Mas quais as chances? Nenhumas!

Talvez Kaori não fosse tão anormal assim! Era de Natureza humana querer o impossível, encher o coração com mentiras para poder afogar a própria mágoa. Não era isso, afinal, que constituía o ser humano? Que era o ser humano? Sonhador, determinado e louco!

– Eu prometo, Kaori! Mas... – ele queria deixar claro que aquilo eram apenas palavras para não serem levadas muito a sério, mas Kaori impediu-o de continuar a falar e disse por sua vez, muito baixinho.

– Então eu também prometo.

E foram essas as últimas palavras que Ryuuku e Kaori disseram um ao outro.

Como se caído do céu, o pai de Kaori entrou no quarto. Ao ver Kaori na cama chorando e soluçando correu para ela. Apertou suavemente a sua mão e perguntou ansioso:

– Kaori, o que foi? Onde está a doer?

– Aqui, pai. – Ela disse apontando para o coração. – Eu prometi mas eu já quebrei a promessa! E ele decerto também...

Sem saber o que fazer, Karl apenas amimou a filha e beijou os cabelos dela até que ela se acalmasse. Meses mais tarde, recordaria aquele incidente como um desvario, uma alucinação que a sua filha tivesse tido devido ás grandes quantidades de sedativos, aos tormentos que passara. E Kaori não negou. Admitiu que tivera muitos pesadelos e crises de choro sem motivo.

Só ela sabia a verdade. E tomou a decisão de que iria guardar aquele segredo com ela durante o resto da vida. O que ganharia ela afinal, falando daquilo com alguém? Ninguém acreditaria nela. Nunca ninguém acreditava.

Quando teve alta do hospital, a primeira coisa que fez foi escrever uma carta para Ryuuku. Sem saber o que fazer quando a concluiu, apenas a guardou na gaveta juntamente com todas as outras que se seguiram. E todas as semanas ela escrevia uma carta que ia juntar-se no aconchego das irmãs. Kaori manteve assim a memória de Ryuuku viva. E sempre lhe foi grata por tudo o que ele fez por ela. Trazia sempre um elemento quando ia escrever. Uma reluzente e vermelha maçã que devorava à medida que ia soltando as palavras no papel. Ao fim de um certo tempo ela percebeu que as cartas continham, entre os muitos dizeres, a história dos dois. Ou três. Sim,porque sem maçãs nada daquilo teria acontecido.

– Kaori, Ryuuku e a maçã... – Murmurou baixinho. – É um triângulo amoroso digno da minha cabecinha. Afinal... eu nunca fui normal mesmo! Porque haveria a minha história de ser?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E foi isto, espero que tenham gostado!
Ah, mas ainda irá haver o epílogo como eu já mencionei nas notas iniciais. Aguardem por ele... e comentem, isso me deixaria muito feliz.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Apaixonados por maçãs" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.