Quando Misaki abriu os olhos,o sol lá fora ainda brilhava intensamente.

Sentou-se na cama ainda confusa,com as mãos cobrindo o rosto.

– Oi!Está bem?- era Sayuri

– Oi...hum,ainda é de manhã...quanto tempo dormi?!

–Venha comigo.

Saíram da cabana e continuaram caminhando pelo gramado.

– Digamos que você dormiu ontem de manhã.

– Mas pareço ter dormido tanto tempo...

– Logo saberá o porque.

Várias pessoas também caminhavam pelo gramado.

– Ontem disse que eles tem uma ''realidade'' diferente da minha.Então quer dizer...- Mi apontou para um homem que estava bem distante delas - que aquele homem poderia estar me vendo caminhar sobre um lago congelado?

Sayuri olhou para Mi assustada,e logo com um grande sorriso no rosto.

– Acho que você exagerou um pouco!- Sayuri ria - não é bem assim Misaki. Consegue ver aquelas Peônias ?

– Sim.

Sayuri chamou uma pequena garotinha que brincava ali perto.

–Como vai?! Minha pequena...!! - Sayuri deu um beijo na testa da menina. - O que você acha daquelas flores ali? - disse apontando para as peônias brancas.

–São lindas rosas vermelhas,não acha?

Mi olhou para Sayuri confusa.

– É o que eu quis dizer com ''realidade'' diferente.

A garotinha saiu cantarolando.

Sayuri sentou-se no gramado.Misaki fez o mesmo.

–Vou ficar aqui para sempre...? – Misaki perguntou

–Não. Você está aqui porque queria estar.

–Não, eu não queria não.

–No seu inconsciente Misaki. Sempre soube que um dia chegaria aqui. No fundo da sua alma,você sempre soube...

–Mas você não respondeu minha pergunta.

–Você ficará aqui até estar pronta.É assim com todos.

–Pronta para que?

–Para voltar.

–Poderei voltar para Aiko?-Misaki disse com um brilho nos olhos.

–Não é bem assim...você voltará,mas não será a Misaki que todos conheceram.

–Quer dizer que eu vou reencarnar ?...

–Exatamente.Digamos que isso é um ciclo.Você voltará,porque ainda existe algo pendente na terra.Aqui é seu lugar.Sempre foi, e sempre será.

–Ah...e os suicidas...?

–Qualquer pessoa,um suicida ou até mesmo um assassino pode se arrepender.Um suicida precisa lutar contra os monstros que perseguem sua alma.Eles tentam poluir o interior da pessoa,até que ela aceite ir para o lugar mais imundo e obscuro que existe.Já os assassinos,precisam lutar contra o próprio interior.Pois são eles os próprios monstros.

–O inferno...

–Mas sempre existe uma luz.

Ficaram um tempo em silêncio.

–Você está aqui...faz muito tempo?O que aconteceu?

Sayuri abaixou a cabeça.

De repente um homem aproximou-se de onde estavam sentadas.

Misaki olhou para cima e o encarou.

–Olá!!Bom,eu não vejo nenhum lago congelado aqui...

O homem tinha uma bela voz. Firme e ao mesmo tempo, suave.

Ele sentou ao lado de Sayuri,que o olhava sorrindo.

–Bom dia Yoshio!-Sayuri disse beijando-lhe o rosto.

Ele olhou para Misaki sorrindo.Era um sorriso que acalmava. Um sorriso que poderia amolecer qualquer coração endurecido.

–Me desculpe...-disse Misaki corada.

–Esse é Yoshio,Mi. Pode contar com ele,para o que precisar.

–Ok...mas agora,acho que preciso é descansar mais um pouco.

Misaki levantou-se,e voltou depressa para a cabana.

Quando abriu os olhos,já era noite.

Sayuri e Yoshio estavam em pé,ao seu lado.

Sentou-se na cama,e encostou as contas na cabeceira.

Misaki viu Yoshio ajoelhar-se no chão ao lado da cama.

Vendo sua expressão de espanto,Sayuri acariciou seu rosto.

–Está tudo bem Misaki.Feche seus olhos.

Sayuri também se ajoelhou no chão ao lado de Yoshio,e tapou os olhos de Misaki com a mão.

Com muito esforço,Mi ouviu Yoshio dizendo algo.E naquela voz,havia algo diferente.Naquela melodia,havia uma grande tristeza. Era quase um tom de súplica.

''- E nos mais profundos sonhos e pesadelos,entendemos a verdade.’’