Flocos de neve em sua derradeira e incomparável glória, exalavam um aroma inexistente.

Seu olhar repousava sobre um desses pequenos flocos, que insistia em permanecer no ar, como se ainda lhe restasse uma leve esperança de não esmorecer de vez no chão coberto por lençóis albinos. A paisagem era bela, mas trazia uma sensação triste como se a natureza estivesse melancólica.

Oz tocou gentilmente o gelado vidro, um suspiro saiu intencionalmente. "Foi em dia como esses que tudo começou a dar errado." Ele pensou relembrando as memórias de Jack. Oz estava tão perdido em seus pensamentos que nem notou quando Alice entrou no quarto.

— Oz?- A morena chamou-o - Você está bem?

— Ah, é você Alice!- Ele exclamou ignorando a pergunta da garota.

Alice pareceu não se importar ela já conhecia a resposta.

— O que houve? - Ela indagou sentando-se de costas para o garoto

— É uma pergunta interessante.- Oz falou esboçando um sorriso melancólico. - Mas nem eu mesmo sei o que houve.

A garota suspirou, apoiando a cabeça nas costas do loiro.

— Não é verdade, humanos sempre...

— Humanos?- Oz interrompeu - Sabe mais do que ninguém que não sou humano Alice.

Alice não respondeu, preferindo-se manter calada, esperando que ele se manifestasse. Ambos ficaram em silêncio por algum tempo, as respirações sincronizadas apenas apreciando a estranha temperatura, nem quente e nem fria, que o inverno e as chamas da lareira confeccionavam.

— É patético não é?- Oz pronunciou-se após o longo período. - Não sou humano e não sou uma corrente. Tudo o que conquistei até hoje, todos que conheci...tudo isso não passa de uma mentira. Eu não sou nada, mas ainda sou uma aberração, um monstro.

Alice estremeceu, Oz nunca havia falado desse jeito, pelo menos não o Oz que ela conhecia, mas se agora nem mesmo ele sabia quem era, então certamente ela não saberia. Entretanto pelo menos agora conhecia o motivo.

— Oz - Alice se aproximou tocando-lhe o ombro - Você não é humano porque Jack ou Glen disse que não era. Você é humano com sua própria vontade, independente do que aqueles dois idiotas ou do que a Pandora diz.

Ele sorriu. Ainda que um sorriso opaco e lamentável.

— Obrigado, Alice.

— Pelo que?- A morena indagou fitando-o com seus olhos violeta.

—Naquela hora, se não fosse por você, Jack teria...

— Não se preocupe com isso.- A menina interrompeu-o um pouco irritada, ela certamente não sabia lidar com sentimentos.- Eu estava apenas protegendo o que me pertence.

O garoto encostou a cabeça na janela, uma expressão tranquila tomava conta de seu rosto quando Alice falava. Ela corou um pouco.

—A-Além disso- Ela gaguejou- Agora eu sou a B-rabbit, o fardo agora é meu Oz. Por isso não quero que fique desse jeito, não gosto de te ver assim e como meu servo você não deveria fazer coisas que desagradem sua mestra.

— Você é muito forte, Alice. - A voz do real B-rabbit saiu como um sussurro.

— É claro que sou. Sou a Alice lembra?

Oz riu, é claro que ele se lembrava, Alice era inesquecível.

— Então faça um favor a si mesmo e não se chateie mais com isso.

O garoto retomou seu ar melancólico.

— Não me chatear...certo? - Subitamente Oz pausou, um sorriso sádico mais ao mesmo tempo lamentável abriu-se em seu rosto. - É impossível. Veja bem Alice, matar gente para mim não é nada, a única coisa que sei fazer é destruir. Mesmo agora - Ele tocou novamente no fino escudo de vidro que o protegia da neve lá fora. - Somente um toque seria suficiente para destruir este lugar. Não é algo admirável...certo? Afinal eu fui criado para isso.

Após o garoto pronunciar a última palavra, Alice chegou ao seu limite, ela ainda não podia acreditar no que o ele dizia, sem nem ao menos ter consciência a morena movimentou a mão em direção ao rosto do loiro.

— Não diga uma coisa tão odiosa. Não diga que você nasceu para destruir Oz.

—Alice. - Ele repetiu surpreso massageando a bochecha dolorida.

Alice voltou-se a saída.

— Tenho certeza de que eu...Não. Tenho certeza de que Lacie não tinha esse propósito quando te criou, muito pelo contrário...Oz.

O garoto observou a porta se fechar ainda perplexo. Então subitamente ele entendeu. Oz deixou escapar um sorriso sincero.

— Obrigado Alice. Ele sussurrou. - Minha mais preciosa Alice.